País
Luciana Abade , Jornal do Brasil
BRASÍLIA - A partir da próxima semana será implantado o maior Plano de Qualificação Profissional com recorte social e racial no Brasil: o Planseq Afro, que vai capacitar 25 mil negros que estão desempregados nos 26 estados e no Distrito Federal. Minas Gerais, Rio de Janeiro e Mato Grosso são os estados que oferecerão o maior número de vagas: 6.945, 3.860 e 2.940 respectivamente. Empreendedor individual, carpinteiro, mecânico de motos, eletricista, borracheiro, gerente de supermercado, operador de telemarketing e recepcionista são os principais cursos oferecidos. Entre eles, destaca-se o de cuidador de pessoas com doença falcifome – a doença genética mais comum da população brasileira que diminui a circulação, provocando dor e destruição dos glóbulos vermelhos e que acomete principalmente a população negra.
O Planseq Afro é uma parceria entre o Ministério do Trabalho e Emprego e a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) e custará cerca de R$ 20 milhões. Para fazer um dos cursos é preciso se autodeclarar afrodescendente e estar desempregado. O programa de capacitação priorizará os jovens de 16 a 24 anos e adultos com mais de 40 anos, além de pessoas com um número grande de dependentes. Alguns cursos exigirão ensino médio como pré-requisito. Mas a maioria pode ser feita por quem tem apenas ensino fundamental.
Subsecretário de Políticas e Ações Afirmativas da Seppir, Martvs das Chagas está otimista quanto a absorvição dos futuros profissionais no mercado de trabalho devido a retomada do crescimento econômico esperada para o próximo ano:
– O setor de serviços precisa de profissionais qualificados. Não conseguiremos alocar todos, mas estamos trabalhando para isto. O que não podemos é não fazer nada diante do lamentável diagnóstico da subcidadania a que está submetida a população negra, maioria entre a massa desempregada.
Para o coordenador do Núcleo de Estudos Raciais da Universidade de Brasília (UnB), Nelson Inocêncio, a profissionalização de pessoas negras é uma ação afirmativa que deve ser comemorada porque busca corrigir a defasagem que há na “condição diferenciada” que sempre foi imposta ao negro no mercado de trabalho.
– Profissionalizados, os negros vão entrar no mercado de trabalho com perspectiva de ascensão profissional – acredita o coordenador.
– E o combate ao racismo se dá na prática, em ações como esta. As mulheres negras no Brasil estão trabalhando principalmente como empregadas domésticas. Não é a situação ideal, mas já é um paliativo. Mas para um número considerável de homens negros tem sobrado a marginalidade.
Para Inocêncio, tão importante quanto profissionalizar os negros é criar uma política voltada para o empregador que ainda “não é sensível” a desigualdade latente entre brancos e negros no mercado de trabalho. Segundo o subsecretário da Seppir, além das atividades práticas, os alunos terão aulas de noções de cidadania e questões raciais para conseguirem perceber qualquer ato de discriminação que possam vir a sofrer.
Divergências
Ações afirmativas voltadas para o mercado de trabalho, no entanto, não são unanimidade nem mesmo dentro do movimento negro.
– É um escândalo. É uma atitude reacionária – denuncia o coordenador do Movimento Negro Socialista, José Carlos Miranda.
– Querem dividir a classe trabalhadora entre negros e brancos. O Ministério Público deveria se posicionar contra este tipo de política que divide o povo brasileiro.
Segundo Miranda, ações como esta só existem em países que adotaram políticas segregacionistas como a Africa do Sul e a Alemanha nazista.
– Qual a diferença entre o desempregado negro e o branco se ambos forem pobres? – questiona Miranda. – Não é desta forma que se combate o racismo. A igualdade é defendida na Constituição. O problema é que as políticas universalistas não estão sendo aplicadas até o fim, mas dividir o povo só serve ao interesse de quem quer aprofundar o racismo. Qualquer pessoa que luta pela igualdade de direitos deve se indignar com este tipo de benefício.
Autor do livro Uma gota de sangue – história do pensamento racial, Demétrio Magnoli acredita que um programa de capacitação destinado a trabalhadores negros não é necessário, uma vez que já existem programas destinados a capacitar trabalhadores de baixa renda:
– A finalidade, obviamente não é para capacitar, mas classificar. As políticas racialistas no Brasil não se destinam a promover inclusão social. Elas só se destinam a fabricar identidades raciais oficiais.
21:29 - 10/11/2009
http://jbonline.terra.com.br/pextra/2009/11/10/e101122513.asp
Luciana Abade , Jornal do Brasil
BRASÍLIA - A partir da próxima semana será implantado o maior Plano de Qualificação Profissional com recorte social e racial no Brasil: o Planseq Afro, que vai capacitar 25 mil negros que estão desempregados nos 26 estados e no Distrito Federal. Minas Gerais, Rio de Janeiro e Mato Grosso são os estados que oferecerão o maior número de vagas: 6.945, 3.860 e 2.940 respectivamente. Empreendedor individual, carpinteiro, mecânico de motos, eletricista, borracheiro, gerente de supermercado, operador de telemarketing e recepcionista são os principais cursos oferecidos. Entre eles, destaca-se o de cuidador de pessoas com doença falcifome – a doença genética mais comum da população brasileira que diminui a circulação, provocando dor e destruição dos glóbulos vermelhos e que acomete principalmente a população negra.
O Planseq Afro é uma parceria entre o Ministério do Trabalho e Emprego e a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) e custará cerca de R$ 20 milhões. Para fazer um dos cursos é preciso se autodeclarar afrodescendente e estar desempregado. O programa de capacitação priorizará os jovens de 16 a 24 anos e adultos com mais de 40 anos, além de pessoas com um número grande de dependentes. Alguns cursos exigirão ensino médio como pré-requisito. Mas a maioria pode ser feita por quem tem apenas ensino fundamental.
Subsecretário de Políticas e Ações Afirmativas da Seppir, Martvs das Chagas está otimista quanto a absorvição dos futuros profissionais no mercado de trabalho devido a retomada do crescimento econômico esperada para o próximo ano:
– O setor de serviços precisa de profissionais qualificados. Não conseguiremos alocar todos, mas estamos trabalhando para isto. O que não podemos é não fazer nada diante do lamentável diagnóstico da subcidadania a que está submetida a população negra, maioria entre a massa desempregada.
Para o coordenador do Núcleo de Estudos Raciais da Universidade de Brasília (UnB), Nelson Inocêncio, a profissionalização de pessoas negras é uma ação afirmativa que deve ser comemorada porque busca corrigir a defasagem que há na “condição diferenciada” que sempre foi imposta ao negro no mercado de trabalho.
– Profissionalizados, os negros vão entrar no mercado de trabalho com perspectiva de ascensão profissional – acredita o coordenador.
– E o combate ao racismo se dá na prática, em ações como esta. As mulheres negras no Brasil estão trabalhando principalmente como empregadas domésticas. Não é a situação ideal, mas já é um paliativo. Mas para um número considerável de homens negros tem sobrado a marginalidade.
Para Inocêncio, tão importante quanto profissionalizar os negros é criar uma política voltada para o empregador que ainda “não é sensível” a desigualdade latente entre brancos e negros no mercado de trabalho. Segundo o subsecretário da Seppir, além das atividades práticas, os alunos terão aulas de noções de cidadania e questões raciais para conseguirem perceber qualquer ato de discriminação que possam vir a sofrer.
Divergências
Ações afirmativas voltadas para o mercado de trabalho, no entanto, não são unanimidade nem mesmo dentro do movimento negro.
– É um escândalo. É uma atitude reacionária – denuncia o coordenador do Movimento Negro Socialista, José Carlos Miranda.
– Querem dividir a classe trabalhadora entre negros e brancos. O Ministério Público deveria se posicionar contra este tipo de política que divide o povo brasileiro.
Segundo Miranda, ações como esta só existem em países que adotaram políticas segregacionistas como a Africa do Sul e a Alemanha nazista.
– Qual a diferença entre o desempregado negro e o branco se ambos forem pobres? – questiona Miranda. – Não é desta forma que se combate o racismo. A igualdade é defendida na Constituição. O problema é que as políticas universalistas não estão sendo aplicadas até o fim, mas dividir o povo só serve ao interesse de quem quer aprofundar o racismo. Qualquer pessoa que luta pela igualdade de direitos deve se indignar com este tipo de benefício.
Autor do livro Uma gota de sangue – história do pensamento racial, Demétrio Magnoli acredita que um programa de capacitação destinado a trabalhadores negros não é necessário, uma vez que já existem programas destinados a capacitar trabalhadores de baixa renda:
– A finalidade, obviamente não é para capacitar, mas classificar. As políticas racialistas no Brasil não se destinam a promover inclusão social. Elas só se destinam a fabricar identidades raciais oficiais.
21:29 - 10/11/2009
http://jbonline.terra.com.br/pextra/2009/11/10/e101122513.asp
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