"O governador José Serra fez detalhado e importante relato sobre o absurdo extermínio dos armênios pelos turcos ("Nenhum genocídio deve ser esquecido", "Tendências/ Debates", 24/4).
Porém suscita algumas ponderações a sua afirmação de que devem ser contidos os que "insistem em ressuscitar o conceito de raça e criar legislações baseadas na premissa de que elas merecem tratamento diferenciado pelo Estado". Dar "tratamento diferenciado" a grupos étnicos é uma especialidade antiga do Estado brasileiro. Assim se deu na escravidão e em todo o processo de imigração. Sabe-se hoje que os esquadrões da morte mataram mais negros no Brasil do que a polícia da África do Sul em pleno regime de apartheid. O governador está preocupado com o futuro, mas é fundamental não esquecer o presente. Há mais de 20 anos a Fundação Seade revela o tratamento discriminatório dado aos negros no mercado de trabalho em São Paulo. Os que insistem na invisibilidade da questão étnico-racial desconhecem que ela está inercializada no DNA da nossa cultura de desenvolvimento, ocasionando o mais grave problema do país: a desigualdade, esta, sim, geradora permanente de ressentimentos e violência."
HÉLIO SANTOS, presidente-fundador do Conselho do Negro do Estado de São Paulo (governo Montoro) e coordenador do Grupo de Trabalho Interministerial da População Negra (governo FHC) (Salvador, BA)
0 comentários:
Postar um comentário