sábado, 9 de maio de 2009

ESQUECEMOS DE ANISTIAR O WILSON SIMONAL

O brasileiro adora esquecer e/ou perdoar. O Collor, por exemplo, fez o que fez e acho que já foi perdoado. Eleições futuras, em Alagoas e no Brasil, irão comprovar isso. O próprio PC já está sendo visto com certa simpatia pelos coleguinhas da imprensa. Os Sete Anões, vocês se lembram deles? Não deu em nada. E nem vai dar.
O Jânio que, com a sua renúncia, em 61, levou o Brasil a mais de trinta anos de incertezas e atrasos, foi depois perdoado e os paulistanos o colocaram na cadeira de prefeito que deveria ter sido de FHC. O Paiacã, que fez aquela sacanagem toda, já foi perdoado e esquecido. O Zico, que perdeu aquele pênalti contra a França na Copa de 86 já foi perdoado. Até mesmo o Joaquim Silvério dos Reis, hoje em dia é apenas mero tema para vestibulandos.
O que há de comum entre o Collor, o PC, os Sete Anões, o Jânio, o Paiacã, o Zico e o Joaquim Silvério? São todos brancos. Uns, bandidos. Outros, como o Zico, brasileiros da maior dignidade. Mas todos, brasileiros brancos.
Toda essa introdução acima é para falar do Wilson Simonal. Você sabe quem foi (ou quem é) Wilson Simonal? Um dos mais queridos e requisitados cantores dos anos sessenta. Bonachão, cheio de swing, uma voz afinadíssima, com uma inteligência rápida e rara no programa Essa Noite se Improvisa, brilhava ao lado de Chico, Caetano, Carlos Imperial, Gil, Roberto Carlos, Jair Rodrigues, Ellis. Um dia ele fez o Maracanãzinho cantar com ele, durante mais de meia hora, o Meu Limão, Meu Limoeiro. Quem não se lembra dele cantando Sá Marina? Naquele tempo o Brasil, na voz do Simona era mesmo Um País Tropical.
Pois um dia o falecido jornal O Pasquim (onde tive a honra de trabalhar em 72 e 73), há já distantes vinte e cinco anos, disse, em letras garrafais, na primeira página, que o Simonal era dedo-duro. Que ele teria entregue um ex-funcionário para "os homens". Pudera: um crioulinho daquele, com um dos maiores contratos publicitários da época - com a Shell, multinacional do imperialismo! - andando pra cima e pra baixo numa Mercedes branca com estofamento vermelho, boa coisa não podia ser. A esquerda caiu de pau, chicotes e archotes em cima do "malandro". Nunca ficou clara a acusação. Nem pretendo discutir isso aqui. O Simonal sumiu. Sumiu o homem e a carreira, a voz e a alegria do "champinhon". Soube, através do filho dele, o também músico Simoninha (de quem tenho o prazer de ser amigo) que ele quase morreu no ano passado. Não há fígado que resista a uma acusação de 25 anos. Todos os fígados do Brasil já foram anistiados. Menos o do Simonal.
Semana passada vi o Simonal num memorável programa da deliciosa Hebe Camargo. Está magro, abatido, mas a voz é firme, gostosa como sempre. De vez em quando, a imprensa entrevista o Simonal. Mas sempre, sempre, sempre, da primeira à última pergunta, o tema é o mesmo, e ele, quase desesperado, diz que aquilo já passou. Não passou não, Simonal. Você foi marcado para sofrer, por todos nós da esquerda, daquela e naquela época. Acho que o buraco é mais embaixo.
E foi pensando no Simonal que eu me lembrei do Barbosa, goleiro da seleção de 50. Barbosa, tão preto quanto o Simonal, levou um gol do Gighia no segundo tempo e o Brasil perdeu a Copa do Mundo para o Uruguai. De quem foi a culpa? Daquele crioulo safado. Desde então (e lá se vão 45 anos) nunca outro negro foi goleiro da seleção canarinha. Pelo contrário, são sempre jovens bonitos, que não falam nem menas nem qüestã, altos, alguns até loiros: Ado (mais bonito do que goleiro), Leão (que sempre pintou o cabelo), Carlos (o elegante), Waldir Perez (o careca sensual), Taffarel (o ariano puro), Zetti (o bom menino), Felix (baixo, mas branco), Castilho (um lord), Gilmar (a elegância em pessoa). Barbosa (negro) jamais foi perdoado. A culpa foi dele, já que deveria ser de alguém.
Simonal é o nosso Barbosa, levando petardos de todos os gighias brasileiros. Uma bola (ou uma bala) perdida passou por baixo dele e atingiu a sua alma negra. Um pai que tem um filho como o Simoninha, não pode ser ou ter sido tão perigoso e fdp assim. Num momento que o Brasil oferece exemplo de democracia e dignidade interna e externamente, é hora de se anistiar o Simonal. Que ele volte com sua voz gostosa e seu jeito de malandro aos palcos do Brasil. Deixemos que ele entre novamente em nossas casas, pela porta da frente. Ou pela gaveta de um CD.
Vamos anistiar o homem enquanto ele está vivo. Ele e nós.
O ESTADO DE SÃO PAULO. 16-01-1995

Filme investiga relação de Wilson Simonal com a ditadura militar

Em 2002, quando começou a buscar patrocínio para um documentário sobre Wilson Simonal (1939-2000), o humorista Cláudio Manoel encontrou dois tipos de pessoas: as que não se interessavam, por desconhecer quem tinha sido Simonal, e as que diziam coisas como "não quero me meter nisso", "para que mexer nessa história?".
"Ninguém Sabe o Duro que Dei", filme de Manoel, Micael Langer e Calvito Leal que será lançado no festival É Tudo Verdade (no próximo sábado, no Rio, e nos dias 4 e 5 de abril no CineSesc, em São Paulo), é o primeiro olhar do cinema sobre esse homem que, como diz Nelson Motta no documentário, "virou um tabu, um leproso, um pária" na música brasileira.
O degredo começou em agosto de 1971, quando sua popularidade como cantor só era superada (e não por muitos pontos) por Roberto Carlos. Suspeitando de que seu contador o roubava, ele mandou dar-lhe uma surra.
O problema é que a surra foi dada por dois agentes do Dops (Departamento de Ordem Política e Social), serviço público cuja especialidade era torturar adversários da ditadura militar --e falsos adversários também. Um inspetor, Mário Borges, disse à imprensa que Simonal era informante do Dops, e a pecha de dedo-duro nunca mais se descolou dele, jogando-o num longo ostracismo.
"Ele pagou uma pena dura demais, desproporcional para uma surra, porque sua condenação foi até o fim da vida. Para ele, não teve anistia", afirma Manoel, da trupe Casseta & Planeta.
Mas o documentário não é uma defesa de Simonal. Por um lado, até piora sua situação, pois os três diretores, empenhados em saber o máximo sobre o que aconteceu, contrataram um detetive para localizar Raphael Viviani, o contador que foi o pivô da história.
Viviani diz no filme que foi torturado com choques elétricos no Dops e só aceitou assinar uma confissão do roubo --que ele nega ter cometido-- quando ameaçaram pegar sua família.
Talvez a história tivesse terminado aí, não fosse sua mulher ter dado queixa do seu desaparecimento. O delegado resolveu investigar o caso, viu Viviani todo machucado e chegou ao nome de Simonal.
Ingenuidade
O cantor alegou ter recorrido ao Dops porque vinha recebendo ameaças terroristas e disse, talvez para impressionar, que tinha conhecidos na polícia política. Quando, mesmo sem provas, foi classificado como informante, ele se enrascou.
"Ele foi infeliz no caminho que seguiu", afirma Viviani no filme. Por esse lado, o contador até ajuda a imagem de Simonal, pois reforça a idéia predominante no documentário: o cantor era um boquirroto ingênuo, sem consciência da gravidade da situação política de então, e morreu pela boca.
Pela surra que mandou dar, Simonal foi condenado em 1972 a cinco anos e quatro meses, que pôde cumprir em liberdade. Pela fama de dedo-duro, pagou enquanto esteve vivo --e depois também.
Em 2003, após a família pedir uma investigação sobre o caso e diante do documento de 1999 da Secretaria Nacional de Direitos Humanos informando que não havia nenhuma prova de que Simonal tivesse servido à ditadura, a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) o reabilitou simbolicamente.
"Ele dizia para mim: "Eu não existo na história da música brasileira'", conta, no filme, Sandra Cerqueira, a segunda mulher de Simonal, que acompanhou sua amargura, seu alcoolismo e sua grande raiva --o documentário tem imagens dele em programas de TV clamando inocência.
"Ele tinha uma atitude provocativa que não o ajudava a fazer amizades. Era metido a besta, um crioulo de sucesso que andava de carrão e comia as filhas dos brancos. Era um negro liberto", diz Manoel, tocando na questão racial, muito presente no longa.
Boa parte do filme cobre o "antes da queda". Aí se vê Simonal ao lado de Pelé --possivelmente o único negro mais famoso do que ele no Brasil da época--, fazendo comercial da Shell, cantando "The Shadow of Your Smile" com Sarah Vaughan, regendo o Maracanãzinho lotado e esbanjando malícia (ou pilantragem, como se dizia). "Pilantragem é o não-enchimento, o descompromisso com a inteligência", diz ele no filme, sem saber que a frase seria premonitória.
24/03/2008 - 09h08 . LUIZ FERNANDO VIANNA, da Folha de S.Paulo

Zuma assume presidência da África do Sul e promete seguir passos de Mandela

Ele se tornou o quarto chefe de Estado desde o fim do apartheid.Quase 30 chefes de Estado e de governo estiveram presentes.
Da France Presse
Jacob Zuma prestou juramento neste sábado )9) como presidente da África do Sul em Pretória e se tornou o quarto chefe de Estado do país desde o fim do apartheid, em uma cerimônia que teve a presença de Nelson Mandela, o primeiro presidente negro do país, cujos passos ele prometeu seguir.
Zuma, eleito na quarta-feira pelo Parlamento depois da vitória de seu partido, o Congresso Nacional Africano (CNA), nas eleições gerais de 22 de abril, prometeu "proteger todos os sul-africanos e incentivar o respeito de seus direitos".
Após a posse, o novo presidente disse que irá seguir os passos do Prêmio Nobel da Paz Nelson Mandela, que assistiu à cerimônia, apesar da saúde frágil aos 90 anos.
"Mandela transformou a reconciliação no tema central de seu mandato (1994-1999). Não nos afastaremos desta tarefa de construção da nação", afirmou Zuma em seu discurso. "Obrigado Madiba por ter nos mostrado o caminho", acrescentou, utilizando o nome de clã de Mandela.
O presidente sul-africano, de 67 anos, prometeu ainda uma "associação para a reconstrução, o desenvolvimento e o progresso", que inclua "todos os sul-africanos, negros e brancos".
Depois da cerimônia de posse, 21 salvas de canhão foram disparadas diante do edifício da União, sede do governo sul-africano. A Força Aérea da África do Sul sobrevoou os 5 mil convidados para uma exibição.
Entre os quase de 30 chefes de Estado e de governo presentes, a maioria africanos, estava o presidente do Zimbábue, Robert Mugabe. Segundo as autoridades, 30.000 pessoas assistiram à posse, apesar da chuva.
Zuma deve revelar no domingo a composição do gabinete, que terá duas prioridades: a luta contra a pobreza (43% da população vive com menos de dois dólares por dia) e a melhoria dos serviços públicos, muito criticados pela ineficiência.
09/05/09 - 11h42 - Atualizado em 09/05/09 - 11h42. G1 mundo / África do Sul.

Obama recriará tribunais de Guantánamo com novas normas

Regras vão impedir confissões obtidas após maus-tratos e darão mais liberdade para a escolha de advogados

Efe

WASHINGTON - O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, restabelecerá os tribunais antiterroristas de Guantánamo com novas normas que darão mais direitos aos acusados, informa na sexta-feira, 8, The Washington Post.

Em artigo baseado em fontes governamentais anônimas, o jornal assinala que as novas regras impedirão a apresentação de confissões obtidas após maus-tratos, limitarão o uso de declarações ouvidas de terceiras pessoas e darão mais liberdade aos detidos para escolher seus advogados.

Os juízos serão reatados em território americano em vez de Guantánamo (Cuba), provavelmente em alguma base militar.

As organizações de direitos humanos americanos pediram que os tribunais especiais de Guantánamo sejam eliminados totalmente e que os detidos sejam julgados em cortes civis ou militares normais.

Segundo o jornal, o plano de manter os tribunais, embora com algumas regras novas, reflete o temor de que o governo possa perder alguns casos se julgar os prisioneiros em cortes comuns.

O governo de Obama pediu em janeiro uma suspensão dos processos em Guantánamo durante 120 dias que vence em 20 de maio e solicitará outra de 90 dias adicionais, de acordo com o jornal.

Depois desse prazo serão retomados os procedimentos paralisados, segundo o jornal.

O líder americano assinou no mesmo dia de sua posse uma ordem executiva para encerrar em um prazo de um ano a prisão de Guantánamo, na qual permanecem cerca de 241 detidos e para os quais o governo tem que buscar agora uma solução.
sábado, 9 de maio de 2009, 00:56 Estadão Online. Internacional

Justiça dispensa aluna vegetariana de dissecar animal

Decisão de juiz foi em caráter provisório;
UFRJ ainda não informou se recorrerá ou se adaptará grade curricular Estudante argumentou que há métodos alternativos de aprendizagem, que não exigem o sacrifício de animais, diz advogado
DA SUCURSAL DO RIO
Alegando objeção de consciência, a estudante do curso de biologia da UFRJ Juliana Xavier obteve liminar na Justiça Federal que a dispensa de aulas práticas que façam uso de animais vivos para fins didáticos.
Juliana já havia tentado a dispensa por meio de processo administrativo interno, mas teve seu pedido negado pela procuradoria da universidade.Segundo seu advogado, Daniel Lourenço, a estudante é vegetariana e, incomodada com a prática, argumentou que existem métodos alternativos de aprendizagem, sem necessidade de sacrifício dos animais, como a utilização de vídeos ou programas de computador.Em sua ação, Lourenço tentou também que a UFRJ fosse proibida de usar animais vivos em aulas apenas com fins didáticos, mas a decisão do juiz Adriano Gomes de Oliveira se limitou a garantir apenas que Juliana não fosse obrigada a frequentar essas aulas.
A decisão do juiz foi em caráter liminar, ou seja, ainda é provisória. A universidade não informou se recorrerá ou se adaptará sua grade curricular para cumprir a decisão.O caso será debatido pelo Conselho de Ensino e Graduação que, posteriormente, consultará a procuradoria jurídica.No processo administrativo interno, a resposta da procuradoria da UFRJ a Juliana foi de que não seria razoável adaptar o currículo de um curso devido a um aluno apenas, que alega razões de consciência.A universidade sustentou também que a estudante poderia ter escolhido outro curso, pois há várias carreiras em que não é preciso praticar a dissecação ou vivissecção (operação feita em animais vivos).PrecedenteEsta não foi a primeira decisão da Justiça favorável a um aluno que se negava a participar dessas aulas.
Em 2007, Róber Bachinski, estudante de biologia da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), também obteve liminar semelhante à de Juliana.A universidade recorreu, alegando que não havia notícias de abuso na utilização de animais para uso acadêmico e que não podia ser obrigada a adaptar o currículo de um curso apenas por convicções pessoais de um de seus alunos.Ainda não houve decisão definitiva em relação ao caso.


São Paulo, sábado, 09 de maio de 2009. Folha de São Paulo, Cotidiano
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0905200906.htm