sábado, 21 de novembro de 2009

AL: professor quer 'Meca' dos negros em homenagem a Zumbi







20 de novembro de 2009 • 15h28 • atualizado às 16h09 Comentários
17
Notícia Fotos

Para Edson Moreira, "o Brasil tem vergonha de Zumbi"

20 de novembro de 2009

Foto: Odilon Rios/Especial para Terra

Reduzir Normal Aumentar Imprimir Odilon Rios
Direto de Maceió
No dia em que se celebra a Consciência Negra, o professor aposentado Edson Moreira anunciou o desejo de construir, em Alagoas, um panteão em homenagem à luta dos negros contra o preconceito e a escravidão. Seria a 'Meca' dos negros, um lugar para veneração mundial. A homenagem deve ser feita na Serra Dois Irmãos, na cidade de Viçosa, interior do Estado, onde foi morto o líder negro Zumbi dos Palmares, que ajudou a erguer o Quilombo dos Palmares, destruído pelas tropas portuguesas em 20 de novembro de 1695.

Em Viçosa, não há vestígios nem museus para falar sobre a morte de Zumbi, diferente da Serra da Barriga, onde ficava o Quilombo dos Palmares: desde as primeiras horas da madrugada rituais africanos marcam as festas pelo dia da Consciência Negra. "O Zumbi não morreu na Serra da Barriga. Ele conseguiu sair de lá e foi perseguido até a Serra Dois Irmãos", explicou.

No projeto do professor Edson Moreira, a Serra é um dos três locais mais importantes do mundo ao se falar na luta contra a escravidão. O primeiro é a cidade de Porto Calvo, no litoral norte alagoano, onde Zumbi foi educado por padres, o segundo é a Serra da Barriga, onde foi erguido o Quilombo, e o terceiro é a Serra Dois Irmãos, último lugar de fuga de Zumbi antes da morte.

"Antes da Queda da Bastilha, na França, nós tínhamos o maior grito pela democracia e foi no Brasil. Se essa história fosse contada na França ou na Inglaterra, eles falariam disso o tempo todo. O Brasil tem vergonha de Zumbi", diz o professor.

"Zumbi é um herói nacional. Para mim, o maior das Américas e um dos maiores do mundo. Os negros brasileiros ajudaram a erguer este País com sangue e lágrimas. Enquanto isso, os senhores de engenho ficavam deitados nas redes da Casa Grande", disse.

A proposta do professor, que recebeu a promessa da prefeitura de Viçosa de que será concretizada, é que o Panteão tenha a representação de todos os orixás. Moreira fundou e mantém com o dinheiro da aposentadoria o Museu do Quilombo, em Maceió, em um casarão erguido no início do século passado. O acervo tem recortes de jornais, documentos - entre eles, cartas de alforria - objetos e a caneta responsável pela assinatura do decreto federal, na década de 80, transformando a Serra da Barriga em monumento histórico.

"Os gregos têm seus deuses. Por que não venerarmos os deuses negros?", questiona. "Os negros acreditavam na Serra da Barriga. O projeto para a construção do Parque Memorial era o nosso sonho. Mas, entrou a política no meio. O povo de Alagoas tem que conhecer as suas raízes. Na Europa ou nos Estados Unidos, as pessoas sabem quem são parentes distantes, tem a sua história. Aqui, os negros foram massacrados. Sabe-se que vieram da África, mas quando chegavam aqui eram obrigados a mudar de nome", contou.

Sem apoio do governo ou de instituições, o professor junta R$ 45 mil para a construção de uma segunda ala do Museu do Quilombo, na própria casa. Lá, colocará livros, discos, objetos. "O Zumbi tinha uma missão: ele se entregou ao Brasil", afirmou o professor.


http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI4113380-EI8139,00-AL+professor+quer+Meca+dos+negros+em+homenagem+a+Zumbi.html

0 comentários: