terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Ritos fúnebres africanos desafiam modernidade no Caribe colombiano


Ritos fúnebres africanos desafiam modernidade no Caribe colombiano
17 de janeiro de 2011  10h08  atualizado às 10h56


Na Colômbia, onde se concentra a segunda maior comunidade de origem africana da América Latina, atrás apenas do Brasil, os ritos fúnebres que foram preservados pelos descendentes de escravos seguem desafiando a modernidade.
O cenário é San Basilio de Palenque, o primeiro povoado libertado da América situado a 50 km de Cartagena das Índias, onde no último fim de semana a cadência dos tambores anunciou a morte de Cha-ine, a mulher mais velha do povoado que, aos 103 anos, se uniu aos orixás.
Inés Ortega Cassiani, conhecida por como Cha-ine, foi um expoente da consagração da cultura de Palenque, onde dedicou toda sua vida à dança e ao canto, além de liderar com sua arte os ritos de vida e de morte.
O povoado se despediu de Cha-ine com o "lumbalu", a principal cerimônia fúnebre originária da etnia banto na África.
"É o ritual com o qual contribuímos para que essa alma que se desprende do corpo seja conduzida e chegue ao outro mundo", explicou à agência EFE o professor de Etnolinguística e promotor cultural da localidade, Manuel Pérez.
O "lumbalu" sintetiza o universo corporal e simbólico dos habitantes do povoado e representa a coesão entre a música, a dança, a vida e a morte destes descendentes de negros escravos que foram levados à América pelos colonizadores europeus entre os séculos XVI e XVIII.
Seu empenho em manter vivas as tradições e transmiti-las de geração para geração permitiu que San Basilio de Palenque se mantivesse quase intacto.
"Foi graças à resistência que exercemos durante anos para nos manter puros que conseguimos fazer com que o que foi deixado por nossos ancestrais africanos perdurasse", avaliou Pérez.
O povoado se manteve isolado por muitos anos, desde que alguns escravos, cansados da exploração dos espanhóis, fugiram de cidades do então vice-reinado de Nueva Granada e se refugiaram nos Montes de María, onde fundaram Palenque, conhecido hoje como San Basilio, e permaneceram afastados do mundo até 1971.
No entanto, Pérez, que diz sentir "um orgulho enorme por ser autêntico", vê com preocupação a ameaça que recaiu sobre sua cultura pelo fato de que muitos "palenqueros", asfixiados pela pobreza, começam a deixar o povoado em busca de oportunidades.
"Estamos em risco, visto que hoje é muito comum que o palenquero saia para trabalhar e fique fora por muito tempo", lamentou Pérez.
O líder acredita que a força espiritual que os guiou ajude a preservar a cultura, apesar da modernidade e da globalização, fatores que "podem contribuir para que em algum momento os costumes sejam perdidos".
Pérez explica sua inquietação à EFE enquanto homens, mas principalmente mulheres, dançam e cantam ao redor do corpo de Cha-ine. Muitas choram e expressam sua dor com gritos: desta forma, se queixam à falecida por tê-las abandonado no mundo dos vivos.
Esses gritos se confundem com os cantos do "lumbalu", enquanto os amigos mais próximos da morta se consolam com a ingestão de "força", um forte rum destilado de forma rudimentar em um alambique. Assim, entram em uma atmosfera de êxtase e chegam ao transe coletivo.
San Basilio de Palenque foi o primeiro povoado criado na América por negros escravos libertados e preserva quase intacta sua cultura e idioma.
O povoado foi declarado em 2005 Obra Prima do Patrimônio da Humanidade pela Unesco, o que contrasta com a pobreza extrema na qual vivem seus 2,5 mil habitantes, que não contam com serviços públicos básicos.
Embora Palenque atraia muitas pessoas e instituições internacionais por sua grande riqueza cultural, o Estado colombiano vira as costas. Ali não há um médico permanente, os meios de comunicação são praticamente inexistentes, a água é de má qualidade e a assistência social é precária.

Número de africanos formados nas universidades mais que quadruplica entre 1991 e 2008


Número de africanos formados nas universidades mais que quadruplica entre 1991 e 2008




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O número de sul-africanos de raça negra formado nas universidades públicas da África do Sul aumentou 334 por cento entre 1991 e 2008, revela um estudo efetuado pelo Instituto Sul-Africano das Relações Raciais (SAIRR).
Segundo o estudo, 8.514 estudantes negros formaram-se nas universidades da África do Sul em 1991 (quando o "apartheid" começou a ser desmantelado), tendo esse número subido para 36.970 em 2008.
Por outro lado, o número de brancos formados nas universidades sul-africanas cresceu apenas 4 por cento no mesmo período, passando de 27.619 em 1991 para 31.527 em 2008, revela o estudo do Instituto Sul-Africano de Relações Raciais.
A análise dos resultados das universidades públicas revela ainda que entre alunos mestiços o aumento de formações universitárias cifrou-se em 125 por cento, tendo passado de 2.347 em 1991 para 5.286 em 2008, enquanto o número de indianos que terminaram com sucesso cursos superiores passou de 2.333 em 1991 para 6.857 em 2008, um salto de 194 por cento.
Relativamente às fontes das formações universitárias, o SAIRR apurou que a Universidade da África do Sul (UNISA, a maior do mundo em cursos por correspondência) foi a que mais bacharelatos conferiu a todos os grupos étnicos em 2008, precisamente 12,8 por cento de todos os conferidos pelas 23 universidades e institutos superiores do país.
No mesmo ano a UNISA conferiu igualmente, segundo o estudo, 13,6 por cento de todos os mestrados e doutoramentos do país, sendo neste capítulo a Universidade de Pretória a que melhores resultados obteve, com 15,8 por cento de todos os mestrados e doutoramentos.
Uma das mais importantes conclusões deste estudo, para além das alterações demográficas e étnicas da população universitária do país desde o fim do "apartheid", é que foram as instituições anteriormente reservadas aos brancos as que mais licenciados formou.
"Outras universidades, especialmente aquelas que foram criadas para os historicamente desfavorecidos (já existentes antes de 1991 e criadas a pensar nos grupos raciais não-brancos) necessitam de apoio especial para se tornarem centros de excelência por direito próprio e não à custa de universidades de sucesso", referiu um dos autores do estudo, o investigador Marius Roodt.
Roodt esclareceu que entre as instituições criadas pelo regime do "apartheid" os padrões de ensino não são necessariamente maus, dando como exemplo de excelência a Universidade de Fort Hare, que foi em tempos um núcleo de resistência anti-"apartheid" e onde se formaram alguns dos atuais líderes e governantes da África do Sul.
*** Este texto foi escrito ao abrigo do Novo Acordo Ortográfico ***
Fonte: Correio do Minho

http://www.geledes.org.br/africa-e-suas-lutas/numero-de-africanos-formados-nas-universidades-mais-que-quadruplica-entre-1991-e-2008-23-01-2011.html#ixzz1C3W0Z43i