segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

"Ele nem é tão negro", diz Fernanda sobre Uilliam

08/02/2010 - 00h41
"Ele nem é tão negro", diz Fernanda sobre Uilliam
MAURICIO STYCER
Crítico do UOL

O BBB não é novela de Gloria Perez para exibir “merchandising social” em prol de uma ou outra causa positiva, mas essa décima edição, com a entrada em cena de dois gays e uma lésbica assumidos, além de alguns simpatizantes, acabou sendo útil na discussão franca de um tabu sobre sexualidade.

Fica a sugestão para, no futuro, tentar tratar, com o mesmo impacto, de outro tabu – o racismo. O tema costuma pairar sobre o BBB como uma nuvem, mas raramente chove. Parece haver uma cota fixa para negros na casa, sempre preenchida. Mas talvez por conta do perfil dos escolhidos e do zelo da edição ainda não ocorreu a faísca que leve os confinados a enfrentar o problema abertamente.

Nesta décima edição, a cota dedicada aos negros coube a Uilliam – barman, ator e professor de dança, baiano radicado em São Paulo. Ao escolher Michel e Fernanda para um castigo logo no início do programa, ele deu uma dica que o assunto o incomoda, mas sua frase não mereceu a devida atenção. Questionado por Tessália por que elegeu o ruivo e a loira para vestir uma fantasia de sapo por vários dias, Uilliam disse que queria ver dois “sapos albinos”.

Neste sábado, durante a festa, Uilliam foi o assunto principal numa roda com a participação de Lia, Fernanda, Cadu e Dourado. Lia disse considerar Uilliam do mesmo time de Tessália, o grupo dos “falsos”. Dourado o chamou de “fake”. Fernanda falou, com tédio, do discurso de sabor humanista que o professor de dança tem defendido na casa.

Ainda na festa, num outro tititi sobre o mesmo Uilliam, Fernanda e Anamara também criticaram o candidato. A baiana disse que se decepcionou com o rapaz. A conversa evoluiu para a questão racial, levando as duas a refletir se Uilliam poderia estar usando a seu favor no jogo o fato de ser negro. Depois de Maroca falar isso explicitamente, Fernanda disse algo que, curiosamente, Mr. Edição não exibiu para o público no programa de domingo: “E ele nem é tão negro”.

Em ambas as conversas, os antagonistas lembraram, suspeitando das intenções do candidato, que Uiliam já deu a entender que foi vítima de racismo, que já falou da infância pobre e das muitas dificuldades que passou.

Um dia antes de ser indicado ao paredão com seis votos – o maior número até agora neste BBB – Uilliam já havia sentido o golpe. Ao menos, parte dele. Em conversa com Michel e Alex, no sábado, ele falou sobre Cadu: “Ele é um burro. Só tem músculos, não tem cérebro”. Alex foi atrás: “Ele (Cadu) é o pescoço, não é a cabeça. Eu cortaria a cabeça”. E Michel completou: Lia é a “cabeça”.

Em conversa com Angélica, na festa, Uilliam deu outro sinal que já notou o clima quente. Angélica observou que muitas pessoas mudaram o jeito de se relacionar com ela. Uilliam disse que sempre foi o mesmo e observou que as pessoas não mudam, mas interpretam. “Tem muita gente aqui que é mais ator que eu”. Também comentou que algumas pessoas na casa não conseguem tocá-lo. Não foi além disso.

Surpreso com os seis votos, Uilliam foi convidado por Bial a comentar a votação. “Acho que em tempos de Carnaval, as máscaras caem”, disse, sem avançar muito.

Em tempo: Para terminar com algo mais leve, foi imperdível ver Michel na festa em momento Woody Allen: “Tenho medo que me achem um canalha ou que meus pais se sintam decepcionados com as minhas atitudes aqui dentro”.



Mauricio Stycer é repórter especial e crítico do UOL. Jornalista desde 1986,
já trabalhou no "Jornal do Brasil", "Estadão", "Folha de S.Paulo", "Lance!",
"Época" e "CartaCapital", entre outros.
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