domingo, 22 de agosto de 2010

Um outro lugar para os brancos na questão racial

ELEIÇÕES & SOCIEDADE CIVIL (15/Última)

Um outro lugar para os brancos na questão racial

“Os candidatos precisam compreender melhor as relações raciais no Brasil, as lutas das últimas décadas, as políticas em discussão. Há uma enorme violência contra mulheres, crianças e jovens em geral, mas em particular contra os jovens negros. A começar pela violência cometida pela polícia, algo assustador: eles matam muitos dos nossos meninos, são quase todos negros... como se cria a idéia de que alguém é suspeito e alguém está fora de suspeição? Como se construiu este monstro, o jovem negro?”.

Cida Bento, 58, doutora em Psicologia Social pela USP é diretora do CEERT – Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades, entidade que fundou há 20 anos ao lado de Hédio Silva Junior (ex-secretário da Justiça de São Paulo) e Ivair Augusto (hoje na Secretaria Nacional de Direitos Humanos). Entre outros projetos do CEERT, impressiona o fôlego e os resultados do Prêmio Educar Pela Igualdade Racial (já em sua quinta edição), que soma nada menos que mil e oitocentas experiências de sala de aula, em todos os estados, inclusive com alunos na faixa de 0 a 6 anos.

“Algo bonito no Prêmio Educar é que quase metade das experiências é realizada por professoras brancas, sem dinheiro do Estado, sem apoio das escolas... o branco pode ser um protagonista essencial neste processo de re-significar as relações raciais!” – diz Cida, convidada deste domingo para encerrar esta série Eleições & Sociedade Civil – na qual fizemos de breves conversas com lideranças sociais sobre o processo eleitoral.

Pergunto a Cida sobre as chamadas políticas afirmativas, que geram controvérsias e debates que, se bem acompanho, parecem carregados...

“Alguns dizem que as políticas afirmativas criam racismo...”, diz Cida Bento. Completa: “... por que no Brasil foi construído o mito da democracia racial. A ideologia dominante quer colocar o tema como uma questão apenas social – o que é uma saída de emergência que conforta o privilégio de ser branco. Ocorre, entretanto, um grande processo de mudança quando o branco vê isso... amplia a consciência. Não é fácil, demora, mas a pessoa vai mudando progressivamente.”

Por seu olhar quanto ao papel do branco no processo de percepção e mudança das questões raciais, Cida Bento acaba de embarcar para a Universidade do Texas, onde ficará 5 meses realizando “Branquitude e Poder no Brasil” - uma análise comparativa, referenciada na África Sul, Estados Unidos e América Latina.

“Trabalham com foco no negro 96% do estudos. Estou me dedicando às relações raciais com foco no branco. Trabalhar com um olhar focado nestas sociedades pode mudar um certo eurocentrismo acadêmico” - diz a diretora do CEERT.

A questão racial, o papel da sociedade civil... como você vê a presença destes temas na campanha eleitoral?

“A CUFA – Central Única de Favelas (Rio de Janeiro) vem fazendo uma aproximação destes temas com os candidatos e acho muito legal quando a sociedade chama e provoca posicionamento, ampliando a consciência. Sinto falta de que outras organizações também participem mais ativamente da oportunidade de debater o país; oportunidade que as eleições, em princípio, oferecem. Há certo diálogo com os candidatos e os partidos em torno de temas como negros, mulheres, mas não há repercussão, não há visibilidade”, diz Cida.

Agora, em tempo de eleições, mas também de forma habitual, como a mídia se comporta diante da questão racial?

Cida alerta: “A mídia ajuda a manter quando poderia ajudar a mudar. Pior: vejo que esta postura é uma ação organizada. Um exemplo? O CEERT assessora um trabalho da FEBRABAN – Federação Brasileira de Bancos, o projeto “Valorização da Diversidade”. Não é pouca coisa, pois ali estão diretores dos maiores bancos, ministros... é um trabalho que envolve a inclusão de mulheres negras e a seleção de jovens negros. Foi realizado um censo com cerca de 200 mil funcionários, com apoio técnico do IPEA, do Ministério Público, da Contraf/CUT e do IBGE, observando cargos, salários, políticas de promoção, mas você não vai acreditar se eu disser que jamais houve qualquer matéria significativa na imprensa”.

É mesmo difícil de acreditar... (ver www.febraban-diversidade.org.br/mapadiversidade/index2.asp)

“Há 6 anos” – diz Cida com certo pesar - “não assisto canais comerciais de televisão e não leio jornais. Me fazia tanto mal, me dava tanta impotência... É dor, é mais que irritação, é saber que aquilo vai progredir... Os brancos precisam encontrar outro lugar nas relações que estabelecem ”.

O que você gostaria de conversar com os candidatos?

Cida Bento gostaria de ouvir deles um balanço, digamos, sobre o que tem sido a participação da sociedade civil nos últimos anos: “Como, por exemplo, cada um deles avalia a contribuição das conferências setoriais sobre as políticas públicas”. Diz ainda: “Gostaria de saber dos candidatos como aumentar a incidência política das organizações que vivem as realidades sociais há décadas; e, como governo e sociedade podem seguir aprendendo a dialogar”.

Lembro a Cida que Paulo Freire, o educador, disse certa vez que num país como o Brasil manter a esperança viva é em si mesmo um ato revolucionário. E pergunto: como você reinventa a esperança no Brasil?

Cida Bento: “A gente sempre esbarra na desesperança, mas este é um país que encontra caminhos, que tem riqueza nas suas contradições e no afeto que transita entre nós - mesmo que violência também transite entre nós. Vamos criar sim uma nova relação ente brancos e negros, aí também há terreno fértil para uma nova realidade”.

*Conheça mais sobre o CEERT, ong dirigida por Cida Bento que combina produção de conhecimento com programas de treinamento e intervenção comprometidos com a igualdade de oportunidades e com a superação do racismo, da discriminação racial e de todas as formas de discriminação e intolerância. Com uma equipe de psicólogos, advogados, educadores, sociólogos e assistentes sociais, o CEERT presta consultorias a empresas, prefeituras e órgãos públicos interessados em implantar políticas de valorização da diversidade e de promoção da igualdade racial. (www.ceert.org.br)

Geraldinho Vieira é jornalista. Claudius é chargista.


http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2010/08/22/um-outro-lugar-para-os-brancos-na-questao-racial-317985.asp

sábado, 21 de agosto de 2010

Partido de extrema direita provoca controvérsia em campanha eleitoral na Áustria

20/08/2010 - 13h29
Partido de extrema direita provoca controvérsia em campanha eleitoral na Áustria


Com cerca de 25% nas pesquisas de intenção de voto, partido de extrema direita atrai adeptos durante campanha eleitoral em Viena, ao fazer uso de expressão tida como própria do vocabulário nazista em slogan de campanha.



http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/deutschewelle/2010/08/20/partido-de-extrema-direita-provoca-controversia-em-campanha-eleitoral-na-austria.jhtm

Cotas universitárias

MOVIMENTO <<>
Envie para um amigo Imprimir
Cotas universitárias
Realidade em cotas

ROSE CAMPOS

Descobrindo uma vocação
O interesse que Juliana Franco Alves, de 26 anos, sempre demonstrou pelas palavras a fez pensar, durante a adolescência, em se tornar jornalista. Com este objetivo, se desdobrou para conseguir estudar, trabalhando de dia para pagar as aulas noturnas do cursinho pré-vestibular. Seu objetivo era cursar faculdade pública. Para ela, era questão de justiça social, pois a vida toda havia estudado em escola pública. Na época, no entanto, nem imaginava que pudesse se beneficiar das cotas universitárias. Acabou se deparando com esta oportunidade por acaso e foi também quase ao acaso que acabou cursando Letras. "Fiz a opção pela proximidade do curso com a área de jornalismo", diz. Foi a partir daí que a paulista de Americana, em São Paulo, descobriu a paixão pelo universo literário. Tinha então, 21 anos, quando passou no processo seletivo de 2004 e ingressou na Universidade Estadual de Londrina. Juliana se aproximou também do Programa Integrado de Ações Afirmativas para Negros (Brasil Afroatitude), que resulta de uma parceria entre o Ministério da Saúde e universidades que possuem Programa de Ação Afirmativa para negros. "Acabei descobrindo a riqueza da poesia oral, que vem das nossas tradições africanas. Encontrei a cultura afro-brasileira, que é muito rica, criada e recriada pela voz e que vem das histórias contadas de geração em geração. Juliana já se formou e se dedica agora aos estudos de mestrado. E o prazer obtido com os novos conhecimentos lhe deram um outra visão de carreira e prazer profissional. "Hoje sei o valor que tem a profissão de professor. Acho que é uma das missões mais bonitas em nossa sociedade e me preparar para lecionar se tornou meu grande objetivo de carreira. Quero lecionar na universidade pública e contribuir para colorir cada vez mais o ambiente acadêmico, que se diversificou com o acesso proporcionado pelas cotas", afirma.

Crescimento político e racial
A advogada Allyne Andrade e Silva não poderia imaginar quando começou a cursar Direito na UERJ, em 2005, que os estudos a levariam tão longe. Um ano antes de terminar o curso de graduação - concluído em dezembro de 2009 - ela fez intercâmbio internacional em Kobe, no Japão, como bolsista de uma associação privada japonesa. A concorrência foi grande e, ao fim do processo seletivo, 14 estudantes de várias regiões do país competiam por três vagas. Allyne conquistou uma delas e foi para a terra do sol nascente estudar Relações Internacionais e Direito Internacional. "Além do curso específico, aprendi japonês e pude aprimorar o inglês. Amadureci muito também como pessoa", avalia.
Já formada, passou por um processo seletivo rigoroso para conseguir uma bolsa de estudos oferecida pelo Ministério das Relações Exteriores e CNPq a afrodescentes que querem atuar na área diplomática. "Não é um programa de cotas, como o que me permitiu entrar na faculdade, mas uma bolsa de R$ 25.000,00 anuais, que me permite fazer o caro curso preparatório para a prova de diplomacia", revela. O Brasil tem pouquíssimos diplomatas negros, o que acaba gerando o questionamento de vários países, principalmente os africanos, sobre nossa representação. Bolsas como a que Allyne conquistou são importante incentivo para que esta realidade comece a mudar. "Ser estudante de cotas teve grande impacto em meu crescimento político e consciência racial. Eu já fazia parte de movimentos sociais, mas hoje faço uma leitura muito mais ampla desse papel". Para a advogada, mais que as ações afirmativas que estimulam a entrada de negros e dos menos favorecidos em cursos universitários, os cursos pré-vestibulares comunitários têm grande relevância, como a Educafro, em que ela atuou como coordenadora. Ser a primeira pessoa da família ou da comunidade a entrar na faculdade também traz um valor simbólico, pois serve de exemplo e estimula outras pessoas a trilharem caminhos semelhantes. "A universidade também ganha, pois a diversidade racial e social muda, dinamiza e enriquece a produção do saber universitário", conclui.


http://racabrasil.uol.com.br/cultura-gente/146/artigo180979-2.asp


Carta aberta sobre as cotas na UFRJ

Ao contrário do que pretendem afirmar alguns setores da imprensa, o debate em torno de políticas afirmativas e de sua implementação no ensino universitário brasileiro não pertence à UFRJ, à USP ou a qualquer setor, "racialista" ou não, da sociedade. Soma-se quase uma década de reflexões, envolvendo intelectuais, dirigentes de instituições de ensino, movimentos sociais e movimento estudantil, parlamentares e juristas.

UFRJ

Atualmente, cerca de 130 universidades públicas brasileiras já adotaram políticas afirmativas - entre as quais, a das cotas raciais - como critério de acesso à formação universitária. Entre estas instituições figuram a UFMG, a UFRGS, a Unicamp, a UnB e a USP, que estão entre as mais importantes universidades brasileiras.

Em editorial da última terça-feira, 17 de agosto, intitulado "UFRJ rejeita insensatas cotas raciais", o jornal O Globo assume, de forma facciosa, uma posição contrária a essas políticas afirmativas. O texto desmerece as ações encaminhadas por mais de cem universidades públicas e tenta sugestionar o debate em curso na UFRJ. Distorcendo os fatos, o editorial fala em "inconstitucionalidade" da aplicação do sistema de cotas, quando, na verdade, o que está em pauta no Supremo Tribunal Federal não é a constitucionalidade das cotas, mas os critérios utilizados na UnB para a aplicação de suas políticas afirmativas.

Na última década, enquanto a discussão crescia em todo o país, a UFRJ deu poucos passos, ou quase nenhum, para fazer avançar o debate sobre as políticas públicas. O acesso dos estudantes à UFRJ continua limitado ao vestibular, com uma mera pré-seleção por meio do ENEM, o que significa um processo ainda excludente de seleção para a entrada na universidade pública. Apesar disso, do mês de março para cá, o debate sobre as cotas foi relançado na UFRJ e, hoje, várias decisões podem ser tomadas com melhor conhecimento do problema e das posições dos diferentes setores da sociedade em relação ao assunto.

Se pretendemos avançar rumo a uma democracia real, capaz de assegurar espaços de oportunidades iguais para todos, o acesso à universidade pública deve ser repensado. Isto significa que é preciso levar em conta os diferentes perfis dos estudantes brasileiros, em vez de seguir camuflando a realidade com discursos sobre "mérito" (como se a própria noção não fosse problemática e como se fosse possível comparar méritos de pessoas de condição social e trajetórias totalmente díspares) ou sobre "miscigenação" (como se não houvesse uma história de exclusão dos "menos mestiços" bem atrás de todos nós).

Cotas sociais - e, fundamentalmente, aquelas que reconhecem a dívida histórica do Brasil em relação aos negros - abrem caminhos para que pobres dêem prosseguimento aos seus estudos, prejudicado por um ensino básico predominantemente deficiente. Só assim os dirigentes e professores das universidades brasileiras poderão continuar fazendo seu trabalho de cabeça erguida. Só assim a comunidade universitária poderá avançar, junto com o país e na contra-mão da imprensa retrógrada, representada por O Globo, em direção a um reconhecimento necessário dos crimes da escravidão, crimes que, justamente, por ainda não terem sido reconhecidos como crimes que são, se perpetuam no apartheid social em que vivemos.

Rio de Janeiro, 19 de agosto de 2010

Assinam os professores da UFRJ:

Alexandre Brasil - NUTES

Amaury Fernandes – Escola de Comunicação

André Martins Vilar de Carvalho - Filosofia/IFCS e Faculdade de Medicina

Anita Leandro – Escola de Comunicação
Antonio Carlos de Souza Lima – Museu Nacional

Clovis Montenegro de Lima - FACC/UFRJ-IBICT
Eduardo Viveiros de Castro – Museu Nacional

Denilson Lopes – Escola de Comunicação

Fernando Rabossi - IFCS

Fernando Alvares Salis – Escola de Comunicação

Fernando Santoro - IFCS

Flávio Gomes - IFCS

Giuseppe Mario Cocco - Professor Titular, Escola de Serviço Social

Heloisa Buarque de Hollanda – Professora Titular, Escola de Comunicação/FCC

Henrique Antoun - Escola de Comunicação

Ivana Bentes – Diretora, Escola de Comunicação

Katia Augusta Maciel - Escola de Comunicação

Leonarda Musumeci – Instituto de Economia
Lilia Irmeli Arany Prado – Observatório de Valongo

Liv Sovik – Escola de Comunicação

Liz-Rejane Issberner - FACC/UFRJ-IBICT
Marcelo Paixão – Instituto de Economia

Marcio Goldman – Museu Nacional

Marildo Menegat – Escola de Serviço Social

Marlise Vinagre - Escola de Serviço Social

Nelson Maculan - Professor titular da COPPE e ex-reitor da UFRJ

Olívia Cunha – Museu Nacional

Otávio Velho – Professor Emérito, Museu Nacional

Paulo G. Domenech Oneto – Escola de Comunicação
Renzo Taddei – Escola de Comunicação

Roberto Cabral de Melo Machado - IFCS

Samuel Araujo – Escola de Música

Silvia Lorenz Martins - Observatorio do Valongo

Suzy dos Santos – Escola de Comunicação

Tatiana Roque – Instituto de Matemática

Virgínia Kastrup – Instituto de Psicologia

Silviano Santiago, Professor emérito, UFF

Alabê Nunjara Silva, graduando em RI, UFRJ

MNDH - Movimento Nacional de Direitos Humanos
http://www.mndh.org.br Fornecido por Joomla! Produzido em: 21 August, 2010, 09:31


http://www.mndh.org.br/index2.php?option=com_content&do_pdf=1&id=2459

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

http://extra.globo.com/geral/religiaoefe/posts/2010/08/18/historia-de-iansa-base-de-monologo-em-cartaz-no-sesc-tijuca-317195.asp

Enviado por Eliane Maria -
18.08.2010
| 20h48m
CANDOMBLÉ

História de Iansã é base de monólogo em cartaz no Sesc Tijuca

Foto: divulgação

O monólogo Sete Ventos, interpretado pela atriz Débora Almeida, está em cartaz no Sesc Tijuca até o próximo dia 29 - às sextas, sábados e domingos, às 19h. Baseado em Iansã e em depoimentos de mulheres negras, o espetáculo já cumpriu duas temporadas no Rio e retornou recentemente de Salvador, onde foi apresentado no Dia da Mulher Negra Latino-Americana e do Caribe.

Sete Ventos narra a trajetória da escritora Bárbara, filha de Iansã. Ela relembra junto ao público as histórias de mulheres negras que a influenciaram. Iansã, base do espetáculo, foi escolhida por ser considerada pela atriz a síntese da mulher contemporânea, que vai ao trabalho ao mesmo tempo em que tenta dar conta da cria. A ideia do monólogo é reelaborar artisticamente o mito do orixá, sua dança, sua música e suas histórias.

O Sesc Tijuca fica na Rua Barão de Mesquita, 539. Os ingressos custam R$ 16 (inteira), R$ 8 (meia) e R$ 4 (comerciários). Informações pelos telefones: 3238-2164/2167 e 2129.

Siga o Religião e Fé no Twitter: http://twitter.com/religiaoefe.


http://extra.globo.com/geral/religiaoefe/posts/2010/08/18/historia-de-iansa-base-de-monologo-em-cartaz-no-sesc-tijuca-317195.asp