O professor da ECA e integrante do Núcleo de Apoio à Pesquisa em Estudos Interdisciplinares sobre o Negro Brasileiro (Neinb) da USP, Dennis de Oliveira, acredita que um dos maiores méritos de medidas raciais são reconhecer a existência do racismo na sociedade e a possibilidade de trazer novas políticas para combater a discriminação racial. “A existência do Estatuto de Igualdade Racial é um marco regulatório que aponta a necessidade de criar políticas públicas para negros”, acredita o docente. Medidas raciais, como o Estatuto da Igualdade Racial, costumam trazer à tona a discussão sobre o quão saudável para a sociedade elas são. Para o antropólogo João Baptista Pereira, membro da da Comissão Permanente de Políticas Públicas para a População Negra (CPPPN), existem posições definidas ante medidas do tipo. “Há os racialistas, que colocam brancos e negros, e os que preferem uma visão de um país multifacetado”, afirma o professor emérito. Para Gilberto Américo da Silva, Giba, coordenador do Núcleo da Consciência Negra (NCN) da USP, medidas raciais funcionam como uma “segregação positiva”. “É a mesma coisa do que se faz com uma criança, quando se separa um infrator adulto de um infrator menor. Assim você faz uma exclusão saudável”, explica o coordenador do NCN. Já na opinião do antropólogo João Baptista Pereira, o efeito criado por este tipo de medida pode ser mais negativo do que positivo. “Eu não acho que nós devamos racializar, o que devemos fazer é dar oportunidades iguais a todos. O problema é sócio-econômico”, afirma. Um dos pontos excluídos do Estatuto foi a questão da cota racial em universidades e empresas. O professor emérito Pereira diz que a exclusão de pontos polêmicos como esse eram de se esperar. “Quanto às cotas há duas teses: haver cota não racial, mas social, que indiretamente beneficia os negros, que constituem 90% da população pobres. A outra posição é que se deve deixar de lado as questões sócio econômicas e vitimizar o negro. Seria natural que uma sociedade que tem uma forte ideologia assimilacionista tenda a colocar essa questão de lado”, explica o professor. O professor Dennis de Oliveira acredita que no Brasil há “uma desigualdade estrutural, então a cota vem para corrigir esse desvio”. Para ele as cotas raciais viriam apenas para suprimir tal desigualdade, “na medida que você tem avaliações periódicas, quando chegar a uma situação de equidade mais estabelecida, as cotas deixam de existir”, acrescenta. Para Giba, a importância das cotas seria de reproduzir a heterogeneidade da população brasileiras nos diversos ambientes. Caso contrário, ele aponta a formação de uma imagem da sociedade incompatível com a realidade. “A gente deveria ter a formação heterogênea da população refletida em todos aspectos de nossas vidas. Senão nosso imaginário da sociedade brasileira passa a ser de novela e a sociedade não é só isso. A gente quer se ver representado”, coloca Giba. Para o docente Dennis de Oliveira, o tratamento igual de desiguais apenas serve para perpetuar a desigualdade. “É aquela coisa, uma pessoa tem um Fusca e outro uma Ferrari, você dá gasolina igual aos dois. Quem chega primeiro? O da Ferrari”, metaforiza o professorMedidas raciais provocam divergências ideológicas
Questão das cotas
quinta-feira, 5 de agosto de 2010
Medidas raciais provocam divergências ideológicas
Postado por LUIZ FERNANDO MARTINS DA SILVA às 21:10
Marcadores: Discriminação, Notícias, Política
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