segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Confusão, vitória e racismo!

Paraná 3 x 0 Vila Nova -

Curitiba, PR, 14 (AFI)

A vitória do Paraná, por 3 a 0, sobre o Vila Nova na noite desta sexta-feira, no Estádio Durival de Britto, em Curitiba, pela 18ª rodada do Campeonato Brasileiro da Série B teve de tudo: cartões amarelos, vermelho, confusão, gols e até um suposto ato de racismo.No segundo tempo, os jogadores reservas do Vila Nova acusaram os torcedores do Paraná de racismo. Apesar da discussão, nada foi feito por falta de provas. Com a bola rolando, o Paraná marcou com Gabriel e Rafinha duas vezes.

Com a vitória, o Paraná chegou aos 24 pontos, na 11.ª colocação. Enquanto isso, o Vila Nova segue sua luta contra o rebaixamento, na 15.ª posição, com 22 pontos.Um gol e muita confusão!Paraná e Vila Nova fizeram um primeiro tempo muito brigado, com janelas violentas, uma expulsão e apenas um gol. De fato, paranistas e goianos pareciam estar brigando por um prato de comida. Os primeiros minutos foram emocionantes.Logo aos 6 minutos, Willian arriscou de fora da área e o goleiro do Paraná, Ney, caiu para fazer a defesa e evitar o primeiro gol goiano. A resposta paranista veio um minuto depois e foi fulminante.A blitz tricolor começou com uma bola na trave. Na sequencia, a defesa do Vila afastou mal e o zagueiro Gabriel, do meio da rua, acertou um chutaço de primeira e marcou um lindo gol. O Paraná seguiu na pressão e aproveitou a mão furada do goleiro Max para arriscar chutes de longa distância.Mas após estes momentos, a violência entrou em campo. João Paulo, Adoniran, do Paraná, foram advertidos com cartão amarelo, assim como Otacílio, Edson Borges, do Vila Nova.Aos 41 minutos, Dida sofreu falta e pediu cartão amarelo para o adversário. O árbitro catarinense Célio Amorim não gostou e deu amarelo para Dida. O jogador do Vila continuou reclamando e foi expulso.Lamentável!Na volta para o segundo tempo, o banco do Vila Nova reclamou que um torcedor do Paraná teria chamado um dos reservas do time goiano de macaco. O tenente Araújo, da Polícia Militar, disse que o Vila Nova já vinha provocando a torcida e que só fará algo se o clube goiano identificar de fato quem teria sido o autor da ofensa racista.Quem não faz...No segundo tempo, apesar de ter um homem a menos, o Vila Nova voltou melhor. Mas apesar da blitz que fez na área paranista, o Tigrão não soube aproveitar as chances criadas. Pior. No meio do segundo tempo, voltou a tomar pressão e levou o segundo gol do Paraná.Aos 22 minutos, João Paulo fez boa jogada e bateu com efeito. A bola quase encobriu Max, que voltou a tempo e defendeu. Sete minutos depois, Rafinha, que acabara de entrar, arriscou de fora da área e contou um toque na defesa para enganar o goleiro Max e festejar o segundo tento paranista.No final, aos 47 minutos, Rafinha fez boa jogada, driblou os zagueiros e tocou na saída do goleiro Max, 3 a 0, Paraná, placar final.
Próximos jogos
]Pela última rodada do turno, o Paraná encara o Fortaleza, fora de casa, no sábado, às 16h10. Enquanto isso, o Vila Nova pega o Brasiliense, em casa, no mesmo dia e hora.

Ficha TécnicaParaná 3 x 0 Vila NovaLocal: Estádio Vila Capanema, em Curitiba-PRÁrbitro: Célio Amorim-SCPúblico: 4.077 pagantesRenda: R$ 57.625,00Cartões amarelos: João Paulo, Adoniran, Gabriel (Paraná); Otacílio, Edson Borges, Thiago Marchiori (Vila Nova)Cartão vermelho: Dida (Vila Nova)Gols: Gabriel, aos 7’/1T e Rafinha, aos 29’/2T e aos 47’/2T (Paraná)ParanáNey; Gabriel, Dedimar e Elton; Luis Henrique, Adoniran (Rai), João Paulo, Davi e Márcio Goiano; Wando (Rafinha) e Adriano (Alex Afonso).Técnico: Sérgio Soares.Vila NovaMax; Dida, Edson Borges, Leonardo e Osmar; Otacílio (Thiago Marchiori), Alisson, Rafinha e Juliano (Leandrinho); Willian (Vanderlei) e Gil.Técnico: Vágner Benazzi.

Obama recua em item central de sua reforma da saúde


São Paulo, segunda-feira, 17 de agosto de 2009
Governo admite desistir de fundar uma agência estatal para oferecer planos em competição com seguradoras privadasAlternativa, que ganhou consenso em comissão no Congresso dos EUA, envolve a criação de cooperativas financiadas pelo Estado

FERNANDO CANZIAN DE NOVA YORK
Para tentar quebrar o impasse em torno do andamento de seu novo e ambicioso programa para o sistema de saúde, o governo de Barack Obama admitiu ontem recuar em uma das peças centrais do plano.A secretária da Saúde dos EUA, Kathleen Sebelius, afirmou que o governo pode desistir de criar uma poderosa agência estatal para prover cobertura médica a cerca de 50 milhões de americanos que hoje não têm seguro-saúde.No lugar da agência, Sebelius sugeriu que podem vir a ser montadas cooperativas sem fins lucrativos, mas financiadas com dinheiro estatal.Os EUA já têm dois grandes programas públicos na área, o Medicaid e o Medicare. O primeiro cobre de modo muito insuficiente famílias pobres que não têm seguro privado. O segundo, também deficiente, é destinado a pessoas com mais de 65 anos e sem cobertura.Para atender as 50 milhões de pessoas hoje fora do sistema privado, o governo planeja aplicar cerca de US$ 120 bilhões ao ano na área. Os recursos viriam de um aumento de impostos sobre quem ganha mais de US$ 250 mil por ano (cerca de US$ 38,5 mil ao mês).Em entrevista à rede CNN, a secretária da Saúde insistiu, no entanto, que o governo não quer deixar apenas o setor de seguro-saúde privado já estabelecido por conta desse novo mercado de 50 milhões de novos usuários. "É preciso deixar abertas algumas escolhas, pois precisamos de mais competição na área", afirmou.Guerra ideológicaA reforma do sistema de saúde nos EUA se converteu rapidamente nos últimos dias em uma batalha ideológica. Em cartazes de manifestantes contrários, na internet e na mídia mais conservadora, Obama já é apresentado como socialista e até mesmo nazista.Várias imagens de Obama com um bigode semelhante ao do líder nazista Adolph Hitler (1889-1945) ou com boina igual ao do revolucionário Che Guevara (1928-1967) têm aparecido em panfletos, TV, cartazes e charges de jornais e revistas.Uma das propostas do programa, de o governo reembolsar médicos privados que vierem a visitar em casa pacientes muito idosos ou em fase terminal para aconselhamento de familiares quanto às opções a seguir, foi distorcida pelos conservadores e comparada a um "conselho da morte".Segundo essa versão, negada pela Casa Branca, os médicos decidiriam quem ainda "merece" o recebimento de dinheiro público e quem não tem mais chances de sobrevivência.Em artigo publicado ontem no "New York Times", Obama criticou essa estratégia da oposição. "Apesar do que temos visto na televisão, creio que muitos americanos estão discutindo essas mudanças em suas mesas de jantar", disse.Durante peregrinação na semana passada pelo país, o presidente foi introduzido a debates sobre o assunto quase sempre por pessoas que contaram histórias pessoais de problemas relacionados à falta de assistência médica.Mas, enquanto Obama viajava, a Comissão de Finanças do Congresso (onde a reforma tramita atualmente) estabeleceu um consenso entre republicanos e democratas em torno das cooperativas como alternativa à criação de uma nova agência estatal.

domingo, 16 de agosto de 2009

Usain Bolt segura o sorriso por 9s58 e pulveriza o recorde mundial dos 100m


6/08/09 - 16h46 - Atualizado em 16/08/09 - 18h13

Diante da torcida eufórica no Estádio Olímpico de Berlim, jamaicano dá espetáculo e chega 13 centésimos à frente do americano Tyson Gay
Rafael Maranhão Direto de Berlim

Durante 9s58, não houve sorrisos, gracinhas ou provocações. Neste domingo, Usain Bolt tinha um trabalho sério a fazer no Campeonato Mundial de Atletismo. No curto caminho que vai da largada à chegada, o jamaicano deu um tempo no bom humor, correu de cara fechada e tratou de manter o título de homem mais rápido do planeta. O velocista, que completa 23 anos na sexta-feira, antecipou a festa e se deu um presente duplo no Estádio Olímpico de Berlim: a medalha de ouro nos 100m rasos e o novo recorde mundial da prova.


Em 100 metros, mais um show: Bolt cruza a linha de chegada bem antes dos adversários em Berlim
O americano Tyson Gay chegou em segundo, 13 centésimos atrás de Bolt, com o tempo de 9s71 - recorde dos EUA. O também jamaicano Asafa Powell cruzou em terceiro, com 9s84.


O recorde mundial era do próprio Bolt, 9s69, conquistado nos Jogos Olímpicos de Pequim, no ano passado. Pelas condições da pista, com o piso mais macio, e pelos tempos dos corredores nas fases anteriores, a expectativa era de que ninguém conseguisse quebrar a marca no Campeonato Mundial. Bolt, mais uma vez, chocou o planeta.

A festa ficou para o fim da prova, quando ele explodiu em alegria, abriu o sorriso e até dançou com Asafa Powell.

- Tive uma boa execução, fiquei feliz. Eu sei que posso correr rápido, e tudo é possível. Não costumo colocar muita pressão em cima de mim. Foi muito bom, fiquei satisfeito - afirmou Bolt, em entrevista concedida ao SporTV após a prova.

Antes da competição, o jamaicano parecia relaxado. Na apresentação para as câmeras, sorriu e apontou o braço para o céu, como sempre faz durante as competições. Na largada, no entanto, ele mostrou que não estava para brincadeira. Logo após a partida, Bolt se distanciou de Gay, que largou mal. Nos primeiros metros, a vitória já parecia mais do que assegurada.

A partir dali, a dúvida era se o recorde mundial seria quebrado. Ao contrário do que fez em Pequim, quando bateu no peito antes de cruzar a linha de chegada, em Berlim Bolt manteve o ritmo forte e a seriedade até o último momento. Na reta final, olhou para o lado, espiou os concorrentes e viu que não seria mais ameaçado por ninguém.

Assim que cruzou a linha, o jamaicano olhou para onde o mundo inteiro queria olhar: o cronômetro ao lado da pista. Confirmada a marca de 9s58, a prova praticamente perfeita e o recorde mundial, a festa estava liberada. Ali ele voltou a ser o gaiato de sempre.


Após cruzar a linha de chegada, Bolt (à direita) olha para o relógio e vê que bateu o recorde mundial

Ao fim da prova, Bolt e Asafa descontraídos
O sorriso que ficou contido durante os quase 10 segundos da prova explodiu à beira da pista. Sem conter a felicidade, o campeão mundial apontou para o céu, abraçou o mascote, pegou a bandeira da Jamaica e cumprimentou os rivais. Ali, sim, transformou-se no Bolt que o mundo conhecia, com a irreverência estampada no rosto e a sensação do dever cumprido. Ainda encontrou tempo para ensaiar passos de dança com Asafa Powell, que mostrou bom humor mesmo após a derrota e assumiu, sem pudores, o papel de coadjuvante do compatriota campeão.

Bolt atinge um feito que até hoje era apenas de Carl Lewis: o americano tinha sido o único a vencer os 100m rasos no Mundial e bater o recorde - com 9s86, em Tóquio, em 1991.

No mesmo palco em que o velocista americano Jesse Owens derrotou a intolerância do ditador Adolf Hitler nas Olimpíadas de 1936, Usain Bolt agora escreve mais um capítulo da história, contra um adversário ainda menos palpável, mas igualmente derrotado: o tempo.

Campeonato Mundial de Berlim - Final dos 100m rasos
1. Usain Bolt
Jamaica
9s58
2. Tyson Gay
Estados Unidos
9s71
3. Asafa Powell
Jamaica
9s84
4. Daniel Bailey
Antigua e Barbuda
9s93
5. Richard Thompson
Trinidad e Tobago
9s93
6. Dwain Chambers
Grã-Bretanha
10s00
7. Marc Burns
Trinidad e Tobago
10s00
8. Darvis Patton
Estados Unidos
10s34
Assista à vitória de Bolt no linK:

Alberto Guerreiro Ramos


Sociologia
Alberto Guerreiro Ramos (Santo Amaro da Purificação, Bahia, 13 de setembro de 1915 - Los Angeles (EUA), 1982) foi uma figura de grande relevo da ciência social no Brasil. Em 1956, Pitirim A. Sorokin, analisando a situação da sociologia na segunda metade do século, inclui Guerreiro Ramos entre os autores eminentes que contribuíram para o progresso da disciplina. Foi deputado federal pelo Rio de Janeiro e membro da delegação do Brasil junto à ONU. É autor de dez livros e de numerosos artigos, muitos dos quais têm sido disseminados em inglês, francês, espanhol e japonês.

Trajetória Intelectual
Em 1942 diplomou-se em ciências pela Faculdade Nacional de Filosofia do Rio de Janeiro, no então Distrito Federal, bacharelando-se um ano depois pela Faculdade de Direito da mesma cidade. Alberto Guerreiro Ramos foi Professor Visitante da Universidade Federal de Santa Catarina, professor da Escola Brasileira de Administração Pública da FGV e dos cursos de sociologia e problemas econômicos e sociais do Brasil promovidos pelo Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP), e no (EBAP), no Rio de Janeiro, em 1957, onde influenciou diretamente Rui Mauro Marini em sua formação intelectual.
Guerreiro Ramos pronunciou conferências em Pequim, Belgrado e na Academia de Ciências da União Soviética. Em 1955, foi conferencista visitante da Universidade de Paris. Nos anos de 1972 e 1973 foi "visiting fellow" da Yale University e professor visitante da Wesleyan University.
Guerreiro Ramos deixou o país em 1966, radicando-se nos Estados Unidos, onde passou a lecionar na Universidade do Sul da Califórnia.
Jornalista, colaborou em O Imparcial, da Bahia, O Diário, de Belo Horizonte, e Última Hora, O Jornal e Diário de Notícias, do Rio de Janeiro.
A Universidade de Toronto publicou em 1981 a edição inglesa de sua mais recente obra A nova ciência das Organizações, uma reconceituação da riqueza das nações.

Trajetória política
Durante o segundo governo presidente Getúlio Vargas o assessorou e em seguida atuou como diretor do departamento de sociologia do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB). Ingressou na política partidária em 1960, quando se filiou ao Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), a cujo diretório nacional pertenceu. Na eleição de outubro de 1962 candidatou-se a deputado federal pelo Estado da Guanabara, na legenda da Aliança Socialista Trabalhista', formada pelo PTB e o Partido Socialista Brasileiro (PSB), obtendo apenas a segunda suplência. Ocupou uma cadeira na Câmara dos Deputados de agosto de 1963 a abril de 1964, quando teve seus direitos políticos cassados pelo Ato Institucional nº 1.

Guerreiro Ramos defendeu o intervencionismo econômico, o monopólio estatal do petróleo, a nacionalização da indústria farmacêutica e dos depósitos bancários. Defensor das reformas, considerou necessária a reforma constitucional. Para promover a reforma agrária defendia o pagamento das desapropriações em títulos da dívida pública. Defendeu também as reformas eleitoral (voto para os analfabetos e soldados e elegibilidade de todos os eleitores), bancária e administrativa.Também foi Secretário do Grupo Executivo de Amparo à Pequena e Média Indústrias do BNDE, assessor da Secretaria de Educação da Bahia, técnico de administração do Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP), assim como do Departamento Nacional da Criança. Atuou também como delegado do Brasil junto à Organização das Nações Unidas.


Bibliografia
RAMOS, Alberto Guerreiro. A nova ciência das organizações: uma reconceituação da riqueza das nações. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1989 RAMOS, Alberto Guerreiro. Administração e Contexto Brasileiro - Esboço de uma Teoria Geral da Administração. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1983 RAMOS, Alberto Guerreiro. Sociologia e a Teoria das Organizações - Um Estudo Supra Partidário. Santos: Editora Leopoldianum, 1983 RAMOS, Alberto Guerreiro. Administração e Estratégia do Desenvolvimento - Elementos de uma Sociologia Especial da Administração. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1966 RAMOS, Alberto Guerreiro. A Redução Sociológica - Introdução ao Estudo da Razão Sociológica. Rio de Janeiro: Edições Tempo Brasileiro Ltda, 1965 RAMOS, Alberto Guerreiro. Introdução Crítica à Sociologia Brasileira. Rio de Janeiro: Editorial Andes Ltda, 1957

Terreiro de umbanda bane fumo de ritual

Paulo, domingo, 16 de agosto de 2009

Templo tomou decisão mesmo sendo permitido o uso de charutos em rituais religiosos feitos em ambientes fechadosA proibição vale para o salão fechado, de acesso público, onde acontecem as festas e o atendimento aos filhos de santo e seus consulentes
Terreiro de umbanda localizado na zona sul de São Paulo; a entrada em vigor da lei antifumo fez o templo deixar de usar cigarro e o charuto durante os rituais
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao menos no terreiro de umbanda Guaracy, no Jardim Ipê, zona sul de São Paulo, o santo da lei antifumo é forte. Mesmo permitido pela nova legislação, que abre exceção para templos religiosos em que o fumo ou a fumaça façam parte do ritual, os caboclos, boiadeiros, marinheiros, pretos velhos e demais entidades daquela crença aboliram o charuto, o cachimbo e a cigarrilha das rodas de jira.A proibição, que começou na sexta-feira 7, mesmo dia em que a lei antifumo entrou em vigor em todo o Estado, diz o babalorixá Carlos Buby, 59, ele próprio um fumante desde os 14 anos, foi referendada pelos guias espirituais do templo e motivada para que o terreiro umbandista "se afinasse com a lei dos homens".Por lá, confirmam os vizinhos, o batuque nunca passa das 22h para respeitar também a lei do silêncio. O banimento do fumo no terreiro Guaracy segue à risca a nova lei. A proibição vale para o salão fechado, de acesso público, onde ocorrem as festas e o atendimento aos filhos de santo e aos consulentes. No quintal de terra batida, ao ar livre, no sítio onde é feita boa parte das oferendas, as entidades fumam charutos livremente nos rituais.A exceção é para Exu, que pode fumar o charuto em ambientes fechados, explica o pai de santo Buby, porque o contato com essa entidade é fechado ao público e exclusivo para os iniciados na religião umbandista."É nesse momento que a cabocla deveria estar fumando o charuto e está de mãos vazias", diz Ana Paula da Costa, seguidora do templo Guaracy."Não sabíamos como iria acontecer porque as entidades trabalham com a fumaça, mas os caboclos trazem segurança. É uma novidade. Antes, o gosto do charuto ficava até o dia seguinte, agora não sinto mais", afirma a médium Sílvia Dias, que na última quinta-feira recebia a cabocla Potira, pela primeira vez sem o rolo de fumo."Imagine 15 médiuns fumando charuto nesse espaço pequeno com outras 150 pessoas. A proibição não pesou em nada nos trabalhos da umbanda. Agora, as grávidas e crianças podem participar", diz o babalaô Carlos Buby.Para o professor titular aposentado de sociologia da USP Reginaldo Prandi, autor de mais de 20 livros sobre religiões afro-brasileiras, a decisão do terreiro Guaracy é minoritária e não é representativa da umbanda em geral. Para ele, a mudança é positiva e faz parte da transformação das religiões, que antes ditavam tendências e agora são pautadas pelo comportamento coletivo.Prandi diz que a fumaça dos charutos é uma herança indígena usada nos rituais de cura para canalizar energia e fluidos na limpeza espiritual. Agora, explica o professor aposentado da USP, os guias podem usar as mãos, como nos passes dos médiuns kardecistas. Presidente da Federação Brasileira de Umbanda, que reúne 5.325 terreiros no país, Manoel Alves de Souza diz que a abolição dos charutos no templo Guaracy após a lei antifumo "faz parte da evolução da religião".