quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Seminário de Cultura Negra e Psicanálise no Rio de Janeiro

INSTITUTO PALMARES DE DIREITOS HUMANOS
INSTITUTO OCA
DIGAÍ-MARÉ


Seminário de Cultura Negra e Psicanálise
Das Caravelas e Tumbeiros ao Hip-Hop

31 de agosto a 4 de setembro de 2008
Sede do IPDH - Av. Mem de Sá, 39 - Arcos da Lapa, Rio de Janeiro

PROGRAMA
31/08 – domingo, de 18:00 às 18:30 hs.
Abertura - Zezé Motta - SUPIR > Maritza Garcia - OCA
> Nayara Mallon - OCA > Maria Catarina de Paula - IPDH

MESA 1 <> Subjetividade, Resistência e Discursos
Jairo Gerbase - Psicanalista, AME da Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano – Brasil – Fórum Salvador.
Vanda Ferreira - Professora, Ouvidora da Petros, Militante do Movimento Negro.
Debatedores
Carlos Alberto Medeiros - Jornalista, Mestre em Ciências Jurídicas e Sociais pela UFF.
Graça Pamplona - Psicanalista, AME da Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano-Brasil/ Fórum de Petrópolis, Supervisora Clínica do Instituto OCA.

20:30 hs. > Coquetel de Confraternizacão, com lançamento e venda de livros

MESA 2 - A infância da Dor e a Dor da Gente
01/09 <> Lúcia Xavier - Assistente social, Coordenadora de Criola.

MESA 3 - Do Martírio à Malandragem: os mitos Saci Pererê e Negrinho do Pastoreio
02/09 <> Guilherme Gutman - Psicanalista, Professor Adjunto do Departamento de Psicologia da PUC-Rio.

MESA 4 – Literatura Afrobrasileira e Pulsão
03/09 <> Denise Barata - Historiadora, Professora do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas e Formação Humana da UERJ.
Teresa Palazzo Nazar - Médica, Psicanalista, Membro fundador da Escola Lacaniana do Rio de Janeiro e de Vitória.

MESA 5 - Das Caravelas e Tumbeiros ao Hip-Hop
04/09 <> Romildo do Rêgo Barros - Psicanalista, Membro da Escola Brasileira de Psicanálise e Diretor do Instituto de Clínica Psicanalítica do Rio de Janeiro - ICP.

22:00 às 22:10 > Encerramento > Éle Semog – IPDH

As incrições são gratuitas e as vagas são limitadas.
Para efetivar sua inscrição, favor preencher a ficha abaixo e encaminhar para:
contato@institutooc a.org.br

Os cem primeiros inscritos serão presenteados com o livro Diásporas Africanas na América do Sul: Uma ponte sobre o Atlântico, de Julio César de Tavares, com fotos de Januário Garcia.

Ficha de Inscrição

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domingo, 24 de agosto de 2008

Diferentes religiões se unem para combater a crescente intolerância religiosa no Rio

Casos de agressão e ameaça aumentam cada vez mais na cidade


Rio - A liberdade religiosa e o direito de seguir qualquer credo assegurados pela Constituição não saíram do papel para a professora de Sociologia e Geografia Márcia Alves Ramos, 55 anos. Ela vai deixar o prédio onde mora com o filho, no Humaitá, para se livrar das ameaças que a vizinhança lhe dirige. É a quarta vez que Márcia, filha-de-santo da Casa de Candomblé Yaô Oxum Femi do Idacilê Odé, se vê obrigada a fugir em nome de sua crença. Mas a mesma fé inabalável acredita na justiça dos homens para pôr um freio na intransigência e punir agressores.

Márcia é um exemplo do assustador crescimento da intolerância religiosa no Rio, que muitas vezes vira caso de polícia e choca a população, como o depredamento de um centro espírita no Catete por jovens evangélicos em fúria, no início de junho. Essa realidade, no entanto, começa a mudar.

Grande caminhada marcada para o dia 21 de setembro promete reunir representantes de diversos credos e uma delegacia especializada deverá ser criada para investigar esses crimes. Dezoito denominações fundaram a Comissão de Combate à Intolerância Religiosa, que tem o apoio de outras 100.

'Bruxa macumbeira'
Uma das ações foi a implantação, por parte do governo do estado, de uma ouvidoria para receber denúncias. Em pouco mais de um mês, já foram 150 queixas formais.
Emocionada, Márcia diz que não pretendia se mudar do endereço, onde reside há 9 anos. “Temo mais pela vida do meu filho”, justifica a professora. Ela conta que enfrenta deboches por andar de lenço e colares africanos.

No início do ano, quando teve de raspar a cabeça e usar túnica branca, cumprindo ritual de iniciação para se tornar filha-de-santo, os insultos aumentaram. “Uma jovem de 16 anos, apoiada por amigos, gritava: ‘Olha quem vem aí! A negra macumbeira e bruxa!’. Em julho, o pai dela também começou a me ameaçar. Tenho imagens de pretas velhas, fotos e roupas para preservar a cultura de meus ancestrais, mas nunca fiz culto na minha casa”, defende-se.

Caminhada prevê 50 mil no Leme
A Secretaria Estadual de Assistência Social e Direitos Humanos, que mantém a ouvidoria, e a comissão apostam na caminhada de setembro, batizada de ‘Liberdade Religiosa! Eu tenho fé!’. “Esperamos receber novos relatos de conflitos e incitações ao ódio. Reuniremos 50 mil pessoas.

A passeata sairá do Leme, às 9h, e terminará no Posto 6”, diz Ivanir dos Santos, do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas. Segundo Ivanir, cada um dos cerca de 23 mil terreiros de Umbanda e Candomblé enviará representantes. Um site (www.eutenhofe.org.br) foi criado para orientar os interessados em participar.

Segundo a estudiosa Maria Dolores de Lima e Silva, do Centro de Tradições Afro-Brasileiras, o ato será em favor da cidadania. “Conflitos religiosos estão se tornando cada vez mais freqüentes e isso é muito perigoso. Vamos mostrar para a sociedade que é possível conviver em paz, embora cada um tenha o direito de exercer a crença que lhe convier. O importante é a fé individual e o respeito mútuo”, prega.
Rastreamento de sites com ódio religioso

Os ataques de fanáticos a templos, centros espíritas, igrejas e terreiros preocupam o chefe de Polícia Civil, Gilberto Ribeiro, que pediu ao delegado da Coordenadoria de Informação e Inteligência Policial (Cinpol), Henrique Pessoa, levantamento de casos de intolerância no Rio. Delegacia especializada para cuidar de casos de intolerância deve ser criada.
Henrique também está investigando mais de 30 sites que incitam o ódio religioso. “Alguns fazem questionários absurdos, criticando e discriminando religiões. Outros chegam a prometer curas milagrosas em troca de dinheiro”, comenta o delegado, explicando que as páginas serão retiradas do ar.
A deputada Beatriz Santos, da Comissão de Combate às Discriminações e Preconceitos da Alerj, recebe ao menos 10 denúncias mensais de intolerância religiosa. Há casos até de terreiros fechados por ordem do tráfico. “É um número alto. Tanto que criaremos conselhos em todos os municípios, a exemplo de São Gonçalo e Nova Iguaçu”, ressalta.
Fonte: O Dia, Caderno: Geral, p. 6 e 7. Dia: 24-08-2008
Jornalista: Francisco Édson Alves

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Igreja evangélica é obrigada a devolver dízimo de fiel em Minas Gerais

A Igreja Universal do Reino de Deus em Belo Horizonte foi condenada a devolver valores destinados à congregação desde 1996, em valores ainda a serem apurados na liquidação da sentença, e ainda ressarcir um homem em R$ 5.000 por danos morais. Segundo o TJ-MG (Tribunal de Justiça de Minas Gerais), o fiel foi considerado incapaz de tomar decisões por contra própria.Na sentença, desembargadores entenderam que a Igreja Universal fora negligente ao aceitar as doações. "A instituição religiosa que recebe como doação valor muito superior às posses do doador, sem devida cautela, responde civilmente pela conduta desidiosa", disseram desembargadores da 13ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Minas Gerais. Segundo laudo pericial psiquiátrico pedido pelo tribunal, o doador das quantias é portador de enfermidade de caráter permanente.Conforme relatos do TJ-MG, o fiel fora compelido a participar de reuniões antecedidas ou sucedidas de pedidos de doações financeiras.No processo, o freqüentador dos cultos, que não teve seu nome divulgado, foi representado pela mãe. O fiel trabalhava como zelador e tivera todo o ordenado tomado pela doação que fazia à instituição religiosa. Em dado momento, com o agravamento da doença, fora afastado do trabalho e, segundo dados do processo, passara a emitir cheques pré-datados para a Igreja Universal. Ainda de acordo com o tribunal, o homem contraiu empréstimo em instituição financeira e chegou a vender um lote por valor aquém do que o terreno valia em prol da Igreja Universal.Com "promessas extraordinárias", segundo o processo, o homem fora induzido a fazer as doações financeiras e, por seu turno, pessoas que tentavam demovê-lo da prática era tachado de "demônio". A mãe seria o principal ente do mal para ele.Inicialmente, o juiz da 17ª Vara Cível de Belo Horizonte havia argumentado que a incapacidade permanente do doador só fora constatada a partir de 2001, isentando assim a igreja de restituir valores anteriores a esse período. Estipulou assim em R$ 5.000 o valor a ser reembolsado e mais R$ 5.000 por danos morais.Tanto a igreja quanto o rapaz, representado pela mãe, recorreram da decisão. Em nova análise, o desembargador Fernando Botelho, relator do recurso, disse entender que a interdição veio apenas corroborar uma situação de incapacidade pré-existente.A igreja e o incapaz recorreram ao Tribunal de Justiça. O desembargador Fernando Botelho, relator do recurso, entendeu que a interdição do incapaz apenas veio confirmar situação pré-existente. "Mesmo antes de 1996, ano em que o autor passou a freqüentar as dependências da igreja e a fazer-lhe doações, já apresentava grave quadro de confusão mental, capaz de caracterizar sua incapacidade absoluta, já que, no laudo pericial, restou consignado que ele não reunia discernimento suficiente para a realização dos atos da vida civil", informou em seu despacho o relator do processo.Ainda cabe recurso ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), em Brasília-DF.A reportagem do UOL tentou entrar em contato com os advogados da Igreja Universal do Reino de Deus, mais foi informada que um dos representantes da igreja perante o TJ-MG está em viagem a São Paulo e só retorna a Belo Horizonte no sábado.O advogado Luiz Eduardo Alves, que atuou no caso representando a instituição evangélica, não foi localizado por meio dos números telefônicos repassados à reportagem.

Jornalista: Rayder Bragon; Fonte: Especial para o UOL; Em Belo Horizonte

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

CCJ do Senado aprova indicação do primeiro ministro negro do STJ

CCJ do Senado aprova indicação do primeiro ministro negro do STJ
13/08/2008 - 13h15

Os senadores da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovaram nesta quarta-feira (13), após sabatina, a indicação do desembargador federal Benedito Gonçalves para o cargo de ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) por 18 votos a 1. A indicação do novo ministro ainda precisa ser ratificada pelo plenário do Senado, o que pode acontecer nesta tarde.
Indicado pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, Benedito Gonçalves poderá ser o primeiro ministro negro da história do STJ. Durante a sabatina, todos os parlamentares que se manifestaram na CCJ apoiaram a indicação do desembargador federal para o cargo. ?Me tranqüilizei mais ainda ao perceber o seu compromisso com o Estado Democrático de Direito?, disse o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM).
Natural do Rio de Janeiro, Benedito Gonçalves foi indicado para ocupar a vaga deixada pelo ministro José Delgado, que se aposentou. Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ele também tem no currículo uma especialização em direito processual civil e um mestrado ? ambos realizados na Universidade Estácio de Sá, no Rio. Gonçalves entrou na magistratura em 1988, aos 34 anos. Em 1998, chegou ao cargo de juiz do Tribunal Regional Federal no fim de 1998. Antes disso, trabalhou na Polícia Federal e também como delegado da Polícia Civil.

Em 2003, também com uma indicação de Lula, Joaquim Barbosa foi o primeiro ministro negro do Supremo Tribunal Federal (STF).

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Isaac Hayes, a soul music mais clássica

O cantor e compositor, morto domingo, fez história com ousadias sonoras

SÃO PAULO -
Isaac Hayes, que morreu no domingo, 10, em Memphis, Tennessee, aos 65 anos, foi uma figura atípica entre os ícones da soul music, do rhythm and blues e do funk. Para a geração MTV, que não presenciou o auge de sua carreira nos anos 1970, ele era famoso por ter emprestado o potente vozeirão ao Chef, personagem da anárquica série de animação South Park, entre 1997 e 2003. O cantor, compositor, pianista, arranjador e ator decidiu abandonar a série em protesto contra um episódio em que os personagens debochavam da cientologia, seita da qual era adepto. Os criadores da série logo se vingaram com mais deboche: transformaram o Chef num pedófilo e depois o mataram de modo violento.
No domingo Hayes, que sofreu um derrame cerebral em 2006, foi encontrado inconsciente caído ao lado de uma esteira ergométrica, em casa, por sua mulher, Adjowa. Levado ao hospital, Hayes, que se dizia obcecado por saúde, não resistiu. No campo da música, seu feito mais evidente foi ter ganhado um Oscar de melhor canção original por Theme from "Shaft", de 1971, algo revolucionário para o período.
O tema, basicamente instrumental, com um breve texto canto-falado na parte final, combinava efeitos de guitarra wah-wah e metais, entre incidental e dançante, mudava de andamento várias vezes e era também bastante longo para os padrões do mercado. Além do mais, abriu caminho para a disco music de Barry White (1944-2003), que também tinha um vozeirão e emplacou um hit instrumental (Love’s Theme) nas pistas.
No Brasil aconteceu algo curioso. A novela Bandeira 2 utilizou uma espécie de paródia de Theme from "Shaft", confundindo o público. Era o Tema de Tucão, personagem de Paulo Gracindo, executado pela Orquestra Som Livre e composto por um certo Zelão e Eduardo Lima. A música está registrada na trilha sonora da novela, lançada em CD, e é idêntica à de Hayes, na melodia e no arranjo, com algumas variações que talvez legalmente não se caracterize como plágio, mas moralmente é. Feio e descarado.
Na cerimônia de entrega do Oscar em 1972, Hayes foi ovacionado ao tocar Shaft. Consta que foi pioneiro entre os músicos afro-americanos ao vencer o prêmio, mas este é apenas um dentre os lances espetaculares de sua carreira. Shaft foi o que mais repercutiu no mundo, mas não foi a única nem a primeira de suas contribuições revolucionárias.
Hayes já tinha se transformado num astro em 1969 com o álbum Hot Buttered Soul. Em maio do ano anterior, a lendária gravadora Stax, da qual Hayes era o nome de maior porte, tinha perdido o contrato de distribuição com a Atlantic Records. O executivo Al Bell decidiu então tomar uma atitude ousada: lançar 27 álbuns e 30 singles ao mesmo tempo. Hayes, que tinha sido contratado pela Stax em 1963, engrenou na carreira ali como músico acompanhante, substituindo o pianista Booker T.Jones.
Antes ele tinha emplacado hits nas vozes da dupla Sam & Dave, como co-autor de Soul Man, Hold on I’m Comin’, Wrap it up e outros. Em 1968, porém, viu frustrada a tentativa de se lançar como cantor-solo. Seu álbum de estréia, Presenting Isaac Hayes, que continha o single Precious, Precious, foi um fracasso comercial, mas mesmo assim resolveu radicalizar na nova oportunidade dada por Bell. Hayes disse que não dava a mínima se o disco não vendesse, porque estava mais interessado num lado artístico verdadeiro do que no valor monetário.
A (depois) famosa careca reluzente de Hayes, fotografada de cima para baixo, que compunha com os óculos escuros e adereços de vestuário um visual moderno, estampava em primeiro plano a capa do LP Hot Buttered Soul. O conteúdo era ainda mais ousado: apenas quatro faixas, duas delas sendo versões de música pop branca com 12 minutos (Walk on by, de Burt Bacharach e Hal David) e 18 minutos (By the Time I Get to Phoenix, de Glen Campbell), um tema original dele intitulado Hyperbolicsyllabicsesquedalymistic, de 9 minutos, e um relativamente curto tema de 5 minutos (One Woman), escrito por dois compositores de Memphis, Charlie Chalmers e Sandy Rodhes’s.
A ousadia foi, enfim, compensada. O álbum vendeu mais de 1 milhão de cópias e foi considerado vanguardista por vários motivos. Isaac cantava um tom abaixo da média dos cantores de soul do período, os arranjos eram abundantes de experimentalismo e variações. Além disso ele colocou versos falados nas canções, o que também o classifica como precurssor do rap.

Depois veio Black Moses (1971), outro de seus álbuns mais bem-sucedidos, em que gravou Never Can Say Goodbye, hit do Jackson 5, que tomaria as pistas durante a década toda com versões como a de Gloria Gaynor no auge da disco music, e voltou a Bacharach/David - (They Long to Be (Close To You)), em versão de 9 minutos.
Em 2000, Hayes fez uma breve participação no remake do filme Shaft. Em 2001 produziu outro grande êxito tanto artístico como comercial, o álbum de estréia de Alicia Keys, Songs in a Mirror. Com ele a soul music se tornou mais clássica.

Lauro Lisboa Garcia, de O Estado de S. Paulo
Segunda-feira, 11 de agosto de 2008, 20:39