São Paulo, sábado, 04 de julho de 2009
Secretário de organismo diz que "não encontrou disposição" de autoridades hondurenhas para volta do presidente depostoCom isso, entidade deve decidir hoje, em reunião em Washington, pela suspensão do país centro-americano, na sanção mais dura desde 62
Oswaldo Rivas/Reuters
Soldados protegem palácio presidencial de novos protestosFABIANO MAISONNAVEENVIADO ESPECIAL A TEGUCIGALPA (HONDURAS)
Em visita a Honduras, o secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), José Miguel Insulza, disse ontem que não encontrou "disposição" para a volta do presidente deposto, Manuel Zelaya."Lamento dizer que, nas minhas gestões, não se viu disposição para reverter essa situação", afirmou Insulza, pouco antes de deixar o país. "Ao contrário, recebi uma quantidade de documentos demonstrando que forma haveria acusações contra o presidente e que justificariam a medida".No encontro mais importante, Insulza ouviu da Corte Suprema de Justiça que Zelaya será preso e processado caso volte ao país.Insulza também se reuniu com os dois principais candidatos à Presidência para as eleições de 29 de novembro. Um deles é o ex-vice-presidente de Zelaya, Elvin Santos, que rompeu politicamente com o seu companheiro de chapa e ganhou as primárias do Partido Liberal (centro-direita).Com a irredutibilidade das autoridades hondurenhas, a OEA deve cumprir, em reunião hoje em Washington, o ultimato que deu há 3 dias e que previa a suspensão do país do organismo caso Zelaya não voltasse ao poder até hoje.O fracasso da missão de Insulza deixa mais remotas as possibilidades de retorno de Zelaya, que tem prometido regressar amanhã ao país, acompanhado dos presidentes Cristina Kirchner (Argentina) e Rafael Correa (Equador).A dificuldade de um acordo entre as partes ficou exposta desde a chegada de Insulza, que viajou num avião Legacy da FAB (Força Aérea Brasileira). Ao saber que o novo chanceler do país, Enrique Ortez, lhe esperava na pista com honras militares, o secretário-geral mandou avisar que não se encontraria com ninguém do governo interino de Roberto Micheletti.O impasse foi resolvido quando Ortez deixou a base aérea de Tegucigalpa pouco antes da chegada de Insulza.Micheletti organizou uma grande concentração diante da Casa Presidencial na mesma hora em que Insulza desembarcava. Falando a milhares de simpatizantes vestidos de branco, o presidente puxou o coro de "fora, Mel", como Zelaya é conhecido no país, e voltou a afirmar que não houve um golpe de Estado no último domingo (veja os argumentos do governo em quadro nesta página). Na entrevista coletiva de ontem à noite, Insulza voltou a qualificar o que houve no país de "golpe militar".Distante poucas quadras da manifestação pró-Micheletti, simpatizantes de Zelaya caminharam até a representação local da OEA para agradecer o "apoio" da organização e exigir a volta do presidente deposto.HistóricoConfirmada a suspensão de Honduras, será a decisão mais dura tomada pela OEA desde que Cuba sofreu uma punição semelhante, em 1962, três anos depois da revolução liderada por Fidel Castro que implantou uma ditadura no país.Se suspensa, Honduras perderá o direito de participar das sessões da Assembleia Geral e de qualquer outro corpo ou atividade da OEA. A medida, no entanto, não inclui nenhum tipo de sanção econômica contra o país. Os EUA, parceiro crucial de Honduras, prometeram no entanto reavaliar a ajuda financeira ao país após a decisão do organismo.A deposição de Zelaya também foi condenada pela ONU e por diversos líderes mundiais, como os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, Barack Obama e Hugo Chávez, este um aliado do ex-presidente e considerado por muitos no país como o pivô da crise.Por outro lado, a substituição de Zelaya por Micheletti, até domingo presidente do Congresso, contou com respaldo de todos os Poderes hondurenhos, da cúpula das Forças Armadas, da maior parte dos empresários e da maioria do Partido Liberal.Os opositores de Zelaya o acusam de tentar modificar a Constituição para permitir a sua reeleição, como ocorreu na Venezuela de Chávez. O presidente deposto afirma que deixaria o poder em janeiro, ao final de seu mandato.