Sem sombra de dúvida, 460 anos representam um marco na existência de uma cidade. Mas, antes de comemorar, devemos fazer uma reflexão sobre o caminho que foi percorrido para chegar até aqui.
Na história da sua formação, a cidade de Salvador já nasce para servir como base transatlântica ao projeto de mundialização capitalista português. Os novos moradores não se contentaram em tomar a terra e tentaram escravizar os nativos indígenas para utilizar sua mão-de-obra, o que ao longo dos anos se traduziu em um violento e permanente genocídio da população indígena. A elite mercantilista optou, então, pela rentabilidade do tráfico de escravos, ferozmente trazidos da África, e que conferiram grande parte da riqueza cultural da nossa cidade. Uma cultura única, que costumam chamar de axé. A cidade abençoada pelos orixás é o terceiro destino turístico do País, mas o que o turista vê não é o que o soteropolitano vive. O turista vê que uma energia especial emana do sorriso do povo. O soteropolitano convive com a exclusão, com privações e terríveis situações cotidianas.
Salvador, então, no alto de seus 460 anos, mostra-se cruel a uma grande parte de seu povo.
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que mede o acesso da população ao emprego, educação, saúde e habitação, dos bairros mais privilegiados da cidade equivale ao da Noruega, enquanto o mesmo índice relacionado ao subúrbio é pior que o da Namíbia, país africano entre os mais pobres do continente. O racismo, em Salvador (cidade mais negra fora da África), fica ainda mais evidente no Carnaval: um verdadeiro apar theid separa a população branca, dentro das cordas, e a negra, fora delas ou segurando-as.
No campo da educação, a situação tem melhorado nos últimos anos, em virtude dos programas do governo federal, mas está longe do ideal. Segundo o IBGE, em pesquisa de 2006, a média indica que os brancos alcançam apenas o ensino médio e os pretos e pardos sequer chegam ao ensino fundamental. Entre a população economicamente ativa da cidade, 56,6% têm 11 ou mais anos de estudos; 18,2% têm oito a dez anos; 17,7%, quatro a sete anos; e 7,4%, menos de três anos ou nenhum grau de instrução.
Ainda, de acordo com o IBGE, 54,8% da cidade é feminina. As mulheres que construíram esta cidade também lideram os lares e engrossam os números do trabalho informal, o que contribui para perpetuar a precariedade das condições de vida das famílias soteropolitanas.
Tudo isso referendado pelo poder público. A cidade do futuro é também a cidade do presente, que se faz cotidiana com a matéria do passado: essa é a razão da densidade cultural que impregna Salvador e a faz significativa. Melhorar a qualidade de vida dos soteropolitanos depende, cada vez mais, da capacidade dos governantes de ouvir, enxergar e suprir as reais necessidades da população.
MARTA RODRIGUES - Vereadora, líder da bancada do PT na Câmara.
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terça-feira, 31 de março de 2009
Cidade Salvador 460 anos: merece presente melhor
Postado por LUIZ FERNANDO MARTINS DA SILVA às 13:20
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