sexta-feira, 24 de abril de 2009

São Jorge arrasta 200 mil pelo Centro do Rio


RIO - Jorge da Capadócia reuniu um exército de 200 mil cariocas quinta-feira em suas bases no Rio. Ainda caía a madrugada quando o séquito do santo guerreiro coloriu de vermelho e branco as avenidas ao redor das igrejas batizadas de São Jorge no Campo de Santana e Quintino. A multidão de homens, mulheres, crianças e idosos montava guarda até a alvorada, quando celebraram-se as primeiras missas em homenagem ao seu dia. Fogos nas mesmas cores iluminaram os céus da cidade quando os sinos tocaram para anunciar a entrada dos primeiros devotos.
Na rua, a festa era também para Ogum, o equivalente ao guerreiro na umbanda, com rodas de tambor, oferendas e velas. Em Quintino, a primeira missa foi celebrada às 5h, lotada, depois do toque dos clarins. Cerca de 120 mil devotos compareceram às nove missas celebradas de hora em hora na paróquia, localizada na Rua Clarimundo de Melo, até as 20h. A última celebração acontece no domingo, quando uma carreata sai da sede da Escola de Samba Império Serrano, em Madureira, às 10h.
No Centro, mais de 100 mil fiéis atravessaram os portões da igreja de São Jorge, na Praça da República.
Antes do amanhecer, a fila para rezar diante da imagem do santo já chegava à Avenida Passos. A Polícia Militar reforçou a segurança na região ainda na noite de quarta-feira. Até lá, também chegaram cerca de 100 motociclistas, que saíram juntos do Posto 6, em Copacabana, para homenagear o santo. As missas foram rezadas em um palco na Avenida Presidente Vargas, para possibilitar a participação de maior número de fiéis. No domingo, a festa continua com a procissão pelas ruas do Centro, a partir das 8h.
No Largo do Bodegão, em Santa Cruz (Zona Oeste), foi celebrada uma missa campal pela manhã. À tarde, uma procissão partiu da igreja de São Jorge, com cerca de 35 mil pessoas, além de 4 mil cavaleiros. Nova Iguaçu teve missas, procissão e o tradicional angu de São Jorge. E Duque de Caxias também celebrou uma missa depois da alvorada, na paróquia localizada na Praça da Glória, em Jardim Primavera. No Posto 6, em Copacabana (Zona Sul), também houve missa.
Devotos
Seja do campo das artes ou das ciências, São Jorge reúne devotos de igual fervor. Os homônimos do santo invariavelmente têm um histórico de fé. Além da devoção, o poeta e letrista Jorge Salomão tem simpatia pelo mito do guerreiro cristão da Capadócia, região onde quinta-feira fica a Turquia, que derrotou um dragão com uma lança.
– A gente tem que se ligar em alguma força. Eu acredito que parte dela está no meu nome. De vez em quando, digo para mim mesmo “São Jorge Salomão” – conta.
Jorge lembra de uma imagem de São Jorge bordada na fronha de um travesseiro que teve quando criança. A imagem ficou gravada na memória e veio à tona em um dos episódios mais importantes de sua vida, quando deixou a prisão onde foi torturado durante a ditadura. De tanto olhar para a imagem, acredita ter absorvido a tal “força”.
– A primeira coisa que falei ao ser solto foi “pela força de São Jorge, que essa gente toda que me bateu pague por isso” – lembra.
O presidente do Sindicato dos Médicos, Jorge Darze, também traz do berço a simpatia pelo guerreiro. O pai, também Jorge e médico, era devoto fervoroso, do tipo que mantinha acesa diariamente uma luz ao lado de uma imagem “enorme” do santo dentro de casa. Também ia com a família à missa da alvorada, na igreja do Campo de Santana:
– Essa idéia de matar o dragão é como nós, médicos, nos sentimos: matando um dragão todo dia. É uma luta permanente contra o mal, aquilo que causa sofrimento.
21:49 - 23/04/2009. JB On Line - Rio

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