sábado, 12 de setembro de 2009, 16:00 | Online
'Com a realidade, a gente não discute', diz Manoel Carlos
Patrícia Villabla - O Estado de S. Paulo
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Não. E desde o começo da minha carreira é uma coisa muito remota! Mas, desde o começo, me interesso por escrever sobre as mesmas coisas que escrevo até hoje. Não me interesso por grandes fantasias. Gosto do verossímil, do razoável, do crível. Essa marca é minha porque é por isso que eu me interesso. As minhas histórias são, até certo ponto, histórias banais, triviais. O maior elogio que recebo é quando alguém diz "vi sua novela ontem e tenho um tio que é igualzinho àquele personagem!". Isso é o que me propus a fazer desde o início.
Pela primeira vez, a Helena é jovem e negra. Qual é a importância que você dá a essas duas informações?
Só dou importância ao fato de ser jovem. É natural que todos pensem que o principal é que ela é negra, mas não é. Quando comecei a criar a trama, tive vontade de fazer uma Helena menos maternal, porque todas as minhas Helenas viviam em função dos filhos e da família. Pensei numa Helena solteira, entre 25 e 30 anos, que fosse bem-sucedida na profissão e viajasse bastante. Primeiro, pensei que ela seria atriz. Mas a atriz teria de fazer novela, e na TV Globo – onde mais seria, na Record? Então, cortei a atriz. Daí, cheguei à top model. E cheguei à Taís Araújo, porque sempre quis fazer uma novela com ela. Por isso, não importa o fato de ela ser negra. O mais importante é que ela convença como top model, e a Taís, que tem uma beleza internacional, convence.
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Então, a novela não levanta a bandeira dos direitos raciais?
Não, nada. Até pode surgir, porque tenho outros personagens negros. Mas definitivamente não é uma bandeira. E tem mais: os artistas escapam disso. Ninguém fala de um ator negro dando a raça em primeiro lugar. Denzel Washington? Excelente ator – ninguém diz "um grande ator negro". Queria uma profissão que estivesse acima de qualquer conotação racial. Agora, é evidente que quando saiu a notícia de que a Taís seria a Helena, todo mundo associou – "vai ser a primeira Helena negra". Não, será a primeira Helena jovem. Poderia ser japonesa, para mim não faria diferença.
Quanto da história tem na sua cabeça?
Ah, muito pouco.
Então, põe o barco na água e vai vendo para onde vai?
Tenho um norte, claro, mas mudo algumas coisas. Não tenho certeza sobre tudo o que vai acontecer. Porque a novela não começa quando você escreve, mas quando começa a ir ao ar. Que perspectiva eu posso ter desta novela, que vai ter 209 capítulos? Gente, são 7 ou 8 mil laudas! Como eu vou saber o que vai acontecer? Se eu já soubesse, não seria então uma boa novela. Por isso, nunca se escreveu uma novela inteira antes de começar a gravar. Não daria certo. Sei que a Helena vai casar, ficar grávida e ter uma menina. Mas posso mudar. Só depende de mim.
Acontece muito de alguém parar do seu lado e dizer 'Maneco, minha vida daria uma novela'?
Todos os dias! Mas quando alguém diz isso, sei que é porque a vida dela não daria uma novela. Muitas vezes, elas se aproximam para contar coisas totalmente extraordinárias: "Olha, uma tia minha casou 8 vezes e todos os maridos morreram dia 15 de outubro." E eu digo, "Meu amigo, não posso fazer uma novela assim, porque ninguém vai acreditar". A realidade é outra coisa, você não discute com ela. A ficção tem de fazer sentido, a realidade não.
O 'viver a vida' do título é mesmo o 'viver a vida' que as primeiras imagens sugerem, ou seja, viver a vida com frescor, passeando por Paris e Petra?
Não, tem todos os aspectos. Você vai ver o personagem do Thiago Lacerda e concordar que viver é vida é sair viajando pelo mundo. Mas para outras pessoas, pode ser realizar um grande trabalho, conquistar determinada posição. Viver a vida é colocar estar vivo como fundamental. Com isso, você persegue o quê? A felicidade. Claro que várias coisas podem fazer o homem infeliz – desilusões amorosas, problemas financeiros... Mas não é por isso que a pessoa vai se atirar do último andar. As dificuldades podem fazer com que ele busque superar as dificuldades. Nem todos podem vencer, mas devem desejar vencer. Não é Poliana, como "a vida é maravilhosa". É só procurar viver.
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