Charles A. Tang: Um novo modelo de prosperidade - 21/07/2009
|
| São Paulo, terça-feira, 21 de julho de 2009 |
TENDÊNCIAS/DEBATES Um novo modelo de prosperidade CHARLES A. TANG
DESDE A Segunda Guerra Mundial, metade do mundo vivia sob a hegemonia dos EUA e via esse país como modelo de democracia e de economia, e o "american way of life" era exemplo a ser seguido. O avanço tecnológico e a prosperidade dos EUA eram indiscutíveis, e o mundo capitalista almejava nível de vida idêntico. O zelo missionário americano, por sua vez, tratava de impor ao mundo um modelo que emulasse sua democracia e sua economia. A partir da unificação da Europa e da emergência da China como potência econômica mundial, o mundo passou a se encaminhar para uma geopolítica multipolar. Todavia, foi necessário o advento da crise financeira mundial para que se evidenciasse o fim do mundo unipolar e a real fragilidade do modelo econômico baseado no "laisser-faire" de Adam Smith. A crise financeira fez com que os EUA perdessem o papel de modelo para o mundo. Com isso, o país deve deixar de contar com a comodidade de dispor de créditos ilimitados como senhor da moeda padrão mundial. Em recente artigo na revista "Economist", a SR Rating, única empresa brasileira de avaliação de crédito, rebaixou a economia americana para meros AA, enquanto o Brasil conquistava o grau de investimento. Na recente visita do secretário do Tesouro dos EUA à China, a plateia de alunos que assistia a sua palestra na Universidade de Pequim não conteve o riso quando ele assegurou que o dólar não se desvalorizará. O déficit americano atingirá quase US$ 2 trilhões neste ano fiscal, e os EUA necessitarão de mais de US$ 1 trilhão por ano durante a próxima década. Diante da reticência dos chineses e de outras nações credoras em continuar a financiar os EUA nos volumes de que necessitam, a impressora da Casa da Moeda americana continuará a rodar em ritmo acelerado. A trajetória de desvalorização do dólar é tão evidente quanto seu aumento de juros. A dívida americana atual é de US$ 11,4 trilhões. O invejado padrão de vida americano sofrerá sérias contrações. Cada novo cidadão dos EUA já nasce com uma dívida de US$ 37 mil. E, nos EUA, teremos pela frente o "subprime" dos imóveis comerciais, avaliado em US$ 1 trilhão, e a dívida dos cartões de crédito. Em artigo nesta Folha em 22/3/08, prevíamos a trajetória de desvalorização do dólar, dando início à crise do sistema financeiro mundial. Pela estabilidade de sua moeda e para se tornar menos dependente do dólar, a China já iniciou a internacionalização de sua moeda. Em Xangai, Shenzhen, Guangzhou, Hong Kong e Macau já está autorizado o uso do yuan no comércio com os países da Asean (Brunei, Camboja, Filipinas, Indonésia, Laos, Malásia, Mianmar, Cingapura, Tailândia e Vietnã). A China disponibilizou 650 bilhões de yuans (US$ 95 bilhões) em "currency swaps" para o comércio com Argentina, Belarus, Hong Kong, Indonésia, Malásia e Coreia do Sul. Além disso, o Brasil e a China analisam fazer a liquidação do comércio bilateral em suas próprias moedas. A prosperidade dos EUA é de grande importância para a economia mundial. A estreita parceria entre os EUA e a China nas últimas décadas criou riquezas jamais sonhadas. Findas as contrações econômicas desta crise, veremos que a riqueza líquida gerada ainda é gigantesca. Mas, ainda por uma década, os EUA estarão concentrados em tirar sua economia da presente crise global. O Brasil sempre seguiu a prescrição de políticas econômicas do FMI, que impunha seu modelo monetarista e do Consenso de Washington a todos os países que a ele recorreram. Mas, agora que o modelo americano mostrou sua limitação, qual deve ser nosso novo modelo econômico? Será que, com o fim do capitalismo como foi praticado, poderemos finalmente substituir nosso decrépito modelo econômico de pobreza por um capitalismo de riqueza? Não é justificável que quase 40% do nosso PIB represente tributos que mantêm um crescente setor improdutivo. A modernização da nossa legislação trabalhista deixará de incentivar a informalidade. É algo encorajador termos finalmente deixado de ser campeões mundiais de juros exorbitantes, mas devemos manter um câmbio favorável ao país. A nossa visão ambiental poderia refletir mais a preservação do ser humano como bem da natureza. E, para que possa viver com um mínimo de dignidade humana, o homem necessita de emprego. O nosso sistema de entraves burocráticos tornou-se por demais oneroso para ser mantido. As reformas que ainda temos por fazer poderão ajudar a enfrentar esta crise e promover uma reestruturação que anule o custo Brasil, que tanto pesa contra nosso avanço econômico. Isso se constituiria numa medida de estímulo econômico que, de uma vez por todas, tiraria o Brasil da pobreza e asseguraria a riqueza da nação. CHARLES A. TANG é presidente binacional da Câmara de Comércio & Indústria Brasil-China, membro do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial e membro fundador do Instituto de Pesquisa e Estudo de Desenvolvimento Econômico. http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2107200908.htm |
0 comentários:
Postar um comentário