O advogado Eduardo Gomes, 24 anos, se formou na Uerj há um ano. Entrou na universidade pela reserva de vagas para negros e concluiu o curso com Coeficiente de Rendimento Médio de 8,8. Fala inglês e francês, aprendidos na Uerj, e passou, na primeira tentativa, na prova da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Com o registro profissional nas mãos, se prepara para concluir o estágio na Procuradoria do Rio e tentará ingressar na Defensoria Pública de Alagoas, atrás de salário de R$ 14 mil. ¿Moro na Baixada, sou filho de motorista e mãe cabeleireira. Na minha família ninguém tem diploma, sou o primeiro. As cotas foram uma oportunidade e eu provei meu potencial¿, orgulha-se.
Um ano após se formar, a dentista Aline Souza, 24 anos, passou em concurso público do Estado do Rio e hoje recebe R$ 2,2 mil de salário por plantões de 24 horas uma vez por semana. Cursa especialização em implantodontia e pretende, nos próximos anos, abrir seu próprio consultório. "Morava em Irajá e sempre estudei em escola pública. Pensava que não entraria na faculdade porque não tinha dinheiro para cursos de pré-vestibular. Consegui vaga em um cursinho comunitário quando saiu a lei das cotas. Entrei na universidade pelo sistema. Hoje, tenho um bom emprego, moro na Zona Sul e não dependo mais de ações afirmativas. Fui a única negra aprovada no concurso e pretendo melhorar cada vez mais o meu potencial", planeja.
Já a professora Cláudia, contratada pela Uerj pelo regime dan CLT, recebe hoje cerca de R$ 1 mil por mês. A cifra é o dobro do que costumava ganhar antes do diploma. Diante da possibilidade de suspensão da reserva de vagas, ela lamenta que o desempenho dos cotistas não seja uma referência para a decisão. "Quando entrei (na faculdade) bateu um frio na barriga, eu falava e escrevia errado. Mas recebi apoio, estudei, hoje sou professora. Foi uma conquista", ressalta.
Mais de 70% das vagas para cotistas ainda ficam ociosasEm 2009, apenas 1.388 estudantes entraram pela reserva de vagas na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. O número corresponde a 28% do total de cotas e acirra o debate em torno do sistema. Para o advogado Renato Ferreira, pesquisador do Laboratório de Políticas Públicas da Uerj (LPP), o problema é consequência da implantação da segunda nota de corte no exame de ingresso, ocorrida há dois anos.
A decisão elevou a nota mínima para a entrada na instituição, o que atingiu diretamente os alunos das escolas públicas. "Também falta incentivo para que esses estudantes se valham da reserva de vagas. Muitos nem sabem como ter acesso ao sistema e o estado não se preocupa em divulgar a política", afirma.
Médias superioresDe acordo com a rede de pré-vestibulares comunitários Educafro, fundada por Frei David Santos, o Coeficiente de Rendimento Médio entre negros cotistas e alunos não cotistas foi de 6,41 contra 6,37, respectivamente. O levantamento, realizado entre 2003 e 2007, mostrou que quem ingressou pela reserva de vagas conseguiu se equiparar aos outros estudantes durante a faculdade, apesar de tirarem notas 40% menores no vestibular. "O Tribunal de Justiça não avaliou o desempenho dos alunos antes de suspender as cotas. Se os desembargadores quiserem um Brasil mais justo, terão de rever a decisão", disse Frei David.
Levantamento preliminar do Pro-Informar, programa de apoio aos cotistas da Uerj, mostra que dos, 14.854 não-cotistas, 16,2% tendem a se formar na instituição. Entre os 3.215 cotistas negros, o percentual dos que devem receber o diploma é de 43%.
Já a professora Cláudia, contratada pela Uerj pelo regime dan CLT, recebe hoje cerca de R$ 1 mil por mês. A cifra é o dobro do que costumava ganhar antes do diploma. Diante da possibilidade de suspensão da reserva de vagas, ela lamenta que o desempenho dos cotistas não seja uma referência para a decisão. "Quando entrei (na faculdade) bateu um frio na barriga, eu falava e escrevia errado. Mas recebi apoio, estudei, hoje sou professora. Foi uma conquista", ressalta.