sábado, 10 de outubro de 2009

Supervia: Duas ações exigem indenização milionária


Rio - O quebra-quebra e o tumulto nas estações de trem esta semana foram parar na Justiça.
O promotor Carlos Andrezano, da Promotoria de Defesa do Consumidor, vai entrar na próxima terça-feira com uma ação civil pública contra a SuperVia. O promotor solicita a formação de um fundo de restituição de bens lesados no valor de R$ 1 milhão, para cobrir futuras indenizações.
Incidente na Supervia de quinta-feira pode ter sido sabotagem. O que você acha disso?Supervia não tem culpaPoderiam ter evitadoNão foi sabotagem
O fundo servirá para garantir recursos a usuários que ganharem ações por danos morais. Na petição, Andrezano incluiu falhas no sistema operacional dos trens desde 14 de julho do ano passado. “O fato de garantir a gratuidade nas passagens um dia depois não exime a empresa de culpa; afinal, o dano já foi causado”, explicou.
O promotor reuniu mais quatro incidentes, além dos que ocorreram ao longo desta semana.
ALERJ VAI INVESTIGAR
No Fórum de Nova Iguaçu, o prefeito Lindberg Farias deu entrada no processo contra a SuperVia. A ação civil pública exige que a concessionária devolva imediatamente o valor integral da passagem em casos de pane, paralisação ou defeito nos serviços. A ação pede R$ 2 milhões de indenização e a criação de um plano de contingência,
no prazo de 30 dias, para preservar a segurança do usuário em futuros tumultos. O deputado estadual Gilberto Palmares (PT) disse que vai propor a criação de uma comissão especial na Alerj para apurar os incidentes.
Milícia das vans suspeita de sabotar os trens

A Delegacia de Defesa dos Serviços Delegados investiga o envolvimento de milicianos ligados ao transporte alternativo no ato de vandalismo que parou os trens da SuperVia na tarde de quinta-feira e provocou novo tumulto entre os passageiros. O grupo é acusado de atirar dois paralelepípedos e nove pedras do alto de viaduto na rede elétrica da via férrea. O secretário estadual de Transporte, Julio Lopes, crê que o crime é em represália às licitações que organizaram os trajetos intermunicipais de vans. Ontem, pelo terceiro dia consecutivo, houve problemas nos trens da SuperVia. Mas não houve tumulto.

“Nós sabemos o que tem por trás disso, são baderneiros e pessoas com interesses políticos. Não é assim que se estabelece o debate político. Isso é uma enorme irresponsabilidade. Isso é uma forma de terrorismo. Estão usando a população inocente e trabalhadora”, desabafou o governador Sérgio Cabral. Pelo menos um topiqueiro foi visto filmando e entrevistando passageiros durante o tumulto na Central. “Esse pessoal tem interesse que a ferrovia entre em colapso e está usando a dificuldade do sistema para atrapalhar mais ainda a população”, observou Lopes.
Segundo o delegado Eduardo de Freitas, os paralelepípedos e as pedras foram recolhidos nos trilhos. Eles foram arremessados do alto do Viaduto 31 de Março, próximo ao Sambódromo, e à Central. Os vândalos atingiram o pantógrafo, haste que transmite energia para a composição, de um dos trens. O instrumento se soltou, fios encostaram uns nos outros, o que provocou um curto-circuito. Resultado: todas as partidas da Central foram suspensas por 40 minutos, policiais do Batalhão de Choque atiraram balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo em passageiros, e o sistema só voltou ao normal duas horas e meia depois. “Já sabemos que foi ação intencional. Precisamos localizar testemunhas e saber se foi um ato de vandalismo isolado ou sabotagem orquestrada”, explicou Freitas.
REAÇÃO MUITO RÁPIDA LEVANTA SUSPEITA
Outro detalhe que reforça a suspeita de motivação política é que, apenas 7 minutos após a interrupção da circulação dos trens na quinta-feira, um grupo começou a insuflar os passageiros a protestar, segundo informações obtidas pela polícia. Já o chefe do Estado-Maior da PM, coronel Carlos Eduardo Milan, vai enviar dossiê sobre a confusão nas estações de Mesquita, Nilópolis, Deodoro e Nova Iguaçu, ocorridas quarta-feira, ao delegado Eduardo Freitas. Há fotos que podem ajudar na identificação dos criminosos que promoveram a depredação e até saques nas bilheterias no primeiro dia de revolta. O documento da PM também assinala erros cometidos pela SuperVia, como a demora em avisar aos usuários sobre as falhas e também o estado de conservação dos vagões que circulam no ramal de Japeri.Ontem, a SuperVia concluiu o levantamento dos equipamentos destruídos quarta-feira: 10 catracas e dois torniquetes foram arrancados, além de vidros quebrados, armários, quadros de avisos, ventiladores, microfones, rádios e caixas eletrônicos arrebentados. Em Nilópolis, até três cadeiras, três ventiladores e um purificador de água foram roubados. Lá e em Nova Iguaçu, foram levados dinheiro, cartões e telefones. Um vendedor de balas foi detido ontem revendendo 11 bilhetes da SuperVia a R$ 1 cada. A polícia investiga se os tíquetes são fruto do saque de quarta-feira.
Novo atraso e estações fechadas por 10 minutos
Houve princípio de confusão na estação de Campo Grande devido a pane em subestação no ramal de Santa Cruz, às 7h. Nessa linha e na de Deodoro, os trens atrasaram até 20 minutos, tempo que o sistema levou para ser normalizado. Para evitar o acúmulo de passageiros, 11 estações, de Bangu a Santa Cruz, fecharam por 10 minutos. PMs de três batalhões que reforçavam a segurança nas estações desde a madrugada conseguiram evitar novo quebra-quebra. O policiamento nas paradas de Mesquita, Nilópolis, Deodoro e Central continuará reforçado por tempo indeterminado. “Meu chefe não quer saber se os trens atrasam. A SuperVia precisa respeitar mais os horários”, queixou-se a comerciante Fátima Vicente, 50 anos.
Reportagens de Amanda Pinheiro, Geraldo Perelo, Ricardo Albuquerque e Thiago Prado

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