TISZALOK, Hungria - Jeno Koka era um trabalhador dedicado e avô amoroso que recentemente estava a caminho de seu trabalho em uma fábrica química quando foi morto a tiros diante da porta de sua casa. Para seu assassino, ele não passava de um cigano, e parece que isso foi motivo suficiente para que fosse morto. O preconceito contra os rom -conhecidos amplamente como ciganos e que há muito tempo estão entre os grupos minoritários mais oprimidos da Europa- vem aumentando e assumindo a forma de uma onda de violência. Pelo menos sete rom foram mortos na Hungria nos últimos 12 meses, e líderes rom contabilizam cerca de 30 ataques com coquetéis Molotov contra casas de ciganos, em vários casos acompanhados por saraivadas de balas. Mas a polícia vem focando sua atenção em três ataques fatais ocorridos desde novembro, que afirma estarem interligados. Em função da precisão com que as vítimas foram mortas, as autoridades dizem que os ataques podem ter sido lançados por policiais ou militares. Além da morte da Jeno Koka, 54, houve os assassinatos de um homem e de uma mulher rom a tiros depois de sua casa ter sido incendiada em novembro passado em Nagycsecs, nordeste da Hungria. E, em fevereiro, um homem rom e seu filho de quatro anos foram mortos a tiros quando tentavam escapar de um incêndio em sua casa em Tatarszentgyorgy, uma pequena cidade ao sul de Budapeste. Em entrevista ao jornal "Nepszabadsag", em 24 de abril, o chefe nacional de polícia da Hungria, Jozsef Bencze, disse que os responsáveis pelos crimes, que se acredita formarem um grupo de quatro ou mais homens na casa dos 40 anos, vêm matando "com confiança excessiva". A rádio húngara informou que a contrainteligência militar húngara está auxiliando na investigação, e Bencze revelou que os suspeitos incluem veteranos das guerras dos Bálcãs e membros húngaros da Legião Estrangeira francesa. Especialistas em questões rom descrevem um ambiente cada vez mais agressivo em relação aos ciganos na Hungria e em outras partes da Europa central e oriental, onde partidos de extrema direita cujos líderes jogam com os velhos estereótipos dos rom como pequenos criminosos e do ônus que supostamente impõem aos sistemas de bem-estar social, num período de turbulência econômica e política crescente. Autoridades e especialistas temem que os ataques só se intensifiquem à medida que o desemprego aumentar. "Vale lembrar que o Holocausto não começou com as câmaras de gás", disse Lajos Korozs, secretário-sênior de Estado do Ministério de Assuntos Sociais e do Trabalho. Na República Tcheca, onde manifestantes radicais de direita entraram em choque com a polícia quando tentaram fazer uma marcha passando por bairros de rom, uma menina pequena e seus pais sofreram queimaduras graves após agressores lançarem coquetéis Molotov contra a casa deles na cidade de Vitkov, em abril. E policiais na Eslováquia foram captados em vídeo recentemente atormentando seis rapazes rom que tinham prendido, forçando-os a tirar a roupa e a bater e beijar uns aos outros. Mas em nenhum lugar a violência atingiu os níveis a que chegou na Hungria, espalhando medo e intimidação por uma população rom de 600 mil pessoas. Viktoria Mohacsi, deputada rom no Parlamento Europeu, disse que a polícia -que ainda se nega a citar explicitamente a questão étnica como motivação nas agressões- hesita em reconhecer o aumento da violência dirigida contra a comunidade cigana. "No início, disseram que eram agiotas ou que eram rom que estavam matando outros rom", disse Mohacsi. Michael Stewart, coordenador da Rede de Pesquisas sobre os Rom, ativa em toda a Europa, explicou: "Nos últimos cinco anos, as atitudes em relação aos rom em muitas partes da Europa oriental endureceram, e novos extremistas começaram a explorar a questão dos rom de maneira que não ousavam fazer antes ou que não era divulgada até agora". O partido de extrema direita Jobbik aproveitou o que seus líderes dizem ser a "criminalidade dos ciganos" para avançar nas pesquisas, chegando a quase o limiar mínimo de 5% para conseguir vagas no Parlamento húngaro na eleição do próximo ano, pela primeira vez. Adversários acusam a Guarda Húngara, o grupo paramilitar associado ao partido, de promover passeatas e reuniões públicas para incitar o sentimento popular contrário aos rom e intimidar a população cigana. "Estamos vivendo no medo. Todos os rom estão", disse Csaba Csorba, 48, que teve um filho e um neto mortos a tiros de espingarda pouco após a meia-noite no ataque de fevereiro. As mortes abalaram os rom de Tiszalok. "Isso prova que não importa se somos pessoas boas ou más", refletiu Agnes Koka, 32, sobrinha e afilhada de Jeno Koka. "Importa apenas o fato de sermos ciganos."
Por NICHOLAS KULISH; São Paulo, segunda-feira, 04 de maio de 2009 . folha de São Paulo e The New York Times.
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