segunda-feira, 19 de julho de 2010

Grupos racistas da Ku Klux Klan crescem protegidos pela Constituição nos EUA

publicado em 19/07/2010 às 06h00:

Grupos racistas da Ku Klux Klan crescem
protegidos pela Constituição nos EUA

Extremistas pregam superioridade da 'raça branca' e segregação de negros e imigrantes

Lucas Bessel, do R7

Reprodução/IKAFoto Reprodução/IKA
Membros de grupo da KKK fazem a queima da cruz, ritual centenário adotado pelos racistas ainda hoje; organização prega superioridade dos brancos

"Se você não é da raça branca, este site não é para pessoas como você. A IKA odeia negros, hispânicos, asiáticos e judeus".

Essa é a mensagem que os internautas que acessam o site do "Klans Imperiais da América" (IKA, na sigla em inglês) encontram na página inicial.

O grupo é apenas um dos muitos "descendentes" modernos de uma organização racista cristã que, desde 1860, atua nos Estados Unidos: a Ku Klux Klan (KKK). Normalmente associados à perseguição de negros e imigrantes na década de 1920, muitos membros da KKK do século 21 ainda queimam cruzes e vestem capuzes brancos, da mesma forma que 90 anos atrás.

Sob a proteção da Constituição dos Estados Unidos - que garante a irrestrita liberdade de expressão - a KKK ampliou o leque do seu ódio e prega a superioridade da "raça branca cristã" sobre negros, judeus, homossexuais e imigrantes em geral.

É também sob a proteção do texto constitucional que os grupos inspirados na KKK crescem nos Estados Unidos. De acordo com levantamento do Southern Poverty Law Center (SPLC) - organização americana que monitora os chamados "grupos de ódio" - o número de organizações do tipo passou de 110 no ano 2000 para 187 em 2009, um crescimento de 70%.

Mark Potok, diretor do SPLC, diz que há três razões principais para o aumento de grupos do tipo.

- A mudança do perfil demográfico do país, com aumento da população negra e hispânica, os problemas econômicos que os EUA enfrentam nos últimos anos e a propagação de teorias da conspiração racistas pela direita americana dão combustível a esse tipo organização.

Grupo prega a segregação

Em entrevista exclusiva ao R7, Lawrence Grant, um dos líderes da Igreja Nacional dos Cavaleiros da Ku Klux Klan (NCKKK, um dos maiores grupos dos EUA), disse que a organização não prega a violência, mas sim a segregação.

- Acreditamos na superioridade da raça branca, de origem europeia e caucasiana. Não somos a favor da violência, queremos apenas que negros, hispânicos e homossexuais vivam entre eles e não se misturem com a gente.

Com voz pausada e fala articulada, o "reverendo" Grant, como é chamado dentro do grupo, diz acreditar que a imigração é totalmente desnecessária para os Estados Unidos, embora não condene os imigrantes legais.

- Somos, sim, totalmente contra a onda de imigrantes ilegais que cruzam a fronteira do México, vêm para os Estados Unidos e fazem filhos aqui apenas para poderem pedir residência permanente.

Sobre os homossexuais, Grant é categórico, mas faz questão de ressaltar que não incita a violência.

- O homossexualismo é uma abominação, uma violação do texto da Bíblia. Mas se esse tipo de gente escolhe viver dessa maneira, que vivam entre eles e não se metam com a tradicional família americana. Não prego a violência contra gays.

Episódios de violência ainda existem

Apesar do crescimento no número de grupos, a quantidade de membros da KKK é pequena. O SPLC estima que os Estados Unidos abriguem hoje entre 5.000 e 10 mil "klansman", embora a cifra exata seja quase impossível de calcular, já que muitas das organizações são secretas.

Rick Eaton, pesquisador do Centro Wiesenthal, organização que monitora grupos extremistas nos EUA, acredita que, apesar do reduzido número de participantes, grupos da KKK ainda são perigosos.

- Pela maneira como se promovem e recrutam adeptos, essas pessoas certamente são perigosas em pequenos grupos.

Eaton cita o caso do espancamento de um adolescente de origem panamenha, em 2006, por membros da IKA. O jovem de 16 anos foi atacado durante um evento do grupo em Brandenburg, no Estado de Kentucky, e teve duas costelas fraturadas, um braço quebrado e vários ferimentos na mandíbula.

Na ocasião, o SPLC saiu em defesa do jovem e processou o líder da IKA, Ron Edwards, que foi condenado a pagar uma indenização milionária ao jovem espancado. O mentor do episódio recorreu da sentença, e o caso ainda aguarda novo julgamento.

Para Potok, no entanto, o maior perigo desses grupos não são os episódios de violência, mas sim a propaganda, que pode influenciar gente de fora dos "klans".

- Como proporção, os grupos são pequenos, e a chance de alguém ser atacado é bem reduzida. Mas a propaganda acaba influenciando o debate político, as teorias da conspiração propagadas por eles ameaçam a discussão democrática, e muita gente acaba entrando nessa onda.

Nome do grupo tem origem grega

Embora a origem do nome Ku Klux Klan seja controversa, a explicação é de que os termos nasceram da junção da palavra grega "kuklos" (círculo) com a palavra clã ("clan" em inglês, mas escrita com "k").

Um dos rituais mais conhecidos da KKK, a queima da cruz, tem origem em clãs escoceses da Idade Média que, antes de batalhas, inflamavam os símbolos cristãos para intimidar seus inimigos. Os racistas dos "klans" adotaram a prática no início do século 20 e, ainda hoje, muitos grupos realizam o ritual.


http://noticias.r7.com/internacional/noticias/grupos-racistas-da-ku-klux-klan-crescemprotegidos-pela-constituicao-nos-eua-20110717.html

ONU declara 18 de julho como Dia Internacional de Nelson Mandela

11/11/2009 - 16h26

ONU declara 18 de julho como Dia Internacional de Nelson Mandela

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da Folha Online

Os 192 Estados-membros da Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas) consagraram nesta quarta-feira o dia 18 de julho como Dia Internacional Nelson Mandela, a ser celebrado a partir do ano que vem. A data corresponde ao aniversário do ex-presidente sul-africano e Prêmio Nobel da Paz.

"Nelson Mandela é um ícone internacional e um exemplo de esperança para todos os oprimidos e marginalizados em todo o mundo", declarou o embaixador da África do Sul ante a ONU, Baso Sangqu.

A resolução visa a recompensar Mandela por toda sua vida dedicada a causas defendidas pela ONU, como resoluções dos conflitos, as relações inter-raciais, a promoção dos direitos humanos, a reconciliação e a igualdade dos sexos.

Kim Ludbrook/Efe
O Nobel da Paz Nelson Mandela, que teve o dia do aniversário transformado no Dia Internacional Nelson Mandela
O Nobel da Paz Nelson Mandela, que teve o dia do aniversário transformado no Dia Internacional Nelson Mandela

Conforme um comunicado divulgado em Johannesburgo pela Fundação Nelson Mandela, a resolução foi aprovada nesta terça-feira por unanimidade e transforma o dia do aniversário do ex-presidente sul-africano em um "dia internacional do ativismo".

"O Dia de Mandela é um dia internacional de ação humanitária para celebrar a vida de Mandela e a sua herança. Deve servir de catalisador para que todas e cada uma das pessoas compreendam que elas têm a capacidade de mudar o mundo com sua ação", afirma a nota. "Esta em nossas mãos criar um mundo melhor", afirma a fundação, ao citar Mandela, enquanto agradece ao governo da África do Sul seus esforços para tornar possível esta resolução internacional.

Mandela, diz a nota, "passou 67 anos de sua vida se dedicando ativamente a promover e conseguir a mudança social" e, por isso, a fundação pede que, no Dia de Mandela, "as pessoas dediquem simbolicamente pelo menos 67 minutos de seu tempo para servir suas comunidades em qualquer coisa que quiserem".

Com Efe e France Presse


http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u650934.shtml

sábado, 17 de julho de 2010

País tem 148 instituições públicas de ensino superior com sistema de cotas


País tem 148 instituições públicas de ensino superior com sistema de cotas

Estudo da Educafro mostra que a maioria das ações é socioeconômica, mas há também as raciais, especialmente para negros. Enquanto projeto sobre o tema tramita no Congresso, as universidades têm autonomia para criar seus próprios modelos

17 de julho de 2010 | 0h 00
    Mariana Mandelli - O Estado de S.Paulo

São 148 as instituições públicas de ensino superior do País que adotam algum tipo de cota em seus processos seletivos. A maioria das políticas de reserva de vagas identificadas é socioeconômica, mas uma parte é de cotas raciais - especialmente para negros. O levantamento, obtido com exclusividade pelo Estado, foi feito pela entidade Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes (Educafro).

Enquanto o projeto que prevê 50% das vagas para alunos de escolas públicas e para negros tramita no Congresso, as universidades têm autonomia para criar seus próprios sistemas de cotas. Entre os vários tipos de ações há reserva de vagas para negros, quilombolas, indígenas, ex-alunos de escola pública, pessoas com deficiência, filhos de policiais mortos em serviço, estudantes com baixa renda familiar, professores da rede pública e residentes da cidade onde se localiza a instituição. O aumento de nota nas provas de seleção para determinados grupos também é considerado em grande parte das universidades públicas.

O estudo mapeou ações afirmativas no Distrito Federal e nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Amazonas, Roraima, Pará, Acre, Tocantins, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Alagoas, Pernambuco, Bahia, Maranhão, Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí, Sergipe, Ceará, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

Defensores das cotas comemoraram a adesão das universidades. "A mobilização dos negros para o debate das cotas está movimentando outros setores", diz frei David Raimundo dos Santos, da Educafro. Para ele, o principal desafio está nas grandes universidades, como a Universidade de São Paulo, que oferece, por meio do Programa de Inclusão Social da USP, o acréscimo na nota do vestibular para candidatos do ensino médio público.

Para Rafael Ferreira Silva, professor e pesquisador de ações afirmativas, as cotas são necessárias para suprir as desigualdades socioeconômicas do País. "Temos de resgatar as consequências de fatos históricos como a escravidão e a abolição. As diferenças são extremas", diz.

Para Valter Silvério, da Universidade Federal de São Carlos, a adesão das instituições se deve também ao respaldo popular que as ações afirmativas apresentam. "Os diferentes tipos de cotas refletem que as universidades estão discutindo seus próprios perfis."

Preconceito. A advogada Allyne Andrade, de 24 anos, que ingressou na Universidade do Estado do Rio de Janeiro pelo sistema de cotas, diz que ainda existe preconceito no ambiente acadêmico. "Muitos professores achavam que a qualidade do ensino ia cair. A sociedade é racista."

Apesar de ser cotista, Maria de Lourdes Aguiar, de 24 anos, estudante de Medina da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, critica o sistema. "Eu apoio até um certo limite, porque isso pode acabar tampando o sol com a peneira", opina.

José Carlos Miranda, do Movimento Negro Socialista, concorda. "Isso mostra a incompetência do Estado, que não oferece educação básica de qualidade", diz. "Cotas só são boas para quem usufrui delas. Elas não acabam com o racismo nem melhoram a mobilidade social. Motivo para comemorar é quando um estudante pobre entra na universidade pública sem cota."

Ações afirmativas
Cotas raciais

Consistem em reservar parte das vagas da instituição de ensino superior para candidatos que sejam afrodescendentes ou indígenas, por exemplo.

Cotas sociais
São a reserva de vagas do vestibular para alunos formados em escolas públicas, pessoas com algum tipo de deficiência, estudantes com baixa renda familiar ou professores da rede pública, entre outros.

Bônus
É o acréscimo de pontos, por meio de valores fixos ou de porcentagens, na nota do vestibular de candidatos de determinadas condições sociais.


http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100717/not_imp582320,0.php

sexta-feira, 16 de julho de 2010

.Jessica Alba crítica o racismo em Hollywood


.Jessica Alba crítica o racismo em Hollywood



Foto: Mark Sebastian / Wikimedia Commons

Jessica Alba criticou a indústria cinematográfica de Hollywood , por seu preconceito contra hispânicos atrizes.
“Jennifer Lopez é uma grande estrela, mas Hollywood sempre quer que ela interprete a empregada. Gosto dela porque ela abriu a porta para as meninas de minorias étnicas como eu. Eu quero quebrar essas barreiras”, disse Alba.
A atriz, cujo pai é mexicano-americano , disse que sofreu muito preconceito na época da escola porque era mista.


http://www.vidaminha.com.br/entretenimento/fofoca-do-dia/jessica-alba-critica-o-racismo-em-hollywood.html/

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Pesquisador norte-americano desenvolve projeto inédito que reúne documentos com textos e narrativas de escravos brasileiros

Pesquisador norte-americano desenvolve projeto inédito que reúne documentos com textos e narrativas de escravos brasileiros

Ana Clara Brant

Publicação: 11/07/2010 07:00 Atualização: 11/07/2010 16:09

Ele conhece como poucos a obra de Guimarães Rosa, inclusive desbravou as Gerais percorrendo todo o caminho do Grande Sertão Veredas. Encenou peças clássicas da dramaturgia brasileira, como Morte e vida severina, O pagador de promessas e Eles não usam black-tie e chegou a trabalhar ao lado de um dos papas das artes cênicas, Augusto Boal. Além disso, alfabetizou trabalhadores rurais no interior da Bahia, utilizando o método do mestre Paulo Freire e se prepara agora para concluir um trabalho inédito sobre os primeiros autores negros do país. É um trabalho interessante e se torna ainda mais peculiar por um detalhe: o protagonista de todos esses feitos é um norte-americano que vive no estado de Iowa, no Centro-Oeste dos Estados Unidos. Entretanto, é um apaixonado pelo Brasil. Robert Krueger, 67 anos, esteve recentemente em Brasília e recebeu o Correio para falar dessa pesquisa sobre narrativas e textos de escravos brasileiros.

Todo o trabalho começou há 28 anos quando Robert, que é um brasilianista (estrangeiro especialista em Brasil) e professor de português e espanhol em universidades norte-americanas, resolveu desenvolver uma coletânea com a mulher, Alida Bakuzis, também uma especialista em língua hispânica e lusa, reunindo narrativas e textos de escravos brasileiros. Entre os destaques estão documentos sobre uma santa negra e um outro datado de 1558 abordando a castidade de uma índia também escravizada.

Ele lembra que já foram publicados escritos nesse sentido no Brasil, mas textos dispersos encontrados por historiadores e pesquisadores. “Um historiador aqui, outro ali conseguiram alguma coisa nesse sentido e, na maioria das vezes, publicaram só fragmentos. Nós temos a única coletânea desse assunto e ainda temos a intenção de fazer uma antologia bilíngue. Alguns documentos antigos foram realmente escritos pelos escravos, uma raridade, já que a maioria era analfabeta, outros são testamentos ou até testemunhos orais, inclusive, depoimentos colhidos, muitas vezes, sob tortura”, revela.

Racismo
A coletânea vai se chamar Milhões de vozes, umas páginas preciosas: As narrativas e textos dos escravos brasileiros e deve ser lançada ainda este ano. Robert conta que sempre lutou contra o racismo nos Estados Unidos, e que só no seu país existem cerca de 6 mil narrativas escravas. Dessa forma, sentia falta desse tipo de literatura no Brasil, até porque foi uma das nações que mais escravizaram no mundo. “O Brasil teve escravos africanos como nenhum outro país. Percorremos arquivos públicos de vários lugares, como em Lisboa (na Torre do Tombo), no Porto, em Évora, nos Estados Unidos, na Inglaterra e em várias cidades do Brasil, conseguimos documentos raríssimos. A gente transcreve e interpreta o documento porque, muitas vezes, alguns estão até ilegíveis”, comenta o pesquisador.

Ao todo, Robert e Alida conseguiram reunir aproximadamente 370 documentos, uma quantidade considerada pequena em comparação à de textos escravistas publicados nos Estados Unidos. Para o brasilianista, esse número abaixo do esperado se deve a dois motivos: ao fato de a abolição no Brasil ter sido tardia e devido ao catolicismo, que era a religião predominante entre os negros por aqui, não exigir que seus fiéis fossem alfabetizados. “Nos EUA, o movimento abolicionista foi liderado por protestantes. No protestantismo, a autoridade é um livro, a Bíblia. Já no catolicismo, não. Para ser um bom protestante é necessário saber ler. Por isso, a maioria dos abolicionistas norte-americanos era alfabetizada, porque eles eram protestantes. O oposto do Brasil”, explica. E acrescenta: “A segunda razão é que a abolição foi tardia, elitista e racista no Brasil. Os escravos não podiam participar das reuniões do movimento abolicionista. Muitos negros queriam participar, mas foram excluídos. Por isso se encontram tão poucos registros”.

Chicotealma: Liberdade Escrava.
Dramas dos escravos brasileiros. ©2009 Robert Krueger

Prefácio:

Todos os personagens que aparecem aos jovens da quadrilha RuaLua neste drama são verídicos, autênticas pessoas históricas--todos escravos afro-brasileiros, cujas histórias e vidas são de pura inspiração na nossa luta pela emancipação humana hoje em dia. Noventa porcento das palavras dos personagens são fiéis aos textos originais de sua própria autorização. Estes heróis na luta contra a escravidão sobre saem entre muitos outros cujas narrativas se juntam na primeira coleção de textos escritos ou ditados por escravos brasileiros e compilado pelo dramaturgo.

Entra a quadrilha RuaLua: TIAMBO, negro, forte, 17 anos, líder, maduro, cauteloso, protetor, bom coração; MANA, moça negra, 16 anos, astuta, generosa, protetora da menor Bemvinda; COMETA, rapaz branco, 15 anos, suspeitoso, distante, rebelde mas de bom intento; BEMVINDA, menina cabocla, 13 anos. Catando pelo lixo.

TIAMBO: (Entra, examinando o lixo, chama.) Ó gente, ó RuaLua, vem! Aqui tem hotel e merenda!

(Entram Mana com Bemvinda, e Cometa. Olham, examinam o lugar, o lixeiro e os cartões, comem coisas.)

MANA: Bom, aqui acampamos.

BEMVINDA: (Saboreando e imaginando) Quase me lembra a comida de casa.

(Todos comem, alguns em pé, famintos.)

COMETA: (Vigila a viela. Com seu “spray can” apaga uma pichação racista, queixando.) Sacanagem! (Pinta com vingança o logo do grupo.) Os “RUALUA--Uma Raça Humana Unida!” porra!

TIAMBO: (Mexendo nos cartões, descobre Mariano e Chatinha) Que diabo!!! (ficando para tras).

Mariano e Chatinha emergem, defensivos, cautelosos, e Tiambo e Cometa tomam posição de defesa.

MARIANO: ´Tá bem, moços. Somos de paz.

MANA: Calma, tem espaço p´ra todos.

TIAMBO: Relaxe. Vamos preparar as camas (começando a distribuir cartões).

MANA: Na minha terra valemos os velhos. Quantos anos têm a senhora?

CHATINHA: Olha, eu tenho cento e oito anos e três mezes e vinte e nove dia.

MARIANO: Eu, cento e vinte e dois.

TIAMBO: Mentira, porra!

MANA: Calma. Onde nasceu?

CHATINHA: Eu nasci nas mata. Os meus pais eram índio. A Minha mãe foi panhada a laço... pra vim pra fazenda do barão...pra fazê chibata. (Tira a chibata da cuía e dedilha as tiras)...quando matava boi, tirava aquelas couro porque a chibata tem que sê de couro cru...na fazenda eu fui escrava.

COMETA: (Incrédulo, sarcástico) E o avô?

MARIANO: Fui nascido e me criei no Paraná. Mas, depois da Libertação, nois não tinha nada, saímos sem nada...Andava que nem passarinho, voando.

BEMVINDA: Como nós na roça, sem nada. Como era a vida na fazenda, no tempo da escravidão?

MARIANO: Era trabaiando!! De cedo à noita. Era no enxadão. Comendo em cuia de purungo. E o feitor, ali, com bacaiau...o chicote.

Terceira cena: Rosa Egipcíaca, uma puta negra santa brasileira.

TIAMBO: E os feitores, eles romperam os seus ritos, seus batuques?

MARIANO: (matutando longinquamente, franzindo) Eles invadiam nossas cerimonias, festas. Faziam um baile. E os capangas, ali com revolvão, facanzão, chicote, ali juntos. E tiravam as roupas...cantava o bacaiau...fosse moça, fosse casada. E manda tirar a roupa de um homem ou de uma moça, e fazer dançar pelado, ali... É hoje que falo, e até não gosto nem de me alembrá.


Chatinha tira um punhado de mágica farinha de mandioca da cuia e o lança num arco no ar contra a parede o pó da farinha cintilante; imagens barrocas devagar aparecem na parede.

Três monjas ao redor da escrivaninha no convento do Recolhimento do Parto, preocupadas com papéis, relíquias, manuscritos, íconos religiosos.

MARIA TERESA: (Sentada e refletindo à escrivaninha, pluma na mão, recita em estilo de leiloeiro de escravos.) Rosa, uma pobrinha courana africana de seis anos, raptada numa agradável tarde de soneca...sobrevive a ínfama passagem do meio atlântico...aterrada no Rio em 1725, batizada Rosa, e vendida (agudo golpe de tambor)...

ROSA: Em compahia do meu primeiro senhor estive até a idade de catorze anos, o qual me deflorou e tratou comigo torpemente.

ANA: (Ditando para Maria Teresa) 1733, vendida (agudo golpe de tambor) como escrava prostituta da Dona Ana Garcês de Moraes, mãe do grande poeta Santa Rita Durão, em Infeccionado, Minas Gerais. Servindo de escrava venérea ficou poluída com o veneno do Sodoma e Gamora das Minas Gerais do ouro. (Pantomimos coreografam a orgiástica violação de Rosa.)

ROSA: Andando com escaldo tumor no ventre...até que, indo à capela, onde estava o meu próximo dono, Padre “Xota Diabos”, fazendo exorcismos.