Mau Preparo de Professor Atrapalha Ensino de Literatura Afro
Segundo educadores, há boas obras e materiais didáticos disponíveis, mas...
Uma menina negra, com vasta cabeleira, tenta entender por que seu cabelo não pára quieto. Ela encontra um livro sobre países africanos e passa a compreender a relação entre seus cachos e a África. A história é contada no livro “Cabelo de Lelê”, de Valéria Belém, e segundo a pedagoga e pesquisadora Lucilene Costa e Silva, um dos bons exemplos de literatura afro-brasileira infantil. “Nas séries iniciais, as crianças estão construindo a identidade. Ter acesso a obras que mostrem personagens como elas é fundamental”, avalia. Lucilene dá aula há 20 anos na rede pública de ensino do Distrito Federal e conta que sentia falta da imagem negra nos livros de literatura infantil. “Cheguei a contar a história ‘Chapeuzinho Vermelho’ usando uma boneca negra com capuz vermelho. Hoje sei que isso não é mais necessário. A África tem histórias, personagens e enredos lindíssimos.” Atendendo à lei 10.639, que determina o ensino de Cultura Afro-Brasileira nas escolas, o Ministério da Educação (MEC) e as secretarias municipais e estaduais de ensino têm cada vez mais, distribuído obras e vídeos protagonizados por personagens negras ou que abordam a diversidade étnico-racial.
“É visível o aumento na quantidade de material didático e para-didático disponível sobre o tema após a implantação da lei”, afirma Luciano Braga, professor de Artes há 15 anos das redes municipal e estadual de São Paulo e co-autor, junto com Elizabeth Melo, do livro “História da África e afro-brasileira – em busca das nossas origens”, lançado neste ano. O professor conta que obras com contos e lendas africanas, são uma novidade recente nas duas escolas onde dá aulas. “Estamos recebendo livros nos quais, o herói é uma criança negra ou onde há personagens brancos e negros. A questão não é valorizar uma cultura ou outra e sim fazer com que a criança se sinta pertencente ao meio. É assim que combatemos a discriminação”, ressalta. Da mesma forma que contos de fada e histórias européias são narrados em sala de aula, histórias e lendas africanas e indígenas devem ser apresentadas, defende o professor.
No livro infantil “Betina”, de Nilma Lino Gomes, uma avó trança os cabelos da neta e conversa sobre seus ancestrais. “Na África as tranças têm diferentes significados e o cabelo é muito importante para a mulher. Está ligado à identidade”, explica Lucilene. Quando a professora terminar de contar a história de Betina, uma menina de rosto redondo, olhos negros e cabelo todo trançado, os alunos ficam encantados. “Todas as crianças, negras e brancas, querem ser a Betina”, conta. Lucilene desenvolve pesquisa de mestrado na Universidade de Brasília (UnB) sobre a presença da literatura afro-brasileira no Programa Nacional Biblioteca da Escola do MEC, que distribui obras de literatura, pesquisa e referência para as escolas públicas brasileiras. Apesar de o ministério não ter um levantamento específico das obras que abordam essa temática, a pesquisadora afirma que os livros estão presentes no catálogo oferecido. “É um avanço, mas em muitas escolas do DF as obras chegam e ficam encaixotadas, porque os professores não sabem como trabalhá-las”, afirma.
Em São Paulo, Braga promove palestras e oficinas sobre diversidade étnica e encontra o mesmo problema: materiais didáticos deixados de lado porque os professores não sabem como usá-los. A coordenadora da área de diversidade do MEC – Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad) –, Leonor Franco, reconhece que o principal entrave para a aplicação da lei é a formação dos professores. “O nó da questão é a qualificação, a formação de professores e gestores. Não basta capacitar só os professores, tem que sensibilizar todos os funcionários da escola, os diretores, o secretário de educação. Não adianta colocar livro na escola se o professor não souber o que fazer com aquilo”, afirma.
Segundo Leonor, grande parte do problema está no ensino superior. A temática e o conteúdo da diversidade étnico-racial não estão nos cursos de licenciatura: “Nossa formação continuada é quase uma formação inicial”, critica. Outro desafio é a ampliação de parcerias para oferecer cursos de capacitação. Atualmente os editais do MEC são voltados apenas para instituições de ensino superior federais e estaduais. “Temos secretarias de ensino que têm condições de promover capacitação. O resultado é que a gente tem tido dinheiro (na Secad), mas poucos projetos bons para formação de professores.”
Salloma Salomão, músico e doutor em História Social pela PUC-SP, atua na formação de docentes pela rede de educadores Aruanda Mundi. Nos últimos cinco anos, cerca de 3 mil professores de mais de cinco estados diferentes foram capacitados. “Faltam investimentos das secretarias em projetos formativos sistemáticos e de longa duração”, aponta. Segundo Salomão, os cursos oferecidos pela Aruanda têm duração mínima de 120 horas, mas o ideal seria 360 horas e dois anos de duração. O historiador destaca a importância do uso das tecnologias na capacitação dos docentes. Por meio de plataformas da internet, Salomão promove a interação de professores brasileiros com africanos, principalmente de países de língua portuguesa.
“Falar de África não significa tirar o sapato e pisar na terra. Há inúmeras possibilidades com o uso da tecnologia. Precisava de um mapa étnico-linguístico da África e um pesquisador da universidade de Coimbra nos forneceu o material. É um processo de aprendizagem com o que há de mais contemporâneo.”
Veja a lista de obras de literatura afrobrasileira para crianças indicadas pela professora e pesquisadora Lucilene Costa e Silva:
-A serpente de Olumo – Ieda de Oliveira – Ed Cortez Editora
-ABC do continente africano –Rogério A. Barbosa – Ed. SM
-Anansi, o velho sábio – Um conto Axanti recontado por Kaleki – Ed Companhia das Letrinhas
-Ao sul da África – Laurence Questin – Catherine Reisser – Companhia das Letrinhas
-Betina – Nilma Lino Gomes – Mazza Edições
-O Cabelo de Lelê – Valéria Belém – Ibep Nacional
-Chuva de Manga – James Rumford – Ed brinque Book
-O dia em que Ananse espalhou a sabedoria pelo mundo – Eraldo Miranda – Editora Elementar
-Doce Princesa Negra- Solange Cianni- Ed-L.G.E
-Era uma vez na África – Jean Angelles – Ed. LGE
-O funil Encantado - Jonas Ribeiro - Ed Dimensão
-Gente que mora dentro da gente-Jonas Ribeiro-Ed Dimensão
-Histórias da Preta – Heloisa Pires Lima –Ed. Companhia das Letrinhas
-Ifá, o advinho; Xango, o Trovão; Oxumarê, o Arco-iris – Raginaldo Prandi – Ed. Companhia das Letrinhas
-Krokô e Galinhola – Um conto africano por Mate – Ed brinque Book
-O livro da paz-Todd Parr- Ed Panda-Book
-Lendas Africanas. E a força dos tambores cruzou o mar - Denise Carreira - Ed. salesiana
-O mapa – Marilda Castanha – Ed. Dimensão
-Meia dura de sangue seco – Lourenço Cazarré – Ed. LGE
-Na minha escola todo mundo é igual - Rossana Ramos e Priscila Sanson - Ed Cortez
-Nina África – Lenice Gomes, Arlene Holanda e Clayson Gomes – Ed. elementar
-O presente de Ossanha – Joel Rufino dos Santos- Ed. Global
-Por que somos de cores diferentes? – Carmem Gil- Ed girafinha
-Que mundo maravilhoso – Julius Lester e Joe Cepeda – Ed Brinque Book
-Tem gente com fome – Solano Trindade Ed. Nova Alaxandria
-Uma menina e as diferenças – Maria de Lourdes Stamato de Camilis-Ed Biruta
-Viver diferente – Lilian Gorgozinho – Ed L.G. E Editora
-A serpente de Olumo – Ieda de Oliveira – Ed Cortez Editora
-ABC do continente africano –Rogério A. Barbosa – Ed. SM
-Anansi, o velho sábio – Um conto Axanti recontado por Kaleki – Ed Companhia das Letrinhas
-Ao sul da África – Laurence Questin – Catherine Reisser – Companhia das Letrinhas
-Betina – Nilma Lino Gomes – Mazza Edições
-O Cabelo de Lelê – Valéria Belém – Ibep Nacional
-Chuva de Manga – James Rumford – Ed brinque Book
-O dia em que Ananse espalhou a sabedoria pelo mundo – Eraldo Miranda – Editora Elementar
-Doce Princesa Negra- Solange Cianni- Ed-L.G.E
-Era uma vez na África – Jean Angelles – Ed. LGE
-O funil Encantado - Jonas Ribeiro - Ed Dimensão
-Gente que mora dentro da gente-Jonas Ribeiro-Ed Dimensão
-Histórias da Preta – Heloisa Pires Lima –Ed. Companhia das Letrinhas
-Ifá, o advinho; Xango, o Trovão; Oxumarê, o Arco-iris – Raginaldo Prandi – Ed. Companhia das Letrinhas
-Krokô e Galinhola – Um conto africano por Mate – Ed brinque Book
-O livro da paz-Todd Parr- Ed Panda-Book
-Lendas Africanas. E a força dos tambores cruzou o mar - Denise Carreira - Ed. salesiana
-O mapa – Marilda Castanha – Ed. Dimensão
-Meia dura de sangue seco – Lourenço Cazarré – Ed. LGE
-Na minha escola todo mundo é igual - Rossana Ramos e Priscila Sanson - Ed Cortez
-Nina África – Lenice Gomes, Arlene Holanda e Clayson Gomes – Ed. elementar
-O presente de Ossanha – Joel Rufino dos Santos- Ed. Global
-Por que somos de cores diferentes? – Carmem Gil- Ed girafinha
-Que mundo maravilhoso – Julius Lester e Joe Cepeda – Ed Brinque Book
-Tem gente com fome – Solano Trindade Ed. Nova Alaxandria
-Uma menina e as diferenças – Maria de Lourdes Stamato de Camilis-Ed Biruta
-Viver diferente – Lilian Gorgozinho – Ed L.G. E Editora
Fonte: Último Segundo
W.Belém
W.Belém
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