23/08/09 - 22h12 - Atualizado em 23/08/09 - 22h30
Americano foi preso e afirma que acabou obrigado a tirar barba. Governo nega humilhações e informa que vai apurar o caso.
Do G1, com informações do Fantástico
Corte de barba feito à força, ofensas à crença religiosa e até insultos nazistas: um judeu ortodoxo denuncia que sofreu humilhações em uma cadeia de São Paulo. O homem, de 56 anos, se diz traumatizado. “Eu fiquei muito mal, pensando no que os alemães fizeram com os judeus 60 anos atrás. Isso é o que eles fizeram comigo agora no Brasil”, desabafa.
Veja o site do Fantástico
Engenheiro elétrico com passaporte americano, ele afirma ter saído da Alemanha no dia 6 de julho, para visitar amigos em São Paulo. Assim que passou pelo desembarque no Aeroporto Internacional de Guarulhos, na Grande São Paulo, foi preso.
A polícia descobriu que ele carregava no casaco e no colete itens valiosos não declarados, como joias, diamantes e relógios caros. O engenheiro passou três dias detido na Polícia Federal, no Aeroporto de Guarulhos, e foi levado depois para um Centro de Detenção Provisória (CDP). Nele, segundo o judeu, depois de passar por uma triagem, ele teria sido vítima de intolerância religiosa. Ele diz que um carcereiro atirou no chão a quipá - um pequeno chapéu obrigatório para todo judeu ortodoxo. "Ele, então, começou a falar com um colega que estava ao lado, rindo de mim. Depois, eles falaram ‘heil Hitler’", conta. "Heil Hitler", "salve Hitler", é a mais conhecida saudação nazista da época do holocausto. O engenheiro diz que, depois da insultá-lo, os carcereiros encontraram em sua bagagem dois objetos religiosos, o talit e o tefilin, e os atiraram no chão. Os acessórios são sagrados. “Quando uma pessoa se envolve com o talit, nessa hora, ele está lembrando que tem que cumprir os 613 mandamentos de Deus. Quando um judeu coloca o tefilin de manhã, é a conexão dele com Deus”, explica.
Sem barba
Mas o pior ainda estava por vir. “O carcereiro me perguntou há quanto tempo eu tinha a barba. Eu disse que tinha desde que ela começou a crescer. Ele respondeu, então, que a partir daquele dia, eu não ia ter mais barba”, lembra. O engenheiro diz que o puseram em uma cadeira, algemado nas mãos e nos pés. Em seguida, sua barba foi complemente raspada. “Consta na nossa Torá, que é a nossa Bíblia, que é proibido você destruir parte de sua barba. De acordo com a cabala, a parte mística do judaísmo, através da barba, nós recebemos as benções divinas”, explica um rabino. Também foram cortados os cachos que ele mantinha desde que nasceu e que simbolizam devoção a Deus. “Em alguns campos de concentração, o tipo de humilhação que fizeram com os judeus ortodoxos foi cortar a barba e zombar dessas pessoas. Eu vejo isso como um ato antissemita, um ato isolado, mas um ato de desrespeito e humilhação”, afirma o rabino.
Outro lado
A Secretaria de Administração Penitenciária disse em nota que não houve agressões físicas, morais ou psicológicas, mas que vai apurar devidamente o caso. Segundo a secretaria, os presos são tratados de forma padronizada e têm a barba e o cabelo cortados. Com relação ao americano, a secretaria alega ainda que a barba dele era muito longa, na altura do umbigo. “É um procedimento padrão, mas que comporta exceções. Estes agentes praticaram alguns crimes, como abuso de autoridade e certamente o crime de racismo, ao incitar e praticar o preconceito contra a religião, contra a crença e a etnia”, destaca o advogado Augusto de Arruda Botelho. É a mesma opinião do juiz Sergio Mazina Martins, especialista em direitos humanos e presidente do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM). “Você quer impedir o indivíduo de ter determinada barba, determinado cabelo, quando, na verdade, isso para ele faz parte da sua cultura e da sua própria crença religiosa”, aponta. Agora solto, o engenheiro usa barba postiça. Ele espera a Justiça decidir se poderá aguardar o andamento do processo na Alemanha, onde diz viver. E não vê a hora de ir embora. “Quero ir para casa. Espero que eles não façam mais isso com judeus que querem manter sua barba”, diz.
Veja o site do Fantástico
Engenheiro elétrico com passaporte americano, ele afirma ter saído da Alemanha no dia 6 de julho, para visitar amigos em São Paulo. Assim que passou pelo desembarque no Aeroporto Internacional de Guarulhos, na Grande São Paulo, foi preso.
A polícia descobriu que ele carregava no casaco e no colete itens valiosos não declarados, como joias, diamantes e relógios caros. O engenheiro passou três dias detido na Polícia Federal, no Aeroporto de Guarulhos, e foi levado depois para um Centro de Detenção Provisória (CDP). Nele, segundo o judeu, depois de passar por uma triagem, ele teria sido vítima de intolerância religiosa. Ele diz que um carcereiro atirou no chão a quipá - um pequeno chapéu obrigatório para todo judeu ortodoxo. "Ele, então, começou a falar com um colega que estava ao lado, rindo de mim. Depois, eles falaram ‘heil Hitler’", conta. "Heil Hitler", "salve Hitler", é a mais conhecida saudação nazista da época do holocausto. O engenheiro diz que, depois da insultá-lo, os carcereiros encontraram em sua bagagem dois objetos religiosos, o talit e o tefilin, e os atiraram no chão. Os acessórios são sagrados. “Quando uma pessoa se envolve com o talit, nessa hora, ele está lembrando que tem que cumprir os 613 mandamentos de Deus. Quando um judeu coloca o tefilin de manhã, é a conexão dele com Deus”, explica.
Sem barba
Mas o pior ainda estava por vir. “O carcereiro me perguntou há quanto tempo eu tinha a barba. Eu disse que tinha desde que ela começou a crescer. Ele respondeu, então, que a partir daquele dia, eu não ia ter mais barba”, lembra. O engenheiro diz que o puseram em uma cadeira, algemado nas mãos e nos pés. Em seguida, sua barba foi complemente raspada. “Consta na nossa Torá, que é a nossa Bíblia, que é proibido você destruir parte de sua barba. De acordo com a cabala, a parte mística do judaísmo, através da barba, nós recebemos as benções divinas”, explica um rabino. Também foram cortados os cachos que ele mantinha desde que nasceu e que simbolizam devoção a Deus. “Em alguns campos de concentração, o tipo de humilhação que fizeram com os judeus ortodoxos foi cortar a barba e zombar dessas pessoas. Eu vejo isso como um ato antissemita, um ato isolado, mas um ato de desrespeito e humilhação”, afirma o rabino.
Outro lado
A Secretaria de Administração Penitenciária disse em nota que não houve agressões físicas, morais ou psicológicas, mas que vai apurar devidamente o caso. Segundo a secretaria, os presos são tratados de forma padronizada e têm a barba e o cabelo cortados. Com relação ao americano, a secretaria alega ainda que a barba dele era muito longa, na altura do umbigo. “É um procedimento padrão, mas que comporta exceções. Estes agentes praticaram alguns crimes, como abuso de autoridade e certamente o crime de racismo, ao incitar e praticar o preconceito contra a religião, contra a crença e a etnia”, destaca o advogado Augusto de Arruda Botelho. É a mesma opinião do juiz Sergio Mazina Martins, especialista em direitos humanos e presidente do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM). “Você quer impedir o indivíduo de ter determinada barba, determinado cabelo, quando, na verdade, isso para ele faz parte da sua cultura e da sua própria crença religiosa”, aponta. Agora solto, o engenheiro usa barba postiça. Ele espera a Justiça decidir se poderá aguardar o andamento do processo na Alemanha, onde diz viver. E não vê a hora de ir embora. “Quero ir para casa. Espero que eles não façam mais isso com judeus que querem manter sua barba”, diz.
0 comentários:
Postar um comentário