segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Obama recua em item central de sua reforma da saúde


São Paulo, segunda-feira, 17 de agosto de 2009
Governo admite desistir de fundar uma agência estatal para oferecer planos em competição com seguradoras privadasAlternativa, que ganhou consenso em comissão no Congresso dos EUA, envolve a criação de cooperativas financiadas pelo Estado

FERNANDO CANZIAN DE NOVA YORK
Para tentar quebrar o impasse em torno do andamento de seu novo e ambicioso programa para o sistema de saúde, o governo de Barack Obama admitiu ontem recuar em uma das peças centrais do plano.A secretária da Saúde dos EUA, Kathleen Sebelius, afirmou que o governo pode desistir de criar uma poderosa agência estatal para prover cobertura médica a cerca de 50 milhões de americanos que hoje não têm seguro-saúde.No lugar da agência, Sebelius sugeriu que podem vir a ser montadas cooperativas sem fins lucrativos, mas financiadas com dinheiro estatal.Os EUA já têm dois grandes programas públicos na área, o Medicaid e o Medicare. O primeiro cobre de modo muito insuficiente famílias pobres que não têm seguro privado. O segundo, também deficiente, é destinado a pessoas com mais de 65 anos e sem cobertura.Para atender as 50 milhões de pessoas hoje fora do sistema privado, o governo planeja aplicar cerca de US$ 120 bilhões ao ano na área. Os recursos viriam de um aumento de impostos sobre quem ganha mais de US$ 250 mil por ano (cerca de US$ 38,5 mil ao mês).Em entrevista à rede CNN, a secretária da Saúde insistiu, no entanto, que o governo não quer deixar apenas o setor de seguro-saúde privado já estabelecido por conta desse novo mercado de 50 milhões de novos usuários. "É preciso deixar abertas algumas escolhas, pois precisamos de mais competição na área", afirmou.Guerra ideológicaA reforma do sistema de saúde nos EUA se converteu rapidamente nos últimos dias em uma batalha ideológica. Em cartazes de manifestantes contrários, na internet e na mídia mais conservadora, Obama já é apresentado como socialista e até mesmo nazista.Várias imagens de Obama com um bigode semelhante ao do líder nazista Adolph Hitler (1889-1945) ou com boina igual ao do revolucionário Che Guevara (1928-1967) têm aparecido em panfletos, TV, cartazes e charges de jornais e revistas.Uma das propostas do programa, de o governo reembolsar médicos privados que vierem a visitar em casa pacientes muito idosos ou em fase terminal para aconselhamento de familiares quanto às opções a seguir, foi distorcida pelos conservadores e comparada a um "conselho da morte".Segundo essa versão, negada pela Casa Branca, os médicos decidiriam quem ainda "merece" o recebimento de dinheiro público e quem não tem mais chances de sobrevivência.Em artigo publicado ontem no "New York Times", Obama criticou essa estratégia da oposição. "Apesar do que temos visto na televisão, creio que muitos americanos estão discutindo essas mudanças em suas mesas de jantar", disse.Durante peregrinação na semana passada pelo país, o presidente foi introduzido a debates sobre o assunto quase sempre por pessoas que contaram histórias pessoais de problemas relacionados à falta de assistência médica.Mas, enquanto Obama viajava, a Comissão de Finanças do Congresso (onde a reforma tramita atualmente) estabeleceu um consenso entre republicanos e democratas em torno das cooperativas como alternativa à criação de uma nova agência estatal.

0 comentários: