quinta-feira, 3 de março de 2011

Obama pode acabar com visto para brasileiros

Obama pode acabar com visto para brasileiros


Fim da exigência do documento para quem viaja aos Estados Unidos poderá ser anunciado durante a visita do presidente americano ao Brasil, este mês



Washington - O cancelamento da exigência de visto para brasileiros entrarem em território norte-americano poderá estar entre os vários acordos que o presidente americano Barack Obama vai assinar com a colega brasileira, Dilma Roussef, durante sua visita ao Brasil este mês. A queda da obrigatoriedade é um pedido de entidades que lidam com o turismo nos EUA.



A medida se justificaria porque, segundo a U.S. Travel Association (Associação de Viagens dos EUA), o índice de rejeição de vistos para pretendentes brasileiros já é menor que 5%, uma das exigências do governo americano para deixar de pedi-lo.



No ano de 2009, cerca de 890 mil turistas brasileiros gastaram US$ 4 bilhões nos EUA. No mesmo período, muito mais turistas mexicanos (13 milhões) gastaram US$ 8 bilhões.



Outro entendimento que deve ser anunciado é um acordo com o governo federal para permitir que brasileiros residentes em terras americanas possam voltar ao Brasil podendo aproveitar a contribuição para a Previdência Social feita no exterior. O objetivo das parcerias é aumentar os voos entre os dois países, além de divulgar o Brasil no exterior.



Ainda estão previstas também ações de divulgação da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016 em parceria com a iniciativa privada e governo americanos. A ideia deste acordo é aproveitar a experiência norte-americana para a divulgação dos eventos esportivos.



Os últimos detalhes dos acordos a serem fechados entre Brasil e Estados Unidos ainda estão sendo ajustados por assessores de Dilma Rousseff e Barack Obama. No Rio, a agenda do americano deve incluir visita a pontos turísticos, a uma favela pacificada e um discurso considerado de cunho mais popular.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Pesquisadora do Instituto de Psicologia da USP mostra a resistência do racismo no Brasil 23/02/2011 - 16:45


Pesquisadora do Instituto de Psicologia da USP mostra a resistência do racismo no Brasil


23/02/2011 - 16:45

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As manifestações sutis de discriminação racial estão cada vez mais presentes no dia-a-dia da sociedade brasileira. Segundo a psicóloga Sylvia Nunes, que pesquisou sobre o preconceito sutil no Instituto de Psicologia da USP, as pessoas ainda precisam pensar e discutir o tema de forma mais eficaz, a fim de reconhecer o racismo. Como aponta o estudo, a discriminação, da maneira como vem sendo perpetuada, está cada vez mais "escondida", porém, ainda existente e resistente, tornando a luta contra o preconceito racial mais difícil.
O preconceito sutil se utiliza de brincadeiras, piadas, e apelidos que parecem "inocentes" De acordo com o trabalho de Sylvia, já houve épocas em que a forma mais comum de racismo era a explícita, chamada pela autora de "preconceito flagrante", uma maneira de discriminação que geralmente envolve violência, xingamentos, agressão física e verbal, e é de "fácil percepção" e até de "denúncia". Enquanto isso, como aponta a psicóloga, o preconceito sutil é corriqueiro, e se utiliza, por exemplo, de brincadeiras, piadas, omissões, ausências e apelidos que parecem "inocentes".
Buscando entender e detectar esse tipo de manifestação de racismo, Sylvia aplicou um questionário a 235 alunos universitários, no Brasil, e a 71 estudantes, na Espanha. Lá, as perguntas eram relacionadas à discriminação dos ciganos, chamados gitanos, enquanto no caso brasileiro, eram relacionadas a discriminação contra negros e mestiços.
"No questionário existiam frases ou perguntas como '"Eu não gostaria que um negro suficientemente qualificado fosse escolhido para meu chefe", ou então "com que frequencia você sente simpatia pelos negros?", respectivamente relacionadas ao preconceito flagrante ou sutil. Em algumas questões, por exemplo, as opções de respostas eram "níveis de concordância ou discordância", como em "discordo muito, discordo em parte, discordo um pouco, concordo um pouco, concordo em parte, concordo muito". Para chegar às conclusões quantitativas do estudo, foram utilizadas provas estatísticas, baseadas em escalas de preconceito sutil e flagrante, dos teóricos Pettigrew e Meertens, aplicadas às respostas do questionário.
Segundo os resultados dessas provas, há maior facilidade dos espanhóis em declarar o racismo que os brasileiros. A partir das respostas, também foi possível constatar que há maior expressão de preconceito sutil do que flagrante, nos dois países. Outro dado interessante é que os homens se mostraram mais preconceituosos que as mulheres, tanto no Brasil quanto na Espanha.
Entrevistas
Após essa fase da pesquisa, a psicóloga sorteou 19 pessoas dentre as que haviam respondido ao questionário, sendo 15, brasileiras e 4, espanholas. Na opinião da autora, "de todas as etapas, a das entrevistas no Brasil foi a mais enriquecedora. Ao prestar atenção nos discursos, era evidente a sutileza do preconceito, e o quanto as pessoas quase sempre dizem que o racista não é ela própria, e sim o outro", afirma a autora do trabalho.
Depois de feitas as entrevistas, Sylvia formulou "categorias de análise" para estudar o aspecto qualitativo do estudo. Ao todo, a psicóloga apontou seis categorias, que sistematizam o que foi encontrado e detectado nos discursos, como evidência do preconceito sutil. Por exemplo, na categoria "Brincadeiras racistas", o estudo revela o quanto a sutileza racista conquista lugar no universo do lúdico, das brincadeiras e apelidos, onde tudo parece não ser tão real ou sério, apesar de serem, quando o tema é preconceito.
Já a categoria "O dedo apontado para o negro" é composta pelas falas daqueles que recorrem ao discurso de que, na verdade, quem é preconceituoso e não aceita a si próprio é o negro, ou seja, fala por meio da qual há a culpabilização da vítima. Segundo Sylvia, há também os discursos que se encaixam na categoria "Pseudoneutralidade". "Esses são aqueles que se protegem, que se incomodam sim com o tema, mas não encaram, e tentam se dizer neutros, imparciais, como se as situações cotidianas que envolvem preconceito sutil fossem indiferentes", explica a pesquisadora.
Além disso, a autora afirma o seguinte: "nas entrevistas, também levantei a questão das cotas e de outras ações afirmativas. Agrupei as falas relacionadas ao assunto categorizando-as como 'Raça e classe'. Neste agrupamento de falas, todos os entrevistados se posicionaram contra as cotas sem mesmo saber realmente o que são e o que representam, como se essas medidas afirmativas fossem os racistas da história", exemplifica a autora.
O último grupo formulado pela psicóloga chama-se "Admissão do próprio racismo". Nele, estão contidas as únicas 2 falas nas quais foi assumida a existência do racismo. Segundo Sylvia, é nessa admissão que está a melhor maneira de lutar contra o preconceito sutil. "Quando admitimos e reconhecemos o quanto somos sim racistas, temos mais elementos para decidir, e para refletir sobre nós mesmos. Falar do assunto, mexer com o assunto, expor o tema e perceber o racismo é bom, e nos faz militantes de nós mesmos quando nos deparamos com qualquer situação de discriminação", conclui a autora.


http://www.geledes.org.br/em-debate/pesquisadora-do-instituto-de-psicologia-da-usp-mostra-a-resistencia-do-racismo-no-brasil-23-02-2011.html