terça-feira, 3 de novembro de 2009

Antropólogo francês Claude Lévi-Strauss morre aos 100 anos

Antropólogo francês Claude Lévi-Strauss morre aos 100 anos

03/11 - 14:30 - Redação com AFP

PARIS – O pesquisador francês Claude Lévi-Strauss, que influenciou gerações de sociólogos e estabeleceu as bases da antropologia moderna, morreu aos 100 anos no último final de semana.

A informação foi divulgada nesta terça-feira (03) pela Academia Francesa de Ciências Sociais. De acordo com a entidade, o pesquisador morreu na madrugada de sábado para domingo.

AFP
O pesquisador francês Claude Lévi-Strauss
O pesquisador francês Claude Lévi-Strauss

Considerado o último grande pensador francês, Lévi-Strauss completou 100 anos em 2008, centenário que foi festejado em todo o mundo. Filósofo de formação e pioneiro do estruturalismo, trabalhou em prol da reabilitação do pensamento primitivo, às vezes com o olhar de um moralista. "Sua obra é indissociável de uma reflexão sobre nossa sociedade e seu funcionamento. Tem um enfoque ecológico, antecipado, do mundo e dos indivíduos", escreve seu biógrafo, Denis Bertholet.

Claude Lévi-Strauss nasceu em Bruxelas, em 28 de novembro de 1908, de pais judeus e franceses. Em sua juventude, militou na SFIO (Seção Francesa da Internacional Operária). Em 1931, obteve o título de catedrático em filosofia.

Nomeado professor na Universidade de São Paulo, viajou em 1935 para o Brasil, onde dirigiu várias missões etnológicas em Mato Grosso e na Amazônia. Contou essa experiência em sua autobiografia intelectual, "Tristes Trópicos" (1955), um dos grandes livros do século 20.

De volta a Paris às vésperas da Segunda Guerra Mundial, foi convocado em 1939 e depois deu baixa por sua origem judia. Em 1941 se refugiou nos Estados Unidos, deu aulas em Nova York e conheceu ali o linguista Roman Jakobson, que teve uma grande influência sobre ele.

Em 1949 assumiu o cargo de vice-diretor do Museu do Homem, em Paris. Em 1959, ocupou a cátedra de antropologia social do Colégio da França, onde trabalhou até sua aposentadoria, em 1982. Doutor honoris causa por várias universidades de prestígio (Oxford, Yale e Harvard, entre outras), foi o primeiro etnólogo eleito membro da Academia Francesa, em 1973.

Início do estruturalismo

Entre suas principais obras figuram "Estruturas Elementares do Parentesco", "Antropologia Estrutural I e II", nas quais aplica ao conjunto dos fatos humanos de natureza simbólica um método, o estruturalismo, que permite discernir formas invariáveis dentro de conteúdos variáveis, e "O Pensamento Selvagem".

AFP

O autor em 1979, na Academia Francesa

Nesta última obra, editada em 1962, demonstra que não há uma verdadeira diferença entre o pensamento primitivo e o moderno. "Não se trata do pensamento dos selvagens e sim do pensamento selvagem. É uma forma que se atribui a toda humanidade e que podemos encontrar em nós mesmos, mas preferimos, no geral, buscá-la nas sociedades exóticas", explicava.

É também autor de "Mitológicas", onde o primeiro de seus quatro volumes ("O cru e o cozido") ilustra a oposição entre a natureza e a cultura. Lévi-Strauss sondou profundamente as relações entre a cozinha e a cultura.

Com sua silhueta delgada, seus cabelos brancos e olhar agudo, Claude Lévi-Strauss é intimidantemente tímido, mas tem uma presença imponente e uma grande capacidade de ouvir. Pouco preocupado com a posteridade, não escreveu memórias, mas falou delas com Didier Eribon em um livro-balanço intitulado "De Perto e de Longe".

"Cada um de seus livros é um manual do pensamento que força a inteligência a se abrir, e uma espécie de evangelho laico que ajuda a se comover diante da vida", escreveu sua amiga e especialista em sua obra, a filósofa Catherine Clément.

Em uma das poucas entrevistas que deu nos últimos anos (em 2005), depois de evocar sua "dívida para com o Brasil", afirmava: "Vamos para uma civilização em escala mundial. Na qual provavelmente aparecerão diferenças, ao menos é preciso esperar por isso. Estamos num mundo ao qual já não pertenço. O que eu conheci, o que eu amei, tinha 1,5 bilhão de habitantes. O mundo atual tem 6 bilhões de humanos. Já não é o meu mundo".





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