sábado, 6 de fevereiro de 2010

"Precious", o pequeno filme com grandes aspirações

05/11/2009 - 07h00

"Precious", o pequeno filme com grandes aspirações

ANA MARIA BAHIANA
Especial para o UOL Cinema, de Los Angeles

Todo ano há um pequeno filme independente que dispara na frente, enfrentando os grandes da temporada-ouro. Este ano a vaga parece ter sido ocupada por "Precious", a adaptação do livro "Push", de Sapphire, sucesso de crítica e público em 1996.

A jornada de livro e filme têm muito em comum, na verdade. Ramona Lofton, também conhecida pelo pseudônimo Sapphire , é uma poeta e artista performática nascida na Califórnia e integrada na cena novaiorquina desde o final dos anos 1980. "Push" é seu único livro de ficção, a versão criativa de sua experiência como atendente em um abrigo para mulheres do Harlem, e foi publicado às custas da própria autora, sem grande repercussão. Foi preciso o endosso de uma poderosa agente literária algum tempo depois, para que ele fosse lançado comercialmente, criando um dos maiores frisson literários de 1996.



"Precious" também nasceu como um esforço individual - do produtor Lee Daniels ("Monster's Ball", "The Woodsman") que levantou sozinho o minúsculo (para Hollywood) orçamento de 10 milhões de dólares para o que viria a ser seu segundo projeto como diretor (o primeiro, "Shadowboxer", de 2005, foi um atípico e estranho filme de ação com Helen Mirren e Cuba Gooding Jr.). Inscrito no festival de Sundance de 2009, "Precious" (que então se chamava "Push") levou o grande prêmio e atraiu a atenção de Oprah Winfrey, que imediatamente tornou-se a fada madrinha do projeto, empurrado-o para além do esquecimento que muitas vezes pode acabar com os triunfos indie.

Num ano em que a indústria está completamente focada em filmes-espetáculo e comédias, "Precious" vem na contramão com a história de Claireece Precious Jones (interpretada pela estreante Gabourey "Gabby" Sidibe) uma adolescente obesa, analfabeta e grávida do segundo produto do incesto cometido por seu pai alcóolatra.

Espancada pela mãe (a comediante Mo'nique, numa atuação espantosa) e basicamente ignorada pelo mundo à sua volta, Precious tem uma segunda chance graças a uma assistente social (Mariah Carey, quase irreconhecível) que a encaminha para uma escola experimental. Com um visual que oscila entre o realismo que em geral associamos a esse tipo de tema e a estilização que se esperaria de um videoclipe, "Precious" prende a atenção mesmo quando irrita e deprime, em grande parte por conta de suas inusitadas, mas eficientes escolhas de elenco. "Dou toda a liberdade a meus atores", diz Daniels. "Eles, como eu, tinham paixão pelo livro de Sapphire, e se dispuseram a entrar comigo nesse mundo. Foi um trabalho feito com muito esforço e muito entusiasmo. Mas valeu."

http://cinema.uol.com.br/ultnot/2009/11/05/ult4332u1337.jhtm

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