terça-feira, 7 de julho de 2009

Parlamentares divergem sobre estatuto da Igreja Católica

Pauta - 07/05/2009 19h34
Falta consenso para a votação, na Câmara, do acordo entre o Brasil e a Santa Sé que trata do Estatuto Jurídico da Igreja Católica no País. O acordo foi assinado no Vaticano em 13 de novembro de 2008 e depende de aprovação do Congresso. O coordenador da bancada evangélica, deputado João Campos (PSDB-GO), considera que o tratado fere a separação entre Estado e Igreja prevista na Constituição. "O texto abre caminho para que o Brasil volte a ser um Estado confessional, com uma religião oficial com mais prerrogativas do que as outras", afirma João Campos. "Isso fere a Constituição, pois tem a ver com a liberdade de crença, a pluralidade de religião, a diversidade de culto", acrescenta.A matéria está na Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional e aborda temas como imunidade tributária de entidades eclesiásticas; funcionamento de seminários e instituições católicas de ensino; prestação de assistência espiritual em presídios e hospitais; garantia do sigilo de ofício dos sacerdotes; e visto para estrangeiros que venham ao Brasil realizar atividade pastoral. Sem privilégios O relator da proposta, deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG), entende que o acordo abre caminho para a assinatura de tratados relativos a outras religiões. E o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Geraldo Lyrio Rocha, argumenta que o texto não dá nenhum privilégio à Igreja Católica: "O tratado apenas agrupa, num único texto, o que já está na Constituição, nas leis ordinárias e na jurisprudência. Então, ele não fere em nada o Estado laico. O mesmo que a Igreja Católica pede para si deseja que seja também concedido às demais denominações." Bonifácio de Andrada enumera outros pontos: "A Igreja, os bispados e as paróquias passam a ser reconhecidas como entidades jurídicas específicas, com todos os direitos decorrentes. Os padres e os sacerdotes podem atuar como voluntários, sem a necessidade de legislação trabalhista. E a Igreja Católica pode fazer convênios com o Poder Público para manter o seu grande patrimônio cultural." Apoio O chanceler Celso Amorim já disse ao presidente da Comissão de Relações Exteriores, deputado Severiano Alves (PDT-BA), que espera a aprovação do texto, pelo fato de ele ter sido objeto de muitas consultas no Brasil. Depois de passar também pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ), a matéria seguirá para o Plenário.
http://www2.camara.gov.br/homeagencia/materias.html?pk= 134326

Estatuto da Igreja Católica será debatido em audiência nesta terça

A semana - 06/07/2009 12h01
A Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional se reúne nesta terça-feira (7) para discutir o acordo assinado em 2008 pelo Brasil e pelo Vaticano que cria o Estatuto Jurídico da Igreja Católica no Brasil. O acordo foi submetido à Câmara sob a forma da Mensagem (MSC) 134/09. Foram convidadas a professora de pós-graduação em Educação da Universidade de São Paulo (USP) Roseli Fischmann e a embaixadora Maria Edileuza Fontenele Reis, Diretora do Departamento da Europa do Ministério das Relações Exteriores (MRE). A audiência será realizada no plenário 3 a partir das 14 horas.O acordo O acordo trata de temas como imunidade tributária de entidades eclesiásticas; funcionamento de seminários e de instituições católicas de ensino; prestação de assistência espiritual em presídios e hospitais; garantia do sigilo de ofício dos sacerdotes; e visto para estrangeiros que venham ao Brasil realizar atividade pastoral.Na reunião anterior, o coordenador da bancada evangélica, deputado João Campos (PSDB-GO), declarou que o tratado fere a separação entre Estado e Igreja prevista na Constituição. Mas o relator, deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG), que apresentou parecer pela aprovação da proposta, afirmou que o acordo com a Santa Sé não gera privilégios e que abre caminho para a assinatura de tratados relativos a outras religiões.O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse à comissão que espera a aprovação do texto, pelo fato de ele ter sido objeto de muitas consultas no Brasil.O acordo foi discutido pela comissão no último dia 6 de maio, mas ainda não há consenso sobre o assunto. A votação da proposta está marcada para esta quarta-feira (8).

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Sambar com fé

Campinas, 15 a 21 de junho de 2009 – ANO XXIII – Nº 432
MANUEL ALVES FILHO
O samba, quem diria, constitui um importante eixo simbólico que promove a conexão entre dois espaços aparentemente opostos e contraditórios: as escolas de samba e as igrejas evangélicas. A constatação foi feita pela antropóloga Kelly Adriano de Oliveira, que acaba de defender a tese de doutorado “Deslocamentos entre o samba e a fé – Um olhar para gênero, raça, cor, corpo e religiosidade na produção de diferenças”. O trabalho, apresentado no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, investigou a maneira como rainhas, musas, madrinhas e princesas de bateria de escolas de samba percebem e discutem as questões relativas ao estereótipo da mulata, normalmente associado à sexualidade, sensualidade e sedução. “A questão da religiosidade, que não estava prevista num primeiro momento, acabou surgindo como um elemento que permeia de alguma forma todos esses temas”, afirma a pesquisadora, que foi orientada pela professora Mariza Corrêa.
A associação entre samba e fé não é algo exatamente novo no cenário brasileiro, como lembra Kelly. Ritmo historicamente relacionado às tradições negras, o samba frequentemente faz referências e tem conexões históricas com manifestações e símbolos religiosos, notadamente os relacionados aos cultos de matriz africana. Ao entrevistar mulheres que desfilam em escolas de samba de São Paulo, para saber como elas trabalham com a constituição de suas subjetividades, identidades e diferenças, a antropóloga apurou que parte delas frequenta igrejas evangélicas, principalmente as de vertente neopentecostal. As mais citadas foram Renascer em Cristo, Bola de Neve e da Graça Mundial “Foi uma surpresa estimulante para mim, uma vez que esses dois ‘mundos’ são, pelo senso comum, excludentes entre si”, revela.
Ao transitarem por esses espaços, diz a pesquisadora, as sambistas conseguem superar duas aparentes incoerências. A primeira diz respeito ao discurso comumente usado por igrejas neopentecostais no sentido de deslegitimar as manifestações religiosas afro-brasileiras. A segunda reside no fato de essas mesmas igrejas terem uma visão de corpo e corporeidade extremamente conservadora. “Para elas, o sexo e, principalmente o corpo feminino, está relacionado exclusivamente à reprodução, o que acaba por estabelecer uma ruptura com o prazer”, explica. Mas como, afinal, essas mulheres conseguem promover a conciliação de aspectos tão díspares? Conforme Kelly, a combinação é possível porque essas igrejas neopentecostais se apropriam de alguns elementos da cultura popular, para reelaborá-la com o objetivo de atrair e manter novos fiéis.
Desse modo, a ida às escolas de samba é, por assim dizer, permitida e purificada. “De acordo com o depoimento dessas mulheres, ao frequentarem a igreja elas passam a ter o corpo e a alma blindados. Dito de outra maneira, é como se os corpos ficassem protegidos do olhar vulgarizante normalmente destinado a elas, por conta dos estereótipos associados à mulata”. Tal expurgo, acrescenta a autora da tese, também faz referência ao ambiente das quadras ou dos desfiles, onde normalmente há referências simbólicas aos santos das igrejas católicas e aos orixás do candomblé. “Por acreditarem que têm o corpo e a alma protegidos, portanto entregues a Cristo, as sambistas dizem não se importar com o local onde estão, visto que sua fé não pode ser abalada. Elas fazem uma clara separação entre religião e cultura, assim como há quem faça entre religião e ciência”.
Nas entrevistas que realizou com as madrinhas, musas, rainhas e princesas de bateria, Kelly constatou que elas não manifestam publicamente, no espaço do samba, a sua religiosidade. Nem por isso, porém, deixam de tentar converter outros frequentadores. Nesse caso, a abordagem é feita de forma individualizada e sutil. Segundo a antropóloga, as sambistas não negam a sua sensualidade, mas optam por usar roupas mais comportadas que as das colegas que não são evangélicas. Também preferem os tênis às sandálias de salto alto, durante os ensaios, tudo em nome da não-vulgarização da própria imagem. Um aspecto interessante levantado pela pesquisa é que, no mundo da religião, as “sambistas de Cristo” também procuram se diferenciar daquelas que são “apenas evangélicas”.
Para marcar essa distinção, elas se apropriam e reelaboram elementos dos espaços de samba e das culturas afro. “Um aspecto que chama a atenção é o penteado. Normalmente, essas mulheres usam tranças ou cabelo ao estilo black power, enquanto as que não vivenciam as mesmas experiências religiosas delas optam por cabelos alongados, por técnicas de relaxamento, ou por cabelos lisos, obtidos com o recurso do alisamento”. Nesse sentido, prossegue Kelly, as “sambistas de Cristo” se posicionam como protagonistas de suas próprias histórias. “Elas mostram um manejo na forma de lidar com as situações de diferença. Não se posicionam como vítimas dessas situações em nenhum ambiente que frequentam”, afirma a pesquisadora.
Salmo 150Mais do que permitir que seus fiéis frequentem o espaço do samba, as igrejas evangélicas neopentecostais lançam mão do gênero musical em suas estratégias evangelizadoras. Um exemplo disso é a Igreja Renascer em Cristo, que promove anualmente pelas ruas de São Paulo, no dia de Corpus Christi, a Marcha para Jesus. No ano passado, conforme os organizadores, cerca de 5 milhões de pessoas teriam participado do evento. Nessas ocasiões, a Renascer vale-se da música e da dança para louvar a Cristo.
Além de trios elétricos que apresentam diversos ritmos bastante populares, como rock, axé e funk, a igreja apresenta, durante a marcha, uma ala formada, não por acaso, por ritmistas que tocam os mesmos instrumentos utilizados pelas escolas de samba. Batizada com o sugestivo nome de Bateria Salmo 150, sua função é animar os jovens durante a caminhada. O referido salmo, o último da bíblia, exorta aqueles que crêem a enaltecer o Senhor por meio de manifestações que remetem à alegria. Um dos versículos expressa o seguinte: “Louvai-O com adufe e com danças; louvai-O com instrumentos de cordas e com flauta”.
Preconceito De acordo com a antropóloga, as musas, madrinhas, rainhas e princesas de bateria dizem sentir maior preconceito em relação ao estereótipo da mulata nos ambientes social e profissional. Algumas delas relevaram que preferem omitir em seus locais de trabalho que são ligadas ao samba. O objetivo é evitar insinuações e situações de assédio. “Infelizmente, muita gente ainda associa a imagem da mulata à da mulher disponível, por isso mesmo elas mostraram rejeição ao termo mulata. As garotas que entrevistei revelaram, ainda, que são alvos de apelidos como ‘mulata globeleza’, cunhados por pessoas que sequer sabem que elas pertencem ao mundo do samba, só por uma associação quase que imediata com suas aparências”.
Tal comportamento, reconhece a pesquisadora, está de algum modo ligado a permanência dos fenótipos e as relações com o mito da democracia racial ainda presentes no país. Segundo Kelly, as discussões sobre a mestiçagem da sociedade brasileira frequentemente deixam de refletir sobre o conflito presente nesse processo, um conflito marcado por raça, gênero e classe. “Um ponto que deve ser entendido é que essa mestiçagem não foi e não é tranquila como muitos querem fazer crer. Gilberto Freyre, por exemplo, descreveu a questão como se fosse um romance, como se não tivesse sido resultado de uma relação de poder entre senhores e escravos. Teóricas feministas, porém, classificam essa relação como um verdadeiro estupro colonial. Ou seja, foi fruto de uma violência que trazia subjacente o estereótipo da mulher negra, como dona de uma sexualidade e sensualidade natural, disponível, provocativa e irresistível. Muitas dessas percepções se refletem até hoje”, assinala a autora da tese.


Jornal da Unicamp - Universidade Estadual de Campinas / ASCOM - Assessoria de Comunicação e Imprensa e-mail:
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Ramires desabafa e prevê mais racismo na Argentina

O meio-campista Ramires conta que se entusiasma ao ouvir ofensas raciais dentro de campo. Foi assim contra o Grêmio, quando torcedores imitaram sons emitidos por macacos nas arquibancadas do estádio Olímpico. E, segundo o jogador do Cruzeiro, o mesmo deverá acontecer no confronto com o Estudiantes, na Argentina, o primeiro da final da Copa Libertadores da América.
"A gente já esperava esse tipo de coisa por parte da torcida do Grêmio. Na Argentina, com certeza será igualzinho", lamentou Ramires, que é negro. "Mas tudo bem. A gente fica com mais vontade de vencer ainda se isso acontece. Você se inflama. Tomara que os argentinos cometam racismo de novo. Eles que se cuidem porque o segundo jogo é na nossa casa", ameaçou, antes de ganhar um abraço do presidente Zezé Perrella.
A polêmica com os gremistas começou na primeira partida da semifinal da Libertadores. O volante Elicarlos acusou o atacante Máxi López (argentino) de chamá-lo de "macaco" e denunciou o caso a policiais. No estádio Olímpico, o cruzeirense escutou esse e outros insultos assim que substituiu Gerson Magrão no segundo tempo.
"Claro que a gente ouviu a torcida sendo racista. Não tem problema. Quem fez isso agora deve estar chorando muito. Nós estamos rindo", desabafou Ramires. Antes da partida disputada na noite de quinta-feira, funcionários do Grêmio desfilaram pelo Olímpico com uma faixa de apelo aos seus torcedores: "100% negro, azul e branco. Sou gremista, não tolero racismo". Não adiantou.
Ramires já está acostumado a ser vítima de racismo quando enfrenta jogadores argentinos. O meio-campista da Seleção Brasileira e futuramente do Benfica, de Portugal, contou recentemente que foi chamado de "macaquito" por um atacante do San Lorenzo na Copa Libertadores do ano passado, em Ipatinga.
03 de julho de 2009 • 11h12 • atualizado às 11h12
Gazeta Press

Colin Powell teme que Obama tente abranger muitos temas ao mesmo tempo

05/07/2009 - 12:28 - EFE

Washington, 5 jul (EFE).- O ex-secretário de Estado americano Colin Powell teme que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, tente abranger muitos temas ao mesmo tempo e tenha problemas para enfrentá-los. Powell - republicano, mas que deu seu apoio a Obama nas eleições passadas - recomendou que o líder leve em conta o custo e a burocracia gerados pelas medidas que quer tomar, disse em entrevista à "CNN".Obama se propôs a reformar o sistema de saúde e hasteou a bandeira de uma política energética baseada na rentabilidade das energias limpas, para evitar a dependência energética de outros países.No entanto, Powell, que foi secretário de Estado entre 2000 e 2004, recomendou que Obama mantenha o Governo "tão pequeno quanto for possível"."Acho que uma das precauções que o presidente deve ter (...) é que não se pode ter tantas coisas na mesa, porque não é possível absorver em sua totalidade. E não podemos pagar por tudo", disse Powell, que mostrou sua preocupação com a despesa orçada para este ano."Nunca achei que teríamos orçamentos multimilionários como os que estão sendo executados, estamos acumulando uma dívida enorme que, se nós não pagarmos, nossos filhos, netos e bisnetos terão que pagar", acrescentou.Powell defendeu manter ao mínimo a pressão fiscal sobre os cidadãos, algo que Obama "tem que começar a levar realmente a sério".Quanto à hispânica Sonia Sotomayor, candidata à Corte Suprema e que foi acusada de exercer discriminação positiva, depois que o Supremo contradisse uma de suas decisões, Powell disse que não se pode permitir que a qualifiquem de "racista".Powell rejeitou as qualificações de "racista ou racista inversa" contra Sotomayor, em referência aos comentários do líder conservador Newt Gingrich e de outros comentaristas, e disse confiar em que os membros do Senado avaliarão suas qualidades para o cargo nas audiências de confirmação que começarão em 13 de julho."Felizmente, os senadores que se sentarão nesta audiência no Comitê Judicial, após alguns dias deste tipo de tolice (...) examinarão suas qualidades", disse.O republicano disse que Sotomayor tem um ponto de vista "aberto e liberal, mas isso não é desqualificar", e afirmou que o expediente da juíza "parece estar equilibrado e tenta cumprir a lei".Powell considerou que os Estados Unidos ainda têm um problema com as minorias e criticou os republicanos que não são escolhidos para o cargo de fazer referência "imediatamente ao racismo".Ele mesmo foi acusado pelo comentarista Rush Limbaugh de apoiar Obama por ambos serem negros e também foi questionado por membros da ala mais conservadora de seu partido, como o ex-vice-presidente americano Dick Cheney, que colocou em xeque sua lealdade aos republicanos, após o apoio a Obama.
EFE elv/an