O Investimento Social Privado e a questão racial No Brasil
Andrés A. Thompson*
O Investimento Social Privado (ISP) – ou simplesmente a filantropia - tem várias origens. Pode ser individual, familiar, comunitária ou empresarial. Em quase todas, responde a uma necessidade de “devolver” à sociedade parte do resultado de um processo de acúmulo de riqueza. Há, na maioria das vezes, um sentido altruísta nessa decisão, assim como também há questões ligadas à imagem, ao marketing e à estratégia empresarial.
No Brasil, os investimentos sociais privados de origem empresarial têm uma dimensão amplamente mais visível e relevante que as poucas e ainda tímidas ações filantrópicas familiares, individuais ou comunitárias. Isso se reflete no perfil dos associados do GIFE (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas), cujo número de organizações de cunho empresarial chega a 79%.
Falar de ISP hoje no Brasil é falar da empresa, do papel da empresa no desenvolvimento e, mais particularmente, sobre o papel da empresa no campo das questões sociais. Portanto, a relação entre o ISP e a chamada “responsabilidade social empresarial” (RSE) é muito estreita.
O censo feito pelo GIFE (2007-2008) sobre a ação social dos institutos e fundações que fazem filantropia, ou seja, que doam recursos financeiros a terceiros, revela duas questões que chamam muito a atenção. A primeira é que, ainda que o critério de financiamento esteja relacionado aos indicadores econômicos e sociais e de vulnerabilidade social, a questão racial não aparece como um tema que mereça investimentos. É de amplo conhecimento que há uma associação direta entre pobreza e raça, por exemplo, ou entre violência e raça.
De igual forma, ao analisar as principais áreas de investimento e atuação dos afiliados ao GIFE, a questão racial não figura nem mesmo entre as 12 primeiras ou principais. Surge daí a pergunta inevitável: por que será que, sendo a população negra (pretos e pardos) quase a metade dos brasileiros e que a essa população estejam relacionados os piores indicadores sociais e econômicos, as fundações e institutos empresariais não investem nas questões raciais? Será que é possível continuar pensando em ações sociais privadas que visam o desenvolvimento do Brasil sem pensar no desenvolvimento da população negra?
Foi diante dessas questões estruturantes que se organizou uma sessão especial no 6º Congresso GIFE, realizado no Rio de Janeiro, em abril. A primeira resposta foi clara e contundente e veio da diretora do GELEDÉS - Instituto da Mulher Negra, Sueli Carneiro: “sim, é possível pensar no desenvolvimento do Brasil sem considerar a população negra. Isso tem sido feito ao longo de toda a nossa história”.
Sendo assim, cabe tentar entender o por quê. Uma primeira hipótese é que a falta de investimento social privado com uma dimensão racial responde a um fator mais abrangente: a negação nas elites de que esse é um problema, ou seja, a invisibilidade da exclusão racial.
Os processos de miscigenação e mestiçagem ocorridos no Brasil, ao serem compreendidos como processos de integração biológica, têm ocultado a permanência do racismo como forma de exclusão social. A idéia simples e popular de que “somos todos misturados; somos, sobretudo, brasileiros” (que responde ao discurso dos defensores de que há democracia racial no Brasil) tem servido para disfarçar as diferenças apontadas. É fato que, neste país, a população negra está em desvantagem considerável em relação aos brancos em termos de condições de saúde, mortalidade, educação, emprego, renda e riqueza.
Também estão amplamente sub-representados entre aqueles que têm cargos públicos, nos níveis mais altos do meio empresarial, nas imagens da mídia e nas instituições de ensino superior. Esse quadro é uma desproporção exagerada em relação à participação dos negros na população em geral e no conjunto dos pobres brasileiros.
Em conseqüência, se queremos avançar no tratamento da questão racial no campo dos investidores sociais privados, temos que primeiro olhar para dentro, para nossas organizações e discursos, analisando-os criticamente. A Fundação Kellogg, por exemplo, além de focar toda a programação e os nossos investimentos no Brasil na questão da equidade racial, também estamos promovendo internamente a diversidade em nossos quadros. Porque se não reconhecemos que há um problema será impossível enfrentá-lo. E o racismo é, sim, um grande problema.
A segunda hipótese é que a invisibilidade da exclusão racial leva ao desconhecimento (deliberado ou não) e à ignorância sobre o seu significado. Não se trata só de um debate ético ou moral, e nem mesmo de uma defesa dos direitos humanos. É também um problema de política econômica e portanto central para o investimento social privado. O Brasil não pode chegar a ser a quinta economia do mundo nos próximos dez anos deixando para trás metade de sua população. É preciso aproveitar os talentos e capacidades da população negra para que os frutos do desenvolvimento econômico sejam para todos os brasileiros e não só para uma parcela.
Algumas fundações, institutos e empresas no Brasil já começaram a fazer essas perguntas e a explorar ações nesse campo. Um grupo de cerca de dez organizações, entre elas Fundação Kellogg, Fundação Ford, Fundação AVINA, Oxfam e UNICEF, vem se reunindo e trabalhando o tema coletivamente. O fato do GIFE ter incorporado a temática racial no programa do seu último congresso, e dessa mesa ter sido a mais bem avaliada de todo o evento, é mais uma prova de um incipiente interesse.
Mas ainda há muito a fazer. É um problema complexo e para enfrentá-lo é necessária uma grande gama de pessoas e instituições comprometidas em fazer do Brasil um país cujos direitos sejam acessíveis para todos. É responsabilidade de cada um- empresas, governos, indivíduos e sociedade civil – em seus diferentes âmbitos de atuação, garantir que ninguém seja excluído.
*Andrés A. Thompson é Diretor de Programas da Fundação W.K. Kellogg.
http://site.gife.org.br/artigo-o-investimento-social-privado-e-a-questao-racial-no-brasil-13788.asp
quinta-feira, 10 de junho de 2010
O Investimento Social Privado e a questão racial No Brasil
Postado por LUIZ FERNANDO MARTINS DA SILVA às 16:42 0 comentários
Marcadores: Discriminação, Notícias, Política
Nós somos os penetras
Nós somos os penetras
Avaliação do Usuário: / 0
PiorMelhor
Notícias
Por: ANTONIO POMPÊO
Na peça teatral "Esse perverso sonho de igualdade", de Joel Rufino dos Santos - que fala da revolta dos alfaiates ocorrida na Bahia do século XVII -, um dos revoltosos entra em desespero e grita: "O mundo é dos brancos, nós somos os penetras!"
É assim que, às vezes, os não brancos da nossa sociedade se sentem: excluídos na invisibilidade. Ao andarmos, por exemplo, pelo Congresso Nacional, símbolo de democracia, constatamos a invisibilidade. Aí, perguntamos: por que isso acontece?
Existe uma sutileza nesse olhar que só sente quem está do lado de cá. Da mesma maneira sentimos a intenção de apagar o passado escravocrata deste país. Não dá. São apenas 122 anos. As marcas estão aí para quem quiser ver. Milhares de negros não conseguiram atravessar o Atlântico, ficaram no meio do mar, almas perdidas e esquecidas e que clamam por um reconhecimento histórico. Impossível dizer que a escravidão não aconteceu.
Durante muitos anos vivemos sob o véu da democracia racial. Foram anos de luta até admitirmos a desigualdade e o racismo. Graças à atuação de uma geração do movimento negro brasileiro, conseguimos colocar a questão racial em pauta. No entanto, a resistência a discutirmos o assunto ocasionou um hiato muito grande no atendimento de nossas reivindicações.
O racismo é uma serpente de muitas cabeças. Damos um golpe no seu corpo e ela se multiplica. Precisamos lutar para que essa igualdade exista e que todos possam participar. Mas nem sempre tratar os iguais igualmente dá certo. Às vezes necessitamos apressar os acontecimentos, tomar medidas urgentes. Este é o caso das ações afirmativas. Só com elas os negros poderão participar ativamente da divisão econômica no Brasil. As nossas reivindicações estão em análise no STF. Se a decisão for favorável, avançaremos; se for contrária aos nossos interesses, acataremos.
Na década passada ficamos iludidos pela entrada no século XXI. Com certeza, na medicina, na ciência e outras modalidades entramos neste século. Mas estamos atrasados nas relações humanas. Parece que nada mudou. Os conflitos mundiais estão aí para provar. A grande novidade foi a eleição de um negro, algo até então impensável, para a presidência dos Estados Unidos. Esperamos que esses ventos de mudanças cheguem por aqui.
O Brasil está deixando de ser o país do futuro e entrando no clube das nações do presente. Mas, para entrar definitivamente no novo século, precisamos incorporar essa leva de 49% de negros e pardos. Sem isso não há como avançar e se tornar um país competitivo. Zumbi, Machado de Assis, Juliano Moreira,Tia Ciata, Lima Barreto, Antonio Rebouças, Cartola, Lélia Gonzales, Carolina de Jesus, Mãe Menininha do Gantois, Aleijadinho, Pixinguinha e tantos outros e outras clamam por uma verdadeira democracia racial.
Texto publicado no Globo de hoje. O autor é ator, diretor e presidente do Centro Brasileiro de Informação e Documentação do Artista Negro (Cidan).
http://oglobo.globo.com/pais/moreno/posts/2010/06/10/nos-somos-os-penetras-298738.asp
Postado por LUIZ FERNANDO MARTINS DA SILVA às 16:41 0 comentários
Marcadores: Discriminação, Eventos, Notícias
Senado pode votar Estatuto da Igualdade Racial na próxima semana
ESPECIAL
09/06/2010 - 11h55
Mediante acordo entre o ministro da Igualdade Racial, Elói Ferreira de Araújo, o presidente da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), Demóstenes Torres (DEM-GO), e o autor do projeto, Paulo Paim (PT-RS), o Senado pode deliberar na próxima quarta-feira (16) sobre o Estatuto da Igualdade Racial (PLS 213/03). Objeto de várias modificações, o texto é discutido há dez anos na Câmara e no Senado.
Diante de militantes de organizações de defesa dos direitos dos negros, que aguardavam a deliberação do projeto ainda nesta quarta-feira (9), o ministro explicou o acordo realizado. O texto será o primeiro item da pauta da CCJ na próxima quarta-feira e dali seguirá para o Plenário, mediante requerimento de urgência. A ideia é que seja votado pelo Plenário na mesma tarde.
- Enquanto governo, entendemos que esse é o melhor entendimento possível para a votação desse projeto, é o melhor acordo possível - disse Elói Ferreira.
Ao seu lado, Paulo Paim disse aos representantes de organizações ali presentes que esse não é o projeto ideal, mas que representa 90% do que os movimentos negros brasileiros desejam. O primeiro projeto concernente a esse assunto foi apresentado por Paulo Paim em 2000, quando ele ainda era deputado federal. Eleito senador, ele voltou a apresentar o projeto em 2003.
Embora Paim seja o autor do projeto original, o texto hoje em exame é fruto de um amplo debate com entidades da sociedade civil. Ao longo da tramitação da matéria, sugestões oriundas de diversos setores do movimento negro foram incorporadas, como as cotas para afrodescendentes nas universidades e o maior rigor contra a intolerância dirigida a cultos religiosos de origem africana.
Aprovado pelo Senado em novembro de 2005, o projeto do Estatuto da Igualdade Racial foi enviado à Câmara, onde foi acolhido em setembro de 2009, sob a forma de substitutivo, com várias alterações ao texto original, motivo pelo qual voltou para nova análise dos senadores.
Teresa Cardoso e Iara Altafin / Agência Senado
Projeto que cria estatuto tramita há sete anos
(Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)
http://www.senado.gov.br/agencia/verNoticia.aspx?codNoticia=102722&codAplicativo=2
Postado por LUIZ FERNANDO MARTINS DA SILVA às 16:37 0 comentários
Marcadores: Discriminação, Notícias, Política
quarta-feira, 9 de junho de 2010
Polícia afirma que há dois inquéritos contra pastor suspeito de pedofilia
09/06/2010 15h03 - Atualizado em 09/06/2010 15h03
Polícia afirma que há dois inquéritos contra pastor suspeito de pedofilia
Religioso foi preso em Bonsucesso nesta quarta (9).
Denúncia foi feita por pais de meninas que frequentavam a igreja.
Do G1 RJ
Padre é preso após tentativa de suborno Justiça decreta prisão de padre que teria algemado jovem para fazer sexo Pastor é preso acusado de homicídio, roubo, furto e estelionato Pastor suspeito de pedofilia é preso em igreja de favela carioca O pastor evangélico preso na manhã desta quarta (9) suspeito de pedofilia responde a dois inquéritos policiais, conforme informou a Polícia Civil nesta quarta.
De acordo com o delegado Marcos Cipriano, titular da Delegacia de Proteção a Criança e ao Adolescente (DPCA), onde o caso está sendo investigado, em um dos inquéritos o pastor é suspeito de pagar crianças para fotografá-las nuas e manter relações sexuais com elas.
No outro inquérito, ele é suspeito de levar menores para casa depois dos cultos para cometer abuso sexual.
O pastor foi preso em sua casa, na Favela do Mandela, em Bonsucesso, no subúrbio do Rio, em uma operação que envolveu 30 policiais da DPCA com apoio da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais).
Investigação
As investigações começaram há cerca de 1 ano, quando pais de crianças que frequentam a igreja procuraram a delegacia.
“Ele levava algumas crianças para casa depois do culto de sexta à noite, dizendo que as levaria para o culto na igreja no sábado de manhã”, explicou o delegado afirmando que ele vai responder por estupro de vulnerável.
As vítimas, todas meninas, passaram por exame de corpo de delito e psicológico.
http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2010/06/policia-afirma-que-ha-dois-inqueritos-contra-pastor-suspeito-de-pedofilia.html
Postado por LUIZ FERNANDO MARTINS DA SILVA às 16:16 0 comentários
terça-feira, 8 de junho de 2010
Igrejas ainda reproduzem padrões estéticos e comportamentais “europeizados”
ALC http://www.jornalahoraonline.com.br/igreja/integra.php?id=10879Igrejas ainda reproduzem padrões estéticos
e comportamentais “europeizados”A imagem idealizada de um cristão no Brasil é de uma pessoa branca,
com poder de decisão delegado aos homens
As igrejas cristãs reproduzem, em geral, discurso racista e sexista que impede a promoção de congregações realmente inclusivas, avaliaram participantes do III Encontro Afro-Cristão, reunido na Universidade Metodista de São Paulo (Umesp), de 28 a 30 de maio.
A imagem idealizada de um cristão no Brasil é de uma pessoa branca, com poder de decisão delegado aos homens. Muitos negros pertencentes a segmentos religiosos cristãos procuram adequar-se a essa imagem, embranquecendo sua estética, mente e espiritualidade, constataram participantes do encontro.
O evento tratou de questões pertinentes à auto-estima das negras e negros cristãos, suas características biológicas e psicológicas, a auto-aceitação e como são acolhidos na sociedade e no contexto das igrejas.
Reunidos em torno do tema “Gênero e Negritude – uma perspectiva cristã”, o encontro de São Paulo contou com a participação do presidente do Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI), bispo Julio Murray, que ministrou conferência sobre o tema “Mitos e desafios da masculinidade negra”.
Siomara Rita da Silva também palestrou no encontro, trazendo contribuições para o debate em torno da “Estética na perspectiva da saúde da mulher negra”.
“Estas duas temáticas trabalhadas pelo bispo Murray e por Siomara serviram como incentivo para que as comunidades cristãs possam discutir questões pertinentes à masculinidade e à feminilidade negra a partir de outro prisma”, anotou a professora Selenir Kronbauer, coordenadora do Grupo Identidade da Faculdades EST.
Como resultado imediato do encontro, os participantes pretendem atuar enquanto multiplicadores de ações direcionadas para o fortalecimento e a auto-estima da pessoa negra, incentivando a formação de grupos de estudos sobre o tema,
Atuaram como instituições parceiras do III Encontro Afro Cristão o Grupo Identidade, a Sociedade Cultural Missões Quilombo, de São Paulo, a Aliança de Negras e Negros Evangélicos do Brasil (ANNEB) e a Comissão Ecumênica Nacional de Combate ao Racismo (CENACORA).
Postado por LUIZ FERNANDO MARTINS DA SILVA às 21:22 0 comentários
Marcadores: Discriminação, Notícias, Religião