segunda-feira, 15 de junho de 2009

Sem trios de boates, política avança na Parada Gay de SP


São Paulo, segunda-feira, 15 de junho de 2009
Sindicatos e entidades de defesa do ambiente e da saúde utilizam evento para divulgar ideias e atrair simpatizantes
DANIEL BERGAMASCODA REPORTAGEM LOCAL
Sem trios de boates GLS, a Parada Gay de São Paulo reforçou o tom político em sua 13ª edição, realizada ontem, do meio-dia ao início da noite.Foi a primeira vez em muitos anos que, em meio a reclamações sobre a tarifa de R$ 10 mil para desfilar, nenhuma casa noturna participou do evento.A produção do clima de festa ficou, então, na mãos dos carros de militantes. Eram grupos engajados não apenas em causas especificamente gays, mas em defesa do ambiente e da igualdade racial, além da promoção de igrejas e sindicatos.A lei estadual antifumo (que proibirá o cigarro em locais fechados de São Paulo a partir de agosto) foi uma das "marcas" divulgadas no desfile. Frases em defesa da lei estampavam camisetas e bolas infláveis gigantes, em várias cores, que eram rebatidas entre a multidão. Também havia cartazes sobre o tema no trio da drag queen Salete Campari, um dos mais festejados do desfile, com artistas como Rogéria e Leão Lobo e grande presença de go-go boys (dançarinos sem camisa, em geral de sunga branca).Em quase todos os 20 trios que atravessaram a parada (do parque Trianon, na avenida Paulista, até a praça Roosevelt, no centro, passando pela rua da Consolação), esses rapazes descamisados, as drag queens e outros artistas dividiam espaço com mensagens de engajamento. Um dos poucos exemplares de trio majoritariamente festivo, sem ativismo evidente, era o patrocinado pelo Disponível.com, site de relacionamentos voltado para o público GLS.Com 17 cm de salto nas botas vermelhas, a drag queen Cindy Cristal se preparava para atravessar a parada no carro da CTB (Central dos Trabalhadores do Brasil). "Adoro participar dessa coisa mais cívica."Ao seu lado, Wagner Fajardo, da CTB, explicava a que veio o trio da central, que fazia a sua primeira participação no evento. "Já somos a quarta central sindical do país, atrás de CUT (Central Única dos Trabalhadores), Força Sindical e UGT (União Geral dos Trabalhadores). Viemos mostrar que defendemos os direitos de todos os trabalhadores, gays ou não."Representante da UGT, também em seu primeiro desfile, Cleonice Caetano celebrava a oportunidade. "A parada foi positivíssima para nós. O importante é mostrar aos trabalhadores que eles têm a quem procurar para garantir seus direitos."A CUT também tinha trio elétrico, assim como sindicatos como os de telemarketing (Sintratel), de enfermeiros (Seesp) e de professores (Apeoesp).Já a Comunidade Cristã Nova Esperança chamava a atenção pela militância no chão, com muitos representantes e cartazes. "Estamos aqui para mostrar que gay não é só boate mas também espiritualidade", dizia Esdraz Xavier, auxiliar de pastor na igreja.Entre personalidades da política estiveram lá o prefeito Gilberto Kassab (DEM), o governador José Serra (PSDB) -que defendeu a união entre pessoas do mesmo sexo- e a ex-prefeita Marta Suplicy (PT).Abaixo-assinadoEspinha dorsal do evento, o ativismo gay ficou parado em boa parte do evento. Com o tema "Não Homofobia", um caminhão de som na avenida Paulista convidava o público a participar de um abaixo-assinado que defende projeto de lei federal que torna crime discriminar homossexuais."Queremos sair daqui com um milhão de assinaturas", bradava um representante ao microfone. O grupo contava com a célebre lotação do evento, que neste ano voltou a tornar caóticos alguns pontos de passagem, como a esquina do Masp, onde houve um grande empurra-empurra. A Polícia Militar decidiu não divulgar estimativa de multidão. A organização esperava 3,5 milhões.

Mais e melhores políticas de gênero


São Paulo, segunda-feira, 15 de junho de 2009
Soraya Rodríguez, Ines Alberdi e Rebeca Grynspan: Mais e melhores políticas de gênero
TENDÊNCIAS/DEBATES
SORAYA RODRÍGUEZ, INES ALBERDI e REBECA GRYNSPAN
Segundo dados da OMS, 1 em cada 3 mulheres da América Latina já foi vítima de violência física, psicológica ou familiar
TRÊS DÉCADAS após a aprovação da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher e quase 15 anos depois da adoção da Plataforma de Ação de Pequim -dois dos mais importantes e recentes avanços em igualdade e direitos das mulheres-, ainda há sérias desigualdades de gênero em nossas sociedades.Há avanços: as mulheres alcançaram um nível educacional mais elevado, participam cada vez mais do mercado de trabalho e estão mais representadas na política. Nesse sentido, vários países desenvolveram leis de igualdade, de cotas, contra a violência de gênero e criaram mecanismos institucionais para promover a igualdade nas atividades do Estado. São, sem dúvida, importantes avanços.Mas é certo que o progresso em algumas áreas é lento -e muitas situações são alarmantes.Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, 1 em cada 3 mulheres da América Latina já foi vítima de violência física, psicológica ou familiar. Quanto à participação política, as mulheres ocupam só 20% das cadeiras dos Parlamentos; nos municípios da região, só 6% são prefeitas.O que precisamos e o que podemos fazer para avançar decididamente rumo à construção de uma sociedade igualitária? Precisamos de recursos materiais e humanos, pessoas conscientes, comprometidas e capazes para mudar as atuais estruturas de poder entre os homens e as mulheres nos mais diversos âmbitos: devemos conciliar o trabalho com a família e a vida pessoal -e transformar, com um enfoque em gênero, a economia, a sociedade, as famílias, as empresas, a política e as relações interpessoais.Para atender a esses desafios, reuniremos hoje e amanhã em Madri mais de cem mulheres, a maioria delas parlamentares, de 20 países da América Latina, do Caribe e da Espanha, com especialistas em desenvolvimento e questões de gênero, representantes da ONU e autoridades de instituições espanholas para a cooperação internacional.Participamos do Encontro de Mulheres Parlamentares: Rumo a uma Agenda Política para a Igualdade de Gênero na América Latina -parte das iniciativas regionais alavancadas pela Agência Espanhola de Cooperação Internacional e para o Desenvolvimento, pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e pelo Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher.Hoje se reúnem parlamentares de diferentes ideologias, gerações, âmbitos sociais e políticos, mas com uma meta em comum: transformar as desigualdades existentes e criar sociedades mais equitativas para mulheres e homens.São muitas as diferenças que nos separam, lógicas e naturais, mas são mais numerosos os desafios que nos unem. A pauta do encontro é ambiciosa: encontrar pontos comuns para avançar em temas importantes para alcançar a igualdade na região, gerar aprendizados comuns e avançar por meio de políticas transformadoras.Vamos discutir como encarar uma crise financeira e econômica mundial cujo impacto afeta de forma particularmente grave as mulheres -e que pode ser uma oportunidade para finalmente reconhecer a contribuição das mulheres para a economia.Vamos estudar meios de fortalecer a participação política das mulheres.E trabalharemos por uma agenda de gênero nos Parlamentos latino-americanos que possa incluir, em virtude de cada realidade concreta, entre outros temas, uma legislação avançada contra a violência de gênero, a responsabilidade compartilhada pela vida familiar e laboral, saúde sexual e reprodutiva, técnicas e estratégias para a incorporação da perspectiva de gênero nas atividades parlamentares.Discutiremos esses problemas que enfrentamos em nossas sociedades e as soluções e iniciativas que estão sendo aplicadas.Nós, mulheres, precisamos transformar -e passar à ação em todos os âmbitos. Não estamos pedindo uma mudança, nós a estamos protagonizando. Buscamos, com os homens, transformar a sociedade, atingir um desenvolvimento econômico e social mais justo neste mundo globalizado e superar os obstáculos que impedem a igualdade.Esperamos que esse encontro de parlamentares da América Latina e do Caribe seja uma contribuição para alcançarmos um mundo mais igualitário e equitativo para nossos povos.
SORAYA RODRÍGUEZ é secretária de Estado de Cooperação Internacional da Espanha e presidente da Agência Espanhola de Cooperação Internacional e para o Desenvolvimento (Aecid). INES ALBERDI é diretora-executiva do Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem).
REBECA GRYNSPAN é diretora regional do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) para a América Latina e o Caribe.