quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Tensões raciais ainda existem 16 anos após o fim do apartheid Julgamento de jovens brancos relança debate sobre racismo na África do Sul

Tensões raciais ainda existem 16 anos após o fim do apartheid
Julgamento de jovens brancos relança debate sobre racismo na África do Sul
A África e suas lutas
Um grupo de jovens brancos começou ontem a responder em tribunal por um video em onde mostravam cinco negros, funcionários de uma universidade, a ingerir uma pasta que continha urina.


O objectivo do vídeo era provar que a integração de alunos negros na residência universitária não iria funcionar. E, para isso, um grupo de jovens brancos da Universidade de Free State, na África do Sul, pegou em quatro mulheres e um homem, funcionários da escola, negros, e filmou-os. Primeiro, a beber cerveja. Depois, num campo desportivo, a correr e jogar com uma bola. E, por fim, a levar à boca uma mistela que o espectador tinha visto a ser preparada: uma pasta castanha que levou dentes de alho, passou alguns segundos no micro-ondas, e foi transportada para a casa de banho para um dos alunos lhe misturar a sua urina.


Foram dez minutos e dez segundos de imagens. Mas as consequências do filme, exibido há dois anos, arrastam-se até hoje, dia em que os seus autores - Johnny Roberts, Schalk van der Merwe, RC Malherbe e Danie Grobler - vão começar a responder em tribunal por "atentado à dignidade".

O acontecimento extravasou largamente os portões da universidade, em Bloemfontein, e fez emergir um debate nacional sobre o racismo, 16 anos passados sobre o fim oficial do apartheid. Ainda que na própria escola a polémica esteja silenciosa.



"Houve uma grande cólera quando o vídeo saiu, mas essa cólera apagou-se", comenta à AFP Moses Masetha, presidente da associação de estudantes. "Muitos alunos nem sabem que o julgamento vai começar". Mas é ainda o próprio Masetha - o primeiro líder negro da associação, numa universidade que nos seus 105 anos teve sobretudo alunos brancos - quem afirma: "O racismo é há muito uma realidade no campus".


E é isso que o repórter da agência francesa constata. Grupos formados em função da cor de pele e discursos que não escondem as tensões. Uma realidade distinta da sociedade arco-íris proclamada por Nelson Mandela. "Temos línguas diferentes, culturas e origens diferentes. Não temos nada em comum. Nada que nos ligue. Então, por que é que temos de nos misturar uns com os outros?", lança Tisetso Masha, de 19 anos. "Isto não faz de mim racista."


A investigadora Nthamaga Kgafela, do Instituto Sul-africano das Relações Raciais, afirma ao PÚBLICO que "este julgamento não vai abrir feridas, mas as feridas que estavam cobertas com gesso serão provavelmente destapadas e expostas". Não é nada de novo, ressalva. "É um processo que já estava a acontecer quando este incidente veio a público".


Um estudo do Instituto para a Justiça e Reconciliação mostrava no mês passado que menos de metade dos sul-africanos acredita que as relações raciais melhoraram desde o fim do apartheid. Num dia normal, uma em quatro pessoas não falará com ninguém de outra cor, e duas em cinco considera o "outro" como "não-confiável". E se, em 2005, 86 por cento da população acreditava num "futuro feliz para todas as raças", a percentagem caiu agora para 62 por cento.


Racismo é visível
"Existem elementos de racismo visíveis no país", continua Nthamaga Kgafela. "Organizações como a Boermag [de extrema-direita] ainda têm apoiantes, alguns deles crianças que estão destinadas a tornar-se adultos racistas. O apoio a locais como Oranje - uma área exclusivamente branca no centro da África do Sul, que a comunidade quer gerir de forma independente do resto do país, com a sua própria moeda e Constituição - é também um exemplo dos elementos racistas".

A África do Sul continua a ser um país de "duas economias, a preto e branco", como descreveu o ex-Presidente Thabo Mbeki. As mudanças introduzidas pelo primeiro Governo do ANC (African National Congress, no poder) em 1994, não deram os frutos esperados. A minoria branca constitui ainda a maior parte da população rica e com formação, e os negros são sobretudo pobres e sem estudos.

Há também quem se queixe de um racismo institucional no trabalho, "onde um branco será mais facilmente promovido, em detrimento de um negro mais qualificado. Isto é evidente na estrutura da maioria das empresas, que têm brancos no topo salpicados com alguns negros para cumprir as quotas, e pessoas negras nos quadros intermédios e sobretudo baixos", diz a investigadora.

O desemprego ronda os 25 por cento (oficialmente, porque a taxa real será muito mais elevada, segundo alguns analistas), a enorme maioria composta por negros. Comparando com a situação de há duas décadas, "os desafios são idênticos", comentava à Reuters o analista político Nic Borain quando se assinalaram os 20 anos sobre a libertação de Nelson Mandela, a 11 de Fevereiro. "Se estabelecermos três categorias, há o desemprego, as desigualdades com uma camada racial e a pobreza. As mudanças entre 1990 e 2010 não são profundas".

O Banco Mundial estima que 34 por cento dos 50 milhões de sul-africanos vivam com menos de dois dólares por dia. E que as diferenças de rendimentos aumentaram. Mas a Reuters referia que há uma forte classe média negra a emergir, a geração das crianças nascidas depois de 1994 (ano das eleições que levaram Mandela a tornar-se no primeiro Presidente negro do país), conhecidas como "nascidos livres".

O desafio maior, avança a investigadora, é que o racismo atinge geralmente "os membros mais vulneráveis da sociedade, que se tornam nas vítimas das suas formas mais violentas e adversas. É o caso dos funcionários da Universidade de Free State".

http://www.publico.pt/Mundo/julgamento-de-jovens-brancos-relanca-debate-sobre-racismo-na-africa-do-sul_1424193

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Comunidades quilombolas querem garantia de seus direitos

Comunidades quilombolas querem garantia de seus direitos
(24/02/2010 - 12:45)

Representantes das comunidades quilombolas de Minas Gerais, da cidade de Paracatu - São Domingos, Família dos Amaros e Machadinho -, estiveram ontem (23) à tarde na Fundação Cultural Palmares, vinculada ao Ministério da Cultura. Eles foram recebidos pelo diretor do Departamento de Proteção ao Patrimônio Afro-Brasileiro, Maurício Reis, e pela procuradora da Palmares, Dora Bertúlio.



A reunião foi marcada com as comunidades após uma audiência pública ocorrida em Patos de Minas, no final do ano passado, ocasião em que os quilombolas fizeram relatos de perseguição pela mineradora RPM.

"Chamamos a comunidade para esta reunião, a fim de resgatarmos as histórias contadas na época e ver que atitudes necessárias e de nossa competência adotar para a proteção e garantia dos direitos dessas comunidades", explica Dora. Segundo ela, é preciso intervenção no processo de violação da integridade física, degradação ambiental e restrição de produção por conta da expansão das atividades da mineradora.



Os quilombolas, de comunidades já certificadas pela Palmares, fizeram um relato da situação em que vivem há mais de 40 anos pressionados pela mineradora RPM. "É pressão para vendermos as terras, falta acesso ao nosso território como as cachoeiras do local, além da poluição dos rios e a devastação das matas", denunciam.



O presidente do Ponto de Cultura Fala Negra, Jurandir Dario, disse que as comunidades precisam do apoio da Palmares, uma vez que vários membros da comunidade já estão morrendo, o que aumenta ainda mais o sentimento de desolação. "Cada um que morre leva um pouquinho das nossas esperanças".

Para ele, o contato com a Fundação é fundamental para a autonomia dos quilombolas e para a proteção de suas comunidades. "Muitas vezes os quilombolas têm medo de falar", lamenta.



Segundo relatos, da área rica em ouro de superfície chegam a ser retirados quatro helicópteros do metal por semana.

Ativistas canadenses pedem que emissora se desculpe por comentários homofóbicos sobre patinador

Ativistas canadenses pedem que emissora se desculpe por comentários homofóbicos sobre patinador
Por Redação
23.02.10

O Conselho de Gays e Lésbicas de Quebec exige que a emissora americana RDS peça desculpas públicas por comentários considerados homofóbicos sobre o patinador norte-americano Johnny Weir.

O pedido de retratação se refere à “sugestão” de que o patinador deveria fazer um “teste de sexualidade”, proferida por um comentarista da RDS durante a transmissão dos Jogos Olímpicos de Inverno de Vancouver, no Canadá. O comentário foi feito no dia 17 de fevereiro, durante a competição individual de patinação artística. Outro comentário, sobre o comportamento do atleta “ferir a imagem do esporte”, também foi ao ar durante a transmissão realizada pela emissora.

“Para nós, é inaceitável que um comentarista de esportes tire sarro e avilte um atleta por causa de sua aparência. Essas são coisas que perpetuam o preconceito contra os homossexuais", afirma a entidade em nota divulgada na última segunda feira, 22 de fevereiro, e que define o comentário como “ultrajante”.

No quadro geral de classificação da patinação artística dos Jogos de Vancouver, Johnny Weir obteve a sexta posição.

http://gonline.uol.com.br/site/arquivos/estatico/gnews/gnews_noticia_23445.htm

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

ESTREIA DOCUMENTÁRIO COTAS RACIAIS

A TV Câmara tem o prazer de comunicar a todos os que participaram ou colaboraram na produção do documentário Raça Humana - sobre os bastidores da adoção de cotas raciais na UnB e seus reflexos na sociedade brasileira - que a estreia do vídeo será feita no próximo dia 03 de março, às 23 horas.

A TV Câmara pode ser sintonizada em canal aberto em Brasília (canal 27) e São Paulo (canal digital, 61); ou nos canais a cabo e por antena parabólica, em todo o Brasil.

Aos colaboradores e entrevistados que desejarem obter cópias do documentário, basta enviar-nos endereço completo, com CEP, para a remessa gratuita do vídeo.

Agradecemos a participação de todos nesta produção e desejamos que o documentário possa contribuir para esta discussão, tão complexa e vital para o Brasil.

A todos, o nosso muito obrigada.

Um grande abraço,


Dulce Queiroz
Diretora do Documentário Raça Humana
Núcleo de Documentários
TV Câmara
Brasília/ DF
(61) 3216-1629

Serviço:
Documentário Raça Humana (produção: TV Câmara)
Direção: Dulce Queiroz
Duração: 41'
Estreia: quarta-feira, 03 de março, 23 horas
Reprises: sábado, 06 de março, às 21h e 00h30; domingo, 07 de março, às 13h30 e 20h30.
Outras informações: (61) 3216-1628 ou 3216-1629, com Pedro Henrique ou Pedro Caetano

Câmara do DF lê carta-renúncia, e Paulo Octávio deixa governo; aliado de Arruda

23/02/2010 - 17h30
Câmara do DF lê carta-renúncia, e Paulo Octávio deixa governo; aliado de Arruda assume
Do UOL Notícias*
Em Brasília
Atualizada às 20h15

Logo após desfiliar-se do Democratas para não ser expulso do partido, o governador interino do Distrito Federal, Paulo Octávio Alves Pereira, renunciou ao cargo nesta terça-feira (23). Paulo Octávio cogitou renunciar na última quinta-feira, mas recuou para tentar, sem sucesso, apoio dos deputados distritais e do DEM para governar. Ao todo, ficou apenas 12 dias no cargo.


A íntegra da carta-renúncia foi lida pelo vice-presidente da Câmara Legislativa do DF, Cabo Patrício (PT). A carta já estava redigida pelo menos desde a semana passada.

"Dediquei-me, nos últimos dias, a realizar consultas junto a líderes partidários dos mais variados matizes. Busquei a interlocução com figuras representativas da sociedade. As negociações apenas tornaram mais claras para mim as dificuldades de garantir, neste momento, a tão necessária governabilidade para o Distrito Federal", disse em carta Paulo Octávio.

"Permanecer no cargo, nas circunstâncias que chamei de excepcionais, exigiria a criação de condições também excepcionais", continuou o ex-governador, que citou ainda a falta de respaldo do próprio partido.

O vice-governador Paulo Octávio havia assumido a cadeira do titular José Roberto Arruda (sem partido) quando este foi preso no último dia 11 de fevereiro, acusado de participação de tentativa de suborno de uma testemunha do chamado mensalão do DEM, o esquema de enriquecimento ilícito e pagamento de propina a políticos por empresas de informática que tinham contratos no governo do DF, de acordo com investigação da Polícia Federal.

Assume o cargo máximo do Executivo do DF o presidente da Câmara Legislativa, Wilson Lima (PR),
Lima nasceu em 1953, em Ceres (GO). O distrital está no terceiro mandato e, em 2006, foi reeleito com 8.983 votos. Desde os 15 anos, mora na cidade de Gama.

O deputado foi seminarista na década de 1960 e estudou música na UnB (Universidade de Brasília). O distrital costuma contar que trabalha desde a adolescência e já vendeu picolés, foi frentista, mecânico, lanterneiro, pintor, balconista e cobrador de ônibus.

O deputado foi eleito pela primeira vez em 1998 pelo PSD. No governo Joaquim Roriz (PSC), Lima ocupou a subsecretaria de Alimentação e Promoção Social da Secretaria de Solidariedade em 2002. Além do PSD e PR, o distrital já foi filiado ao PTB, PMDB e Prona.

No último dia 2 de fevereiro, Lima foi eleito presidente da Câmara Distrital após a saída de Leonardo Prudente (sem partido), acusado de envolvimento no mensalão do DEM. O deputado ocupava a Primeira Secretaria.

Octávio deve deixar política
Paulo Octávio é citado nas investigações e nega envolvimento no esquema d~e propinas. Após a prisão de Arruda, o DEM pediu que todos os filiados deixassem o governo do DF. Sem apoio de antigos aliados e do próprio partido, Octávio optou pela desfiliação seguida pela renúncia. Ele é alvo de quatro de pedidos de impeachment na Câmara Legislativa do Distrito Federal.

Paulo Octávio deve deixar a política para se dedicar apenas às empresas dele, muitas delas com contratos com o governo. "Saio da cena político e me incorporo às fileiras da cidadania", escreveu na carta-renúncia.

Reportagem da Folha de S.Paulo publicada na semana passada mostra que o governo do DF pagou ao menos R$ 10,4 milhões para empresas do empresário veicularem publicidade oficial. O valor se refere aos últimos três anos, quando ele já era vice de Arruda. Octávio disse, por meio de seu advogado, que deixou o comando de todas as suas empresas quando foi eleito vice-governador na chapa de Arruda, em 2006.

Eleito em 2006 na chapa dos Democratas, Paulo Octávio Alves Pereira também presidia, desde 2008, a Regional do DEM-DF, cargo do qual se licenciou quando assumiu o governo.

Ao tomar posse como vice, Octávio também deixou o mandato de senador, cujo cargo ficou para o primeiro-suplente, Adelmir Santana (DEM-DF). Octávio foi eleito por duas vezes deputado federal, em 1990 e 1998, e eleito senador pelo Distrito Federal em 2002.

Como empresário, ele é dono de um dos maiores grupos de construção civil do Centro-oeste que leva seu nome, fundado em 1975. Segundo os números oficiais da empresa, a Paulo Octávio Investimentos Imobiliários contabiliza 38 mil imóveis entregues e tem 400 mil clientes no Distrito Federal com seus 2,7 milhões de m² de obras construídas.

O mineiro de Lavras é casado com Anna Christina Kubitschek Barbará A. Pereira, neta do ex-presidente da República Juscelino Kubitschek, com quem tem dois filhos.

Prisão de Arruda
A prisão de Arruda foi decidida pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça) e referendada pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Marco Aurélio Mello na semana passada.O STF ainda vai analisar o mérito do habeas corpus impetrado pela defesa de Arruda, prolongando a permanência dele na prisão.

http://noticias.uol.com.br/politica/2010/02/23/isolado-paulo-octavio-renuncia-ao-governo-do-df-aliado-de-arruda-assume.jhtm