Decisão rompe com política adotada sob guerra ao terrorismo capitaneada por BushEleito, que anunciou escolha de Leon Panetta à frente da CIA e de Dennis Blair para a Inteligência Nacional, fala em dialogar com Teerã
Em meio a um claro processo de afastamento das práticas encampadas pelo governo George W. Bush, o presidente eleito dos EUA, Barack Obama, afirmou ontem que não permitirá a tortura de prisioneiros em sua gestão e que a decisão não compromete os ideais de luta contra o terrorismo no mundo.O democrata expressou seu compromisso com a Convenção de Genebra sobre prisioneiros de guerra durante uma entrevista coletiva em que confirmou seu escolhido para diretor da CIA, Leon Panetta, e de Inteligência Nacional, Dennis Blair. Ambos foram selecionados, entre outros motivos, por sua distância dos quadros atuais de inteligência dos EUA, que admitiram práticas que muitos classificam como tortura durante interrogatórios."Deixei claro durante a campanha e durante esta transição que, sob meu governo, os EUA não vão torturar", afirmou Obama. "Vamos manter nossos mais altos ideais."A fala do presidente eleito foi também uma resposta às recentes críticas à escolha dos dois homens. No caso de Panetta, ex-chefe-de-gabinete de Bill Clinton (1993-2001) e especialista em Orçamento, o problema é a falta de experiência em temas de inteligência e defesa. Já Blair desagradou por ter passado boa parte da carreira na chefia do Comando do Pacífico, longe do centro de discussões de inteligência nacional. Além disso, a atuação de Blair levanta questões sobre a posição dos EUA há dez anos, quando a Indonésia empreendeu violenta repressão no Timor Leste.A seu favor, porém, o almirante despertou admiração pela atuação contra o terrorismo no Sudeste Asiático após os ataques de 11 de setembro de 2001. O cargo de diretor de inteligência nacional, criado na esteira dos ataques, implica na coordenação de 16 agências de inteligência, dentre as quais a CIA é uma das mais diretamente encarregadas de buscar suspeitos de terrorismo pelo mundo.Inicialmente cético, o Congresso parece estar mais disposto a aprovar os dois nomes rapidamente. Uma vez aprovados, contudo, Blair e Panetta enfrentarão dificuldades para agir sob as regras de Obama.Para Panetta, à frente de um órgão que costuma desconfiar de "pessoas vindas de fora", o desafio é maior. Ele terá de conquistar a lealdade da agência enquanto responde à intensa pressão de membros do Congresso e de ONGs para levar à Justiça agentes que praticaram ou apoiaram a tortura.Assessores de Obama afirmam que o presidente eleito não visa a expulsão dos agentes. Em vez disso, o novo governo deverá se concentrar em reverter as regras que autorizaram as chamadas "técnicas duras" nos interrogatórios da CIA.IrãO presidente eleito falou ainda sobre o Irã, afirmando que ele vê o país como "ameaça genuína" à segurança nacional dos EUA. Mas, completou, ainda assim é a favor de iniciar um diálogo com Teerã, como afirmara durante a campanha."Já disse que devemos estar dispostos a iniciar [contatos] diplomáticos como um meio de alcançarmos nossos objetivos de segurança nacional, e minha equipe, creio, reflete essa abordagem pragmática", declarou.Washington rompeu com o Irã após a invasão da Embaixada dos EUA em Teerã por estudantes radicais, em 1980, que durou 444.
ANDREA MURTA, DE NOVA YORK.
Folha de São Paulo: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft1001200914.htm. São Paulo, sábado, 10 de janeiro de 2009.
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