terça-feira, 14 de julho de 2009

Gueltas integram remuneração mesmo que sejam pagas por fornecedores

13/07/2009 - (Notícias TRT - 3ª Região)
Confirmando a decisão de 1º grau, a 9ª Turma do TRT-MG negou provimento ao recurso da reclamada, por considerar que as gueltas (bonificação concedida ao vendedor como incentivo a vendas de determinada marca ou produto comercializado pela empresa) constituem típica contraprestação pelo serviço realizado, assemelhando-se às gorjetas. Neste sentido, nada importa o fato de serem pagas por fornecedores, já que são repassadas pela própria empregadora. Por isso, decidiram os julgadores que a parcela deve integrar o salário do empregado, com o pagamento dos reflexos correspondentes sobre outras verbas.
Em sua defesa, a reclamada alegou que as gueltas não possuíam natureza salarial, pois eram pagas pelo representante da empresa fornecedora dos produtos. Inclusive, os depoimentos das testemunhas demonstraram que houve pagamento extrafolha. O relator do recurso, desembargador Ricardo Antônio Mohallem, discordou desses argumentos, salientando que as gueltas possuem verdadeira "alma" de comissão, devendo integrar a remuneração para efeito das incidências pretendidas.
Portanto, entende o relator que o pagamento da parcela por terceiros não impede a sua integração e, em razão do desempenho das tarefas e obrigações do contrato de trabalho, guardam a mesma natureza jurídica das gorjetas. "Tal hipótese é semelhante à da gorjeta, cujo conteúdo oneroso se funda na oportunidade concedida ao reclamante para recebê-la. Essa espécie de comissão se integra ao salário do empregado. Embora paga indiretamente, decorre dos serviços prestados ao empregador que, ao final, acaba beneficiado pelas vendas superiores" - ponderou o magistrado, mantendo a sentença.

(RO nº 01161-2008-103-03-00-7)

Negros têm só 3,5% dos cargos de chefia

23 de Junho de 2008 às 16h 00m
· Jessica
· Arquivado sob Geral
Mercado de trabalho, 120 anos depois da Lei Áurea, oferece oportunidades restritas de ascensão na hierarquia das empresas
Preconceito e acesso limitado à educação são apontados como grandes barreiras para os negros, que são 49,5% da população
DENYSE GODOY
Quem olha ao redor no seu ambiente de trabalho constata que há muito poucos colegas negros. Chefes, então, são raríssimos. Se não surpreendem, por mostrarem uma realidade facilmente perceptível, os números a respeito da presença de negros em cargos de nível executivo nas maiores companhias brasileiras -apenas 3,5%, segundo pesquisa do Ibope com o Instituto Ethos- chamam a atenção para um cenário que empresas e profissionais se acostumaram a tratar com naturalidade. Mas os negros são 49,5% da população do país. “Eis o resumo da história desde a Lei Áurea, que depois de amanhã completa 120 anos. Mantivemos intacta uma estrutura excludente e discriminatória com base na cor da pele. O topo da hierarquia das firmas não é diferente de outros lugares de prestígio e status na nossa sociedade”, diz José Vicente, presidente da ONG Afrobras e reitor da Unipalmares (Universidade da Cidadania Zumbi dos Palmares). “A cultura corporativa de um mundo homogêneo vai se reproduzindo. Como os espaços de convivência públicos e familiares são predominantemente brancos, quando é preciso escolher um novo membro para o grupo, as pessoas acabam buscando dentro do espaço que conhecem e no qual se inserem”, completa Cláudio Dedecca, professor do Instituto de Economia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Para as mulheres negras, a situação é ainda mais cruel, já que elas sofrem um duplo preconceito. De acordo com o levantamento Ibope/Instituto Ethos, feito em 2007, não chega a 0,5% a porcentagem de negras em cargos executivos. “As que rompem as barreiras não conseguem se incluir no cotidiano. É muito grave”, frisa Eliana Maria Custódio, coordenadora-executiva do Geledés (Instituto da Mulher Negra). Na opinião dos especialistas, uma das explicações para o fato de os negros não alcançarem postos mais altos dentro das corporações é o seu limitado acesso a educação básica e superior de qualidade, o que os impede de entrar nas empresas em qualquer tipo de posto. Comparando com outros candidatos, que estudaram em escola particular, cursaram universidades de elite e aprenderam vários idiomas, eles ficam em enorme desvantagem. A outra razão é o preconceito velado. “O senso comum é que o negro não tem qualificação ou competência intelectual. Assim ele é visto”, resume Vicente. Executivos negros ouvidos pela Folha contam não terem sido alvo de manifestações explícitas de discriminação -o que ocorre com freqüência, dizem, são estranhamentos por parte de colegas e clientes, desacostumados a conviver com eles. Consultorias de recrutamento e seleção e os departamentos de recursos humanos das empresas sustentam que não existe nenhuma espécie de filtragem dos candidatos por cor. “Isso não é mencionado nos currículos. Os interessados são chamados pela sua qualificação. Só quando adentram a sala é que sabemos se são verdes ou azuis”, afirma Carlos Diz, diretor do Instituto de Liderança Executiva. “Antes, fui “head- hunter” [”caçador de talentos”] por dez anos. Devo ter entrevistado cerca de 6.000 pessoas. Houve apenas um negro.” As críticas de que as firmas de seleção não escolhem negros porque os avaliadores são brancos não fazem sentido, diz Fátima Zorzato, presidente da consultoria Russell Reynolds no Brasil. “Basta dizer que o meu chefe, baseado em Nova York, é um afro-americano.”
Mudanças “Os números são críticos nas 500 maiores empresas. Podemos imaginar, então, um quadro ainda mais pessimista no restante”, comenta Hélio Gastaldi, diretor de atendimento e planejamento do Ibope. Pesquisas como a que ele coordena estão servindo de alerta para que as companhias tomem alguma atitude a fim de começar a corrigir as distorções. “O objetivo do levantamento é trazer uma informação inconteste. Geralmente, os gestores fazem uma avaliação mais positiva do que está acontecendo: 34% responderam sim, quando questionados se a proporção de negros no patamar executivo é adequada. Confrontados com dados objetivos, eles são obrigados a fazer uma reflexão.” Na opinião de Gastaldi, isso é porque o brasileiro em qualquer assunto tem facilidade de fazer críticas no coletivo, mas não reconhece os problemas nele próprio. Entretanto, Vicente aponta que está tendo início uma transformação nesse campo: “A globalização é uma manifestação da diversidade da qual não dá para escapar. As empresas precisam se adequar, pois qualquer pessoa minimamente esclarecida começa a perceber as incongruências e as pressiona. O Brasil não pode ser um país multicultural para quem vê de fora e branco por dentro.”
Mercado de trabalho, 120 anos depois da Lei Áurea, oferece oportunidades restritas de ascensão na hierarquia das empresas
Preconceito e acesso limitado à educação são apontados como grandes barreiras para os negros, que são 49,5% da população
Carol Guedes - 20.mar.08/Folha Imagem
JOSÉ VICENTE presidente da Afrobras e reitor da Unipalmares
DENYSE GODOY DA REPORTAGEM LOCAL
Quem olha ao redor no seu ambiente de trabalho constata que há muito poucos colegas negros. Chefes, então, são raríssimos. Se não surpreendem, por mostrarem uma realidade facilmente perceptível, os números a respeito da presença de negros em cargos de nível executivo nas maiores companhias brasileiras -apenas 3,5%, segundo pesquisa do Ibope com o Instituto Ethos- chamam a atenção para um cenário que empresas e profissionais se acostumaram a tratar com naturalidade. Mas os negros são 49,5% da população do país. “Eis o resumo da história desde a Lei Áurea, que depois de amanhã completa 120 anos. Mantivemos intacta uma estrutura excludente e discriminatória com base na cor da pele. O topo da hierarquia das firmas não é diferente de outros lugares de prestígio e status na nossa sociedade”, diz José Vicente, presidente da ONG Afrobras e reitor da Unipalmares (Universidade da Cidadania Zumbi dos Palmares). “A cultura corporativa de um mundo homogêneo vai se reproduzindo. Como os espaços de convivência públicos e familiares são predominantemente brancos, quando é preciso escolher um novo membro para o grupo, as pessoas acabam buscando dentro do espaço que conhecem e no qual se inserem”, completa Cláudio Dedecca, professor do Instituto de Economia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Para as mulheres negras, a situação é ainda mais cruel, já que elas sofrem um duplo preconceito. De acordo com o levantamento Ibope/Instituto Ethos, feito em 2007, não chega a 0,5% a porcentagem de negras em cargos executivos. “As que rompem as barreiras não conseguem se incluir no cotidiano. É muito grave”, frisa Eliana Maria Custódio, coordenadora-executiva do Geledés (Instituto da Mulher Negra). Na opinião dos especialistas, uma das explicações para o fato de os negros não alcançarem postos mais altos dentro das corporações é o seu limitado acesso a educação básica e superior de qualidade, o que os impede de entrar nas empresas em qualquer tipo de posto. Comparando com outros candidatos, que estudaram em escola particular, cursaram universidades de elite e aprenderam vários idiomas, eles ficam em enorme desvantagem. A outra razão é o preconceito velado. “O senso comum é que o negro não tem qualificação ou competência intelectual. Assim ele é visto”, resume Vicente. Executivos negros ouvidos pela Folha contam não terem sido alvo de manifestações explícitas de discriminação -o que ocorre com freqüência, dizem, são estranhamentos por parte de colegas e clientes, desacostumados a conviver com eles. Consultorias de recrutamento e seleção e os departamentos de recursos humanos das empresas sustentam que não existe nenhuma espécie de filtragem dos candidatos por cor. “Isso não é mencionado nos currículos. Os interessados são chamados pela sua qualificação. Só quando adentram a sala é que sabemos se são verdes ou azuis”, afirma Carlos Diz, diretor do Instituto de Liderança Executiva. “Antes, fui “head- hunter” [”caçador de talentos”] por dez anos. Devo ter entrevistado cerca de 6.000 pessoas. Houve apenas um negro.” As críticas de que as firmas de seleção não escolhem negros porque os avaliadores são brancos não fazem sentido, diz Fátima Zorzato, presidente da consultoria Russell Reynolds no Brasil. “Basta dizer que o meu chefe, baseado em Nova York, é um afro-americano.”
Mudanças “Os números são críticos nas 500 maiores empresas. Podemos imaginar, então, um quadro ainda mais pessimista no restante”, comenta Hélio Gastaldi, diretor de atendimento e planejamento do Ibope. Pesquisas como a que ele coordena estão servindo de alerta para que as companhias tomem alguma atitude a fim de começar a corrigir as distorções. “O objetivo do levantamento é trazer uma informação inconteste. Geralmente, os gestores fazem uma avaliação mais positiva do que está acontecendo: 34% responderam sim, quando questionados se a proporção de negros no patamar executivo é adequada. Confrontados com dados objetivos, eles são obrigados a fazer uma reflexão.” Na opinião de Gastaldi, isso é porque o brasileiro em qualquer assunto tem facilidade de fazer críticas no coletivo, mas não reconhece os problemas nele próprio. Entretanto, Vicente aponta que está tendo início uma transformação nesse campo: “A globalização é uma manifestação da diversidade da qual não dá para escapar. As empresas precisam se adequar, pois qualquer pessoa minimamente esclarecida começa a perceber as incongruências e as pressiona. O Brasil não pode ser um país multicultural para quem vê de fora e branco por dentro.”
“Folha de S. Paulo dinheiro”

Cinquenta anos depois, as histórias do Orfeu Negro


Notícias /Geral
Variedades domingo, 12 de julho de 2009 - 11h11
Breno Mello, jogador de futebol que virou ator, acabou mais conhecido pelo seu personagem.
Eduardo Andrejew / Da Redação - ABC Domingo
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Novo Hamburgo - Há 50 anos, um filme se transformava em fenômeno de bilheteria. Orfeu Negro (Orfeu do Carnaval, no Brasil), uma surpreendente adaptação da tragédia grega para os morros cariocas, ganhava prêmios e arrastava multidões para os cinemas em todo o mundo. O longa-metragem do francês Marcel Camus também mudaria a vida do gaúcho Breno Mello, um jogador de futebol que virou ator. A partir dali seria mais conhecido como o próprio Orfeu. Mas o jubileu de ouro do filme francês que ajudou a divulgar o Brasil no exterior, ocorre sem a presença dos personagens principais. Há exatamente um ano, Breno era sepultado no cemitério João XXIII, em Porto Alegre – havia falecido no dia anterior em sua casa, em Porto Alegre. Tinha 76 anos. Após dois casamentos, deixava cinco filhos, 12 netos e cinco bisnetos. A atriz norte-americana Marpessa Down, que interpretou Eurídice, morreu pouco depois, em 25 de agosto, aos 74 anos. Ambos tiveram em Orfeu o momento mais marcante de suas carreiras. MÚSICAEm 1959, o filme conquistou a Palma de Ouro em Cannes. No ano seguinte ganhou o Oscar e o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro. Breno viveu seus dias de celebridade. Mas não enriqueceu e sequer foi convidado para participar das cerimônias de premiação. O Festival deCannes só viria a homenageá-lo em 2005, quando já havia abandonado a carreira de ator e vivia de maneira modesta. Mas quem convivia com Breno nos últimos anos, não descreve um homem amargurado. "Ele dizia: estou feliz, vivendo como eu quero", conta Paulo Santos Mello, 54 anos, um dos filhos. Por conta disso, vale a pena assistir ao filme e rever Breno em seu melhor momento no cinema. Orfeu Negro tornou-se um clássico por diversos motivos. Um dos principais é a trilha sonora. A obra foi adaptada diretamente da peça Orfeu da Conceição, escrita pelo poeta Vinicius de Moraes e musicada por Tom Jobim. Canções como Manhã de Carnaval e A Felicidade foram sucessos em vários países. Também estão lá as cores de um Rio de Janeiro alegre e nostálgico. Imagens que Breno Mello ajudou a eternizar.Dos gramados para as telasO encontro de Breno Mello com Orfeu foi quase acidental. Antes disso, ele estava empenhado em firmar-se na carreira do futebol. No Rio Grande do Sul, havia jogado pelo Renner. Em São Paulo, teve passagem pelo Santos e travou amizade com um promissor garoto de 15 anos conhecido como Pelé. Logo depois, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro para atuar como meia-direta do Fluminense. Breno caminhava na rua quando foi abordado por José Leventhal, amigo de Marcel Camus. Foi convidado a fazer testes para o papel principal de Orfeu Negro. Acabou superando pelo menos 300 candidatos. Ainda atuou em mais seis filmes: La Rata del Puerto (1962), O Santo Módico (1963), Os Vencidos (1964), Negrinho do Pastoreio (1972), Prisioneiro do Rio (1988) e Alva Paixão (1994). De volta ao Rio Grande do Sul, morou um período em Novo Hamburgo, onde trabalhou inclusive no Grupo Sinos como contato publicitário.Confira reportagem completa na edição impressa do ABC Domingo
Foto: Divulgação

Disparidade no emprego entre brancos e negros cresce em NY


NY Times
Segunda, 13 de julho de 2009, 11h45

Patrick McGeehan
Mathew Warren

O desemprego entre os negros da cidade de Nova York cresceu muito mais do que entre os brancos, e a disparidade parece estar aumentando em ritmo acelerado, de acordo com novos estudos sobre os dados de desemprego.
Embora os brancos de Nova York tenham sofrido uma alta constante de desemprego entre o primeiro trimestre de 2008 e os três meses iniciais deste ano, o número de negros desempregados subiu quatro vezes mais rápido, de acordo com um relatório da controladoria das finanças municipais em um relatório que está sendo divulgado nesta segunda-feira.
Pelo final de março, o número de desempregados negros da cidade superava em 80 mil o total de brancos desempregados, de acordo com o estudo, ainda que a população branca do município seja 1,5 milhão de pessoas maior.
Os economistas dizem que não sabem ao certo porque o número de negros que estão perdendo seus empregos é tão mais alto, especialmente em um período no qual boa proporção das demissões realizadas na cidade acontece em setores onde eles não estão bem representados, como as finanças e as profissões liberais. Mas nesses setores, sugerem os economistas, os negros talvez tivessem posições hierárquicas inferiores quando os cortes ocorreram. E os negros também têm representação desproporcionalmente elevada nos setores de varejo e outros setores de serviço que vêm sofrendo problemas devido ao corte do consumo.
"Os negros foram atingidos de maneira desproporcional", disse Frank Braconi, o economista-chefe na controladoria municipal. "O padrão usual é que o índice de desemprego entre os negros seja duas vezes mais alto que entre os brancos não hispânicos, mas a disparidade se ampliou de maneira substancial na cidade, ao longo do ano passado".
Historicamente, o índice de desemprego entre os negros sempre foi mais elevado do que entre os brancos. Mas desde o começo da recessão, em dezembro de 2007, a alta geral foi de 4,6%, o que elevou o desemprego para mais de 15% em abril. Os números do desemprego entre os negros se tornaram uma questão importante a ponto de o presidente Barack Obama ser perguntado, em entrevista coletiva na Casa Branca um mês atrás, se ele poderia fazer alguma coisa para "deter a crise do desemprego negro".
O presidente disse que para ajudar qualquer comunidade, sejam os negros, os latinos ou os asiáticos, ele precisava "recolocar a economia toda em movimento".
"Caso não o façamos", declarou, "não terei condições de ajudar ninguém". Nacionalmente, a disparidade entre os índices de desemprego para os negros e os brancos vinha crescendo lentamente. No primeiro trimestre de 2008, o desemprego entre os negros era de 8,9% ante 4,8% para os brancos; no primeiro trimestre de 2009, havia subido para 13,6% entre os negros e para 8,2% entre os brancos.
Mas os especialistas na questão e as autoridades expressam preocupação quanto à tendência muito mais grave em Nova York, onde o índice municipal de desemprego atingiu seu mais elevado total em 12 anos, em maio, com 9%.
O índice de desemprego entre os negros da cidade subiu a 14,7% no primeiro trimestre, ante 5,7% no primeiro trimestre de 2008. No mesmo período, o desemprego entre os brancos de Nova York subiu apenas moderadamente, de 3% para 3,7%, o que sugere que a probabilidade de desemprego entre os negros de Nova York é quatro vezes maior que entre os brancos.
Em um centro de trabalho no Bronx, sexta-feira, Ahmad Scruggs, 32 anos, disse que foi demitido em abril de seu posto no serviço de atendimento aos clientes de um banco de Nova York que teve de cortar funcionários devido ao alto índice de inadimplência hipotecária. Scruggs, que é negro e vive em Soundview, um distrito do Bronx, diz não acreditar que sua demissão tenha ocorrido por motivos raciais, mas afirmou que ainda assim os cortes parecem ter acontecido de maneira diferenciada entre os brancos e os membros de minorias.
"Meu departamento era quase todo negro ou hispânico", disse Scruggs. "Os executivos eram quase todos brancos, e não foram demitidos. Seria de imaginar que eles começassem a cortar os excessos por cima e não por baixo, porque são os funcionários de baixos salários que realizam a maior parte do trabalho".
Scruggs, que é casado e tem três filhos, diz que o pacote de rescisão equivalente a três meses de salário pago pelo banco já se esgotou, e ele está tentando prorrogar os seus benefícios-desemprego para que possa fazer um curso que permita que trabalhe como técnico cirúrgico.
"Talvez seja melhor investir em mim no próximo ano e só depois voltar à força de trabalho", disse.
No mês passado, Roger Richardson, que vive em Mott Haven, também no Bronx, pediu demissão de seu emprego em uma loja Home Depot depois que sua jornada de trabalho foi reduzida à menos da metade. "Eu tinha de encontrar outra coisa, porque minhas contas se tornaram mais altas que o meu salário", disse.
A recessão também agravou o desemprego em Nova York para outros grupos étnicos, ainda que em nenhum caso de maneira tão acentuada quanto entre os negros. Entre os hispânicos, o desemprego subiu a 9,3% no primeiro trimestre de 2009, ante 6,4% no período em 2008; entre os asiáticos e outras classificações étnicas, o total subiu de 5,5% para 7,1% ao longo do mesmo período.
David Jones, presidente-executivo da Community Service Society, que defende os trabalhadores de baixa renda, disse que "não acredito que essa recessão tenha atingido a todos igualmente".
"Os trabalhadores de baixa renda e os trabalhadores menos habilitados estão realmente sofrendo golpes pesados", disse. "Eles são considerados dispensáveis. Perdem o emprego muito mais rápido, especialmente no varejo, entre as pessoas que carregam caixas e fazem trabalhos braçais. Nesse setor, existem muitos trabalhadores negros".
A indústria, o setor que perdeu mais empregos entre as áreas econômicas do município, também se havia tornado um baluarte para os negros, diz Jones. Os empregos públicos são ainda outra fonte primária de trabalho sólido e estável para muitos negros da cidade, acrescentou; mas esse setor também sofreu cortes nos últimos meses, porque a queda na arrecadação tributária forçou a prefeitura a reduzir seu orçamento.
James Parrott, economista chefe do Instituto de Política Fiscal, um grupo de pesquisa de inclinações liberais, apontou que os empregos no correio da cidade haviam sido reduzidos em cerca de dois mil postos de trabalho no período - muitos dos quais anteriormente ocupados por negros. As autoridades municipais vêm expressando preocupação com as demissões em massa que acontecem em setores de altos salários como as finanças, advocacia, consultoria e mídia, mas esses cortes respondem por menos da metade dos 108 mil empregos perdidos na cidade de Nova York desde que o nível de emprego local atingiu seu mais recente pico, em agosto do ano passado.
Ao comparar dados quanto aos 12 meses encerrados em 30 de abril com números referentes ao mesmo período um ano antes, Parrott constatou que os brancos de Nova York haviam ampliado seu número de empregos e que os negros e outros componentes de minorias haviam reduzido o seu. O objetivo dele era comparar a recessão com o final do boom de emprego precedente, ainda que o total de empregos na cidade não tenha começado a cair até depois do colapso do banco de investimento Lehman Brothers, em setembro, quase nove meses depois que a recessão começou a se fazer sentir em outras partes do país.
Ainda assim, a análise conduzida por Parrott oferece um quadro sombrio sobre a desigualdade na distribuição do desemprego entre os brancos e os negros e demais minorias. Os números que ele compilou demonstram que os brancos conquistaram 130 mil empregos adicionais nos 12 meses encerrados em 30 de abril, com relação ao período de 12 meses precedentes, enquanto, no mesmo período, os negros, os hispânicos e os asiáticos todos registraram quedas de emprego. Para os negros, a queda foi de 17 mil empregos; entre os hispânicos, chegou a 26 mil; e para os asiáticos e outros grupos étnicos ela ficou em 18 mil, de acordo com os dados.
"Trata-se de um quadro de emprego em preto e branco", afirmou Parrott. "É como a diferença entre a noite e o dia, mas prolongada por 12 meses. Houve uma virada real na composição racial do mercado de trabalho de Nova York ao longo do último ano".
Aldumen Gomez diz que experimentou essa tendência em primeira mão. Gomez, 25 anos, era assistente de enfermagem em uma casa de repouso do Bronx, onde trabalhou por mais de um ano; mas a unidade fechou as portas no final de janeiro, ele conta.
"Era desse tipo de emprego que as pessoas dependiam, mas agora, devido a todos os cortes, as coisas mudaram", diz Gomez, que é meio haitiano e meio dominicano. "Na empresa para a qual eu trabalhava, as pessoas que conseguiram manter seus empregos tinham cargos executivos, e em sua maioria eram brancas. Foram transferidas para outras casas de repouso".
Gomez estava estudando ciências políticas em um curso noturno no Baruch College, com a esperança de fazer uma pós-graduação em Direito depois de se formar. Mas disse temer que não possa continuar pagando as mensalidades - e morando em um alojamento de estudantes que a faculdade mantém em Manhattan - a menos que encontre outro emprego rapidamente.
Tradução: Paulo Migliacci ME
The New York Times

Situação dos negros é alarmante, diz especialista


12/07/2009 13:34

NoticiasMS/JL

“A situação do negro no Brasil é alarmante!” A afirmação é da coordenadora de Políticas para a Promoção da Igualdade Racial de Mato Grosso do Sul (Cppir), Raimunda Luzia de Brito, ao tomar conhecimento do relatório “Trabalho Decente e Juventude”, lançado no dia 1º de julho, deste ano, em Brasília (DF), pela Organização Internacional do Trabalho (OIT).
O documento analisou a situação da juventude no país, no período de 1992 a 2006, e apresenta alguns dos principais programas brasileiros voltados para o segmento. O lançamento aconteceu durante a abertura de uma oficina sobre o tema que, junto com o relatório, irá subsidiar a elaboração da Agenda Nacional de Trabalho Decente para a Juventude. O estudo baseou-se na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) e revelou que a taxa de desemprego entre os jovens é 3,2 vezes maior que a dos adultos. Em 2006, dos 22,2 milhões de jovens ativos, 3,9 milhões estavam sem ocupação.
Os grupos mais afetados pelos problemas relacionados ao trabalho são as mulheres e os negros. O déficit de emprego entre as mulheres jovens é de 70,1% contra 65,6% entre os homens da mesma faixa etária. Há diferença também entre os jovens negros (74,7%) e os jovens brancos (59,6%). Esses dados mostram, segundo a diretora do Escritório da OIT no Brasil, Laís Abramo, que as jovens negras vivem uma situação de dupla discriminação. De acordo com o relatório, o índice de desemprego e informalidade entre as pessoas desse grupo chega a 77,9% .
O estudo também revela que há uma diferença significativa no nível de escolaridade entre jovens brancos e negros. Enquanto apenas 7% dos jovens brancos têm baixa escolaridade, segundo o relatório esse índice chega a 16% entre os jovens negros.
Programa do governo
Ao fazer uma análise sobre o relatório divulgado pela OIT, a coordenadora da Cppir disse que a OIT é uma grande parceira dos governos Estadual, Municipal e Federal. “Está sempre colaborando e capacitando pessoal”. Raimunda também fez elogios aos programas do Governo do Mato Grosso do Sul voltados para juventude sul-mato-grossense. Dentre as diversas ações realizadas no Estado para esse seguimento, ela destacou o Programa Nacional de Inclusão de Jovens – Educação, Qualificação e Ação Comunitária (ProJovem Urbano). O programa no Estado, que está sob coordenação da Secretaria de Estado de Trabalho e Assistência Social (Setas) disponibiliza três mil vagas para sete municípios (Coxim, Dourados, Naviraí, Ponta Porã, Rio Brilhante, Três Lagoas e Rio Verde de Mato Grosso).
“O ProJovem vai capacitar o jovem para o primeiro emprego. Também temos no governo, a Coordenadoria Especial de Políticas Públicas para a Juventude, e a Fundação de Trabalho e Qualificação Profissional de Mato Grosso do Sul (Funtrab). São órgãos que estão com trabalhos também voltados para esse seguimento”, informou Brito.
Negros
Porém, ao falar sobre a situação da população negra no Brasil, ela disse que é alarmante! “Primeiro, porque quem morre mais é o negro. Nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia, está uma matança de jovens negros enorme!”, afirmou ela, lembrando que a maioria dos jovens negros assassinatos são jovens de 14 a 25 anos que não tinham passagens pela polícia e que estavam trabalhando em sub-empregos.
Segurança
Quanto à área da segurança pública, Raimunda disse que está aguardando uma resposta do Comandante da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul e da Diretoria Geral da Polícia Civil, para participar dos cursos de formação para oficiais, que são realizados pela corporação no Estado.
Em 2008, representantes das entidades do Movimento Negro do Estado reuniram-se com o comandante geral da Polícia Militar, coronel Geraldo Garcia Orti, para tratar de assuntos sobre questão racial – violência. Segundo Raimunda de Brito um dos principais assuntos é a abordagem por parte dos policiais à população negra, e ainda, a questão racial.

“Queremos participar dos cursos que são realizados pelos oficiais militares para falarmos sobre a questão racial”, explicou a coordenadora da Cppir, que também não deixou de lembrar que agora temos uma mulher negra, delegada corregedora da Polícia Civil, na presidência do Conselho Estadual dos Direitos do Negro (Cedine). O órgão, ligado a Setas, é presidido pela delegada Marlene de Aguiar Justino da Cruz. “Isso deu uma visibilidade diferente”, comentou Raimunda