08/04/10 - 13h57 - Atualizado em 08/04/10 - 14h00
Tensão racial aumenta na África do Sul após a morte de líder ultradireitista
Johanesburgo, 8 abr (EFE).- Vários incidentes verbais ocorridos nas últimas horas evidenciaram o aumento da tensão racial na África do Sul após o assassinato do líder ultradireitista Eugene Terreblanche, que defendia a supremacia branca no país.
Os incidentes, acompanhados pelas televisões locais, servem como termômetro para medir a polarização entre os negros, quase 80% da população do país, e os brancos, 9%.
André Visagie, o secretário-geral do Movimento de Resistência Afrikáner (AWB), o partido de Terreblanche, teve que ser retirado do estúdio da televisão privada "eTv" ontem, após ameaçar à comentarista política negra Lebohang Pheko durante a gravação de um programa de debate.
Pheko perguntava insistentemente a Visagie sobre o "abuso dos trabalhadores negros" nas propriedades de fazendeiros brancos na África do Sul, o que incomodou o dirigente ultradireitista, que se levantou e foi embora.
Momentos depois, Visagie voltou com um ar ameaçador e, após uma discussão com o apresentador do programa, Chris Maroleng, se dirigiu a Pheko e antes de ir embora disse: "Ainda não acabei com você".
Visagie é o dirigente do AWB que afirmou que se "vingaria" após o funeral de Terreblanche, que será realizada amanhã em Ventersdorp. Ele foi assassinado no sábado passado em sua fazenda por dois empregados negros após uma discussão a respeito do trabalho.
Posteriormente, o porta-voz do AWB, Pieter Steyn, se retratou da ameaça e disse que o partido, constituído com um modelo paramilitar e de ideologia e simbolismo similar ao dos nazistas, não utilizaria a violência.
Por sua vez, o líder da liga juvenil do governista Congresso Nacional Africano (CNA), Julius Malema, insultou e expulsou hoje de uma entrevista coletiva na sede do partido em Johanesburgo um jornalista da rede britânica "BBC".
Malema tinha elogiado a reforma agrária do Zimbábue, que nos últimos anos levou o país à maior crise econômica, social e política de sua história, e atacou o Movimento para a Mudança Democrática (MDC) zimbabuano.
Malema disse em tom sarcástico que o MDC o criticava a partir de uma sede que dispõe na luxuosa zona de Sandton, em Johanesburgo. Nesse momento o jornalista Jonah Fisher, da "BBC", lembrou que ele vive no mesmo bairro, o que fez com que o político começasse a gritar e enfurecido o chamasse de "agente provocador bastardo e maldito".
O líder do CNA pediu aos gritos que a segurança do local tirasse a Fisher do lugar após dizer: "Ou você se comporta ou vai embora. Não venha aqui com suas tendências brancas".
Todos os partidos opositores, além de organizações religiosas e sociais, apontaram Malema como responsável pelo aumento da tensão racial no país por seus frequentes insultos de tom racista a políticos brancos, tanto opositores como governistas e aliados.
No começo do mês passado, o político começou a cantar em seus comícios um hino do CNA do período do apartheid que diz "mate os bóer, mate os fazendeiros", que finalmente dois tribunais o proibiram de cantar em público. EFE
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