Calendário Histórico
1949: Tumultos após concerto de Paul Robeson
Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: A polícia praticamente nada fez para conter a ira dos manifestantesNo dia 4 de setembro de 1949, protestos interromperam a apresentação do ator e cantor negro Paul Robeson em Nova York.
O ator e cantor negro Paul Robeson transformou a canção Old Man River do musical Showboat num hino da esquerda contra a injustiça e a opressão. O mais famoso artista afro-americano dos Estados Unidos também foi um ativista político. Segundo o ator, poeta e roteirista Saul Williams, que fez o papel principal em Slam (1998), "Paul Robeson sempre seguia seu coração e conseguia atingir a alma das outras pessoas."
Na Conferência Mundial da Paz de 1948 em Paris, Robeson declarou que os negros norte-americanos não deveriam ir para a guerra por um governo que os oprimiu durante várias gerações. A reação da opinião pública dos EUA foi imediata, como lembra Ben Hersh, de Peekskill, uma pequena cidade no norte do Estado de Nova York:
"Na época, reinava um clima anticomunista em toda esta região, sobretudo entre os veteranos de guerra. O lema dos grupos de oposição em Peekskill era "Acorda Amerika!" E Peekskill acordou. Muitos moradores colaram adesivos com esse lema nas janelas e nos pára-brisas de seus automóveis."
Espetáculo adiado
No final de agosto de 1949, uma multidão incitada pela imprensa local impediu a realização de um concerto ao ar livre de Paul Robeson em Peekskill. Em seguida, um novo espetáculo foi marcado para 4 de setembro, desta vez sob rigorosas medidas de segurança. Paul Robeson Junior lembra que não foram só os sindicalistas que formaram um anel de proteção ao redor da arena do espetáculo:
"As forças de segurança eram compostas também por ex-combatentes do exército. Tudo fora organizado como numa operação militar, mas sem armas. Nem todos os grupos de veteranos pensavam como os direitistas e a plebe exaltada. De forma alguma."
O cantor e ativista Pete Seeger diz que o clima dominante em Peekskill, naquela noite de setembro, era de perseguição aos comunistas. Essa atmosfera tinha sido incitada na véspera do concerto de Paul Robeson por um editorial do jornal "Evening Star", bem como por um discurso do então secretário da Defesa Louis Johnson. Pete Seeger:
"Ninguém sabe exatamente como os ataques foram organizados. A Legião Americana e algumas outras organizações de veteranos estavam envolvidas, mas foi sobretudo o Ku Klux Klan que mobilizou atiradores de pedras. Eles haviam infiltrado representantes até na polícia. Estive com toda a minha família no concerto. Cantei três canções antes de Paul Robeson pisar no palco. Todos os vidros do nosso carro foram quebrados. Tenho certeza que tinha gente querendo matar Robeson. Antes do início do concerto, um franco-atirador foi descoberto numa árvore."
Tumulto após o concerto
Paul Robeson conseguiu apresentar-se diante de 25 mil pessoas, em 4 de setembro de 1949. Mas, após o espetáculo, a polícia permitiu que uma multidão branca atirasse pedras nos espectadores que voltavam para casa. Inúmeros carros foram danificados e centenas de pessoas saíram feridas nos tumultos. À saída do espetáculo, o público foi prensado por um túnel de ódio dos brancos que cercavam as ruas das cidade.
Os gritos de "Volta pra Rússia!" ou "Te manda, negro!" eram até inofensivos diante dos ataques violentos contra o público. A espectadora Ellen Perlo relembra: "Em ambos os lados das ruas, encontravam-se as mesmas pessoas que já nos haviam recebido com insultos. Só que agora, em vez de insultos, veio uma chuva de pedras. Tremíamos, com medo de tamanha barbárie."
Uma comissão de inquérito instituída pelo governador de Nova York transformou os agressores e a polícia em vítimas. Somente anos depois é que as autoridades admitiram ter observado passivamente os violentos distúrbios de Peekskill.
Michael Kleff (gh)
http://www.dw-world.de/dw/article/0,,319283,00.html?maca=bra-uol-all-1387-xml-uol
Governo tem de pagar indenização de R$ 20 mil a família de menino que recebeu tarefa racista
O descuido de uma professora da rede estadual de São Paulo na utilização de um texto com conteúdo racista em sala de aula levou o Tribunal de Justiça de São Paulo a condenar o governo do Estado a pagar uma indenização de R$ 20,4 mil por danos morais à família de um estudante. A sentença foi dada no dia 10 e cabe recurso. A Procuradoria-Geral do Estado informou que ainda não sabe se vai recorrer da decisão.
Em 2002, uma professora da 2.ª série do ensino fundamental da escola estadual Francisco de Assis, no Ipiranga, em São Paulo, passou uma atividade baseada no texto Uma Família Colorida, escrito por uma ex-aluna do colégio. Na redação, cada personagem era representado por uma cor. O “homem mau” da história, que tentava roubar as crianças da família, era negro.
Durante o julgamento, a secretaria alegou que não houve má-fé ou dolo na ação da professora, mas o juiz entendeu que ainda assim se configurou uma situação de racismo. “Todavia, a atividade aplicada não guarda compatibilidade com o princípio constitucional de repúdio ao racismo”, afirma a sentença.
Depois da atividade, o garoto, que é negro e na época tinha 7 anos, passou a apresentar problemas de relacionamento e queda na produtividade escolar. O menino, que não teve a identidade divulgada, acabou sendo transferido de colégio. Laudos técnicos apontam que ele desenvolveu um quadro de fobia em relação ao ambiente escolar.
Pena. A sentença, de um juiz da 5.ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo, diz que houve dano moral por conta da situação de discriminação a que a criança e seus pais foram expostos. O valor fixado corresponde a 20 salários mínimos para o aluno e 10 salários mínimos para cada um dos pais. O pedido de danos materiais foi negado por falta de comprovação. A solicitação de recolhimento do livro que continha o texto foi desconsiderada, pois a rede não usa o material.
PARA LEMBRAR
Em 2007, uma pesquisa da Unesco mostrou que o racismo afeta o desempenho escolar de negros no Brasil. A média dos brancos no 3.º ano do ensino médio é 22,4 pontos mais alta que dos negros (na escala de 100 a 500 do Saeb). Mesmo quando se leva em consideração a classe social, as diferenças se mantêm. Na classe A, 10,3% dos brancos tiveram avaliação crítica e muito crítica no Saeb. Entre os negros, foram 23,4%.
Luciana Alvarez – O Estado de S.Paulo
http://bailedocarmo.com.br/site/index.php/archives/1709