quarta-feira, 13 de julho de 2011

Muçulmana americana consegue mudar regra do levantamento de peso

13/07/2011 - 17h15

Muçulmana americana consegue mudar regra do levantamento de peso

DE SÃO PAULO



Nesta sexta-feira a americana Kulsoom Abdullah, 35, vai se tornar a primeira atleta a competir no levantamento de peso com as pernas, braços e cabeça cobertos.
Filha de imigrantes do Paquistão e Ph.D em computação em Georgia Tech, a atleta muçulmana conseguiu classificação para o campeonato nacional americano, mas devido às regras internacionais da modalidade, foi proibida de competir com o hijab --vestimenta tradicional da cultura islâmica.
Junto ao Comitê Olímpico dos EUA, ela recorreu e, há duas semanas, conseguiu que a Federação Internacional de Levantamento de Peso alterasse a regra sobre o vestuário do atleta.
Joey Ivansco/Associated Press
A muçulmana Kulsoom Abdullah treina em Atlanta para o campeonato nacional americano, que começa nesta sexta-feira
A muçulmana Kulsoom Abdullah treina em Atlanta para o campeonato americano, que começa nesta sexta-feira
O problema para a atleta muçulmana era que, antes, não se permitia que o macacão usado nas competições cobrissem os joelhos e cotovelos --para ajudar na avaliação dos árbitros. Agora, pode-se usar uma peça de roupa colada no corpo por baixo do macacão.
110 KG
Faixa preta em taekwondo, Kulsoom pesa cerca de 45 kg e consegue levantar mais de 110 kg. Ela começou a praticar o levantamento de peso há quatro anos.
"O levantamento de peso é um esporte olímpico aberto para todos os atletas sem discriminação de cor, raça, religião, sexo, idade ou nacionalidade de acordo com os valores olímpicos", disse o presidente da Federação Internacional do esporte, Tamas Ajan.
Joey Ivansco/Associated Press
Abdullah é Ph.D em computação, faixa preta em taekwondo e atleta do do levantamento de peso
Abdullah é Ph.D em computação, faixa preta em taekwondo e atleta do do levantamento de peso
Recentemente, a seleção feminina de futebol do Irã foi eliminada das eliminatórias para a Olimpíada de Londres-2012 devido às vestimentas usadas pelas jogadoras. Na oportunidade, a Fifa alegou que o véu usado pelas iranianas colocava em as jogadoras em risco.
Em junho passado, a equipe iraniana foi banida da partida contra a Jordânia, em Amã, antes do início do jogo pré-olímpico. A Fifa já havia banido a equipe em abril passado por conta do plano de utilizar os lenços na cabeça, como manda a fé islâmica quando as mulheres estão em público.
Com Associated Press

Grupo de religiosos do Rio teve voo exclusivo em jatinho da FAB


13.07.11 às 02h00 > Atualizado em 13.07.11 às 02h10

Grupo de religiosos do Rio teve voo exclusivo em jatinho da FAB

Força Aérea informara que era só carona em transporte de mercadorias

POR CHRISTINA NASCIMENTO
Rio - Apesar de ter informado que a comitiva com 25 religiosos do Rio pegou carona no Correio Aéreo Nacional (CAM), a Força Aérea Brasileira (FAB) não soube dizer qual teria sido o objetivo do voo e que mercadorias ele transportava. Domingo, o grupo viajou do Rio para Campo Grande (MS), em jatinho militar, como O DIA noticiou com exclusividade ontem.
Apesar de a FAB admitir que o CAN não deixa aeronaves à disposição de quem utiliza o serviço, a comitiva conseguiu ficar com o avião por cerca de oito horas. Tempo suficiente para participar da cerimônia de posse do novo arcebispo de Campo Grande (MS), D. Dimas Lara Barbosa. O pedido do favor foi feito pela Arquidiocese do Rio, que alegou agenda atribulada do arcebispo daqui, D. Orani João Tempesta.
Foto: CB Silva Lopes/FAB / Divulgação
Avião usado pela FAB em voo exclusivo com os 25 religiosos tem capacidade para 30 pessoas: grupo levou só 1h40 para chegar a Campo Grande | Foto: CB Silva Lopes/FAB / Divulgação
A Arquidiocese disse que ressarcirá a União com o gasto da viagem, mas, ontem, novamente não soube informar quanto seria pago nem quando. Para o deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ), os religiosos cometeram deslize, que não abre precedente para outros grupos porque eles assumiram o erro e se disponibilizaram a pagar o voo.
Viagem para 25 religiosos
O DIA divulgou nesta terça-feira que a Arquidiocese do Rio pediu emprestado — e conseguiu — um jatinho da Força Aérea Brasileira (FAB) para levar exclusivamente um grupo de 25 religiosos, no domingo, para a posse do novo arcebispo de Campo Grande (MS), Dom Dimas Lara Barbosa. A regalia foi na aeronave Embraer modelo C- 97 Brasília, que ficou cerca de oito horas à disposição da comitiva, encabeçada pelo arcebispo do Rio, Dom Orani João Tempesta.
Se fossem pagar pela viagem num jato particular, a Arquidiocese desembolsaria, pelo menos, R$ 100 mil. A carona criou constrangimento em alguns religiosos. Pelo menos dois padres do Rio foram ao evento pagando sua passagem aérea, o que custa, em média, R$ 600 pela ida e a volta, na promoção. 

Agenda atribulada
A Arquidiocese explicou que pediu o jatinho à FAB porque Dom Orani não poderia faltar à cerimônia, mas estava com a agenda atribulada: com a aeronave à disposição, haveria menos transtorno para o religioso. A importância de Dom Dimas para o grupo é porque ele foi bispo auxiliar da arquidiocese do Rio e secretário- geral da Confederação Nacional Bispo dos Brasil (CNBB), entre 2005 e 2011.
A FAB explicou que a Arquidiocese fez o pedido ao 3º Comando Aéreo Regional do Rio, que atendeu porque “havia disponibilidade de tripulantes e horas de voo para treinamento e atendimento do pleito”. Foi por essa mesma razão, segundo eles, que o jato ficou tanto tempo à disposição do grupo.

Racismo: O ciclo da impunidade Pesquisa revela que 70% dos processos de crimes raciais são vencidos pelos réus. Especialistas comentam causas e consequências dessa estatística

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sexta-feira, 8 de julho de 2011


Racismo: O ciclo da impunidade
Pesquisa revela que 70% dos processos de crimes raciais são vencidos pelos réus. Especialistas comentam causas e consequências dessa estatística

por Ponto A Oficina de conteúdos|


Cotas e Estatuto da Igualdade Racial, Ministério e Secretarias especializadas. Mais e mais representantes negros e brasileiros declarandose negros ou pardos nos censos populacionais - a autoestima melhora a cada política pública favorável à comunidade negra; a sensação é de que há, no mínimo, um desejo geral de reparação pelo passado escravista. Contudo e em um grande paradoxo, os casos de preconceito continuam sendo alardeados pela mídia brasileira. O Observatório da Discriminação Racial da cidade de Salvador (BA) registrou, somente durante o último carnaval, pelo menos 204 ocorrências. Enquanto um Estado de população majoritariamente negra enfrenta esse tipo de situação, um deputado de outro Estado, vanguardista na discussão política de questões raciais, Jair Bolsonaro (PP-RJ), diz ser "promiscuidade" a possibilidade de relacionamento entre um branco e uma negra.
Qual será o destino desses eventos no cenário jurídico brasileiro? Serão realmente levados adiante ou abandonados no meio do caminho? Quem ganhará os processos?
Um estudo de abril deste ano, feito pelo Laboratório de Análises Econômicas, Sociais e Estatísticas das Relações Raciais (Laeser), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), analisou julgamentos em segunda instância de crimes de racismo e injúria racial nos tribunais de todo os estados brasileiros, entre 2007 e 2008.
CONSTATOU QUE 70% DAS 148 AÇÕES IMPETRADAS NA ÉPOCA ACABARAM SENDO VENCIDAS PELOS RÉUS
Constatou que 70% das 148 ações impetradas na época acabaram sendo vencidas pelos réus. Em comparação com 2005 e 2006, aumentaram os processos julgados (eram 87, apenas), mas aumentou, também, o número de casos em que o criminoso leva a melhor (nesse biênio, 52,4% dos réus venceram os julgamentos). Uma matéria ampla na revista IstoÉ divulgou a pesquisa, alertando, na fala de pesquisadores do Laeser, para o despreparo dos profissionais do judiciário com a temática e o conservadorismo que atrapalha e desqualifica o discurso das vítimas. Mas o fato é que essa impunidade se reflete na forma como o denunciante (vítima) se comporta e é atendido nas delegacias. Influencia, ainda, pelas jurisprudências criadas, a condução em geral dos processos. Este ciclo vicioso na esfera jurídica pode ter causas que vão além de qualquer conservadorismo e têm amparo na lei e na antiga questão da desigualdade social, segundo especialistas ouvidos pela RAÇA BRASIL.
QUEDA DE BRAÇO
De que adiantariam juízes e varas democráticas se "há uma enorme dificuldade de provar o crime racial, as pessoas não querem testemunhar", constata Eduardo Pereira da Silva, presidente da Comissão da Igualdade Racial da OAB/SP. Mas ele nota, na verdade, que esse receio existe porque essas ocorrências seriam, em maioria, embates entre classes mais abastadas e pessoas de menor poder aquisitivo, para além da burocracia que há e do tempo que se demanda das testemunhas. Haveria um senso comum responsável pela sensação de que, no Brasil, os "ricos" sempre ganham essa "queda de braços", e que tudo se reverte negativamente para a população menos favorecida, explica o presidente da Comissão paulista.
No âmbito legal, a dificuldade estaria no fato de que o crime de racismo ainda tem suas particularidades, à medida que o texto da Lei qualifica o ato em variações importantes: de um lado o racismo propriamente dito, inafiançável e imprescritível, segundo a Constituição de 1988, e, do outro, a injúria racial. Baseada na legislação, a doutrina penal considera "injúria racial" a ofensa de conteúdo discriminatório proferida contra uma pessoa em particular. Já o crime de racismo é considerado a ofensa geral à determinada raça, cor, etnia, religião ou origem, agredindo um número indeterminado de pessoas. No primeiro caso, prevê-se pena de reclusão de um a três anos e multa ou o chamado serviço social para o réu. No segundo, não há fiança, a pena é de um a cinco anos de reclusão, dependendo do entendimento penal. A diferença no enquadramento apoia-se em questões "semânticas" e linguísticas envolvidas na ofensa. O que pressupõe que não há limites para sua interpretação subjetiva. "O trabalho do advogado é lutar para que o entendimento do conteúdo da denúncia seja correto, para um julgamento proporcional ao dano causado", diz Silva, da OAB/SP.
"O TRABALHO DO ADVOGADO É LUTAR PARA QUE O ENTENDIMENTO DO CONTEÚDO DA DENÚNCIA SEJA CORRETO, PARA UM JULGAMENTO PROPORCIONAL AO DANO CAUSADO"




CRIMES RACIAIS NA INTERNET
Nem na rede mundial de computadores o quadro é mais ameno, de acordo com a SaferNet, órgão que reúne estatísticas sobre denúncias de intolerância e discriminação cometidas pela Web, além de crimes de pornografia infantil, tráfico de pessoas e apolo
"A PRESSÃO EXERCIDA PELAS ENTIDADES DO MOVIMENTO NEGRO SOBRE AS AUTORIDADES E A SOCIEDADE EM GERAL TEM FEITO ESSE QUADRO MELHORAR, PRINCIPALMENTE NAS GRANDES CIDADES. O MOVIMENTO TEM PRESSIONADO AS SECRETARIAS DE SEGURANÇA PÚBLICA A CRIAREM DELEGACIAS ESPECIAIS OBJETIVANDO A SUPERAÇÃO, DENTRE OUTRAS, DESSA DIFICULDADE"
Eduardo Pereira da Silva, presidente da Comissão da Igualdade Racial da OAB/SP

ONDE DENUNCIAR: Qualquer delegacia de Polícia Civil de qualquer Estado ou, em São Paulo, em instituições especializadas: Defensoria Pública do Estado de São Paulo Núcleo Especializado de Cidadania e Direitos Humanos Avenida Liberdade, nº 32, 7º andar, sala 3, com atendimento de segunda à sexta feira, das 9h às 17 horas (próximo ao Metrô Sé) nucleo.ndhc@defensoria.sp.gov.br Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (DECRADI) Rua Brigadeiro Tobias, 527 - 3º andar Luz - SP (11) 3311-3556/3315-0151 ramal 248
TEM CERTEZA DE QUE FOI COM ESTA CONOTAÇÃO?
Depois da Constituição de 1988 veio a mudança do Código Penal, em 2009. A modificação tornou desnecessária a presença de um advogado para representar as queixas, após ser lavrado um boletim de ocorrência. Feita a denúncia, o Ministério Público entra no jogo e nem é mais necessária tal representação. Mas, ainda assim, essa fase da abertura do inquérito continuaria sendo um determinante para que se avance na questão dos crimes raciais. As informações fornecidas na delegacia - acredita Silva - podem fazer toda a diferença, à medida que alguns procedimentos fazem com que os delitos sejam nem sequer denunciados. "Muitas vezes há a orientação do tipo 'olha, tem certeza de que foi com essa conotação?', 'o processo é longo, a parte pode receber apenas uma punição com serviços sociais', entre outros conteúdos", explica. É quando a vítima acaba sendo induzida à sensação de que o réu não será punido adequadamente e não leva a denúncia adiante. Para evitar esta abordagem, o presidente da Comissão da Igualdade Racial da OAB preconiza que as denúncias sejam feitas em delegacias especializadas, se houver alguma na região.
O advogado carioca Luiz Fernando Martins da Silva, associado, ex-diretor e assessor jurídico do Instituto de Pesquisa e Culturas Negras, crê que as desistências das denúncias e processos têm reduzido, embora não haja levantamento oficial amplo a respeito. Sua percepção é baseada no contato com organizações especializadas na área. "A pressão exercida pelas entidades do Movimento Negro sobre as autoridades e a sociedade em geral tem feito esse quadro melhorar, principalmente nas grandes cidades. 
O Movimento tem pressionado as Secretarias de Segurança Pública a criarem delegacias especiais objetivando a superação, dentre outras, dessa dificuldade.", diz, também recomendando que a denúncia de supostos crimes raciais seja feita em (ou por meio de) instituições específicas. "Eu creio, a cada dia, que os negros estão conhecendo mais os seus direitos", afirma o advogado, certo de que a orientação, nesse sentido, é essencial para mudar leis e estatísticas. Para Luiz Fernando Silva, a questão do preconceito é mais descarada e assim deveria ser o entendimento penal a respeito, sendo racismo todo e qualquer conteúdo racista. "Vale dizer que a Convenção Internacional da ONU sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, de 1966, em seu artigo 1º, conceitua discriminação como sendo qualquer distinção, exclusão ou restrição baseada em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica que tenha o propósito ou o efeito de anular ou prejudicar o reconhecimento, gozo ou exercício em pé de igualdade de Direitos Humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural, ou em qualquer outro domínio da vida pública". Essa Convenção foi ratificada pelo Brasil em 1968.
VITÓRIA DO CENTRO
O Centro de Referência em Direitos Humanos de Prevenção e Combate ao Racismo da Secretaria de Participação e Parceria (SMPP) de São Paulo, comemorou recentemente uma vitória na luta contra o racismo. Venceu seu primeiro caso de crime racial, referente ao processo nº392/10 da 26ª Vara Criminal Central da Comarca de São Paulo. A ação foi movida pela conselheira tutelar Djanira Aparecida Teixeira dos Santos, de 48 anos, contra um colega conselheiro. A apuração da 26ª Vara Criminal Central levou o réu primário à condenação a um ano de reclusão e dez dias de multa. A pena pecuniária (multa) de R$510,00 por dia será depositada em favor do Hospital do Câncer.
O Centro - gerido pela Coordenadoria dos Assuntos da População Negra (CONE) - foi criado há dois anos e está localizado no Páteo do Colégio, no Centro de São Paulo.
O principal objetivo do Centro de Referência é receber, encaminhar e acompanhar toda e qualquer denúncia de discriminação racial e/ou violência que tenha por fundamento a intolerância racial. Além de garantir apoio psicológico, social, pedagógico e jurídico aos casos registrados.
http://racabrasil.uol.com.br/cultura-gente/156/racismo-o-ciclo-da-impunidade-pesquisa-revela-que-70-224060-1.asp

'Já enfrentei muito preconceito’, diz brasileiro contratado pelo Bolshoi


12/07/2011 16h02 - Atualizado em 12/07/2011 18h11


Aos 20 anos, Erick Swolkin é o primeiro bailarino do país a conquistar posto.
Ele viaja nesta terça (12) para Moscou com a namorada, também contratada.

Carla MeneghiniDo G1 RJ
Aos 20 anos, o paulista Erick Swolkin viaja para Moscou nesta terça-feira (12) para realizar aquele que é o maior sonho de bailarinos ao redor do globo: dançar no Teatro Bolshoi, considerada a maior companhia de balé clássico do mundo.
Bailarinos brasileiros contratados pelo Bolshoi (Foto: Vanderleia Macalossi/Divulgação)O bailarino Erick Swolkin durante ensaio e com a namorada Bruna (Foto: Vanderleia Macalossi/Divulgação)
"Ainda não estou acreditando", diz Erick, primeiro bailarino brasileiro da história a conquistar um contrato com o Bolshoi de Moscou. "Não foi fácil chegar lá, já enfrentei muito preconceito, dificuldades; tem que ter muito foco", afirma o bailarino. "Nunca pensei que eles, que são como deuses, fossem escolher um mero brasileiro", completa.
Para completar a felicidade de Erick, ele não embarca sozinho: sua namorada, a bailarina maranhense Bruna Gaglianone, de 20 anos, também acaba de ser contratada pelo Bolshoi e será a segunda brasileira da história a dançar na companhia. "Estou muito feliz, a gente lutou muito por isso", diz Bruna, que namora o bailarino há três anos.
Rumo à RússiaO casal recebeu o convite para integrar o corpo de baile do Bolshoi há cerca de uma semana e agora vai a Moscou para levar documentos, fazer exames médicos e assinar o contrato, válido inicialmente por um ano. A mudança para a Rússia está marcada para o início de setembro.
Bailarinos brasileiros contratados pelo Bolshoi (Foto: Vanderleia Macalossi/Divulgação)Erick e Bruna juntos no palco: 'É intimidade demais', diz a bailarina (Foto: Vanderleia Macalossi/Divulgação)
"A verdade é que estou com medo, porque é muito longe, a língua é totalmente diferente", diz Bruna. "O pior para mim será o frio, disseram que pode chegar a - 30ºC", conta Erick. "Mas vai ser importante ter um ao outro, ter esse suporte longe da família", acrescenta o bailarino.
O casal garante que hoje o relacionamento não atrapalha a performance nos palcos e nem o contrário. Mas nem sempre foi assim. "Tivemos que aprender a lidar com isso, porque toda vez que a gente dançava juntos terminava em briga, é intimidade demais", conta Bruna. "O problema é que ela tem temperamento muito forte, é muito brava", brinca Erick, que se descreve como "apenas um cara brincalhão".
Da bola de futebol para as sapatilhasOs dois se conheceram na Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, em Joinville (SC), que frequentaram por quase uma década. "Eu tinha 11 anos e disse os meus pais: quero ser bailarino", lembra Erick, que foi descoberto por olheiros em uma escola rural e decidiu trocar a bola de futebol pelas sapatilhas. "Eu era um menino meio doido, hiperativo, o balé me ajudou a controlar esse meu lado", conta.
Ele afirma que até hoje ouve piadas sobre sua escolha profissional, de amigos próximos e até dos irmãos mais velhos, mas diz não ligar. "Isso é normal, ainda tem muita discriminação, mas é o preço que pago para viver meu sonho."

terça-feira, 12 de julho de 2011

A segregação racial está de volta ao sul dos EUA


A segregação racial está de volta ao sul dos EUA

A segregação racial está de volta ao sul dos Estados Unidos
Depois do Arizona, Alabama, Geórgia e Carolina do Sul aprovam leis severas contra a imigração
Com as novas legislações anti-imigração aprovadas em junho no Alabama, na Carolina do Sul e na Geórgia, foi instaurado no sul dos EUA uma versão século XXI das chamadas Leis de Jim Crow, que vigoraram entre 1876 e 1965, institucionalizando a segregação racial na região. Só que agora o alvo dos legisladores – em sua maioria republicanos – não são os negros, e sim a população de origem hispânica. Quem estabelece o paralelo histórico é a pedagoga Maureen Costello, uma das mais respeitadas especialistas em reforma educacional dos EUA, diretora do projeto Ensinando Tolerância, do Southern Poverty Law Center, referência na luta pelos direitos civis de grupos minoritários desde sua criação, em 1971.
“Ao dificultar a contratação, o transporte e até mesmo qualquer ajuda humanitária a imigrantes não-documentados, a lei aprovada no Alabama já é um horror para os adultos. Mas o desastre é ainda maior para crianças, já que ela determina que as escolas chequem o status migratório de cada aluno, eliminando, na prática, a diferença entre educadores e oficiais da Imigração. Já há pais questionando se devem ou não matricular seus filhos nas escolas em setembro, quando o novo ano letivo começar por aqui”, denunciou Costello, em artigo no site liberal The Huffington Post reproduzido em jornais dos quatro cantos dos EUA.
Na primeira semana de julho, o governador republicano Robert Bentley comemorou a passagem da lei H.B. 56 pedindo ao responsável pelo cargo semelhante ao de Secretário de Educação de um estado brasileiro a desenvolver uma cartilha para diretores das escolas públicas, obrigados a partir de setembro a informar ao governo sobre a situação legal de todas as crianças matriculadas, entre 5 e 17 anos.
Leis similares – embora sem o ataque ao ensino fundamental, cuja universalidade é garantida pela Constituição americana – foram aprovadas na Carolina do Sul e na Geórgia, no que o New York Times, em irado editorial publicado na segunda-feira 4, qualificou de “tentativa de maquinar uma expulsão em massa dos não-documentados, passando por cima da Carta Magna, da segurança do público, das economias locais e das famílias do imigrantes”. São leis, segue o editorial, que, apesar das diferenças regionais, têm um mesmo propósito: tornar impossível a vida nos EUA de cidadãos sem documentação legal.
As leis dos três estados foram inspiradas na polêmica S.B. 1070, aprovada no ano passado e considerada até então a mais dura peça legal aprovada nos EUA contra imigrantes não-documentados. A partir de abril de 2010, a polícia estadual do estado do sudoeste americano teria o poder de prender qualquer cidadão maior de 14 anos que esteja em público sem documentos provando estar no país de forma legal. A lei, defendida pela maioria republicana no legislativo estadual, foi duramente criticada pelos democratas, que a consideraram de cunho racista.
O governo Obama iniciou uma batalha judicial e impediu, em caráter provisório, que a lei entrasse em vigor. Mas a vitória conservadora nas eleições de meio-termo, no ano passado, levou para o legislativo de vários estados sulistas parlamentares eleitos com a promessa de apertar o cerco contra os imigrantes não-documentados, estimados em 12 milhões nos EUA. A argumentação da direita, contrária a qualquer projeto envolvendo anistia ou a chamada reforma do sistema de imigração, é a de que o fluxo de imigrantes não-documentados aumentou tremendamente o arrocho sobre trabalhadores norte-americanos menos qualificados, reduzindo tanto o mercado quanto o valor de seu trabalho.
Diminui o número de entrada de hispânicos nos Estados Unidos
Curiosamente, as leis restritivas a imigrantes não-documentados se multiplicam no exato momento em que se registra uma redução significativa no número de latino-americanos entrando nos EUA ilegalmente, algo inédito nos últimos trinta anos. De acordo com o Mexican Migration Project (MMP) da Universidade de Princeton, o interesse de mexicanos em entrar ilegalmente nos EUA é o menor desde 1950.
“Ninguém quer ouvir, mas a onda de migração ilegal para os EUA já acabou. Pela primeira vez em seis décadas estamos percebendo um nível zero de tráfego de imigrantes, podendo mesmo haver uma reversão”, afirmou esta semana o diretor do MMP, Douglas S. Massey, em entrevista ao New York Times. Um dos reflexos do refluxo foi a descoberta do governo mexicano, no censo de 2010, de 4 milhões de pessoas vivendo no país a mais do que o esperado. De acordo com estimativas de Washington, quase 60% dos imigrantes não documentados nos EUA são oriundos do México. Mas o Pew Hispanic Center também aponta para uma diminuição drástica da entrada de imigrantes não-documentados do México: entre 2000 e 2004, o centro de estudos estima que 525 mil mexicanos cruzaram a fronteira ilegalmente a cada ano. No ano passado, este número não passou de 100 mil.
Especialistas apontam ao menos uma causa em comum tanto para o arrefecimento do sentimento xenófobo em estados tradicionalmente mais conservadores, como Alabama, Geórgia e Carolina do Sul, quanto para a diminuição dó tráfego de imigrantes não-documentados em direção aos EUA: a crise financeira global, que atingiu a maior economia do planeta de forma mais intensa do que os países latino-americanos, inclusive o México.
Em artigo inspirado na “Newsweek” desta semana o cientista político e colunista Michael Tomasky lembra que não há como Barack Obama se reeleger no ano que vem sem uma votação maciça dos eleitores de origem hispânica, um contingente que deu 67% dos votos para o democrata em 2008. Mas é justamente a falta de vontade política demonstrada por Washington para iniciar uma reforma do sistema de imigração que, de acordo com Olívia Mendoza, diretora-executiva do Colorado Latino Forum, se traduz numa apatia nos bolsões hispânicos frente à campanha presidencial de 2012. Há, ela diz, uma sensação geral de insatisfação.
Os grupos Latino Decisions e impreMedia apresentaram no dia 13 uma pesquisa em que mostram uma imensa maioria de eleitores hispânicos rejeitando a deportação de imigrantes não-documentados sem atividade criminosa, incluindo estudantes, que vem sendo deportados por conta do programa “Comunidade Seguras”, a menina dos olhos da área na atual administração. Dos entrevistados, 49% afirmam que votarão com certeza no democrata, mas Obama precisa aumenta este número se quiser conquistar novamente estados importantes como Flórida, Colorado, Carolina do Norte e Nevada.
No mês passado, Obama viajou para a fronteira com o México para celebrar seus números relacionados à imigração, que incluem 800.000 deportações. Mas figuras destacadas do Partido Democrata já se recusam a apoiar o “ Comunidades Seguras”. O governador do Illinois, berço político de Obama, o liberal Pat Quinn, anunciou em maio que estava “interrompendo imediatamente” a cooperação com o programa, por dar poder à policial local para enfrentar “estrangeiros criminosos”, hoje atribuição exclusiva das forças federais.
Quinn enviou uma carta para a Immigration and Customs Enforcement lembrando que menos de 20% dos indivíduos deportados anualmente pelo “Comunidades Seguras”, no estados em que já funciona de modo experimental, foram condenados por crimes sérios, e que 30% dos não-documentados expulsos do país por conta do programa sequer cometeram outra infração que não a da permanência ilegal no país, trabalhando sem permissão do governo.
Em junho foi a vez de Andrew Cuomo, de Nova York, suspender o programa no estado mais importante da Costa Leste, por conta do “impacto danoso nas famílias, nas comunidades de imigrantes e na própria autoridade dos policiais”. E na semana passada, outro democrata, o negro Derval Patrick, governador de Massachusetts, pulou fora do barco de Washington afirmando que o programa “compromete a informação sobre atividades criminosas, particularmente relacionadas à violência doméstica”, com mulheres receando levar à polícia casos como agressões e furtos que levariam à deportação da família. Mais direta, a líder do Partido Democrata na câmara baixa do Congresso, Nancy Pelosi, disse que “o programa é um desperdício do dinheiro do contribuinte”. Tomasky pontua o argumento mais forte de Obama hoje para atrair o voto hispânico: o de que será muito pior para eles, alvos preferenciais de um novo Jim Crow, uma vitória republicana: “Isso é verdade, e o medo pode ser um belo motivador em política. Mas não é o que as pessoas estavam esperando e hoje parece claro que uma boa percentagem de possíveis eleitores democratas ficará em casa em novembro de 2012. O tamanho deste número fará a diferença entre reeleição e aposentadoria para Obama”.