Primeiro presidente negro dos EUA, Obama pediu pelo desarmamento nuclear e trabalhou para restabelecer o processo de paz no Oriente Médio desde que assumiu o posto em janeiro. "Muito raramente uma pessoa com a mesma amplitude de Obama capturou a atenção do mundo e deu ao seu povo a esperança de um futuro melhor", disse o comitê.
O presidente dos Estados Unidos criou um "ambiente novo para a política internacional. Graças a seus esforços, a diplomacia multilateral recuperou sua posição central e devolveu às Nações Unidas e outras instituições internacionais seu papel protagonista", assinalou o Instituto em Oslo.
"A visão de um mundo sem armas nucleares estimulou o desarmamento e as negociações para o controle de armamento. Graças à iniciativa de Obama, Estados Unidos estão desempenhando um papel mais construtivo para fazer frente aos desafios da mudança climática que enfrenta o mundo", acrescentou o Instituto.
Trata-se da primeira vez que recebe o Nobel da Paz um presidente dos Estados Unidos em exercício, depois que em 2002 lhe fora outorgado ao já ex-presidente Jimmy Carter, por seu trabalho mediador. O comitê deu o prêmio a Obama menos de nove meses após ele assumir a presidência.
Em 2007, seu compatriota, ex-candidato à Casa Branca e ex-vice-presidente Al Gore, também democrata, o recebeu por seu trabalho na luta contra a mudança climática.
Biografia
Nascido em Honolulu, no Havaí, em 4 de agosto de 1961, Obama é filho de Barack Obama Sr., um economista queniano educado em Harvard, e de Ann Dunham, nascida em Wichita, Kansas, Estado incrustado no coração dos EUA.
Os dois se conheceram quando estudavam na Universidade do Havaí, no fim da década de 50. Porém, com o divórcio de seus pais e o novo casamento de sua mãe, Obama deixou os Estados Unidos e foi morar com ela na Indonésia.
Durante o longo período que viveu no exterior, Obama diz ter aprendido a enxergar as extremas desigualdades do mundo. "Conscientizei-me das enormes diferenças de oportunidades que existem em muitos países. Soube quão pobres algumas pessoas podem ser, e percebi como a corrupção pode frustrar as oportunidades", afirmou.
Em sua biografia, Obama conta que voltou a morar no Havaí quando já era adolescente, época em que experimentou maconha e cocaína. Anos mais tarde, estudou Ciências Políticas na Universidade de Columbia e graduou-se em Direito em Harvard, onde foi o primeiro negro a ocupar o cargo de presidente da influente publicação “Harvard Law Review”.
Após terminar a faculdade, em 1983, Obama trabalhou em uma consultoria financeira de Nova York. Ele chegou a Chicago em 1985, como organizador do Projeto de Desenvolvimento das Comunidades, uma entidade ligada a uma igreja, que visava a melhoria das condições de vida em bairros pobres.
Carreira política
Obama iniciou a carreira política em Chicago, no Estado de Illinois, centro-oeste dos Estados Unidos, como advogado especialista em direitos civis. Foi professor de Direito Constitucional na Universidade de Chicago antes de ser eleito deputado estadual em Illinois, cargo que ocupou de 1996 a 2004, quando se candidatou ao Senado.
Depois de derrotar Blair Hull nas primárias democratas e o republicano Jack Ryan nas eleições gerais, Obama se tornou o terceiro senador negro da história dos Estados Unidos. No Senado, mostrou-se um legislador habilidoso e capaz de trabalhar com os membros dos dois partidos mantendo firme seu perfil de liberal moderado.
Batizado por alguns como "a grande esperança branca", por encarnar o sonho de reconciliação num país com profundas divisões raciais, o senador ganhou relevância no panorama político americano durante a convenção nacional do Partido Democrata em Boston, em 2004.
"Não existem Estados Unidos negros e Estados Unidos brancos, Estados Unidos latinos e Estados Unidos asiáticos. Somos um único povo, todos jurando fidelidade à bandeira estrelada, todos defendendo os Estados Unidos da América", exclamou então, arrancando aplausos da multidão.
Ajudado por um carisma irresistível e um enorme sorriso, Obama ganhou uma popularidade digna de uma estrela do rock. Seus dois livros autobiográficos, "The Audacity of Hope" ("A audácia da esperança") e "Dreams from my father" ("Sonhos do meu pai") se transformaram em best-sellers nos EUA e em vários países do mundo, inclusive no Brasil.
Barack Obama em frente a bandeira da ONU / Reuters
Caminho para a presidência
Obama anunciou sua candidatura presidencial em 10 de fevereiro de 2007. Inicialmente, a senadora por Nova York Hillary Clinton era considerada favorita para ficar com a candidatura democrata.
Em janeiro de 2008, Obama venceu a primeira primária democrata, em Iowa, mas só em junho, quando os últimos Estados votaram, ele garantiu a indicação.
Na eleição geral de 4 de novembro, Obama conquistou 53% dos votos, derrotando seu rival republicano, o senador John McCain, e tornando-se o primeiro presidente negro dos EUA.
Um longo ano
Em abril deste ano, num discurso em Praga, Obama lançou um plano para livrar o mundo das armas nucleares, disse que os EUA se empenhariam em reduzir o papel das armas nucleares na sua segurança nacional e pediu aos outros países que fizessem o mesmo.
O plano previa a preservação de um "arsenal seguro e efetivo" para dissuadir adversários enquanto tais armas existirem, além da negociação de um novo tratado de redução de arsenais com a Rússia.
Em junho, em discurso no Cairo, Obama disse aos muçulmanos do mundo que extremistas violentos haviam explorado as tensões entre o Islã e o Ocidente, e que os muçulmanos não eram parte do problema, e sim da promoção da paz.
Em julho, Obama disse aos africanos que a ajuda ocidental deve ser acompanhada de boa governança, e exortou os países do continente a assumir maior responsabilidade no combate a guerras, à corrupção e a doenças.
As declarações em sua primeira visita presidencial à África Subsaariana foram feitas em Gana, um país estável e democrático que segundo Obama deveria servir de modelo para o resto da África.
No mês passado, Obama fez seu primeiro pronunciamento à Assembleia Geral da ONU. Ele pressionou líderes mundiais a confrontarem diversos desafios, como a guerra no Afeganistão e os impasses nucleares com o Irã e a Coreia do Norte, em vez de esperarem que os EUA façam tudo sozinhos.
Também em setembro, Obama presidiu uma histórica reunião do Conselho de Segurança da ONU, que aprovou por unanimidade uma resolução dos EUA que propõe o fim dos arsenais nucleares.