sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Movimento negro vê retrocesso em Estatuto

Movimento negro vê retrocesso em Estatuto
Clara Velasco | Publicado em 04.08.2010 – 368 (jul/2010), em pauta
O Estatuto da Igualdade Racial foi aprovado pelo Senado no dia 16 de junho depois de passar por modificações e após tramitar por sete anos. O texto final, redigido pelo senador Demóstenes Torres (DEM-GO), suprimiu trechos que tratavam de questões polêmicas como as cotas para negros em universidades, causando uma reação negativa entre membros do movimento negro do país.
Trechos que tratavam de vagas para negros em partidos políticos e empresas, bem como os que estabeleciam políticas de saúde para a população negra e indenização por prejuízos relacionados à discriminação racial, também foram retirados do projeto, de Paulo Paim (PT-RS). “O corte feito por Demóstenes foi muito acentuado. De um Estatuto ficou um bando de ideias que ainda serão regulamentadas e que não garantem absolutamente nada”, diz Gilberto Américo da Silva, conhecido como Giba, um dos coordenadores do Núcleo de Consciência Negra da USP.
Dennis de Oliveira, integrante do Núcleo de Apoio à Pesquisa em Estudos Interdisciplinares sobre o Negro Brasileiro (Neinb), concorda que houve um retrocesso em relação à proposta original e acredita que o que falta no Estatuto, além dos pontos cortados, são medidas mais concretas. “O pessoal fica muito na intenção. Tem que pensar, por exemplo, o acesso à universidade, e daí fazer cotas, determinar quanto vai ser, qual o período, como isso vai ser avaliado”, diz.
Apesar da repercussão negativa, Oliveira reconhece que a existência do Estatuto pode ser encarada como positiva por reconhecer que o Brasil é um país racista e que, para combater o racismo, precisa-se de políticas públicas. “O Estatuto também pode servir de base para a criação de novas ações afirmativas, pois ele sozinho não resolve”, acredita, concordando com o ministro da Igualdade Racial, Eloi Araújo.
Giba, porém, é taxativo quanto a essa questão ao afirmar que estas ações já deviam estar no Estatuto. “Era melhor voltar a discutir [o Estatuto] do que ele ser aprovado. No Brasil, é difícil alterar a lei, então em vez de cinco anos a mais lutando para incluir todas as medidas de uma vez, vamos ter mais 20 anos lutando para mudar a lei atual”, diz.

Questão partidária
Um dos motivos apontados por Giba para a exclusão de alguns artigos do Estatuto foi a questão partidária. “O partido que fez alteração é o Democratas, que é próximo da bancada ruralista e, por isso, até tirou o direito histórico de terra aos quilombolas”, diz, complementando que não é do interesse das bancadas conservadoras avançar na questão racial.
Para Oliveira, porém, a questão do racismo não pode estar ligada a um governo, nem ser dependente da boa vontade dos governantes, assim ela será aplicada independente de quem esteja no governo. “O problema do Estatuto é este, é a dependência do governo vigente”, diz.
Repercussão e contexto
Para o professor João Baptista Jorge Pereira, da Comissão Permanente de Políticas Públicas para a População Negra (CPPPN) da USP, a repercussão negativa já era esperada por causa da falta de discussão. “O Estatuto não foi suficientemente discutido com a sociedade. A USP não o recebeu, ninguém o recebeu”, diz, apesar de o projeto estar tramitando desde 2003.
Giba ressaltou também o contexto em que o Estatuto foi aprovado. “No ano de Copa do Mundo em um país como o Brasil, no ano de eleição, em que os holofotes da mídia estão voltados para quem vai ser o próximo presidente, e não necessariamente nos problemas da sociedade brasileira, este foi mais um capítulo em que alguém tentou fazer alguma coisa, foi feito e acabou”, diz.
Para Pereira, o contexto de Copa do Mundo não passou de coincidência. “Um evento do porte da Copa do Mundo eclipsa qualquer notícia, mas acredito que não tenha sido proposital. Acredito que a aprovação do Estatuto tenha sim um propósito eleitoral” afirma.
“É uma condição cultural do país”, comentou Giba sobre a situação pela qual o Brasil está passando, “mas a gente tem a oportunidade de parar e pensar, e não se faz isso”. Ele ainda ressaltou que este é um problema do próprio Estatuto, já que as discussões ficaram restritas a partidos e membros do Senado. “Não foi uma discussão que veio da base das pessoas que sentem isso na pele, literalmente; foi só uma discussão entre senhores da casa grande sobre o que acontece na senzala. Não vai mudar nada na senzala, mas a casa grande vai ter festa por isso”, diz.


http://www.jornaldocampus.usp.br/index.php/2010/08/movimento-negro-ve-retrocesso-em-estatuto/

Atirador de Connecticut alega ter sido vítima de racismo

Atirador de Connecticut alega ter sido vítima de racismo
De Sebastian Smith (AFP) – Há 7 horas
NOVA YORK, EUA — Quando entrou no depósito de cerveja de Connecticut com duas pistolas, o atirador Omar Thornton tinha um objetivo: matar o máximo de brancos possível como vingança por supostamente ter sido vítima de racismo.
"Esse lugar é racista. Eles me tratam muito mal aqui. Eles tratam mal todos os empregados negros aqui também. Então tive que tomar providências com as minhas próprias mãos e cuidar do problema", contou Thornton em uma ligação telefônica à polícia feita imediatamente depois do assassinato de oito de seus colegas de trabalho.
"Só lamento não ter acertado mais pessoas", acrescentou, com um tom de voz tranquilo.
As explicações de Thornton para o massacre na empresa Hartford Distributors na quinta-feira foram feitas em uma ligação à polícia alguns minutos, ou até mesmo segundos, antes de ele cometer suicídio.
Logo depois do banho de sangue, surgiram versões de que Thonton teria reclamado para sua família e namorada do tratamento racista que estaria recebendo de quase todos os funcionários brancos no depósito de bebidas localizado em Manchester, Connecticut.
Mas a polícia afirma não ter nenhuma evidência direta de racismo, enquanto os diretores da empresa e representantes dos sindicatos locais negaram a existência desse problema.
Thornton foi demitido naquele dia de seu emprego como motorista, por supostamente ter roubado cerveja enquanto fazia entregas. Ele levou duas pistolas semiautomáticas para o depósito e, logo depois de perder o emprego, cometeu o ato de violência.
As fitas da polícia, cujo conteúdo foi divulgado nos sites do jornal local Hartford Courant e do New York Times, são as últimas palavras de Thornton e representam um insight de quatro minutos em sua mente perturbada.
"Você provavelmente quer saber a razão para eu ter atirado nesse lugar", ele diz ao policial, antes de fazer as acusações de racismo.
O policial, enquanto ouve o atirador, tenta extrair o máximo de informções dele, como sua localização, armamento e quantidade de munição.
Thornton deixa claro que estava ligando para dar explicações finais. "Não vou matar mais ninguém", diz.
Quando o policial pede para ele se render, Thornton diz: "esses policiais vão me matar".
"Não, eles não vão te matar. Nós só precisamos que você fique tranquilo", responde o policial.
"Eu estou tranquilo, estou calmo", diz Thornton.
Diversas vezes durante a conversa ele repete as acusações de racismo na empresa, sem dar nenhum exemplo. "Eles me trataram mal desde o começo aqui."
Logo, ele insinua ter escolhido um final para a tragédia.
"Quando eles me encontrarem, tudo terá acabado", diz. "Diga à minha gente que eu os amo."
O policial pede que Thornton permaneça na linha. "Omar, eu realmente quero que você me ajude a resolver essa situação. Omar, Omar..."
Não há resposta.
Thornton era um dos poucos negros na empresa Harford Distributors, algo confirmado por uma das funcionárias que também ligou para a polícia durante o massacre.
"Ele é um negro alto", disse a mulher enquanto tentava descrevê-lo. "É um dos poucos negros que trabalham aqui."
As acusações de racismo foram negadas pela Hartford Distributors.
"Não há evidências, nas conversas com a empresa, de que tenha havido qualquer tipo de discriminação racial", afirmou um policial em uma coletiva de imprensa realizada após o massacre.
Copyright © 2010 AFP. Todos os direitos reservado


http://www.google.com/hostednews/afp/article/ALeqM5jf-75RjW_oN0zCcsVGvRuVPLSJHg

Senado aprova Elena Kagan na Suprema Corte dos EUA

Senado aprova Elena Kagan na Suprema Corte dos EUA
05 de agosto de 2010 | 18h 33

Agência Estado
O Senado dos Estados Unidos confirmou hoje a juíza Elena Kagan para um cargo na Suprema Corte, o que a tornará a quarta mulher a servir no tribunal máximo norte-americano. Ela foi aprovada numa votação com 63 votos a favor e 37 contrários.



A Suprema Corte dos EUA tem nove juízes. Kagan se juntará às magistradas Ruth Bader Ginsburg e Sonia Sotomayor. Pela primeira vez o tribunal terá três mulheres exercendo a função ao mesmo tempo. Ela substituirá o juiz John Paul Stevens, que se aposenta.


Apenas cinco senadores republicanos votaram a favor de Kagan, que recebeu sufrágios favoráveis de todos os senadores democratas, com exceção de um, Ben Nelson (Nebraska), que alegou que a juíza possui pouca experiência para o cargo. As informações são da Dow Jones.


http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,senado-aprova-elena-kagan-na-suprema-corte-dos-eua,590962,0.htm

Ensino religioso nas escolas públicas é questionado em ADI

Notícias STF
Quinta-feira, 05 de agosto de 2010

Ensino religioso nas escolas públicas é questionado em ADI

Com o objetivo de dar a interpretação conforme a Constituição Federal sobre o ensino religioso nas escolas públicas, a Procuradoria-Geral da República (PGR) propôs no Supremo Tribunal Federal a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4439, com pedido liminar. O ensino religioso está previsto no artigo 33, parágrafos 1º e 2º, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LBD - Lei nº 9.394/96), e no artigo 11 do Anexo do Decreto nº 7.107/2010.

A procuradora-geral em exercício, Deborah Duprat, argumenta na ADI que a Constituição Federal (CF) estabelece o princípio de laicidade do Estado e a previsão de oferta de ensino religioso, de matrícula facultativa, pelas escolas públicas de ensino fundamental, no horário normal de aula. Desse modo, ela afirma que “em face da unicidade da Constituição, não é viável a adoção de uma perspectiva que, em nome da laicidade do Estado, negue qualquer possibilidade de ensino de religião nas escolas públicas”.

Pela relevância, complexidade e natureza interdisciplinar do tema, a procuradora-geral requer, de acordo com o artigo 9º, parágrafo 1º da Lei nº 9.868/99, a realização de audiência pública no Supremo.

A tese defendida pela PGR é a de que a compatibilização do ensino religioso nas escolas públicos e o estado laico corresponde à oferta de um conteúdo programático em que ocorra a exposição das doutrinas, das práticas, da história e de dimensões sociais das diferentes religiões, incluindo as posições não religiosas, “sem qualquer tomada de partido por parte dos educadores”.

Para Duprat, esse modelo de ensino protegeria “o Estado de influências provenientes do campo religioso, impedindo todo tipo de confusão entre o poder secular e democrático, de que estão investidas as autoridades públicas, e qualquer confissão religiosa”. A procuradora-geral argumenta que a laicidade do Estado brasileiro impõe a neutralidade em relação às distintas opções religiosas presentes na sociedade, de modo a vedar o favorecimento ou embaraço de qualquer crença ou grupo de crenças.

Deborah Duprat sustenta, ainda, que o princípio do estado laico está relacionado aos princípios constitucionais da igualdade e da liberdade de religião. Ao expor que “há fortes razões para se velar atentamente pelo respeito ao princípio da laicidade estatal no ensino público fundamental”, a procuradora-geral defende que uma das finalidades essenciais do ensino público, previsto no artigo 205 da CF, é a formação de pessoas autônomas, com capacidade de reflexão crítica.

No pedido liminar, a procuradora-geral pede a suspensão da eficácia de qualquer interpretação do dispositivo questionado da LDB que autorize a prática do ensino religioso em escolas públicas que se paute pelo modelo não-confessional, bem como se permita a admissão de professores da disciplina como representantes de quaisquer confissões religiosas. Requer, também, a suspensão da eficácia do Decreto nº 7.107/2010 que autorize a prática do ensino religioso em escolas públicas que não se paute pelo modelo não-confessional.

No mérito, Deborah Duprat requer a interpretação conforme a Constituição do artigo 33, parágrafos 1º e 2º da LBD, para assentar que o ensino religioso em escolas públicas deve ser de natureza não-confessional.

Dispositivos questionados

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

"Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo. (Redação dada pela Lei nº 9.475, de 22.7.1997)

§ 1º Os sistemas de ensino regulamentarão os procedimentos para a definição dos conteúdos do ensino religioso e estabelecerão as normas para a habilitação e admissão dos professores.

§ 2º Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída pelas diferentes denominações religiosas, para a definição dos conteúdos do ensino religioso."

Decreto nº 7.107/2010: promulga o Acordo entre o Governo da República Federativa do Brasil e a Santa Sé relativo ao Estatuto Jurídico da Igreja Católica no Brasil, firmado na Cidade do Vaticano, em 13 de novembro de 2008.

Artigo 11 - A República Federativa do Brasil, em observância ao direito de liberdade religiosa, da diversidade cultural e da pluralidade confessional do País, respeita a importância do ensino religioso em vista da formação integral da pessoa.

§ 1º - O ensino religioso, católico e de outras confissões religiosas, de matrícula facultativa, constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, em conformidade com a Constituição e as outras leis vigentes, sem qualquer forma de discriminação.

Processos relacionados
ADI 4439





http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=157373&caixaBusca=N

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Em manifesto na web, jovens paulistas criticam migração

Quinta, 5 de agosto de 2010, 13h55 Atualizada às 17h11

Em manifesto na web, jovens paulistas criticam migração

Futura Press
Para chamar a atenção da imprensa de São Paulo, jovens pretendem fazer mobilização na  Ponte Estaiada Octávio Frias de Oliveira, no estilo dos ...
Para chamar a atenção da imprensa de São Paulo, jovens pretendem fazer mobilização na Ponte Estaiada Octávio Frias de Oliveira, no estilo dos ativistas do Greenpeace

Ana Cláudia Barros

Eles têm entre 18 e 25 anos, são universitários e se uniram a partir de um manifesto virtual, batizado de "São Paulo para os paulistas". A iniciativa, que começou com a voz solitária de uma jovem indignada diante da proposta de inserção da cultura nordestina na grade curricular de escolas da capital do Estado, foi ganhando adeptos e, em poucos meses, já contava com mais de 600 adesões, demonstrações de apoio expressas em assinaturas numa petição online.

Escolhido como porta-voz do grupo por ter um discurso mais moderado e menos conservador, o estudante Willian Godoy Navarro, 22 anos, conversou com Terra Magazine. Nitidamente preocupado em dosar as palavras, ele falou sobre as pretensões do movimento, que tem entre os principais objetivos discutir a questão da migração e a suposta subvalorização da cultura paulista, preterida, segundo o universitário, em função do espaço que culturas "estrangeiras" conquistaram em São Paulo.

-Existe uma representatividade muito forte, na Assembleia Legislativa, de deputados de origem nordestina, que trabalham para o povo paulista. E eles aprovam e trabalham em projetos de lei que valorizam a cultura de lá. Isso não é errado. O que ocorre é que existe uma supervalorização dessa cultura e nenhuma da paulista. Muitas vezes, o aluno passa pelo Ensino Fundamental, pelo Ensino Médio e nunca estudou, não sabe qual é a história de São Paulo, o que são os bandeirantes. E agora o cara quer inserir isso como uma disciplina, "culturas do Nordeste". Aqui não é o Nordeste. Ele deve fazer isso no Nordeste - afirma, garantindo que a preocupação do grupo não se dirige, especificamente, aos migrantes dessa região do país.

O universitário conta que a sondagem na internet foi apenas uma etapa inicial. O plano agora é criar o Movimento Juventude Paulistana, uma organização com "personalidade jurídica", que, a exemplo dos ativistas ambientais do Greenpeace, pretende buscar visibilidade por meio de atos públicos.

-A gente vai fazer alguma coisa na Ponte Estaiada. Uma faixa, uma mobilização que chame a atenção dos principais veículos de comunicação de São Paulo - adianta, sem, no entanto, revelar detalhes.

Confira a entrevista

Terra Magazine- Como surgiu a ideia do manifesto?
Willian Godoy Navarro -
A ideia do manifesto surgiu por conta de algumas leis que ainda estão em discussão na Câmara, na Assembleia Legislativa, que defendem a aplicação de uma disciplina nas escolas públicas em relação à cultura nordestina. Isso desencadeou o movimento, porque não existe uma promoção da cultura paulista. Os alunos saem do Ensino Médio e não sabem o que foi a Revolução Constititucionalista de 1932.
Então, a Fabiana (uma das integrantes) criou a petição, jogou na internet e conseguiu a adesão. Foi formado um grupo. Dezenas jovens apoiam e se mobilizam na internet para divulgar. Foram se conhecendo pela internet. A petição está há poucos meses no ar e já tem mais de 600 assinaturas.

O que vocês pretendem exatamente?
A gente quer levantar a discussão. Não apoio a petição. Há uma discussão interna. Acredito que a petição é ousada demais, muito radical. A gente não pode fazer uma petição como se São Paulo fosse um Estado independente.

A petição dá a ideia de que há uma intenção separatista. Não há um consenso no grupo?
Existe um movimento separatista, que é o MRSP, Movimento República de São Paulo, mas a gente não faz parte. A gente apoia o MRSP, mas não apoia a ideia de separar São Paulo do Brasil. Na passeata de 9 de julho, conversamos com eles. É um movimento organizado. São centenas de jovens em todo o Estado. Tem sede em Ribeirão Preto, Sorocaba, Campinas, Santos, São José dos Campos e na cidade de São Paulo. Geralmente, são de famílias italianas. Também são grupos de universitários.

Mas o que vocês objetivam com esse manifesto?
Criar uma influência. Agregar outros jovens que tenham o mesmo interesse em discutir os temas de sua cidade. A gente está trabalhando agora de forma diferente. Vamos criar um grupo de jovens, o Movimento Juventude Paulistana. A migração deve ser discutida e deve ser criticada, mas uma crítica construtiva.

No manifesto, há um trecho que fala em "migração predatória". Você concorda com o termo?
Não concordo. O que acontece é que não houve uma política migratória, nada que pudesse planejar isso. O que houve? São Paulo cresceu desde a década de 1970 pra cá, graças à migração. Isso é fato. São Paulo hoje é uma potência com a força de trabalho que os migrantes trouxeram para o estado. O que acontece é que, hoje, a cidade não consegue mais absorver essa migração que ainda continua. Não há nenhum tipo de política pública para administrar isso. As pessoas têm o direito de ir e vir, mas tem que haver uma política que pudesse trabalhar com elas.

Vocês são a favor de iniciativas que estimulam o retorno de migrantes ao local de origem?
Imagina só: um migrante que tinha um trabalho na área agrária, rural. Ele vem para uma cidade, sem qualificação, sem estudo, sem preparo. Ele não tem base para se manter nessa cidade. Se ele sempre trabalhou no meio rural, o que vai fazer na cidade? Ninguém pensou nisso.

Então você apoia essas iniciativas?
Sim, é uma questão humanitária. Para você ter uma ideia, tem uma pesquisa que diz que 84% dos moradores de rua que vivem no Centro de São Paulo são migrantes. É aquela mesma história. Vêm para São Paulo, não são absorvidos, não têm amparo público e acabam vagando pela cidade. O custo de vida em São Paulo é alto. Acredito que seja um dos mais altos do pais. Já é difícil para um paulistano, que constrói uma carreira, comprar, financiar um apartamento ou uma casa, imagina para o migrante que consegue ganhar um salário mínimo por mês e tem uma família para sustentar?

Lendo o manifesto, notei que o movimento tem uma particular preocupação com os nordestinos...
Não existe essa preocupação particular. Mineiros, nordestinos, mato-grossenses, paulistas que vieram do interior para a capital. Todos.

Mas, inicialmente, você comentou que a petição foi desencadeada pelos projetos de lei que defendem o ensino da cultura nordestina nas escolas.
O que desencadeou foi exatamente isso. Existe uma representatividade muito forte, na Assembleia Legislativa, de deputados de origem nordestina, que trabalham para o povo paulista. E eles aprovam e trabalham em projetos de lei que valorizam a cultura de lá. Isso não é errado. O que ocorre é que existe uma supervalorização dessa cultura e nenhuma da paulista. Muitas vezes, o aluno passa pelo Ensino Fundamental, pelo Ensino Médio e nunca estudou, não sabe qual é a história de São Paulo, o que são os bandeirantes. E agora o cara quer inserir isso como uma disciplina, "culturas do Nordeste". Aqui não é o Nordeste. Ele deve fazer isso no Nordeste.

É por isso que vocês falam no manifesto: "O paulista olha ao seu redor e se vê um estrangeiro em sua própria terra"?
A Fabiana foi muito ousada, colocou palavras bastante fortes nesse manifesto. Por isso que vamos mudá-lo. E a gente não vai mais fazer isso pelo meio virtual. A gente vai utilizar essa influência que conseguimos para fazer algo oficial mesmo. Uma organização que vai ter uma personalidade jurídica. Vai ser algo com uma representatividade mais concreta.

Nesse primeiro momento, o manifesto virtual serviu para saber se haveria aceitação?
Foi um estudo para a gente sentir como seria a aceitação. Falar da migração sempre é um tabu. Sempre alguém vai se sentir prejudicado. A gente estava discutindo ontem para falar com você hoje. A gente não pode falar da migração. São Paulo foi construído por imigrantes e migrantes. O que tem que acontecer é uma administração, um controle.

Como assim "um controle"?
Não existe controle. Não controle. Controle é uma palavra muito forte. Mas nenhuma política que pudesse organizar a migração. Não só de nordestinos, mas de todos que vêm para São Paulo ou para outra cidade. A gente tem quase um milhão de pessoas na cidade de São Paulo que não conseguem emprego, que moram em favelas ou em áreas com más condições de moradia. A gente não tem estrutura para absorver a migração. Essa mão-de-obra, essa força de trabalho que continua vindo para São Paulo poderia desenvolver outras áreas do país. A gente se preocupa com o futuro da cidade.

Vocês do movimento consideram que a migração provoca sobrecarga no sistema de saúde e impactos nos índices de violência?
Seria hipócrita se dissesse que não. A maior parte das pessoas que utiliza o SUS na cidade de São Paulo são migrantes. Agora, não que esse seria o problema. Em relação à violência, é também bastante contestado. O cara vem, mora na periferia, não tem emprego, não tem nenhuma base. Vai trabalhar no mercado informal ou arranjar outro meio. Mas as vezes há outras situações que fazem com que parta a criminalidade.

Vocês falam de xenofobia no manifesto. "Se um migrante adentra em uma região, e desrespeita seus costumes, não respeita a diversidade. Pretender modificá-los, moldá-los a si, impôr os próprios, forçar os anfitriões a aceitar a descaracterização, são atos de 'Xenofobia'". Quero que você comente esse trecho do manifesto.
Quem escreveu foi a Fabiana, mas acredito, que ela quis dizer que está sendo forçada a inclusão de uma cultura diferente. Não sei se você vai concordar comigo, mas tem uma característica bem peculiar. É muito diferente da cultura paulista, como a cultura paulista é diferente da cultura carioca. Quando existe qualquer ato de promoção da cultura dos paulistas é visto como preconceito.

O que seria um ato de promoção da cultura paulista, por exemplo?
Por exemplo, existem mais pessoas que vão para a semana cultural nordestina, na Zona Norte, no Cambuci, onde há um centro de cultura nordestina, do que as que foram à passeata em 9 de julho, que é um marco para o Estado.

Então, na sua opinião há uma subvalorização da cultura de São Paulo?
Isso mesmo. Quem é o responsável? O governo e a prefeitura que incentivam isso. O problema é o seguinte: a maior parte do eleitorado que promove eles (políticos) são migrantes.

Especificamente, nordestino?
Sim, basicamente sim.

E, na visão de vocês, eles acabam elegendo representantes de origem nordestina...
Entendeu nosso ponto? O pessoal fala muito de outras culturas, mas qual é a cultura daqui? Ninguém fala.

No manifesto, vocês dizem que São Paulo cresceu sem receber dádivas do Brasil.
Certo.

Vocês dizem: "São Paulo não deve nada ao Brasil, portanto, o usufruto desse trabalho deve ser para o povo paulista".
Por exemplo, São Paulo é o estado que mais arrecada impostos, que mais produz. A gente não recebe nem um terço do que produz. Esse déficit orçamentário no Estado não permite que o governo trabalhe na habitação, na infra-estrutura, no saneamento, na educação e na saúde. A gente é prejudicado. O dinheiro dos impostos, das industrias e do povo de São Paulo é revertido para outros Estados, ao invés de ser aplicado novamente aqui.
Recife, Salvador recebem mais investimentos do Governo Federal do que arrecadam. A capital do Piauí, Teresina, é um exemplo disso. Isso é um absurdo, sendo que a gente tem problemas de transporte público em São Paulo. O transporte público aqui é terrível. Muitos falam que a migração foi responsável pelo avanço, mas São Paulo sempre foi rica. Sempre foi desenvolvida. E foi com a força do trabalho dos migrantes também. Mas não só dos migrantes, mas de todos os paulistas.

No manifesto, vocês dizem que os "migrantes não construíram São Paulo por serem alocados na construção civil. Seja desmentida tal falácia". Você acha que isso é realmente uma falácia?
Essa parte do manifesto não li, mas o entendimento é o seguinte: quem constrói São Paulo não são os pedreiros. São os empresários, os investimentos aplicados na cidade, feitos por paulistas. Falar que outras pessoas construíram a cidade é absurdo. Eles trabalharam, usaram sua força de trabalho. Não significa que construíram São Paulo. Esse prédio que você trabalha, por exemplo, não foi construído por migrantes...por pedreiros. Foi construído pela empresa que investiu, que financiou o projeto. Entendeu o ponto de vista do manifesto? As pessoas dizem: "Ah, os migrantes construíram São Paulo". Construíram com sua força de trabalho, mas se não fossem os investimentos e o dinheiro que gira na cidade, não teriam construído nada.

Vocês têm noção do teor polêmico da causa que defendem?
É muito polêmico. É o que falei para a Fabiana. "Não se pode falar da migração. No Brasil, não se pode falar, porque todos são". Parte do manifesto não apoio. A gente vai estudar uma nova forma de aplicar um manifesto cabível para a realidade e para a necessidade de São Paulo.

Então, o manifesto que está na internet vai ser reformulado?
Vai ser reformulado. Vamos utilizar a influência conquistada com esses meses de trabalho. A gente vai fazer algo oficial agora, que vai ser o Movimento Juventude Paulistana. Vai ter um site e tudo mais.

E qual o objetivo do Movimento Juventude Paulistana?
Levantar esse assunto, mas de forma coerente. A gente vai tentar fazer com que ele seja discutido com a sociedade. Se a sociedade não tiver interesse em discutir a migração, a gente não discute. A gente vive em um país democrático e tem que expressar nosso ponto de vista. Há outros milhares de paulistanos que apoiam nossa ideia. A gente vai tentar levantar isso com a sociedade.

Como?
Como o Greenpeace chama a atenção? Ele faz uma passeata com 100 mil pessoas ou faz um ato que atrai a mídia? O ato. É isso que a gente vai fazer.

Já há algo planejado?
Não posso dizer. A gente vai fazer alguma coisa na ponte estaiada. Uma faixa, uma mobilização que chame a atenção dos principais veículos de comunicação de São Paulo. Se os paulistas não tiverem interessados em debater, a gente não vai debater. Queremos, pelo menos, criar uma oportunidade. Existe uma comunidade de São Paulo no Orkut. E eu levantei o tema. Foi só para fazer uma pesquisa mesmo. Muita gente falou mal, veio apedrejando. Em cada 10 pessoas, dois apoiavam. Se em cada 10 paulistanos, dois apoiarem, a gente vai ter, numa cidade de 10 milhões, 2 milhões. E isso é muita gente. Então, queremos pegar esses jovens, essas pessoas que querem mudar São Paulo, mudar não, pelo menos, melhorar.

Na primeira etapa, vocês querem levantar a discussão sobre a migração, mas o que vem depois?
Depois disso, vamos planejar. Eu entrei agora. Eu decidi falar, porque eles são muito conservadores. Eu disse: "Não seria interessante se vocês falassem agora. Vamos mudar o discurso". Da forma radical que eles estão criando, não vão conseguir apoio de ninguém.

A ideia é abrandar o discurso para conseguir adesão, não impactar tanto?
A gente está utilizando métodos de publicidade, de promoção e de marketing, estudo de teses de algumas pessoas, que a gente está elaborando, para poder montar o movimento. A gente quer fazer algo que conquiste o maior número de pessoas possível.Estamos conseguindo adesão de algumas pessoas com influência. A gente tem o presidente de um centro acadêmico de um curso na USP.

Qual curso?
Ele não me deu autorização para falar.

Mas vocês querem manter o anonimato?
Ele quer.

Não faz muito sentido. Se vocês querem dar visibilidade ao tema, soa incoerente.
Ele está representando a comunidade japonesa. É descendente. E tem outras pessoas que trabalham com ele. Eu, do Centro Acadêmico da UNIP, outros de outras instituições. Anhembi-Morumbi... A gente está pegando pessoal da UNINOVE também, da Barra Funda. É um movimento de universitários.

Quantas adesões vocês já tiveram. As pessoas que se agregaram através da internet se encontram?
Todos as mais de 600 adesões (assinaturas na petição virtual) foram muito comprometidas e decididas, se possível, a apoiar. As pessoas que assinaram realmente têm interesse em participar e sempre geram soluções e ideias para que a gente possa melhorar o nosso plano. A gente tem 600 jovens que, a qualquer momento, se estiverem disponíveis, vão participar. Tem uma menina que veio de Campos do Jordão para conhecer a gente. Ainda mais agora. A gente tem 100 pessoas na cidade de São Paulo, que assinaram o manifesto, que estão dispostas a conversar, a entrar na reunião. E temos mais 600 pessoas do movimento separatista.

Onde vocês pretendem chegar?
Nossa meta é que isso seja discutido na Assembleia Legislativa, na Câmara Municipal. A gente quer que seja implantada algum tipo de política que possa administrar isso (migração). Que fale: "vocês não têm qualificação, então, vão fazer um curso de qualificação e ser alocados para outras áreas do Estado que oferecem mais oportunidades. As pessoas que vivem em São Paulo e querem, mas não têm condições de voltar para a terra de onde fugiram... A cidade gerar essa oportunidade para elas. O pouco que a gente conquistar para uma cidade como São Paulo vai ser bastante.


fonte: http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI4605938-EI6594,00-Em+manifesto+na+web+jovens+paulistas+criticam+migracao.html