Religiosos lavam rampa do Congresso para "purificar" sede do Legislativo
GABRIELA GUERREIRO
da Folha Online, em Brasília
Um grupo de adeptos de religiões afro-brasileiras vão lavar amanhã a rampa principal do Congresso Nacional para "purificar" a sede do Legislativo brasileiro. Depois da crise política que atingiu o Senado nos últimos meses, o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), autorizou os religiosos a lavarem a rampa como ato comemorativo ao Dia da Defesa da Tolerância Religiosa --comemorado no país amanhã.
O pai de santo Sílvio de Xangô, um dos responsáveis pelo ato em frente ao Congresso, disse que o objetivo da lavagem é levar paz e harmonia ao Legislativo. "É um ato de purificação que traz paz, harmonia e prosperidade ao Congresso", afirmou à Folha Online.
Os religiosos se reuniram com Sarney nesta terça-feira para pedir a autorização formal do presidente do Congresso para realizarem a lavagem. São esperadas cerca de 700 pessoas pelos organizadores do evento, mas a Polícia Legislativa autorizou somente quatro mães de santo a chegarem aos pés da rampa para o ato da lavagem. As quatro foram escolhidas por serem as mais idosas do grupo. Os demais manifestantes vão acompanhar o ato do gramado em frente ao Congresso.
A rampa será lavada com água de alfazema e de flor de laranjeira, como tradicionalmente ocorre nos atos religiosos em igrejas do país --especialmente na Bahia. Além da lavagem, os manifestantes vão fazer uma caminhada pela Esplanada dos Ministérios em defesa da liberdade religiosa. O ato em frente ao Congresso vai encerrar as manifestações, na capital federal, pelo Dia da Defesa da Tolerância Religiosa.
Sílvio de Xangô disse que o objetivo do ato não é político, mas sim "religioso e cultural". "É uma busca em prol de políticas públicas, que traz paz e harmonia", afirmou o pai de santo.
Lavagens
No Brasil, há a tradição de se lavar escadarias de igrejas como um ritual de purificação do local. Em Salvador (BA), ocorre tradicionalmente a lavagem das escadas da Igreja do Senhor do Bonfim --sempre realizada na segunda quinta-feira depois do Dia de Reis, no mês de janeiro.
Na celebração, todos se vestem de branco e percorrem oito quilômetros em procissão. O ponto alto da festa ocorre quando as escadarias da igreja são lavadas por cerca de 200 baianas, vestidas a caráter, que despejam água nas escadarias ao som de palmas, toque de atabaque e cânticos de origem africana --como deve ocorrer em frente ao Congresso.
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