segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Documento referencial do I Ciclo Nacional de Conversas Negras: “Agosto Negro ou o Que a História Oficial Ainda Não Conta”

Carta de Maceió “Conversas Negras de 2011 a 2014”

Documento referencial do I Ciclo Nacional de Conversas Negras: “Agosto Negro ou o Que a História Oficial Ainda Não Conta”

De 24 a 26 de agosto de 2010, decorridos 122 anos da abolição inconclusa foi realizado em Maceió, AL, o I Ciclo Nacional de Conversas Negras: “Agosto Negro ou o Que a História Oficial Ainda Não Conta”, um espaço de idéias, análises, reflexões sobre as temáticas e políticas referentes a contemporânea situação sócio-política, cultural e econômica da população negra brasileira.

O I Ciclo Nacional de Conversas Negras: “Agosto Negro ou o Que a História Oficial Ainda Não Conta” teve como intento estabelecer conversas universalizantes e marcadas por uma lógica redistributivista, na perspectiva de buscar propostas que garantam o enfrentamento dos desafios impostos por todas as formas de discriminação, com ênfase na discriminação racial, sexismo e lesbofobia.

Temas estratégicos na contemporaneidade foram debatidos buscando um novo desenho das fronteiras cartográficas da afrodescendência investindo e construindo politicamente as perspectivas para 2011- Ano Internacional d@s Afrodescendentes”, instituído pela Assembléia Geral das Nações Unidas.

O I Ciclo Nacional de Conversas Negras: “Agosto Negro ou o Que a História Oficial Ainda Não Conta” representou uma importante oportunidade de reunir lideranças, juntar

vozes do movimento negro nacional, representantes de instituições públicas, universitári@s,professor@s que tratam de questões para promoção da igualdade de gênero e raça refazendo passos da construção coletiva e a participação de sujeitos políticos em prol de uma causa comum:a igualdade de direitos constitucionais no contexto das diferenças étnico-regionais.

A realização do I Ciclo Nacional de Conversas Negras: “Agosto Negro ou o Que a História Oficial Ainda Não Conta” pelo Projeto Raízes de Áfricas, como representação do movimento negro alagoano, na terra negra de Palmares, despertou uma postura favorável e pró-ativa da Câmara Municipal de Piracicaba/São Paulo que tendo como interlocutor o jornalista Martim Vieira Ferreira, enviou convite oficial para que a realização do II Ciclo aconteça em terras piracicabanas, como um projeto de formação e conversas continuadas e de permanente intercâmbio nacional.

E, recordando que a Constituição da segunda nação mais negra do planeta é reconhecida internacionalmente pela valorização à cidadania e aos diretos humanos;

Recordando, ainda, que a segunda nação mais negra do planeta é signatária de diversos tratados, convenções e pactos internacionais de defesa dos direitos humanos e de combate a todos os tipos de preconceito, discriminação e racismo, entre elas a Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, ratificada pelo Brasil 1969, O Pacto internacional sobre direitos civis e políticos, ratificado pelo Brasil em 1992, Convenção Americana sobre Direitos Humanos, ratificada pelo Brasil em 1992, da Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e Formas Correlatas de Intolerância-Durban/África do Sul em 2001, e inúmeros resoluções nacionais, tais como Resoluções da II CONAPIR em 2009, da Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), em 2009, Resoluções contidas na sanção do Plano Nacional para Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação para as Relações Etnicorraciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, Resoluções dos Encontros Nacionais das Mulheres Negras, Quilombolas, Juventude Negra, do Estatuto da Igualdade Racial em 2010, Resoluções da Assembléia do VI Congresso Brasileiro de Pesquisador@s Negr@s em 2010, e buscando dar continuidade as conversas negras fundamentadas em todos os pressupostos acima, nós, a plenária presente no encerramento no I Ciclo Nacional de Conversas Negras: “Agosto Negro ou o Que a História Oficial Ainda Não Conta”, manifestamos a nossa disposição ao diálogo afirmando que é urgente e necessária a ratificação e cumprimento dos documentos citados.

Assim, reiterando o caráter dialógico do I Ciclo Nacional de Conversas Negras: “Agosto Negro ou o Que a História Oficial Ainda Não Conta” e enfatizando que o direito à igualdade é um bem de todos, e, é compromisso do estado, deliberamos e recomendamos pelo:

1-Estabelecimento de mecanismos que subsidiem as políticas públicas para o enfrentamento ao racismo na segunda nação mais negra do planeta;

2-Real implementação do Plano Nacional para Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação para as Relações Etnicorraciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana/Lei Federal nº 10.639:03 nas escolas brasileiras; uma exigência da LDB (Lei de Diretrizes Básicas da Educação Nacional) alterada pelo artigo 26-A.

3- Definição de uma agenda comum entre a Política Etnicorracial e as de Direitos Humanos;

4- Definição de uma agenda comum entre as Secretarias que compõem o Ministério de Educação, para o desenvolvimento de práticas que divulguem e consolidem a Lei Federal n 10.639/03;

5-Ampla divulgação das resoluções do Estatuto da Igualdade Racial, recém sancionado pelo Presidente da República;

7- Desenvolvimento de um conjunto de políticas públicas que possibilitem programas de empreendedorismo sócio-étnico, qualificando e divulgando quadros de profissionais e territórios patrimoniais, como o Parque Memorial Quilombo dos Palmares, localizado na Serra da Barriga, em Palmares/AL;

6- Por uma política de cultura, comunicação e mídias igualitárias, e não discriminatórias.

Por estas e muitas tantas razões, a plenária presente no encerramento do I Ciclo registra por oportuno a necessidade da realização de audiências públicas com os candidat@s ao cargos da presidência da segunda nação mais negra do mundo, visando com isso a legitimação do discurso político de tratar as diferenças sem transformá-las em desigualdades sociais.

Assinam esta carta:

A plenária presente e

Projeto Raízes de Áfricas- Alagoas

Instituto Mídia Étnica- Salvador/Bahia

Assessoria Especial de Políticas da Igualdade Racial- Goiânia- Goiás

Coletivo de Entidades Negras- CEN/Pernambuco

Comissão Nacional de Jornalistas pela Igualdade Etnicorracial da Federação Nacional dos Jornalistas/CONAJIRA;

Rede de Desenvolvimento Humano- REDEH- Rio de Janeiro

Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial- COJIRA- Alagoas/Rio de Janeiro/Distrito Federal/São Paulo

Coletivo de Clubes Sociais Negros do Rio Grande do Sul- RS

Secretaria Municipal de Reparação- Salvador/Bahia

Câmara Municipal de Piracicaba- São Paulo

Por racismo em escola, Governo de SP é condenado

Governador Alberto Goldman

Governo tem de pagar indenização de R$ 20 mil a família de menino que recebeu tarefa racista

O descuido de uma professora da rede estadual de São Paulo na utilização de um texto com conteúdo racista em sala de aula levou o Tribunal de Justiça de São Paulo a condenar o governo do Estado a pagar uma indenização de R$ 20,4 mil por danos morais à família de um estudante. A sentença foi dada no dia 10 e cabe recurso. A Procuradoria-Geral do Estado informou que ainda não sabe se vai recorrer da decisão.
Em 2002, uma professora da 2.ª série do ensino fundamental da escola estadual Francisco de Assis, no Ipiranga, em São Paulo, passou uma atividade baseada no texto Uma Família Colorida, escrito por uma ex-aluna do colégio. Na redação, cada personagem era representado por uma cor. O “homem mau” da história, que tentava roubar as crianças da família, era negro.

Durante o julgamento, a secretaria alegou que não houve má-fé ou dolo na ação da professora, mas o juiz entendeu que ainda assim se configurou uma situação de racismo. “Todavia, a atividade aplicada não guarda compatibilidade com o princípio constitucional de repúdio ao racismo”, afirma a sentença.

Depois da atividade, o garoto, que é negro e na época tinha 7 anos, passou a apresentar problemas de relacionamento e queda na produtividade escolar. O menino, que não teve a identidade divulgada, acabou sendo transferido de colégio. Laudos técnicos apontam que ele desenvolveu um quadro de fobia em relação ao ambiente escolar.

Pena. A sentença, de um juiz da 5.ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo, diz que houve dano moral por conta da situação de discriminação a que a criança e seus pais foram expostos. O valor fixado corresponde a 20 salários mínimos para o aluno e 10 salários mínimos para cada um dos pais. O pedido de danos materiais foi negado por falta de comprovação. A solicitação de recolhimento do livro que continha o texto foi desconsiderada, pois a rede não usa o material.
PARA LEMBRAR

Em 2007, uma pesquisa da Unesco mostrou que o racismo afeta o desempenho escolar de negros no Brasil. A média dos brancos no 3.º ano do ensino médio é 22,4 pontos mais alta que dos negros (na escala de 100 a 500 do Saeb). Mesmo quando se leva em consideração a classe social, as diferenças se mantêm. Na classe A, 10,3% dos brancos tiveram avaliação crítica e muito crítica no Saeb. Entre os negros, foram 23,4%.

Luciana Alvarez – O Estado de S.Paulo



http://bailedocarmo.com.br/site/index.php/archives/1709

45 anos da Marcha sobre Washington

História da luta dos negros nos EUA
45 anos da Marcha sobre Washington

No dia 28 de agosto de 1963 acontecia na capital norte-americana a maior manifestação política que o movimento negro já realizou até hoje, a famosa Marcha sobre Washington por Trabalho e Liberdade

28 de agosto de 2008

"Eu tenho um sonho de que um dia, esta nação se erguerá e viverá o verdadeiro significado de seus princípios".

O famoso discurso de Martin Luther King em frente ao Monumento Nacional de Washington em 1963, ato que celebrou a assinatura de John F. Kennedy sobre a Lei dos Direitos Civis, seria o final de um capítulo da luta que se inicia nos anos 50 em torno dos direitos democráticos da população negra. A lei, no entanto, não seria mais que uma mera formalização do Estado capitalista para frear e dividir o processo revolucionário em marcha que teria como expressões os movimentos estudantis, mobilizações operárias e a mobilização democrática contra a guerra no Vietnã.

Os negros, uma importante minoria, constituíram, sem dúvida, o setor mais importante destas mobilizações que ameaçavam, para temor do imperialismo, levantar a classe operária norte-americana, a mais poderosa do mundo.

Mais de 250 mil pessoas vindas de todo o País ocuparam as ruas de Washington para exigir seus direitos democráticos e acabar com a Lei de Segregação Racial. A manifestação era formada pela esmagadora maioria de negros, no qual muitos partiram de suas casas a pé. A própria burguesia, apesar da oposição dos setores racistas do Sul, teve que liquidar o que restava do regime de segregação para não dar lugar à sua liquidação revolucionária, que levaria a uma crise do regime político de conjunto e um movimento com reivindicações sociais mais defindas e revolucionárias.

A marcha foi a culminação da mobilização dos negros norte-americanos contra a exploração e a discriminação racial, sendo um golpe fulminante contra o governo, que no ano seguinte aprovou a lei contra a segregação racial.

Por detrás do pacifismo, a luta revolucionária

O líder Martin Luther King Jr., eternamente apresentado como o homem que conquistou os direitos civis para os negros norte-americanos, sempre foi, no entanto, a direita do movimento e buscou a todo o momento frear suas tendências revolucionárias e encaminhá-lo para uma política de acordo com o regime político imperialista.

Este acordo não foi fácil e, mais ainda, necessitou uma ampla mobilização da própria burguesia e a ação do próprio estado capitalista para conter as suas tendências revolucionárias.

O que poucos sabem, no entanto, é que por detrás deste movimento "democrático" e "pacifista" está oculto um movimento de massas verdadeiramente revolucionário, que levantou todo o cinturão negro dos estados sulistas contra o poder racista e suas forças repressivas, como a Ku Klux Klan, abrindo caminho para uma situação de virtual guerra civil.

Antes mesmo do surgimento dos Panteras Negras, em 1968, nascia no estado de Louisiana, mais precisamente na cidade de Bogalusa, os Diáconos pela Defesa e Justiça. Um grupo formado por negros veteranos da Segunda Guerra Mundial e da guerra da Coréia que pegaram em armas e formaram milícias negras, constituídas em grande medida de operários fabris, para iniciar uma guerra dentro dos seus próprios bairros contra os freqüentes ataques racistas e assassinatos de negros.

Os enfrentamentos dos Diáconos contra a KKK em Bogalusa obrigou o governo federal a intervir e fazer cumprir a Lei dos Direitos Civis de 1964 para evitar o que caminhava para se transformar em uma verdadeira guerra civil em um país com enormes contradições sociais.

Com a aparição dos Diáconos na imprensa de todo País, que mostravam negros armados e ameaçadores, muitos passaram a especular que os EUA se dirigiam para uma guerra civil. Estavam corretos e o medo deste desdobramento inevitável foi o que levou o governo do imperialismo norte-americano a colocar em prática as leis no Sul segundo a famosa tática de entregar os anéis para não perder os dedos.

Esta luta armada não foi uma iniciativa isolada da luta geral das massas negras e nem se deu sem considerar a evolução da situação política, mas foi uma verdadeira expressão armada de um amplo movimento ascendente das massas negras nos EUA, um dos maiores movimentos de massas que aquele país conheceu.

Embora a Lei de Segregação Racial tenha sido extinta, até hoje os negros não só nos EUA, mas em todo o mundo continuam sofrendo discriminação em todos os setores da sociedade capitalista. Sua situação somente poderia evoluir como uma luta aberta contra o capitalismo e pelo poder da classe operária. A reforma dos direitos civis foi, nesse sentido, uma medida concreta de freio através de concessões legais.

O movimento negro deve se organizar em torno de um programa revolucionário e independente da burguesia, pois só assim podem garantir seus direitos elementares e, acima de tudo, o fim da exploração do homem pelo homem através de um governo operário.

O movimento negro norte-americano é a parte oculta da história política dos EUA. Sua importância política e revolucionária torna impossível esconder todos os fatos que influenciaram decisivamente a política, a economia e a cultura dos EUA.


http://www.pco.org.br/conoticias/ler_materia.php?mat=8568

domingo, 29 de agosto de 2010

Larry Rohter: "Este é o 16º ano do governo FHC"



29/08/2010 - 12:00 - Atualizado em 29/08/2010 - 13:40

Larry Rohter: "Este é o 16º ano do governo FHC"

Para o jornalista americano, o PT e o PSDB se sobrepõem ideologicamente, Serra cometeu erros e Dilma não pode ser subestimada
Letícia Sorg
  Divulgação
OBSERVADOR
Rohter, autor de Brazil on the rise. O livro é uma introdução ao país para estrangeiros

O jornalista americano Larry Rohter, ex-correspondente do New York Times no Rio de Janeiro, ficou célebre entre os brasileiros em 2004, quando quase foi expulso do país por Lula depois de publicar uma reportagem em que dizia que a “predileção do presidente por bebidas fortes estava afetando seu desempenho no gabinete”. Mas a sua relação com o país começou muito antes do episódio, ainda no início da década de 1970, quando conheceu Clotilde Amaral, uma brasileira que estudava idiomas na Universidade de Georgetown, onde ele estudava história e ciência política. Rohter começou a aprender português com Clotilde, que, de professora, tornou-se sua namorada e o trouxe para conhecer o país em 1972. Casaram-se um ano depois, tiveram dois filhos e, do convívio com o país, o jornalista escreveu dois livros. O primeiro, Deu no New York Times (editora Objetiva), lançado em 2008 para o público brasileiro. O segundo, Brazil on the rise (Palgrave Mcmillan) (numa tradução livre, Brasil em ascensão), lançado neste mês, é uma introdução ao país para estrangeiros. “O interesse pelo Brasil já era grande em 2008, quando a editora decidiu fazer o livro, e desde então só aumentou”, diz Rohter. “Já sabemos até que haverá uma edição do livro em chinês.”

Nesta entrevista, concedida por telefone do escritório de sua casa, em Hoboken, região metropolitana de Nova York, Larry Rohter fala da nova obra, da campanha presidencial e do Brasil pós-Lula. O jornalista também revela se o episódio que quase levou à sua expulsão do país alterou sua opinião sobre o Lula como presidente.

ÉPOCA – Para quem o senhor escreveu Brazil on the Rise?
Larry Rohter –
O livro é complementar ao primeiro, Deu no New York Times, que era dirigido a brasileiros. É o outro lado da moeda: é um livro dirigido a estrangeiros, ao público que fala inglês. Isso quer dizer que a estrutura e o conteúdo do livro são diferentes. É um público que não conhece o Brasil, talvez nunca tenha estado no país, mas ouviu falar, tem uma curiosidade de conhecer melhor um país que está cada vez mais nas notícias. Nas manchetes, não, mas nas notícias, sim.

ÉPOCA – O interesse dos estrangeiros pelo Brasil tem aumentado?
Rohter –
O interesse dos estrangeiros pelo Brasil começou antes de eu escrever este livro e foi um dos motivadores. A editora resolveu publicar uma série sobre os países BRIC. Começaram com a China, depois a Índia, a Rússia. Quando, em 2008, decidiram fazer o livro sobre o Brasil, o interesse já era grande, e só aumentou. Vou fazer uma turnê pelos Estados Unidos para divulgar o livro e claro que vou para os lugares tradicionais, que têm ligações comerciais ou culturais com o Brasil, como Nova York, Washington, Boston e Miami. Mas, além disso, estou recebendo convites para fazer palestras em cidades como Denver, Salt Lake City, San Francisco, Portland, Columbus, Manchester, New Hampshire, lugares que tradicionalmente não têm uma ligação com o Brasil mas estão acompanhando um desenvolvimento da economia mundial e a política internacional e estão reconhecendo que é necessário conhecer o Brasil melhor.

ÉPOCA – Na introdução, o senhor diz que um de seus objetivos era sair dos clichês que sempre marcam a imagem do país lá fora. De que maneira seu livro mostra um Brasil diferente?
Rohter –
A começar pelo título do livro e pela capa. A capa não tem uma imagem tradicional do Cristo, da praia, do Carnaval. É o centro de São Paulo, de uma cidade pujante a perder de vista. É uma imagem desconhecida aqui nos Estados Unidos ou na Inglaterra porque, geralmente, o estrangeiro conhece o Rio de Janeiro. São Paulo geralmente é a grande surpresa. E eu queria projetar a imagem de um Brasil diferente, que convida o leitor a conhecer outra realidade. Claro que eu tenho um capítulo sobre a imagem do Brasil tradicional. Seria impossível ignorar o futebol, o carnaval. Mas é um capítulo entre dez. Os outros capítulos tocam assuntos que estão muito além da pauta tradicional sobre o país. Um capítulo foca o Brasil como superpotência cultural. Outro, o Brasil como potência industrial e agrícola. São os novos elementos que mais chamam a atenção do estrangeiro, a economia e o papel do Brasil no cenário internacional, porque também tem um capítulo sobre o Brasil e o mundo.

ÉPOCA – O senhor dedica um capítulo todo à questão racial no Brasil. Por que decidiu dar esse espaço à questão?
Rohter –
Nós sempre falamos da desigualdade social e econômica no Brasil mas, no fundo, isso tem um relacionamento muito forte com a questão racial que, para mim, é a raiz das mazelas sociais do país. Todas elas estão associadas à desigualdade racial. Todo povo é racista, não apenas o brasileiro. Tem racismo na China, na África, na Europa, em todos os cantos do mundo. O importante é como você lida com o racismo e se você reconhece que o racismo existe na sua sociedade. Nós, americanos, fomos forçados a reconhecer a mazela do racismo na nossa sociedade. Ainda estamos enfrentando isso, mas assumimos nossa condição de ser um país racista. O Brasil ainda não fez isso. Ainda persiste o mito da democracia, da igualdade racial, de que todas as discriminações contra as pessoas negras ou pardas têm a ver com a condição econômica, a pobreza. A ideologia de Gilberto Freyre ainda contamina o diálogo da questão racial no Brasil. É a minha visão pessoal, mas nasce de uma experiência de muitos anos no Brasil, de ter falado com amigos negros brasileiros, de ter lido muitos livros sobre o assunto. Quando eu era menino, morava na Flórida dos tempos da segregação. Foi uma coisa muito difícil para uma criança absorver, fiquei sensibilizado. Não quero dizer que nós, aqui, somos perfeitos. Mas reconhecemos que temos um problema. O Brasil ainda finge que não existe problema. Há vozes dissonantes, mas elas são minoritárias, não majoritárias. O negro brasileiro continua numa situação de desigualdade. Eu pergunto: onde está o Obama brasileiro? Não vejo um personagem dessa natureza no Brasil. O governo do Lula e do FHC fizeram coisas para melhorar a situação do negro e hoje você vê ministros negros, mais políticos negros, mas o país ainda está tentando fugir de um debate real e honesto da questão racial.
O Brasil ainda não reconheceu sua condição de ser um país racista. A ideologia de Gilberto Freyre ainda contamina o diálogo da questão racial no Brasil

ÉPOCA – O seu livro retrata as mudanças políticas, econômicas e sociais do Brasil dos últimos 30 anos. Como o senhor as vê?
Rohter –
De maneira geral, o país está no caminho certo. É preciso acelerar e aprofundar as políticas que levaram a avanços importantes no campo social e econômico. A educação é o gargalo mais sério no futuro próximo. Além disso, saúde, habitação também são importantes. E medidas para dar mais oportunidades para os negros e os pardos.

ÉPOCA – O senhor está acompanhando a disputa presidencial e, em seu livro, faz um perfil dos três candidatos com maior intenção de voto (Marina, Dilma e Serra). Qual a sua visão sobre o cenário político desta eleição?
Rohter –
Eu ia dar um perfil de um quarto candidato, o Ciro Gomes, mas ele saiu da disputa, uma vitória política do Lula. Neste instante, o quadro é muito favorável à Dilma. Marina é uma candidata interessante, mas vejo nas pesquisas que ela não continua crescendo. Chegou a um patamar mais ou menos fixo e, agora, o pouco tempo na TV vai dificultar ainda mais uma subida dela nas pesquisas. Ela tem uma plataforma interessante e representa algo diferente, algo fora do esquema tucanos/PT, mas não passa a um segundo turno, se é que vai haver um segundo turno. Porque é possível que a Dilma ganhe no primeiro.

ÉPOCA – A oposição está tendo dificuldades para eleger seu candidato. O senhor já esperava por isso?
Rohter –
O Serra demorou demais para confirmar a candidatura. E a escolha do vice foi desastrosa. Indio da Costa como vice-presidente do Brasil? O Álvaro Dias tem experiência, ele teria sido um candidato com força no Sul do país. Mas quando comentei com minha mulher que o Serra tinha escolhido o Indio da Costa, ela ficou atônita e me perguntou: “Aquele menino?” E é isso mesmo. Agora, a escolha da Dilma também não foi ótima. O Michel Temer, embora um político experiente, representa o antigo. Ele não é uma manifestação de uma nova política no país. Dos três candidatos a vice, o mais qualificado é o da Marina (o empresário Guilherme Leal). Ele pelo menos tem experiência em dirigir algo. Não sei se o eleitorado pensa muito no vice, mas veja a história do país: muito mais do que os Estados Unidos nos últimos 50 anos, o Brasil tem vivido momentos em que o vice assume a presidência. O Jango, o Sarney, o Itamar. Dados os problemas de saúde da Dilma, temos que pensar nisso e tenho certeza de que os investidores estrangeiros já estão pensando.

O Serra desperdiçou uma vantagem inicial que tinha. Ele realmente é um político experiente, foi senador, ministro, governador, e um economista com muitas qualidades, que entende do Brasil e do mundo. Agora, não quero desprezar a Dilma. Ela é uma administradora boa, que conseguiu pôr uma estrutura, uma disciplina no gabinete do Lula, e ela é uma pessoa inteligente. Mas ela nunca foi candidata a coisa nenhuma, está começando agora. E quando a vejo em um comício, ou num debate, parece que ela ainda não se sente confortável. E está carente do calor humano que você vê em candidatos como o próprio Lula e outros presidentes brasileiros como JK ou Getúlio. Ser a indicada do Lula parece que compensa todas as dificuldades. Parece. Estamos em agosto. Vamos ver como vai o resto da campanha.

ÉPOCA – Além dos candidatos, o seu livro destaca o nome de Aécio Neves.
Rohter –
Eu sei que uma aliança Serra e Aécio enfrentava oposição porque representa a aliança dos paulistas com os mineiros e tem gente que acha que é preciso uma chapa mais abrangente. Mas o Aécio é um candidato formidável. O Aécio tem futuro, sim, é claro, mas parece que o partido não sabe aproveitar toda a força que ele representa. Se não me engano, a última pesquisa que eu vi, há uma semana, dez dias, mostrava que a Dilma tinha 60% de apoio em Minas e o Serra, menos de 20%. Claro que ela é mineira. Mas, mesmo assim, um candidato tucano, num Estado em que Aécio é a figura política principal, teria que ter um desempenho melhor, para ganhar.

ÉPOCA – Os estrangeiros estão olhando para as eleições no Brasil?
Rohter –
Ainda não. O que interessa para eles é o resultado: quem vai ser o novo presidente, o que significa para os investimentos, se as mudanças vão ser grandes ou pequenas. No Brasil há apenas um partido de direita, o DEM, e mesmo ele está mudando. Na verdade, no campo ideológico você tende a ver uma convergência. Tanto que eu me lembro que o Francisco de Oliveira, um dos fundadores do PT, quando o Lula assumiu, em 2003, queixava-se de que era o nono ano do governo Fernando Henrique. A esta altura, estamos no 16º ano do governo FHC. Porque a política econômica do governo Lula, com o passar dos anos, é cada vez mais social democrata, no sentido europeu. Claro que ainda existem no partido facções e grupos nostálgicos da linha marxista-leninista, mas não são a maioria. Seria interessante ver como eles vão se comportar num eventual governo Dilma. Se ela tem força suficiente para controlar essa tendência dentro do partido. Mas, hoje em dia, os dois partidos mais importantes no país estão ocupando um campo ideológico que se sobrepõe.

ÉPOCA – Embora o Brasil tenha se saído bem da crise financeira de 2008, alguns dados mostram que o crescimento está desacelerando. Como o senhor vê a economia brasileira nos próximos anos?
Rohter –
Isso depende de vários fatores. Nenhum país, nem os Estados Unidos, tem potência suficiente para se isolar da crise mundial. E ainda estamos em crise. Não sou um desses tão otimistas que acham que a crise já passou. Existem vários perigos. Aqui, nos EUA, tem gente, basicamente os republicanos, falando besteira. Existe um grande perigo de deflação nos Estados Unidos que seria desastrosa para o Brasil. Outro fator é a China. O Brasil tem sido, na última década, pelo menos, uma fonte de matérias primas para a China. Temos uma relação triangular. Os Estados Unidos compram bens fabricados na China com matérias primas brasileiras. Aí o perigo para o Brasil é a desaceleração do consumo americano e da máquina industrial chinesa. Claro que aponto no livro que o Brasil tem fatores positivos que outros países da América Latina não têm. Por exemplo, o Chile tem que exportar para sobreviver. O Brasil, não. Aquele mercado de quase 200 milhões de pessoas ajuda muito. O governo foi muito inteligente em navegar aquela primeira fase da crise em 2008, apesar daquela declaração ufanista do Lula [“E a crise? Pergunte ao Bush, a crise é dele”]. Porque o pessoal na Fazenda e no Banco Central sabia do perigo e foi muito capaz em lidar com aquela primeira fase da crise. Agora é outro desafio e requer muito jogo de cintura.

ÉPOCA – Seu livro diz que o jogo de cintura é uma especialidade brasileira...
Rohter –
Sim, é verdade. Nas relações pessoais, sim. No campo econômico, até certo ponto, porque o Brasil não é o rei do jogo. O Brasil tem que se conformar com certos limites, não tem autonomia plena. Mas até nós, americanos, já não temos mais autonomia plena, não... Os próximos anos vão ser um desafio. E muito vai depender da agilidade da nova turma que entra no Palácio do Planalto em janeiro.

ÉPOCA – O senhor fala que os estrangeiros nem sempre entendem a hiper-sensibilidade dos brasileiros em relação aos comentários sobre o Brasil.
Rohter –
Isso acontece especialmente no início da estadia em um país. Você diz uma coisa aparentemente inocente e seu amigo brasileiro o leva a mal. Aí tem que analisar o que foi que disse, por que a pessoa se ofendeu. Tem que investigar, pesquisar a história do país e da sociedade. Eu me lembro de uma reportagem em que eu usava a palavra “lite”. Aí uma editora aqui em Nova York queria saber por que o brasileiro usava “lite” e não “light”, e aí eles incluíram uma pequena explicação. Aí alguém, não me lembro quem, fez toda uma exposição de como isso representava uma atitude colonialista, dizendo que eu estava debochando do país. Foi uma coisa que me deixou atônito. Porque, às vezes, como dizia o Freud, um charuto é um charuto. Mas acho que nós, estrangeiros, temos que aprender, temos que entender melhor como o brasileiro vê o mundo e por quê.

ÉPOCA – De maneira geral, o senhor critica o jeitinho brasileiro e como ele se transforma na cultura de levar vantagem em tudo. Mas afirma que ele funciona na diplomacia. Como?
Rohter –
É um dos grandes méritos do Itamaraty. Eles sabem como construir um acordo com linguagem vaga, digamos. Ele sabem como costurar um acordo que aparentemente diz uma coisa mas pode ser interpretada como outra. É um talento muito útil no cenário mundial.
O jeitinho brasileiro na diplomacia é um dos grandes méritos do Itamaraty. Ele sabem como costurar um acordo que aparentemente diz uma coisa, mas pode ser interpretada como outra.

ÉPOCA – Em seu livro, o senhor diz que a falta de uma posição do Brasil em conflitos regionais fez o país ser conhecido como um “gigante econômico e um anão diplomático”. O Brasil vai ter mais relevância na política externa?
Rohter –
Não sei, depende do próximo governo. Nos últimos meses o Brasil foi mais audacioso. Aquela iniciativa com a Turquia sobre a questão nuclear no Irã foi um passo muito ousado. Mas o Brasil se deu mal. Iniciativas fora da área de influência natural do Brasil, ou seja, fora do continente, muitas vezes vão mal. Porque o Brasil ainda não tem quadros treinados para lidar com China. Não tem pessoas com experiência diplomática ou comercial lidando com os chineses. Então cai nas trampas dos chineses, que estão nesse jogo há 5 mil anos. O Brasil quer ser algo mais que um anão diplomático mas é um processo muito difícil. Vai ter episódios muito amargos e o país vai aprender de forma dolorosa. Mas a presença do Brasil como país no cenário mundial é benéfica para todos.

O Brasil quer ser algo mais que um anão diplomático, mas é um processo muito difícil. Vai ter episódios muito amargos e o país vai aprender de forma dolorosa.

ÉPOCA – Como o senhor avalia a relação entre o Brasil e os Estados Unidos?
Rohter –
Claro que a relação do governo Lula com o governo Obama não é tão íntima ou calorosa como se esperava, mas o Brasil ainda continua sendo um interlocutar útil, valioso e isso no próximo governo tende a crescer. Acredito que o próximo governo não vai cometer os mesmos erros que o governo Lula cometeu. Como o que aconteceu com a campanha para conseguir uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU, que prejudicou a relação com Argentina, com México, e não levou a nada. O Brasil fez concessões aos chineses que não foram compensadas.

Em certo sentido, o Brasil entrou na bagunça do Haiti pensando: “Não somos os franceses, não somos os americanos, vamos mostrar como se faz”. Agora está lá ainda sem ideia de como sair. Parte disso é culpa dos EUA e da França, que não cumpriram as promessas de ajuda. Mas às vezes o Lula é confiante demais. Ele vê as coisas de uma maneira simples quando estão complicadas. Ele acha: “O Brasil pode o que os outros não puderam”. E não é assim. No cenário mundial, onde ele tem pouca experiência e pouco conhecimento, as coisas são muito complicadas.
Às vezes, o Lula é confiante demais. Ele vê as coisas de uma maneira simples quando estão complicadas. Ele acha: “O Brasil pode o que os outros não puderam”. E não é assim.

ÉPOCA – No livro o senhor diz que, enquanto a imprensa brasileira valorizou o episódio em que Obama elogiou Lula (“Ele é o ‘cara’”), a imprensa americana praticamente o ignorou. Por quê?
Rohter –
O Brasil é sempre muito sensível a isso: como vai a relação com os gringos. E foi um momento interessante no relacionamento entre os dois países. Mas isso passou. Estamos em outra época. A crise de Honduras mudou a situação. Também aquele discurso que o Lula fez no Itamaraty em que ele zombou da Hillary em público e isso não se faz. O governo de Obama agora se pergunta: “com quem estamos lidando? Eles são um governo sério? Eles são um país sério ou não?” Zombar da Hillary naquela vozinha de menina foi muito mal visto em Washington. O primeiro contato com o Brasil também não foi muito positivo. Eu estava viajando com a comitiva de Obama, então candidato, e um assessor dele da área de política internacional fez contato com o Brasil por meio da embaixada. Era uma coisa para não ser divulgada, mas acabou saindo em uma dessas colunas de fofoca. Um pouco o Brasil se vangloriando de um contato com o Obama, mas isso não se faz. E deixou uma impressão inicial negativa. Outras coisas têm acontecido para reforçar essa impressão. Ao mesmo tempo eles reconhecem que o Brasil é um parceiro potencial muito interessante e cada vez mais importante. Não tem como negar a importância que o Brasil tem.

ÉPOCA – Em várias passagens, Lula é apresentado como uma figura anedótica, uma espécie de bobo alegre, fazendo piada de judeu aqui, dizendo que a crise é “problema do Bush”, que é “chique emprestar pro FMI” e que “Pelotas exporta viados”. Não seria interessante mencionar também o episódio em que o senhor quase foi expulso do país por Lula?
Rohter –
Menciono brevemente o incidente com o Lula.

ÉPOCA – Em um parágrafo.
Rohter –
E só vale um parágrafo. Não quero voltar a esse episódio. Foi um espasmo autoritário do presidente e foi contornado. As instituições brasileiras funcionaram como devem funcionar e fui poupado da expulsão que o governo buscava naquele momento. Não sofri represálias. Ainda estou em contato com elementos do PT.

ÉPOCA – Mas o episódio alterou a sua avaliação de Lula como presidente?
Rohter –
Não. Inclusive, neste novo livro, tenho uma visão muito equilibrada do Lula. Reconheço os méritos do governo dele. Na verdade falo de um ciclo de 16 anos – FHC e Lula. O Lula não é um intelectual, mas ele teve a astúcia e a inteligência de ver o valor e a utilidade das mudanças que o governo Fernando Henrique fez e de construir algo usando aquelas mudanças como base. O Lula é um grande político, não tem como negar, não pretendo negar, não quero negar. Mas ele não é intelectual. Ele é mais do estilo Bush.
O Lula é um grande político, não tem como negar, não pretendo negar, não quero negar. Mas ele não é intelectual. Ele é mais do estilo Bush.

ÉPOCA – Mas, em termos de carisma, é possível dizer que Obama está mais para Lula do que para FHC, não?
Rohter –
Obama é carismático, sem dúvida, mas é um grande orador e é um intelectual. Então ele difere do Lula. O Lula é um grande orador, mas o estilo dele é mais popular. O Obama consegue despertar esperança, paixões e as mistura com ideias complicadas.

ÉPOCA – O que, na sua opinião, vão representar a Copa de 2014 e os os Jogos de 2016 para o Brasil? Estando fora do Brasil, o que se espera do país como sede desses eventos?
Rohter –
É a chance de projetar o país como potência emergente. Vejo oportunidades e perigos. A advertência que a Fifa fez agora sobre os estádios deve ser levada a sério. Fui bastante crítico dos Jogos Panamericanos porque o Rio fez promessas que não cumpriu. Prometeu construir novas estações do metrô, por exemplo. Mas quando o país faz uma promessa e assina um contrato, tem que cumprir. Senão, a credibilidade do país sofre. Daí o perigo. Com a Copa e as Olimpíadas, você está lidando com outros países, outros povos, que têm outros valores e padrões. E eles vão ficar nervosos se tudo ficar para a última hora. Então é bom começar logo para evitar problemas e constrangimentos. Claro que entendo que estamos em campanha eleitoral e isso acaba postergando contratos e decisões.

ÉPOCA – A violência brasileira está sendo vista como um problema pelos estrangeiros?
Rohter –
A questão da violência vai ficar cada vez mais importante lá fora. É inevitável que em reportagens sobre episódios de violência no Rio, no quarto ou quinto parágrafo, haja menção ao fato de que a cidade vai ser sede dos dois eventos. Tem incidentes que realmente marcam as pessoas. Para mim foi a morte daquele menino João Helio. Até hoje fico pensando no caso dele, na família dele. Não existe um perigo real viver a cada momento no Rio, mas existe uma preocupação que tira algo do brilho da Cidade Maravilhosa. Conheço pessoas aqui que vão visitar o Brasil e não pretendem ir para o Rio porque já ouviram tantas histórias... Eu digo que é exagero, mas tem que tomar cuidado, é claro.

ÉPOCA – Não nos recordamos, aqui na redação, da suspeita de compra de votos de jurados no Carnaval do Rio na vitória da Vila Isabel com um enredo sobre a Venezuela governada por Hugo Chávez.
Rohter –
A imprensa carioca especulou sobre a compra de votos. Eu era correspondente na Venezuela e vi especulação na imprensa lá e, além do mais, tenho parentes que moram na Vila Isabel. Mas confesso que eles são do Salgueiro. Mesmo assim havia especulações sobre isso.

ÉPOCA – Sabíamos da especulação em 2007, quando a Beija-Flor foi campeã.
Rohter –
É, também.

ÉPOCA – Quais são as chances de, daqui a dez anos, o senhor escrever o livro The Rise and Fall of Brazil (A ascensão e a queda do Brasil)?
Rohter –
O Brasil está subindo, como diz o título do livro. O país chegou a outro patamar. O perigo não é cair, mas haver uma estagnação, deixar de subir com a mesma velocidade. A ideia de um Brasil quinto poder daqui a dez, quinze anos não é irreal. Depende de vocês. É uma aspiração lógica. O país está em uma fase bem diferente de sua história. Eu sou otimista. Nesse sentido sou brasileiro.


FONTE: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI166579-15227,00.html


quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Quadrinhos resgatam história da presença africana no Brasil

Quadrinhos resgatam história da presença africana no Brasil




Por Mariana Ferraz

O livro “AfroHQ: História e Cultura Afro-brasileira e Africana em Quadrinhos”, produzido em parceria pelas alunas de Artes Plásticas da UFPE Danielle Jaimes e Roberta Cirne e o professor Amaro Braga, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), busca o resgate da história da presença africana no Brasil e suas contribuições para a formação da cultura brasileira. A obra de 90 páginas foi lançada em julho na. Ex-professor substituto da UFPE, Braga realizou o trabalho de pesquisa e redação do roteiro, enquanto o visual (desenhos e pintura) foi criado pelas alunas.

Narrada pelos orixás, a aventura inicia no surgimento do homem na África, passa pela escravidão e chega a não apenas pontuar, mas aprofundar as contribuições materiais e imateriais do povo afro no patrimônio brasileiro. Para elaborar o roteiro, Braga utilizou-se de uma vasta bibliografia sobre a presença negra no país, desde o clássico “Casa Grande e Senzala” de Gilberto Freyre a vários manuais publicados pelo Ministério da Educação (MEC) nos últimos anos. As prévias do roteiro e do desenho, criados a partir da discriminação das cenas, eram apresentadas aos consultores, que emitiam críticas para guiar a equipe a fim de propiciar ao trabalho uma transdisciplinaridade que não privilegiasse nenhuma das abordagens (História, Antropologia, Sociologia e Política).

Sobre a produção das imagens, Daniele revelou que cada uma das 3 tiras que compõem as páginas, com média de 2 quadrinhos cada, foram feitas em folhas A4 e depois juntadas, para aumentar a qualidade do trabalho. Há também páginas com uma única ilustração vertical; nesse caso, para não fracionar a gravura, ela foi desenhada em uma única folha. À medida que criaram as representações dos personagens, uma designer mostrava à outra para que ela copiasse quando necessário formando a sólida linha condutora da obra. Os traços são incrivelmente detalhados, com abundância de cores – característica da cultura afro – na maior parte das páginas.

De acordo com o Braga, a sintonia entre as alunas permitiu maior agilidade à etapa de arte do trabalho. Os traços, apesar de guardarem suas particularidades, são muito parecidos aos olhos do leitor desatento, proporcionando unicidade à obra. “As meninas têm um traço completamente especial, único; fazem um desenho muito realista e ao mesmo tempo leve e sinuoso, o que imprime um ar nostálgico ao trabalho. Quando descrevo uma cena e falo das características plásticas que quero impor ao material, elas entendem perfeitamente”, elogiou Braga, que também escolheu o design das letras da HQ.

A publicação chega ao mercado no período da aprovação do Estatuto da Igualdade Racial pelo Senado Federal (16 de junho), que aguarda apenas a sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Além disso, desde 2003 existe a lei que prevê a obrigatoriedade do ensino de conteúdos curriculares sobre a História e a Cultura Africana e Afro-brasileira nas escolas. Os professores poderão, portanto, apresentar estes conteúdos em sala de aula com maior facilidade, atraindo a atenção dos alunos com o conteúdo visual de alta qualidade. A barreira do preconceito, no entanto, ainda persiste: muitas escolas religiosas não aprovam a presença dos orixás, pois é uma crença não-ortodoxa. Para Roberta, a utilização deste tipo de material “depende da abertura da escola, vai da cabeça de cada diretor”. Há educadores que questionam, inclusive, se histórias em quadrinhos são uma forma legítima de arte.

O patrocínio do Funcultura, do Governo do Estado de Pernambuco, foi vital para a realização do projeto, pois permitiu que Roberta e Danielle se dedicassem quase exclusivamente à confecção dos desenhos. Além disso, o alto preço da parte gráfica foi custeado por esse investimento, que foi aprovado em dezembro de 2008. No total, o trabalho durou pouco mais de um ano. No lançamento da AfroHQ, estiveram presentes um grande número de yalorixás (mães-de-santo) e o mestre do quadrinho nacional Lailson de Holanda Cavalcanti, grande incentivador da produção de quadrinhos em Pernambuco. Os autores procuram uma editora que invista na expansão do produto, “já que esta primeira tiragem é praticamente exclusiva para bibliotecas de escolas públicas”, contou Daniele.

Este é o sétimo álbum feito pelo professor em parceria com Danielle e Roberta. O primeiro volume da série de histórias em quadrinhos – “Passos Perdidos, História Desenhada: A Presença Judaica em Pernambuco no Século XX” – resultou da adaptação do livro “Passos Perdidos, História Recuperada: A Presença Judaica em Pernambuco”, da professora Tânia Kaufman (UFPE). O penúltimo álbum, "Heróis da Restauração Pernambucana" (2009), foi uma adaptação dos livros do Professor José Antônio Gonçalves de Mello, professor de História emérito da UFPE. O próximo livro irá abordar as contribuições da cultura indígena para a formação do Brasil, enfatizando as dez nações indígenas de Pernambuco.

Mais informações
Professor Amaro Braga
(82) 3214.1323


http://www.ufpe.br/agencia/index.php?option=com_content&view=article&id=37855:quadrinhos-resgatam-historia-da-presenca-africana-no-brasil&catid=20&Itemid=77


Um lembrete: no Brasil, nenhuma religião se encontra acima da lei

Justiça tem de intervir em casos de discriminação religiosa

Um lembrete: no Brasil, nenhuma religião se encontra acima da lei

FÁTIMA OLIVEIRA
Médica - fatimaoliveira@ig.com.br

Ser escrevinhadora de O TEMPO é gratificante não só porque amo escrever e tenho pendores de memorialista - quando criança, ouvir histórias à noite era um programão -, mas pela interação. Em 4 de maio, publiquei "A riqueza da diversidade na experiência do sagrado" e, no último dia 6, um leitor de Fortaleza (CE) escreveu-me sobre a atualidade do tema para um conflito que vive.

"Meu nome é Sebastião Ramos. Sou autor de uma denúncia pioneira no Brasil, contra uma discriminação religiosa atípica, aceita pelo Ministério Público do Ceará, desde agosto de 2009 - a desassociação da Igreja Testemunhas de Jeová: uma espécie de excomunhão aplicada contra jovens, homens, mulheres e até pessoas idosas no Brasil e no mundo inteiro. A pessoa que passa pela desassociação, ou pede para sair, é isolada socialmente (...). Em abril deste ano, o Ministério Público denunciou à Justiça, por discriminação religiosa, os dois pastores que me desassociaram da referida religião".

Em outro e-mail, recebi informações complementares: "DESASSOCIAÇÃO ocorre quando um membro é expulso por cometer um pecado (ou discordar do que é ensinado pelas Testemunhas de Jeová); e DISSOCIAÇÃO acontece quando um membro exerce seu direito de escolher outra religião. Em ambas, as pessoas com quem a afastada possui laços afetivos, se são testemunhas de Jeová, sejam da família ou não, passam a tratá-la como se ela não existisse ou nunca tivesse existido". A tentativa é produzir uma morte social? É pior, é redução a nada: um dano à honra e à imagem.

O fenômeno é tamanho que foi criado o Fórum das Ex-Testemunhas de Jeová! Muita gente confunde a Igreja Adventista do Sétimo Dia com Testemunhas de Jeová. Durante anos e anos, eu não sabia diferenciar uma da outra. Antes, pontuo que não entro na polêmica de quem é igreja ou seita. É inútil, pois ter ou não ter uma religião é um direito constitucional no Brasil. Logo, devemos respeitar como religião qualquer ajuntamento de pessoas que professa uma fé deísta e se diga Igreja, Torre da Vigia, candomblé, umbanda etc. Instigada pelo e-mail do Sebastião, rememorei o que sabia sobre a religião Testemunhas de Jeová.

Em minha vivência em pronto-socorro, não é incomum encaminhar para a Justiça decidir sobre transfusão de sangue, que são contra. Tenho deferência pela autonomia de cada testemunha de Jeová, todavia, em cumprimento às leis do nosso país, entrego a decisão nas mãos da Justiça, que jamais deixou de autorizar ministração de sangue sob prescrição médica. Voltei no tempo. Era menina e ouvia o povo dizer: "Aquelas crentes das rouponas" ou "aqueles homens de terno preto, sem ser maçom", que batiam de porta em porta vendendo livros. Até já comprei uns sobre medicina natural. Se há uma coisa que admiro nos evangélicos é o trato com aparência: o ar de dignidade com que se vestem para os cultos.

No entanto, não silencio sobre o que se configura como discriminação religiosa: danos à honra e à imagem de uma pessoa por qualquer religião. A associação a uma denominação religiosa é livre - um ato de autonomia da pessoa, que vale para entrar e para sair. Às religiões que não pensam assim: saibam que em território brasileiro estão sujeitas ao cumprimento da lei, sem choro, sem vela e muito menos fita amarela! Assim sendo, nenhuma religião no Brasil está acima da lei. Então, não dá para calar quando experiências do sagrado cometem discriminações. Não podemos contemporizar com tais práticas insanas contra a cidadania.

Duke



Publicado em: 24/08/2010


http://www.otempo.com.br/otempo/colunas/?IdColunaEdicao=12661

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Polícia procura autores de suástica em milharal na Alemanha


24/08/2010 12h23 - Atualizado em 24/08/2010 12h23

Polícia procura autores de suástica em milharal na Alemanha
Cruz apareceu em fazenda próximo à cidade de Niklasreuth.Uso de símbolos nazistas é proibido no país.
Do G1, com Reuters
imprimir
Suástica gigante em campo de milho é vista nesta terça-feira (24) em fazenda próximo à cidade alemã de Niklasreuth. A polícia está investigando a autoria. Na Alemanha, o uso de símbolos relativos ao nazismo é proibido. (Foto: Reuters)

http://g1.globo.com/mundo/noticia/2010/08/policia-procura-autores-de-suastica-em-milharal-na-alemanha.html

Guia turístico brasileiro é detido no Egito

24/08/2010 12h59 - Atualizado em 24/08/2010 13h20
Guia turístico brasileiro é detido no Egito
Ele é acusado de promover atividades religiosas, o que é proibido no país.Policiais encontraram bíblias e folhetos evangélicos no carro do brasileiro.
Do G1, em São Paulo

Um guia turístico brasileiro está detido no Cairo, capital do Egito, sob a acusação de promover atividades religiosas, o que é proibido pelas leis locais.Segundo a assessoria de imprensa do Ministério das Relações Exteriores, o homem, que vive no Egito, foi detido com outras duas brasileiras, que já foram liberadas.A namorada do brasileiro, que vive no Maranhão, disse ao Jornal Hoje (veja reportagem no vídeo ao lado) que ele ia visitar as pirâmides e foi detido por policiais que encontraram as bíblias e folhetos evangélicos no carro em que ele viajava.De acordo com o Itamaraty, a embaixada do Brasil no Egito está tomando providências para que o brasileiro seja liberado.


http://g1.globo.com/mundo/noticia/2010/08/guia-turistico-brasileiro-e-detido-no-egito.html

José Serra mente em debate. O DEM quer sim acabar com o ProUni

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

José Serra mente em debate. O DEM quer sim acabar com o ProUni


Na primeira pergunta que fez para o candidato José Serra (PSDB) no debate Folha/UOL, Dilma Rousseff (PT) questionou o DEM por ter entrado na Justiça para acabar com o Prouni (Programa Universidade para Todos).

"O senhor falou do Protec como exemplo para ensino técnico, na carona do Prouni. O meu governo criou o Prouni, para dar acesso aos mais pobres às universidades. O partido do seu vice [Indio da Costa, do DEM] quis acabar na Justiça com o projeto. O que teria acontecido se o Prouni tivesse acabado? O que você diria aos alunos beneficiados?", disse.

Em resposta, Serra disse que o DEM não entrou com o processo no STF (Supremo Tribunal Federal)...SERRA MENTIU

Quarta-feira, 02 de abril de 2008
Ministro Carlos Ayres Britto vota pela constitucionalidade do ProUni

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Carlos Ayres Britto votou hoje (2) pela constitucionalidade do ProUni, o Programa Universidade para Todos. O Programa foi alvodo Partido DEM em Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADIs 3330, 3314 e 3379) logo após ser criado pelo governo, por meio de medida provisória, depois convertida na Lei 11.906/05. O julgamento foi interrompido pelo ministro Joaquim Barbosa, que pediu vista do processo.

Em seu voto, Ayres Britto rechaçou um a um os argumentos contra o ProUni. A Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino (Confenem), aliado aos Democratas (DEM) e a Federação Nacional dos Auditores Fiscais da Previdência Social (Fenafisp) alegam que o programa criou uma discriminação entre os cidadãos brasileiros, ofendendo os princípios constitucionais da isonomia e da igualdade

Pela lei, as universidades privadas devem instituir políticas de ações afirmativas para receber recursos do ProUni, com reserva de parte das bolsas de estudo para alunos que tenham cursado o ensino médio completo em escola da rede pública ou em instituições privadas na condição de bolsista integral, sendo que parte das bolsas deve ser concedida para negros, indígenas e pessoas portadoras de necessidades especiais. Além disso, a lei determina que as bolsas de estudo integrais só podem ser concedidas a brasileiros cuja renda familiar mensal per capita não exceda 1,5 salário-mínimo.

Ayres Britto disse que é pelo combate eficaz a situações de desigualdade que se concretiza a igualdade e que a lei pode ser utilizada como um instrumento de reequilíbrio social, se não incidir em discriminação. “Não se pode criticar uma lei por fazer distinções. O próprio, o típico da lei é fazer distinções, diferenciações, `desigualações´ para contrabater renitentes `desigualações´.”

Ao citar a máxima de que “a verdadeira igualdade consiste em tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais”, Ayres Britto lembrou que a lei beneficia estudantes com carência patrimonial e de renda, uma faixa da população que tem sido alvo de ciclos repetitivos de desigualdades.

“A `desigualação´ em favor dos estudantes que cursaram o ensino médio em escolas públicas e os egressos de escolas privadas que hajam sido contemplados com bolsa integral não ofende a Constituição pátria, porquanto se trata de um discrímen que acompanha a toada de compensação de uma anterior e factual inferioridade [patrimonial e de renda]”, concluiu.

Isenção tributária
Outra inconstitucionalidade apontada é que a lei teria desvirtuado o conceito constitucional de entidade beneficente de assistência social, criando regras para as entidades aderirem ao ProUni e limitando o poder estatal de tributar, o que só poderia ser feito por meio de lei complementar.

Ayres Britto também afastou esses argumentos. Ele disse que as entidades beneficentes de assistência social abarcam as de assistência educacional e que a lei do ProUni tão-somente criou um “critério objetivo de registro contábil compensatório da aplicação financeira em gratuidade por parte das instituições educacionais”.
Matéria penal

As entidades argumentaram, ainda, que a lei tratou de matéria penal ao fixar penalidades para instituições que descumprirem as obrigações assumidas no termo de adesão ao ProUni. Ayres Britto disse que as determinações da lei “nem de longe” trataram de matéria penal. Segundo ele, elas transitam no campo de matéria administrativa e foram produzidas de modo cuidadoso, tanto que fazem questão de condicionar eventual sanção a uma entidade somente após a instauração de procedimento administrativo, assegurado o contraditório e o direito de defesa.Aqui o link

Leia mais:
RR/LF
Processos relacionados
ADI 3330
ADI 3314
ADI 3379


Carta do Rio de Janeiro no VII Seminário Nacional Religiões Afro-Brasileiras e Saúde:


Carta do Rio de Janeiro no VII Seminário Nacional Religiões Afro-Brasileiras e Saúde:

Dialogando com as Políticas Públicas de Saúde e discutindo os novos rumos para o SUS,

Rio de Janeiro – 18 a 20 de agosto de 2010


Prezados/as
Estamos enviando a Carta do Rio de Janeiro, conforme solicitado por todas e todos.
Marmo



Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde
Rua Francisco Muratori 6/202 - Santa Teresa - Rio de Janeiro Cep:20230-080
Telefone: (21) 2224-4576


Carta do Rio de Janeiro no VII Seminário Nacional Religiões Afro-Brasileiras e Saúde:
Dialogando com as Políticas Públicas de Saúde e discutindo os novos rumos para o SUS,

Rio de Janeiro – 18 a 20 de agosto de 2010

Nós, lideranças de terreiros, adeptos das religiões de matrizes africanas, lideranças do
movimento negro, pesquisadores, gestores de promoção de igualdade racial, gestores e
profissionais de saúde, conselheiros de saúde e organizações presentes no VII Seminário
Nacional Religiões Afro-Brasileiras e Saúde: Dialogando com as Políticas Públicas de Saúde
e discutindo os novos rumos para o SUS reafirmamos a importância do enfrentamento do
racismo, do sexismo, da intolerância religiosa e de todas as formas de discriminação para
a garantia do direito humano à saúde e o bom funcionamento do Sistema Único de
Saúde(SUS) .
Entendemos que apesar do direito humano à saúde estar garantido na Constituição
Brasileira e na Declaração Universal dos Direitos Humanos, esse direito para a população
negra e para população de terreiros ainda não se concretizou de fato e pode ser expresso
nas desigualdades raciais em saúde, na falta de acesso da população negra e população
de terreiros a diversas ações e serviços do SUS, na falta de seguridade social, no racismo e
intolerância que ainda persistem em nossa sociedade.
É fato concreto que o racismo e as diversas formas de intolerâncias fazem mal à saúde e
nesse sentido reinvidicamos:
- Que o Ministério da Saúde e Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade
Racial realizem o monitoramento da implementação da Política Nacional de Saúde
Integral da População Negra nos estados e municípios divulgando as informações sobre o
processo de monitoramento em seus respectivos sites e em materiais informativos
oficiais,
- Que o Ministério da Saúde divulgue para as Redes que atuam na área de saúde da
população negra, assim como nos diversos espaços do movimento negro, quais os estados
e municípios que estão implementando a Política Nacional de Saúde Integral da População
Negra e suas respectivas ações de implementação, e as atividades específicas envolvendo
os terreiros,
- Que o Ministério da Saúde, as Secretarias de Saúde, a Secretaria Especial de Políticas de
Promoção da Igualdade Racial e os órgãos de Promoção de Igualdade Racial desenvolvam
Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde
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Telefone: (21) 2224-4576
estratégias de divulgação da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra para
os gestores e profissionais de saúde dos três níveis de governo(federal, estadual e
municipal) e para os conselheiros de saúde de todo o país,
- Que o Ministério da Saúde e as Secretarias de Saúde possam realizar campanhas
divulgando a importância da qualificação da coleta do quesito cor e sua necessidade para
a tomada de decisões na área de saúde, inclusive na área de saúde mental
- Que os gestores e profissionais de saúde reconheçam e respeitem a cultura dos terreiros
e que o Estratégia de Saúde da Família inclua os terreiros(templos religiosos de matrizes
africanas) em suas visitas,cadastramento e atendimento, ratificando o compromisso do
direito a saúde para todos e todas,
- Que o Ministério da Saúde e as Secretarias de Saúde fortaleçam a realização de
campanhas sobre os direitos das pessoas à saúde, assim como dar continuidade a ampla
divulgação da Carta dos Direitos dos Usuários do SUS nos estados e municípios,
- Que o Ministério da Saúde e as Secretarias de Saúde ampliem a divulgação sobre a
doença falciforme, em todos os estados e municípios, assim como orientação e
estabelecimento de protocolos para atenção a pessoas com doença falciforme,
- Que o Ministério da Saúde e as Secretarias de Saúde respeitem e façam cumprir a
legislação que permite a entrada de sacerdotes e sacerdotisas nos espaços hospitalares,
incluindo os de tradição religiosa de matriz africana,’
- Que o Ministério da Saúde e a Secretaria Especial de Políticas de Promoção de Igualdade
Racial apóiem a realização de seminários, encontros e eventos que possibilitem dar
continuidade ao diálogo estabelecido entre as lideranças de terreiros, gestores,
profissionais e conselheiros de saúde, assim como o apoio para publicações que
divulguem as discussões realizadas nesses encontros,
- Que o Ministério da Educação, o Ministério da Saúde e a Secretaria Especial de Políticas
de Promoção da Igualdade Racial façam valer o respeito aos saberes das religiões de
matrizes africanas no campo da saúde, conforme consta na Política Nacional de Saúde
Integral da População Negra, garantindo o tema Religiões Afro-Brasileiras e Saúde na
formação dos profissionais de saúde de todos os níveis, e que também seja incluída nas
grades curriculares de formação dos profissionais de saúde, em todos os níveis, o tema
Saúde da População Negra,
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Telefone: (21) 2224-4576
- Que o Ministério da Saúde e as Secretarias de Saúde incorporem e facilitem o acesso da
juventude dos terreiros em suas ações e unidades de saúde, respeitando os valores e
visão de mundo dos terreiros,
- Que o Ministério da Saúde e as Secretarias de Saúde realizem campanhas educativas
qualificando as informações sobre prevenção e tratamentos sobre HIV/Aids, hepatites,
tuberculose e dengue para a população de terreiros com linguagem simples e adequada
culturalmente, assegurando a participação de representantes dos terreiros na elaboração
e construção de materiais educativos,
- Que o Ministério da Saúde e as Secretarias de Saúde realizem campanhas afirmativas
para o setor saúde com a finalidade de desconstruir o imaginário negativo sobre a
população negra e sobre a população de terreiros, combatendo o racismo, estigma e
preconceito,
- Que o Ministério da Saúde e as Secretarias de Saúde ampliem o acesso da população
negra e população de terreiros aos serviços de saúde mental,
- Que o Ministério da Saúde e as Secretarias de Saúde apóiem o fortalecimento do
controle social de políticas públicas de saúde pela população dos terreiros
- Que o Ministério da Saúde, Secretarias de Saúde e Secretaria Especial de Políticas de
Promoção da Igualdade Racial apóiem as iniciativas empreendidas pela Rede Nacional de
Religiões Afro-Brasileiras e Saúde, em todo o país,
- Que o Ministério da Saúde e as Secretarias de Saúde divulguem, apóiem e fortaleçam a
entrada de adeptos(as) dos terreiros nas seleções e vagas para agentes comunitários de
saúde e agentes de endemias,
- Que as Secretarias de Saúde dos municípios onde estão estabelecidos núcleos da Rede
Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde possam apoiar técnica e financeiramente as
iniciativas cotidianas dos núcleos, assim como encontros preparatórios para a realização
dos seminários nacionais,
- Que o Ministério da Saúde, as Secretarias de Saúde e os Organismos do Sistema ONU
possam apoiar as iniciativas da Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde,
principalmente as ações do GT Mulheres de Axé e GT Juventude dos Terreiros,
Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde
Rua Francisco Muratori 6/202 - Santa Teresa - Rio de Janeiro Cep:20230-080
Telefone: (21) 2224-4576
- Que as Secretarias ou órgãos do governo ligados ao Meio Ambiente possam ter um
trabalho articulado com as lideranças de terreiros, fomentando o cuidado com a natureza
e a saúde do ambiente,
- Que o Ministério da Saúde e os Organismos do Sistema ONU possam apoiar um
encontro fechado com as lideranças de terreiros de todo o país para discutir os seguinte
temas: sexualidades, direitos sexuais e reprodutivos, células troncos, aborto, transplantes,
etc .
- Que o Ministério da Saúde e as Secretarias de Saúde apóiem pesquisas sobre a saúde da
população dos terreiros com a participação das lideranças de terreiros na construção,
planejamento, execução e avaliação das pesquisas.
Rio de Janeiro, 20 de agosto de 2010
Rede Nacional de Religioes Afro-Brasileiras e Saude



domingo, 22 de agosto de 2010

Um outro lugar para os brancos na questão racial

ELEIÇÕES & SOCIEDADE CIVIL (15/Última)

Um outro lugar para os brancos na questão racial

“Os candidatos precisam compreender melhor as relações raciais no Brasil, as lutas das últimas décadas, as políticas em discussão. Há uma enorme violência contra mulheres, crianças e jovens em geral, mas em particular contra os jovens negros. A começar pela violência cometida pela polícia, algo assustador: eles matam muitos dos nossos meninos, são quase todos negros... como se cria a idéia de que alguém é suspeito e alguém está fora de suspeição? Como se construiu este monstro, o jovem negro?”.

Cida Bento, 58, doutora em Psicologia Social pela USP é diretora do CEERT – Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades, entidade que fundou há 20 anos ao lado de Hédio Silva Junior (ex-secretário da Justiça de São Paulo) e Ivair Augusto (hoje na Secretaria Nacional de Direitos Humanos). Entre outros projetos do CEERT, impressiona o fôlego e os resultados do Prêmio Educar Pela Igualdade Racial (já em sua quinta edição), que soma nada menos que mil e oitocentas experiências de sala de aula, em todos os estados, inclusive com alunos na faixa de 0 a 6 anos.

“Algo bonito no Prêmio Educar é que quase metade das experiências é realizada por professoras brancas, sem dinheiro do Estado, sem apoio das escolas... o branco pode ser um protagonista essencial neste processo de re-significar as relações raciais!” – diz Cida, convidada deste domingo para encerrar esta série Eleições & Sociedade Civil – na qual fizemos de breves conversas com lideranças sociais sobre o processo eleitoral.

Pergunto a Cida sobre as chamadas políticas afirmativas, que geram controvérsias e debates que, se bem acompanho, parecem carregados...

“Alguns dizem que as políticas afirmativas criam racismo...”, diz Cida Bento. Completa: “... por que no Brasil foi construído o mito da democracia racial. A ideologia dominante quer colocar o tema como uma questão apenas social – o que é uma saída de emergência que conforta o privilégio de ser branco. Ocorre, entretanto, um grande processo de mudança quando o branco vê isso... amplia a consciência. Não é fácil, demora, mas a pessoa vai mudando progressivamente.”

Por seu olhar quanto ao papel do branco no processo de percepção e mudança das questões raciais, Cida Bento acaba de embarcar para a Universidade do Texas, onde ficará 5 meses realizando “Branquitude e Poder no Brasil” - uma análise comparativa, referenciada na África Sul, Estados Unidos e América Latina.

“Trabalham com foco no negro 96% do estudos. Estou me dedicando às relações raciais com foco no branco. Trabalhar com um olhar focado nestas sociedades pode mudar um certo eurocentrismo acadêmico” - diz a diretora do CEERT.

A questão racial, o papel da sociedade civil... como você vê a presença destes temas na campanha eleitoral?

“A CUFA – Central Única de Favelas (Rio de Janeiro) vem fazendo uma aproximação destes temas com os candidatos e acho muito legal quando a sociedade chama e provoca posicionamento, ampliando a consciência. Sinto falta de que outras organizações também participem mais ativamente da oportunidade de debater o país; oportunidade que as eleições, em princípio, oferecem. Há certo diálogo com os candidatos e os partidos em torno de temas como negros, mulheres, mas não há repercussão, não há visibilidade”, diz Cida.

Agora, em tempo de eleições, mas também de forma habitual, como a mídia se comporta diante da questão racial?

Cida alerta: “A mídia ajuda a manter quando poderia ajudar a mudar. Pior: vejo que esta postura é uma ação organizada. Um exemplo? O CEERT assessora um trabalho da FEBRABAN – Federação Brasileira de Bancos, o projeto “Valorização da Diversidade”. Não é pouca coisa, pois ali estão diretores dos maiores bancos, ministros... é um trabalho que envolve a inclusão de mulheres negras e a seleção de jovens negros. Foi realizado um censo com cerca de 200 mil funcionários, com apoio técnico do IPEA, do Ministério Público, da Contraf/CUT e do IBGE, observando cargos, salários, políticas de promoção, mas você não vai acreditar se eu disser que jamais houve qualquer matéria significativa na imprensa”.

É mesmo difícil de acreditar... (ver www.febraban-diversidade.org.br/mapadiversidade/index2.asp)

“Há 6 anos” – diz Cida com certo pesar - “não assisto canais comerciais de televisão e não leio jornais. Me fazia tanto mal, me dava tanta impotência... É dor, é mais que irritação, é saber que aquilo vai progredir... Os brancos precisam encontrar outro lugar nas relações que estabelecem ”.

O que você gostaria de conversar com os candidatos?

Cida Bento gostaria de ouvir deles um balanço, digamos, sobre o que tem sido a participação da sociedade civil nos últimos anos: “Como, por exemplo, cada um deles avalia a contribuição das conferências setoriais sobre as políticas públicas”. Diz ainda: “Gostaria de saber dos candidatos como aumentar a incidência política das organizações que vivem as realidades sociais há décadas; e, como governo e sociedade podem seguir aprendendo a dialogar”.

Lembro a Cida que Paulo Freire, o educador, disse certa vez que num país como o Brasil manter a esperança viva é em si mesmo um ato revolucionário. E pergunto: como você reinventa a esperança no Brasil?

Cida Bento: “A gente sempre esbarra na desesperança, mas este é um país que encontra caminhos, que tem riqueza nas suas contradições e no afeto que transita entre nós - mesmo que violência também transite entre nós. Vamos criar sim uma nova relação ente brancos e negros, aí também há terreno fértil para uma nova realidade”.

*Conheça mais sobre o CEERT, ong dirigida por Cida Bento que combina produção de conhecimento com programas de treinamento e intervenção comprometidos com a igualdade de oportunidades e com a superação do racismo, da discriminação racial e de todas as formas de discriminação e intolerância. Com uma equipe de psicólogos, advogados, educadores, sociólogos e assistentes sociais, o CEERT presta consultorias a empresas, prefeituras e órgãos públicos interessados em implantar políticas de valorização da diversidade e de promoção da igualdade racial. (www.ceert.org.br)

Geraldinho Vieira é jornalista. Claudius é chargista.


http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2010/08/22/um-outro-lugar-para-os-brancos-na-questao-racial-317985.asp

sábado, 21 de agosto de 2010

Partido de extrema direita provoca controvérsia em campanha eleitoral na Áustria

20/08/2010 - 13h29
Partido de extrema direita provoca controvérsia em campanha eleitoral na Áustria


Com cerca de 25% nas pesquisas de intenção de voto, partido de extrema direita atrai adeptos durante campanha eleitoral em Viena, ao fazer uso de expressão tida como própria do vocabulário nazista em slogan de campanha.



http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/deutschewelle/2010/08/20/partido-de-extrema-direita-provoca-controversia-em-campanha-eleitoral-na-austria.jhtm

Cotas universitárias

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Cotas universitárias
Realidade em cotas

ROSE CAMPOS

Descobrindo uma vocação
O interesse que Juliana Franco Alves, de 26 anos, sempre demonstrou pelas palavras a fez pensar, durante a adolescência, em se tornar jornalista. Com este objetivo, se desdobrou para conseguir estudar, trabalhando de dia para pagar as aulas noturnas do cursinho pré-vestibular. Seu objetivo era cursar faculdade pública. Para ela, era questão de justiça social, pois a vida toda havia estudado em escola pública. Na época, no entanto, nem imaginava que pudesse se beneficiar das cotas universitárias. Acabou se deparando com esta oportunidade por acaso e foi também quase ao acaso que acabou cursando Letras. "Fiz a opção pela proximidade do curso com a área de jornalismo", diz. Foi a partir daí que a paulista de Americana, em São Paulo, descobriu a paixão pelo universo literário. Tinha então, 21 anos, quando passou no processo seletivo de 2004 e ingressou na Universidade Estadual de Londrina. Juliana se aproximou também do Programa Integrado de Ações Afirmativas para Negros (Brasil Afroatitude), que resulta de uma parceria entre o Ministério da Saúde e universidades que possuem Programa de Ação Afirmativa para negros. "Acabei descobrindo a riqueza da poesia oral, que vem das nossas tradições africanas. Encontrei a cultura afro-brasileira, que é muito rica, criada e recriada pela voz e que vem das histórias contadas de geração em geração. Juliana já se formou e se dedica agora aos estudos de mestrado. E o prazer obtido com os novos conhecimentos lhe deram um outra visão de carreira e prazer profissional. "Hoje sei o valor que tem a profissão de professor. Acho que é uma das missões mais bonitas em nossa sociedade e me preparar para lecionar se tornou meu grande objetivo de carreira. Quero lecionar na universidade pública e contribuir para colorir cada vez mais o ambiente acadêmico, que se diversificou com o acesso proporcionado pelas cotas", afirma.

Crescimento político e racial
A advogada Allyne Andrade e Silva não poderia imaginar quando começou a cursar Direito na UERJ, em 2005, que os estudos a levariam tão longe. Um ano antes de terminar o curso de graduação - concluído em dezembro de 2009 - ela fez intercâmbio internacional em Kobe, no Japão, como bolsista de uma associação privada japonesa. A concorrência foi grande e, ao fim do processo seletivo, 14 estudantes de várias regiões do país competiam por três vagas. Allyne conquistou uma delas e foi para a terra do sol nascente estudar Relações Internacionais e Direito Internacional. "Além do curso específico, aprendi japonês e pude aprimorar o inglês. Amadureci muito também como pessoa", avalia.
Já formada, passou por um processo seletivo rigoroso para conseguir uma bolsa de estudos oferecida pelo Ministério das Relações Exteriores e CNPq a afrodescentes que querem atuar na área diplomática. "Não é um programa de cotas, como o que me permitiu entrar na faculdade, mas uma bolsa de R$ 25.000,00 anuais, que me permite fazer o caro curso preparatório para a prova de diplomacia", revela. O Brasil tem pouquíssimos diplomatas negros, o que acaba gerando o questionamento de vários países, principalmente os africanos, sobre nossa representação. Bolsas como a que Allyne conquistou são importante incentivo para que esta realidade comece a mudar. "Ser estudante de cotas teve grande impacto em meu crescimento político e consciência racial. Eu já fazia parte de movimentos sociais, mas hoje faço uma leitura muito mais ampla desse papel". Para a advogada, mais que as ações afirmativas que estimulam a entrada de negros e dos menos favorecidos em cursos universitários, os cursos pré-vestibulares comunitários têm grande relevância, como a Educafro, em que ela atuou como coordenadora. Ser a primeira pessoa da família ou da comunidade a entrar na faculdade também traz um valor simbólico, pois serve de exemplo e estimula outras pessoas a trilharem caminhos semelhantes. "A universidade também ganha, pois a diversidade racial e social muda, dinamiza e enriquece a produção do saber universitário", conclui.


http://racabrasil.uol.com.br/cultura-gente/146/artigo180979-2.asp