domingo, 4 de outubro de 2009

'A vida me escolheu para cantar', dizia Mercedes Sosa

04/10/09 - 11h20 - Atualizado em 04/10/09 - 12h07

Cantora combateu o regime ditatorial argentino e foi exilada.Ela morreu domingo (4), por doença hepática e problemas respiratórios.
Do G1, em São Paulo, com AP

A cantora argentina Mercedes Sosa, que morreu neste domingo (4), em Buenos Aires (Foto: AP)

Conhecida como “a voz da América Latina”, a cantora argentina Mercedes Sosa inspirou oponentes dos regimes militares sul-americanos e acabou exilada na Europa. Entre suas canções mais famosas, estavam "Gracias a la vida" e "Si se calla el cantor".
Ela morreu neste domingo (4), em Buenos Aires, aos 74 anos, em consequência de uma doença hepática complicada por problemas respiratórios.
“Eu não escolhi cantar para as pessoas. A vida me escolheu para cantar”, afirmou Sosa em uma entrevista recente para a TV argentina.

Afetivamente chamada de “La Negra” pelos fãs, por sua ascendência que misturava índio e francês, Sosa nasceu em 9 de julho de 1935 em uma família pobre que trabalhava na cana-de-açúcar de Tucuman, uma província do noroeste da Argentina.


Muito cedo ela conheceu as tradições populares e se transformou em professora de dança folclórica. Aos 15 anos, amigos impressionados com seu talento a incentivaram a entrar em um concurso da rádio local sob o pseudônimo de Gladys Osorio. Ela ganhou um contrato de dois meses com a rede –a primeira conquista de uma carreira que seguiu bem-sucedida até seus últimos momentos.

Nos anos 70, ela foi reconhecida como uma das cantoras mais importantes da América do Sul, dando força ao movimento “novo cancionero”, que reunia artistas de esquerda que, com suas poesias, criticavam regimes ditatoriais e denunciavam abusos contra a liberdade e os direitos humanos. Em 1972, Sosa lançou o álbum “Hasta la victoria”, com forte conteúdo social e político. Sua simpatia com o movimento comunista e apoio aos partidos esquerdistas atraíram a atenção da censura, numa época em que criticar o governo era extremamente perigoso. Em 1979, após ficar viúva de seu segundo marido, a cantora foi presa juntamente com uma plateia de 200 estudantes enquanto cantava em La Plata, cidade universitária fortemente controlada pela ditadura.

Ela foi libertada 18 horas depois por causa da pressão internacional, mas teve que abndonar sua terra natal. Com três malas e uma bolsa de mão, ela embarcou para a Espanha e depois para a França. Sosa retornou à Argentina em 1982, nos momentos finais do regime ditatorial.

Nos anos seguintes ela lançou o álbum “Mercedes Sosa”, que contém faixas consideradas entre as suas melhores. Mais tarde, quando os regimes militares haviam caído, a cantora manteve sua importância com um trabalho poderoso, falando de emoções universais, pregando contra a guerra e a pobreza.

“Não há melhor exemplo de honestidade artística. Suas canções refletem como ela é em vida”, afirmou seu sobrinho e também cantor Chucho Sosa, em entrevista de 2007.

Sosa lançou mais de 70 discos e venceu o Grammy Latino de melhor álbum regional por "Misa Criolla" em 2000, "Acustico" em 2003 e "Corazon libre" em 2006. Ela também atuou em filmes como “El santo de la espada”, sobre o general argentino Jose de San Martin. No início dos anos 2000, ela passou por um hiato para se recuperar de uma série de problemas, entre eles uma queda que quase a deixou paralisada. Sosa retornou aos palcos em 2005 e se apresentou nas mais prestigiosas casas de show da América Latina, dos EUA, do Canadá e da Europa.

Neste ano, ela lançou um disco em dois volumes denominado "Cantora", em que canta em parceria com artistas como Joan Manuel Serrat, Caetano Veloso e Shakira, razão pela qual estava indicada a três prêmios Grammy Latino, incluindo melhor disco do ano.

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