terça-feira, 5 de julho de 2011

COORDENAÇÃO AMAZÔNICA DA RELIGIÃO DE MATRIZ AFRICANA E AMERÍNDIA CARMA Carta aberta N. 02 CARMA/2011

COORDENAÇÃO AMAZÔNICA DA RELIGIÃO DE MATRIZ AFRICANA E AMERÍNDIA
CARMA
Manaus (AM), 01 de Julho de 2011

Carta aberta N. 02 CARMA/2011
Às Autoridades
Aos Meios de Comunicação
Ao Povo Tradicional de Terreiro
A Comunidade em Geral

Nos últimos 4 meses, no período de março a junho de 2011,  a Comunidade Tradicional de Terreiro da Cidade de Manaus foi abalada com o assassinato brutal de 3 sacerdotes de Àsé, sendo um da Nação Ketu, um da Nação Angola e um de Umbanda.
Em ordem cronológica conforme publicado pela imprensa local:
Jornal A Crítica 29 de Junho de 2011
Babalorixá João Gomes da Silva Neto, 48, foi encontrado morto com sinais de espancamento, dentro de casa, na Rua Moisés, comunidade Alfredo Nascimento, Zona Norte. Conforme a polícia, o corpo da vítima estava em avançado estado de decomposição. Ele pode ter sido morto no domingo, 27 (de junho). O corpo de João estava despido e com a cabeça esmagada, provavelmente, por uma pedra, além de várias perfurações no tórax e abdômen. Segundo a polícia, na casa da vítima havia sinais de que ele travou luta corporal com o assassino.
Jornal A Crítica – 1º de maio de 2011
Pai-de-santo Marcelo Santos Aguiar, 44, foi executado com golpes de terçado na madrugada deste domingo (1º) e, depois, enterrado no buraco da fossa da privada que existe nos fundos da casa onde morava, com cerca de um metro de profundidade. Na rua 1º de maio, bairro Nova Vitória, Zona Leste de Manaus, local onde também funcionava o terreiro de Umbanda.
Em Março de 2011
Durante o carnaval foi assassinado o Tata de Nkice Alberto Cecigenan,  segundo a polícia por estrangulamento. O crime se deu no Conjunto Cidadão 12 – Zona Norte.
Os três homicídios causaram perplexidade pela crueldade com que foram executados – com fortes evidências de intolerância religiosa e (ou) homofobia, ao mesmo tempo em que causou revolta pela forma com que os meios de comunicação trataram o assunto.
As manchetes de jornal, como sempre, destacaram com pejoração o termo Pai de Santo e os programas de tv, principalmente os de influência evangélica, repercutiram os crimes como  consequência da opção da vítima em ser da “macumba” e ser gay.
Com base em informações de Babás e Yás amigos de Babá João Gomes Neto assassinado no dia 27 passado, era costume seu dormir despido, o fato do corpo ter sido encontrado nu não significa dizer que o mesmo estivesse participando de uma orgia sexual gay. Pode ser que o crime tenha sido resultado de um latrocínio e de homofobia, dado os requintes de crueldade.
A CARMA após ouvir suas lideranças na reunião extraordinária realizada no dia 30.06.11, vem a público repudiar essa forma de tratamento sensacionalista, intolerante, homofóbico e racista com que esses crimes foram tratados pelos meios de comunicação e solicita as autoridades competentes como o Ministério Público Estadual e Federal que tomem as devidas providências quanto a esses abusos criminosos e faz destaque ao programa de Tv Comunidade Alerta, Tv Rio Negro, Canal 13 - BAND, apresentado pelo “radialista” (sic) Ronaldo Tabosa. Evangélico assumido que usa do espaço de comunicação concedido pelo Estado para fazer proselitismo e atacar o Povo Tradicional de Terreiro e os homossexuais.
A CARMA solicita o acompanhamento dos inquéritos e processos dos assassinatos pela Comissão de Direitos Humanos da OAB, Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas, Secretaria de Promoção de Políticas da Igualdade Racial da Presidência da República – SEPPIR e da Secretaria de Direitos Humanos do Ministério da Justiça.
Também alerta para a tênue diferença entre os crimes de homofobia e intolerância religiosa, bem como para a grande incidência de crimes cometidos onde essas duas formas se fazem presentes ao mesmo tempo. Alerta ainda para os incentivos diretos e indiretos aos vários tipos de intolerâncias, tão presentes nos sermões e pregações em ambientes públicos e privados das igrejas hebraico-cristãs, em especial as neo-petencostais.
Tudo isso sob o olhar inerte do Poder Público e da obsequiosidade das conveniências Politico-Partidárias.
Denuncia ainda a crescente banalização e descaso por parte das autoridades policiais e do Judiciário, nos casos de crimes que envolvem pessoas pertencentes ao Povo Tradicional de Terreiro e a grupos homossexuais. Tais crimes são atribuídos ao fato das vítimas pertencerem a esses dois seguimentos da sociedade, assim sendo elas apenas teriam colhido os frutos de suas escolhas sexuais e religiosas.
Por serem as vítimas “macumbeiras e gays” caem no rol do silêncio e do esquecimento como foram os casos dos assassinatos dos Babás Ruy de Xangô e Navarro da Preta Mina. Até hoje não se tem notícias dos assassinos nem dos processos.
A CARMA, em nome do coletivo, exige o respeito, atenção e medidas legais cabíveis tanto da Sociedade como um todo quanto das Autoridades competentes.
O Povo Tradicional de Terreiro é parte integrante da sociedade brasileira, ele paga seus impostos mas não tem seus direitos a cidadania plena respeitados.
Chega de sermos tratados de forma leviana e banal.
Em nome do Coletivo.
Vòdunsí Re Rohsovi Alberto Jorge Silva
Coordenador Geral da CARMA.

Dr. Alberto Jorge Rodrigues da Silva – Vodunsi Re Rohsovi
Coordenador Geral da CARMA




Dr* Alberto Jorge Silva - Vòdúnsi  Re Rohsovi  Sacerdote Mina Djèdjè Fon / Nagô
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