Chamado 'Judeu ou Não Judeu', programa dá acesso a uma lista de 3,5 mil celebridades de origem judia ou que adotaram a religião.
Um aplicativo de iPhone que permite identificar se personalidades internacionais são judias gerou protestos de organizações contra o racismo na França, o que levou a Apple a retirar o programa de sua loja virtual no fim da noite de quarta-feira (14).
O aplicativo, chamado "Judeu ou Não Judeu", permitia ter acesso a uma lista de 3,5 mil celebridades de origem judia ou que adotaram a religião. O usuário do iPhone podia fazer a busca pelo nome ou "por categoria" (segundo as atividades profissionais), saber quem são os "judeus populares" ou ainda descobrir "por acaso" se uma pessoa é judia.
O aplicativo, que custa US$ 1, foi criado pelo engenheiro britânico Johann Levy, que mora em Marselha, no sul da França. "Listadas para você, milhares de personalidades judias (por parte de mãe), metade judias (por parte de pai) ou convertidas", dizia a descrição do aplicativo no site da Apple Store.
Após inúmeros protestos, o porta-voz da Apple, Tom Numayr, afirmou na noite de quarta que o aplicativo "era contrário à lei francesa e não está mais disponível na Apple Store na França". Diversas associações francesas ameaçaram entrar com ação contra a Apple. Organizações religiosas judaicas também disseram estar "escandalizadas" com o aplicativo.
O Conselho Representativo das Instituições Judaicas da França (Crif), a União dos Estudantes Judeus da França, a SOS Racismo e a Liga Internacional contra o Racismo e o Antissemitismo (Licra) afirmaram que o aplicativo viola a legislação e é "perigoso", por listar personalidades unicamente pelo fato de serem judias.
Segundo a lei penal francesa, o fato de conservar em memória informatizada, sem a autorização do interessado, dados sobre suas opiniões religiosas é passível de pena de cinco anos de prisão e 300 mil euros de multa.
A lei francesa proíbe, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, estatísticas oficiais sobre as características raciais e religiosas, depois que os judeus foram perseguidos na França e deportados durante a invasão alemã.
"Eu mesmo sou judeu. Só queria dar aos judeus um sentimento de orgulho ao descobrir que tal empresário ou personalidade também é judeu", diz o engenheiro que criou o aplicativo. "Não quero ir contra a lei, mas não entendo essa polêmica. Espero que haja uma discussão sadia, que discuta por qual motivo chamar alguém de judeu em 2011 tem uma conotação negativa", diz Levy.
"Não esqueço as horas sombrias da História francesa, mas achei que as ideias tivessem evoluído. Permanecemos numa paranoia e chamar alguém de judeu ainda é visto como uma delação", afirma ele. Apesar de ser católico, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, integrava o topo das buscas no aplicativo, segundo o jornal "Le Figaro".
0 comentários:
Postar um comentário