quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Arquivado HC contra censura ao jornal “O Estado de S. Paulo” por ser meio incabível

Notícias STF
Quarta-feira, 12 de Agosto de 2009

O ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), arquivou o Habeas Corpus (HC) 100231, em que o advogado pedia liminar para suspender a proibição imposta pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDFT) ao jornal “O Estado de S. Paulo” de publicar qualquer informação que esteja sob segredo de Justiça no inquérito que investiga o empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).
Ao arquivar o pedido, o ministro disse considerar “processualmente inviável” o HC impetrado, vez que se trata de matéria “insuscetível de exame em sede de HC”. É que o advogado pediu habeas para que fosse impedida censura a sua “liberdade de locomoção pelos sítios informativos” (sites noticiosos na Internet, entre eles o da Agência Estado, do mesmo grupo do jornal O Estado de S. Paulo).
HC só é cabível contra ameaça à liberdade física
Segundo o ministro Celso de Mello, o HC “destina-se unicamente a amparar a imediata liberdade de locomoção física das pessoas, revelando-se estranha a sua específica finalidade jurídico-constitucional qualquer pretensão que vise a desconstituir atos que não se mostrem ofensivos, ainda que potencialmente, ao direito de ir, de vir e de permanecer”.
Segundo o ministro, a ação de HC, “enquanto remédio jurídico-constitucional revestido de finalidade específica, não pode ser utilizada como sucedâneo de outras ações judiciais, notadamente naquelas hipóteses em que o direito-fim (ou direito-escopo, na expressão feliz de Pedro Lessa) não se identifica – tal como neste caso ocorre – com a própria liberdade de locomoção física”.
Ele citou jurisprudência do STF nesse sentido, incluindo, entre uma série de casos, o julgamento do HC 66937, relatado pelo ministro Sydney Sanches (aposentado).
Ademais, segundo Celso de Mello, mesmo que fosse cabível, na espécie, o remédio de HC, ainda assim ele seria insuscetível de conhecimento, pois, como se trata de decisão prolatada por desembargador de TJ, haveria “absoluta ausência de competência originária do STF para processar e julgar a presente ação de HC”. É que, no caso, a competência, de acordo com o disposto na Emenda Constitucional nº 22/1999, seria do Superior Tribunal de Justiça, e não do STF.
Presidente do STF não é coator
Na ação, o autor do HC inclui, além do desembargador do TJDFT, também o presidente do STF, ministro Gilmar Mendes, como autoridade coatora, alegando que se trata do “guardião maior da Constituição”.
“Inexiste, no caso, qualquer ato concreto que, imputável ao excelentíssimo senhor ministro-presidente desta Suprema Corte, guarde relação de pertinência com o processo em que proferida a decisão emanada do senhor desembargador Dácio Vieira”, afirma Celso de Mello.
Segundo ele, “sem a precisa indicação, pelo autor do “writ” (processo) constitucional, de atos concretos e específicos imputáveis ao senhor presidente do STF, não há como atribuir-lhe a condição de autoridade coatora para efeito de se reconhecer, então, no caso, a competência originária desta Corte Suprema para processar e julgar o presente HC”.
Isto porque, conforme o ministro “a ação de HC exige, para efeito de cognoscibilidade, a indicação – especificada e individualizada – de fatos concretos cuja ocorrência possa repercutir na esfera da imediata liberdade de locomoção física dos indivíduos”.
O ministro Celso de Mello rejeitou, também, a pretensão do advogado de, alternativamente, o HC ser convertido em ação popular. Isto pelo simples fato de que a Constituição de 1988 não incluiu o julgamento de ação popular na esfera das atribuições jurisdicionais originárias da Suprema Corte.
Ademais, segundo ele, a ação popular seria incabível para combater a decisão impugnada. Quando ainda em curso, caberia recurso ou, se já transitada em julgado, ação rescisória.
Leia a íntegra da decisão.
Advogado não representa o Estadão
Segundo divulgado na imprensa, na última segunda-feira (11) o Departamento Jurídico do Grupo Estado teria informado que o advogado impetrante do HC não representa o jornal “O Estado de S. Paulo”. Segundo o Grupo Estado, a ação é insustentável e não condiz com a estratégia de defesa do jornal. O departamento informou que a defesa do “Estadão” está sob responsabilidade exclusiva do advogado Manuel Alceu Affonso Ferreira que, na semana passada, entrou com exceção de suspeição contra o desembargador Dácio Vieira, alegando que ele estaria impedido de tomar a decisão que tomou, por conviver socialmente com a família Sarney.
FK/IC
Processos relacionados
HC 100231

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Ativistas consideram "modesta" decisão de Obama de aumentar direitos de gays

18/06/2009 - 15h59


da Efe, em Washington
A decisão tomada pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, de estender alguns dos direitos de casais heterossexuais para homossexuais foi considerada pelo comunidade gay um passo "modesto" e que "é pouco", comparado com suas promessas eleitorais.
As organizações que defendem os direitos da comunidade de lésbicas, gays, bissexuais e transgênero (LGBT) não esconderam nesta quinta-feira seu descontentamento com a medida de Obama, que foi vista como um gesto simbólico para um grupo da sociedade que deu forte apoio ao presidente nas eleições e pediram que seus direitos fossem realmente igualados aos dos heterossexuais.
Um total de 70% da comunidade homossexual apoiou Obama nas eleições presidenciais de 2008, segundo a CNN.
Os ativistas gays reconhecem que a medida de Obama é um passo na direção adequada, mas insistiram que não se compara com a promessa eleitoral do democrata de "lutar duramente" pelos direitos e o reconhecimento da comunidade LGBT.
O grupo Lambda Legal qualificou como "pequena" a quantidade de benefícios federais que foi estendida aos homossexuais.
"Apesar do passo modesto na direção adequada, [...] as novas ações são pequenas e não tratam os empregados homossexuais com igualdade", afirmou o grupo, em comunicado.
A lei aprovada por Obama na quarta-feira, que será aplicada a funcionários civis e do serviço exterior, dá folga a funcionários gays, caso seu filho ou parceiro adoeça. Além disso, os casais receberão ajuda-moradia se um dos dois for enviado ao exterior a trabalho.
No entanto, a ordem não estende os benefícios sanitários totalmente, nem dá acesso ao sistema de previdência.
O governo emprega cerca de dois milhões de civis e calcula-se que aproximadamente 10% da força de trabalho é homossexual.
Os ativistas gays também demonstraram descontentamento pelo longo tempo que Obama levou para abordar as exigências da comunidade LGBT e pela falta de medidas para os militares gays.
O mal-estar também foi causado pelo fato de que governo ainda não tomou nenhuma medida para anular a Lei do Casamento, de 1996.
Esta lei nega benefícios federais a casais do mesmo sexo e permite os estados a não reconhecerem casamentos de homossexuais de outros estados.
Outra lei rejeitada pela comunidade homossexual é a batizada "Não pergunte, não diga", de 1993, que proíbe os militares de demonstrarem seu homossexualismo e os comandantes de investigarem a orientação sexual de seus subordinados.
"Estamos muito frustrados e gostaríamos que o presidente atuasse mais rápido para proteger nossa comunidade e trabalhar a favor da igualdade", disse Leslie Gabel-Brett, do grupo Lambda, ao jornal "Washington Post".
"Há um enorme quantidade de coisas pendentes", afirmou Joe Solmonese, presidente do Human Rights Campaign, que, no entanto, qualificou a medida de Obama como "um primeiro passo importante" para conquistar um reconhecimento igualitário "real e tangível".
O presidente admitiu, na quarta-feira, que ainda tem muito a fazer sobre o tema.

Argentina condena ex-general à prisão perpétua por crime durante a ditadura


12/08/2009 - 22h58

da Folha Online
O ex-general Santiago Omar Riveros, comandante do Campo de Mayo, considerado um dos maiores centros de extermínio da última ditadura argentina (1976-83), foi condenado nesta quarta-feira à prisão perpétua por crimes de lesa-humanidade.
Riveros, ex-chefe do Comando de Institutos Militares, foi considerado culpado pelo assassinato de Floreal Avellaneda, de 15 anos, e pelo sequestro da mãe do jovem, Iris Avellaneda. Segundo a denúncia, os militares prenderam os dois para localizar o pai de Floreal, que era comunista e conseguiu fugir de casa pulando por telhados de casas vizinhas quando lhe avisaram que a polícia estava chegando à procura dele.
O jovem foi torturado e empalado pelos militares que estavam sob comando de Riveros no Campo de Mayo, na periferia de Buenos Aires.
"Eles me aplicavam choques elétricos nas axilas, seio, boca, órgãos genitais e ao 'Negrito' [Floreal, filho] faziam exatamente o mesmo. Comecei a gritar e eles mo trouxeram", contou a mãe do jovem assassinado ao tribunal. "Então ele me pediu, chorando, que eu dissesse onde estava seu pai, mas eu não sabia."
"Estamos satisfeitos, mas ele deve cumprir a pena em uma prisão comum. Mesmo que ele morra na prisão, nunca vai sofrer aquilo que nós sofremos", disse Floreal Avellaneda, pai, após a leitura da sentença. A mulher foi liberada após quase três anos de detenção.
O tribunal também condenou, a 25 anos de prisão, o ex-chefe de Inteligência do Comando de Institutos Militares e ex-chefe da Polícia de Buenos Aires Fernando Verplaetsen. Outros quatro acusados pela morte de Floreal receberam penas de entre oito e 18 anos de prisão.
Pelo Campo de Mayo passaram cerca de 5.000 prisioneiros da ditadura, segundo organismos de direitos humanos. O ex-general havia sido condenado em 1985 e foi perdoado 1989, mas posteriormente foi acusado de roubo de bebês, filhos de desaparecidos, classificado como um crime contra a humanidade, e, por isso, imprescritível. Ele também já havia sido condenado, à revelia, em 2000, na Itália, juntamente com outros seis militares, pelo sequestro e assassinato de oito ítalo-argentinos durante a ditadura.
Além de comandar o centro clandestino de detenção, o ex-general integrava a Junta Interamericana de Defesa, um espaço de articulação, nos anos 70, da repressão continental dentro do chamado Plano Condor, a coordenação entre as ditaduras do Cone Sul contra os movimentos armados de esquerda.
Os julgamentos dos acusados de crimes durante a ditadura argentina foram retomados depois da revogação, em 2005, das "leis do perdão" -- Ponto Final e Obediência Devida-- aprovadas em 1986 e 1987, e que foram consideradas inconstitucionais pela Suprema Corte argentina.
Dois anos antes, seguindo uma promessa de campanha do então presidente, Néstor Kirchner (2003-2007), o Senado argentino aprovou a anulação das leis de anistia para os militares que cometeram crimes contra a humanidade durante a ditadura.
Em 1985, o general Jorge Videla e o almirante Emilio Massera, instigadores do golpe de Estado, tinham sido condenados à prisão perpétua, e o general Roberto Viola, um dos ditadores, a 17 anos de detenção, mas o segundo presidente após o fim da ditadura, Carlos Menem, concedeu um indulto aos três, além de anistiar a maioria dos militares e civis perseguidos por violações de direitos humanos.
Tanto Videla, como Massera, ambos de 83 anos, estão atualmente presos por acusações de repressão durante o governo militar. O primeiro está em uma prisão comum e o segundo cumpre prisão domiciliar. Viola morreu em 2004.
Vários outros oficiais da ditadura foram condenados a penas de prisão perpétua após a retomada dos julgamentos referentes ao período. Em julho de 2008, o ex-comandante Luciano Menéndez foi condenado a passar a vida na prisão por crimes cometidos em La Perla, um dos três maiores campos clandestinos de detenção da ditadura do país.
Quatro meses depois, o coronel da reserva Alberto Barda recebeu a mesma pena por crimes de lesa-humanidade cometidos no centro clandestino de detenção conhecido como La Cueva, na cidade de Mar del Plata, a 400 km ao sul da capital argentina.
Segundo números oficiais, 18 mil pessoas desapareceram na Argentina durante o regime militar, embora organismos de direitos humanos afirmem que as vítimas chegam a 30 mil.
Com France Presse e Efe

Colômbia prevê fechar polêmico acordo com os EUA no próximo fim de semana

12/08/2009 - 21h16

da Folha Online
A Colômbia espera concluir no próximo fim de semana um acordo militar com Estados Unidos que permitirá a soldados americanos o uso bases no país andino para operações antidroga e que já provocou intensa controvérsia entre países da América do Sul.
O comandante das Forças Militares, Freddy Padilla, informou na quarta-feira que funcionários dos ministérios da Defesa, do Interior e da Justiça, assim como diplomatas, viajaram a Washington para acertar detalhes e preparar o acordo para a assinatura dos respectivos governos.
"Se Deus nos ajudar, [o acordo] estará pronto para os trâmites burocráticos dentro da soberania de cada nação", disse Padilla ao ser questionado se os documentos seriam finalizados no fim de semana.
O ministro da Defesa da Colômbia, Gabriel Silva, informou que, para debater os últimos detalhes do pacto, viajaram a Washington delegações de seu gabinete e das pastas de Relações Exteriores, Defesa, Interior e Justiça.
O novo acordo permitirá que tropas norte-americanas ocupem por dez anos as instalações de sete bases situadas na Colômbia, sendo três do Exército, duas da Marinha e outras duas da Aeronáutica.
Padilla e Silva se reuniram com membros de uma comissão do Senado para falar do acordo. O encontro foi na base aérea de Palaquero, a principal do país, localizada a 195 quilômetros de Bogotá e que faz parte do convênio.
Durante a reunião, o comandante das Forças Armadas ressaltou que, se o documento for assinado, os norte-americanos investirão US$ 46 milhões para reparar a pista de pouso e construir alojamentos no local. "O dinheiro já está autorizado, os planos estão feitos", garantiu.
O anúncio do acordo provocou uma onda de críticas por parte de vários países da região, sobretudo Venezuela, que congelou relações diplomáticas e comerciais com o governo do presidente Álvaro Uribe, por considerar o pacto Colômbia-EUA uma ameaça à sua soberania. O presidente venezuelano, Hugo Chávez, disse que o acordo pode "gerar uma guerra na América do Sul".
Os protestos em torno do convênio levaram fez com que a União das Nações Sul-Americanas (Unasul) incluísse o tema na agenda de sua cúpula que foi realizada no Equador na última segunda-feira (10). Mas, como não houve consenso entre os países-membros, o assunto acabou ficando de fora da declaração final do encontro. Membros da Unasul decidiram convocar uma reunião extraordinária de presidentes em uma data ainda não definida para tratar do assunto.
O presidente colombiano, Álvaro Uribe, não foi à reunião de segunda-feira. Em vez disso, ele preferiu fazer viagens a sete países da região, entre eles o Brasil, durante a semana passada. Equador e Venezuela não foram incluídos no roteiro das visitas.
A Colômbia, principal aliado dos EUA na região, tem reiterado que o uso das bases por forças norte-americanas será orientado por autoridades locais e tem como objetivo fortalecer sua estratégia para combater as guerrilhas que agem no país.
Com o plano, os EUA buscam reorganizar as operações antidroga e antiguerrilha que partiam da base equatoriana de Manta, utilizada por Washington durante uma década, até julho passado

terça-feira, 11 de agosto de 2009

“Quando Obama visitar o Brasil, vai aprender algumas lições”

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09/08/2009 às 10:47
Angela Davis:

Cleidiana Ramos

Aos 65 anos, Angela Davis continua a mostrar por que se tornou um ícone do movimento negro norte-americano nos anos 1970. Bastam minutos de conversa com a hoje pesquisadora e professora da Universidade da Califórnia, em Santa Cruz (EUA), para perceber a facilidade em expor, numa linguagem clara, linhas de raciocínio complexo, fruto do aprofundamento que marca sua produção acadêmica. Um exemplo é quando explica a visão que tem do feminismo, para além do embate de gênero. A jovem ativista de outrora continua também a fascinar a juventude. Este segmento foi o público mais constante nas palestras que ela realizou, na última semana, em Salvador, como convidada da ‘XII Edição da Fábrica de Ideias’, programa anual sediado no Centro de Estudos Afro-Orientais da Universidade Federal da Bahia (Ceao/Ufba ). Coordenada pela doutora em sociologia Ângela Figueiredo e pelo doutor em antropologia Lívio Sansone, a Fábrica oferece treinamento para jovens pesquisadores em estudos étnicos. Angela Davis, inclusive, discorda de quem costuma apontar a juventude do mundo atual como apática, do ponto de vista político. Para ela, cada geração tem sua forma própria de atuação. “A minha postura é a de aprender com os jovens, porque sempre são eles que provocam as mudanças radicais”, afirma. Nesta entrevista concedida à repórter Cleidiana Ramos, com o auxílio da tradutora Raquel Luciana de Souza, Angela Davis falou, dentre outros assuntos, sobre as lições que o governo brasileiro pode oferecer a Barack Obama, em relação a uma política de maior aproximação com a África.
A TARDE É a segunda vez que a senhora vem à Bahia. O que notou sobre a questão racial e de gênero aqui?

Angela Davis O termo feminismo é ainda bastante contestado, como também é contestado nos EUA. Mas, eu descobri que há mulheres ativistas que estão fazendo um trabalho bastante semelhante. Então, nesse sentido, não faz diferença como uma pessoa se identifica. Tem mulheres que estão trabalhando nessas questões de violência contra a mulher, assistindo vítimas dessa violência e, ao mesmo tempo, pensando em formas de se erradicar um fenômeno que é uma pandemia por todo o mundo. São questões que eu acredito que perpassam as fronteiras nacionais. Acredito que ativistas nos EUA podem aprender muito com ativistas aqui do Brasil.

AT Ao que a Sra. atribui a resistência ao termo feminismo?
AD Há essa resistência ao termo feminismo porque pressupõe-se que se adotem posições vazias. Há posições antimasculinas, anti-homem. Quando feministas brancas formularam pela primeira vez essa noção de direitos das mulheres, elas estavam somente prestando atenção à questão de gênero e não prestavam atenção à questão de raça e de classe. E nesse processo elas racializaram gênero como branco e colocaram uma questão de classe como uma classe burguesa, mas as feministas negras argumentaram que você não pode considerar gênero sem considerar também a questão de raça, a questão de classe e a questão de sexualidade. Então isso significa que as mulheres têm de se comprometer a combater o racismo e lutar tanto em prol de mulheres como de homens.
AT É uma visão bem diferente daquela que a maioria das pessoas tem sobre feminismo.
AD O tipo de feminismo que eu abraço não é um feminismo divisivo. É um feminismo que busca a integração. Mas, como disse anteriormente, estou mais preocupada com o trabalho que as pessoas fazem e o resultado que alcançam do que se estas pessoas se denominam feministas ou não. Muito do trabalho histórico tem descoberto tradições e legados feministas de mulheres que nunca se denominaram feministas, mas nós as localizamos dentro de uma tradição feminista. Eu já vi trabalhos que falam sobre Lélia Gonzalez no Brasil denominando-a feminista e eu não sei se ela se considerava feminista. Tem também mulheres contemporâneas como Benedita da Silva. Eu não sei se ela se identifica como feminista.
AT A senhora pensa em escrever algo sobre as suas impressões em relação à Bahia?
AD Eu acho que sim. Mas eu teria de voltar aqui e passar um pouco mais de tempo fazendo uma pesquisa substantiva. Estou bastante impressionada com o ativismo das mulheres em Salvador e, em geral, aqui é um lugar maravilhoso.
AT A Cidade das Mulheres, de Ruth Landes, trabalho realizado na década de 30, trata do poder feminino no candomblé da Bahia.
AD Aqui no Brasil, o poder que as mulheres exercem é uma base muito poderosa para o poder feminista no Brasil. Eu escrevi um livro, Legados do Blues, e o meu argumento é que as mulheres do blues, durante os anos 20, ajudaram a forjar um feminismo da classe trabalhadora.
AT Os EUA elegeram pela primeira vez um presidente negro. Passado esse primeiro semestre do governo Obama, como a senhora avalia as suas ações?
AD Ele fez coisas boas e fez algumas coisas ruins. A minha posição em relação a Obama nunca foi de pressupor que um homem sozinho, independentemente de sua raça ou classe, pudesse salvar o país e o mundo. O que foi bastante entusiasmante em relação à sua eleição foi o que nós aprendemos sobre o país. O fato de que tantas pessoas estavam predispostas a votar nele nos diz que houve progresso. É claro que não atrapalhou o fato de ele estar disputando a eleição com o partido de George Bush. A segunda questão é que Obama apresentou-se como alguém conectado a uma tradição de luta negra. Ele se identifica com o movimento dos direitos civis, com figuras como Martin Luther King. Um homem negro que tivesse uma política conservadora não teria feito a diferença em termos de ponderarmos sobre onde estamos agora. A terceira questão e, provavelmente, a mais importante, é que Obama foi eleito porque os jovens criaram esse movimento em massa.
AT Este é um aspecto bem interessante sobre a vitória de Obama.
AD A eleição de Obama nos transmitiu o que estava acontecendo em termos de organização de uma juventude com um movimento de base. Eram jovens negros, brancos, latinos, indígenas. A minha esperança está na capacidade de esse movimento ir na direção correta. Por outro lado, Obama não tem tomado bons posicionamentos, como em relação à questão da manutenção das tropas militares no Afeganistão.
AT O governo brasileiro adotou uma política de aproximação com os países africanos. Há muita esperança de que o governo Obama possa fazer o mesmo. Esta esperança, em sua opinião, pode se confirmar?
AD Obama tomou uma boa decisão ao visitar à África. Ele visitou Gana. Isso prova que sua visita não era simplesmente em função das suas origens, mas também para discutir problemas sérios. Em, termos de relação entre os EUA e a África, principalmente na questão histórica, foi muito importante a visita de Obama aos fortes de Gana, da Costa do Cabo e à porta do não-retorno. Foi muito importante para os EUA verem isso. Os afro-americanos já conhecem esses lugares. Eles viajam ao Senegal, a Costa do Cabo, mas esta foi a primeira vez que essa conexão histórica entre EUA e a África foi evidenciada. Isso estimulou uma discussão sobre o papel da escravidão. Logo depois, por exemplo, houve reportagens sobre a plantação onde um bisavô de Michelle Obama foi escravo.
AT As questões históricas ganharam destaque.
AD Estas questões históricas são importantes. Mas o que eu considero ser muito difícil para Obama fazer é reconhecer os danos horrendos que o capitalismo causou à África. As políticas de ajustes estruturais do FMI e do Banco Mundial fizeram com que vários países africanos desviassem recursos de serviços sociais para setores lucrativos da economia. Acredito que isso é que tem de ser abordado. Eu sei que o Brasil tem uma posição mais progressista em relação à África. Então, provavelmente, quando Obama visitar o Brasil ele vai poder aprender algumas lições. Quando isso acontecer, estaremos extremamente felizes porque nós ficamos muito envergonhados quando o George Bush veio e disse: “Eu não sabia que havia negros no Brasil”.

AT O que pensa sobre as ações afirmativas no Brasil?
AD Não tenho acompanhado esta discussão rigorosamente. Mas, na minha primeira visita ao Brasil, em 1997, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, as pessoas estavam apenas começando a reconhecer que o Brasil não era uma democracia racial. As ações afirmativas ainda estão sendo muito atacadas nos EUA, mas têm sido responsáveis pela integração de várias instituições em lugares, por exemplo, como a África do Sul. Eu sei que aqui no Brasil elas acontecem no que diz respeito às universidades. As ações afirmativas são um instrumento muito importante. O discurso nos EUA modificou-se. No lugar de se falar sobre ações afirmativas fala-se agora sobre diversidade, o que é problemático. A administração de George Bush foi a administração mais diversificada na história dos EUA antes da administração de Obama. Mas ele colocou em seu governo negros e latinos conservadores. Essa diversidade tem sido definida como a diferença que não faz a diferença.
AT Quando foi implantada a política de ações afirmativas nos EUA?
AD Em 1977, tivemos o primeiro desafio jurídico às ações afirmativas. Isso aconteceu num caso levantado por um homem branco que não foi admitido para a Universidade da Califórnia e desde então há o caso de vários outros processos judiciais impetrados por brancos que argumentam ser vítimas de um racismo às avessas.
AT No Brasil, o STF prepara-se para julgar a constitucionalidade das cotas a partir de uma provocação do DEM.
AD A meu ver, deve-se desafiar pressuposições de que o caso trata apenas de homens brancos como indivíduos e mulheres negras como indivíduos que estão ali lutando por um emprego. As ações afirmativas nunca foram concebidas para ajudar indivíduos apesar do fato de que indivíduos se beneficiam das mesmas. A ideia é soerguer uma comunidade inteira. Trata-se de uma população que foi objeto de discriminação. Tanto nos EUA como no Brasil nós ainda vivemos com o sedimentos da escravatura. A escravidão não é somente algo que existe no passado. Habita o nosso mundo hoje em dia, com toda a pobreza, o analfabetismo. As ações afirmativas são um passo inicial em termos de se abordarem questões de escravatura, colonização. Esquece-se tudo isso. Parece que existem só duas pessoas: um homem branco e um homem negro, ou um homem branco e uma mulher negra.
AT A senhora vem de uma geração muito politizada. Como analisa a ação política da juventude do mundo atual?
AD Eu estou muito entusiasmada. Não sou o tipo de pessoa que gosta de deitar nos louros da minha geração. Eu sei que cada geração abre uma nova trilha. Frequentemente pessoas que se engajaram em movimentos pressupõem que cada geração tem de fazer a mesma coisa da mesma forma. A minha postura é a de aprender com os jovens, porque sempre são eles que provocam as mudanças radicais. Grande parte do meu ativismo é contra o complexo industrial carcerário. Este é um movimento cuja maioria é constituída por jovens que utilizam métodos diferentes. Eles utilizam representações culturalistas, como música, e usam novas formas de comunicação, como facebook. Estou aprendendo muito com isso.
AT É um movimento interessante, então.
AD Estou feliz que eles tenham feito isso, porque se transforma o terreno para que se possa desenvolver novas ideias, expandindo o nosso conhecimento sobre as possibilidades para a liberdade. Por isso eu acho tão importante prestar atenção nos jovens. Eu não acredito nessas pessoas que dizem que os jovens são apáticos que eles não estão fazendo nada. Nós precisamos acompanhar este movimento, de maneira que estas noções de liberdade se expandam e se tornem mais abrangentes porque eu não acredito que chegaremos num ponto no qual possamos dizer “isto é liberdade, nós chegamos ao topo da montanha e podemos parar de lutar”. Acho que será uma luta infinita e as vitórias que conquistamos nos permite imaginar novas liberdades. O discurso de Martin Luther King, conhecido como Eu tenho um sonho, fala sobre chegar ao topo da montanha. Ele nunca diz o que se vê ao chegar ao topo da montanha. Acredito então que cada geração vai criar novas imaginações do significado de ser livre.