domingo, 8 de novembro de 2009

AÇÕES AFIRMATIVAS Matem os escravistas

AÇÕES AFIRMATIVAS
Matem os escravistas

Por Demétrio Magnoli em 3/11/2009


Muniz Sodré é um curioso "observador da imprensa". O método que utiliza no artigo "É necessária uma nova Abolição?" consiste em estabelecer um pressuposto factual falso para, em seguida, insurgir-se contra a injustiça inexistente.

O pressuposto:

"Há uma questão atravessada na garganta de grupos empenhados na defesa das políticas afirmativas da cidadania negra. Trata-se de saber por que os jornalões (nome talvez mais palatável do que `grande mídia impressa´) brasileiros não dão voz alguma a quem se manifesta favorável a medidas como a instituição das cotas ou ao Estatuto da Igualdade Racial."

É mesmo?

A afirmativa não é só dele, nem a pergunta. Escreve Sodré:

"Foi essa a questão debatida nos dias 14 e 15 de outubro, durante o seminário `Comunicação e Ação Afirmativa: o papel da mídia no debate sobre igualdade racial´, realizado na Associação Brasileira de Imprensa por entidades como Comdedine, Cojira e Seppir."

Deixo de lado o fato de que ele se refere à Seppir como uma "entidade", quando se trata de um ministério. Anoto, porém, que o governo, por meio da Seppir, acusa os principais jornais do país de não dar "voz alguma a quem se manifesta favorável a medidas como a instituição das cotas ou ao Estatuto da Igualdade Racial". Quando o Estado se torna "observador da imprensa", algo vai mal. Quando intelectuais como Sodré veiculam as opiniões de um Estado convertido em "observador da imprensa", sente-se de longe o antigo desejo stalinista de calar a opinião divergente.

Opinião editorial é livre

Na dupla qualidade de jornalista e professor titular de uma universidade pública, Sodré deveria se preocupar com certos detalhes, como a consistência interna de seu texto. Mas a ideologia fala mais alto e ele, poucas linhas depois de enunciar seu pressuposto, admite a falácia. Está lá:

"É bem sabido que há vozes discordantes das opiniões oficiais dos jornalões, por parte de jornalistas de peso, alguns dos quais pertencentes aos quadros desses mesmos jornais. É o caso de Elio Gaspari, Miriam Leitão e Ancelmo Gois."

Ah, sim? Então?

Então, para formular uma hipótese benigna, talvez Sodré queira dizer coisa diversa daquela que escreveu. Não haveria, por exemplo, um desequilíbrio no material opinativo dos "jornalões" sobre a introdução de leis raciais no país? Imagino que Folha de S.Paulo, O Globo e O Estado de S.Paulo, os maiores jornais do país, sejam os "jornalões" de Sodré. Entre os três jornais, há apenas quatro colunistas fixos que abordam com alguma frequência o tema das políticas raciais: os próprios Gaspari, Leitão, Gois, além de Ali Kamel e eu mesmo. A seção da Folha de S.Paulo dedicada a artigos externos de opinião mantém o critério de dividir meio a meio seu espaço entre defensores e críticos do racialismo. O Globo e O Estado de S.Paulo não têm seções similares, mas adotam critério idêntico para artigos opinativos sobre o assunto que acompanham eventualmente o noticiário. Desafio Sodré a provar objetivamente que há desequilíbrio.

Ele não provará, pois não pode, mas isso em nada alterará a sua posição – nem a da Seppir e das demais "entidades" da sopa de letrinhas congregada para acusar a "mídia" de parcialidade. É que o problema deles com os principais jornais é outro: a opinião expressa nos editoriais. Os três "jornalões" posicionaram-se editorialmente contra a introdução de leis raciais – opinião, aliás, compartilhada pela maioria esmagadora dos brasileiros de todas as cores, como indica pesquisa encomendada por uma entidade favorável à introdução dessas leis. A opinião editorial é livre, numa sociedade democrática. Então, qual é o sentido do ataque de Sodré (que, sempre é bom lembrar, emana de um evento com participação estatal)?

Inimigos externos

A resposta está na conclusão do artigo de Sodré. Eis o trecho:

"(...) os jornalões, intelectuais coletivos das classes dirigentes, não fazem mais do que assim se confirmarem ao lhes darem voz exclusiva em seus editoriais e em suas páginas privilegiadas, ao se perpetuarem como cães de guarda da retaguarda escravista".

Fica-se sabendo assim que: 1) os intelectuais e ativistas críticos da introdução de leis raciais, pessoas de todas as cores e das mais variadas preferências partidárias e ideológicas, constituem a "retaguarda escravista"; 2) os "jornalões" são os "cães de guarda" dos escravistas. O que faria Sodré se estivesse no poder?

Um jornalista não está isento da exigência de rigor histórico, quando aborda temas históricos. Mas Sodré olha para o passado como quem duela ideologicamente no presente. O resultado é um cartum anacrônico, composto pela tesoura que corta fragmentos de citações e amparado por uma extensa ignorância histórica. O Alberto Torres caricatural que ele fabrica não passa num exame básico de graduação universitária. Recomendo, para quem quiser conhecer a posição de Torres, no cenário do intenso debate sobre a “questão racial” que crepitava no Brasil do início do século 20, uma consulta a meu livro Uma gota de sangue – história do pensamento racial.

Mas Sodré não tem nenhum interesse histórico no pensamento de Torres (ou de Oliveira Vianna). Ele só os menciona para inventar supostos “escravistas” atuais – e, com isso, substituir o argumento pela violência verbal. Nas democracias, a violência verbal é um sucedâneo da violência física contra opositores, interditada pela lei. Nas ditaduras, é um sinal anunciador da repressão. A violência verbal atinge seu paroxismo quando a voz dissonante é equiparada ao discurso abominável do inimigo externo. Cuba tem um "jornal único", pois divergir da linha oficial implica operar a serviço da CIA, um inimigo que é externo no sentido geográfico. A acusação de Sodré é que os "jornalões" são os arautos de um inimigo externo no sentido histórico: os "escravistas". Inimigos externos devem ser calados, senão presos e fuzilados.

Sodré empastelaria jornais, se pudesse. Ele não está só, neste Observatório.

http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=562JDB004

A América de Obama ainda é de brancos de um lado e negros do outro

PUBLICO.PT - A América de Obama ainda é de brancos de um lado e negros do outro

Há um ano Obama dizia que os EUA são capazes de mudar

A América de Obama ainda é de brancos de um lado e negros do outro

04.11.2009 - 09:31 Por Rita Siza, em Washington

"Uma América pós-racial", prometeu Barack Obama, recém-eleito Presidente dos Estados Unidos, exactamente há um ano em Chicago.

Carlos Barria/Reuters

Assistência do discurso de Obama de há um ano em Grant Park




Mas a esmagadora e histórica votação que pela primeira vez levou um afro-americano à Casa Branca parece ter tido pouca ou nenhuma influência na forma como os norte-americanos encaram as relações raciais e a igualdade entre as pessoas de diferentes cores.

"Se alguém ainda duvidava de que a América é o lugar onde tudo é possível, esta é a vossa resposta. É a resposta dada pelos novos e velhos, ricos e pobres, democratas e republicanos, negros, brancos, hispânicos, asiáticos, índios, homossexuais, heterossexuais, portadores de deficiência...", enumerou Obama, em Grant Park, no fim da noite eleitoral.

A realidade, contudo, tomou conta dessa ilusão e revela-se bem diferente. A esperança da sua vitoriosa coligação eleitoral, progressista, diversa, multirracial e recheada de minorias, esfumou-se e o país continua dividido - por ideologias, por recursos, por religiões e pela cor da pele.

Como revela a última sondagem da Gallup, que desde 1963 tem vindo a perguntar aos americanos se consideram que "as relações entre brancos e negros serão sempre um problema para os EUA ou eventualmente será encontrada uma solução", só 56 por cento dos inquiridos acreditam que melhores dias virão - apenas um ponto percentual acima das respostas do primeiro inquérito, realizado na sequência da marcha sobre Washington de Martin Luther King. A 5 de Novembro de 2008, um dia depois da eleição de Obama, as respostas optimistas alcançavam 67 por cento, o valor mais elevado de sempre.

"Os números das várias sondagens da Gallup permitem detectar duas tendências no que diz respeito à taxa de aprovação do Presidente Obama: que está em declínio e que é muito diferente entre os americanos brancos e negros", assinala Melissa Harris-Lacewell, professora de Política no Centro de Estudos Afro-Americanos da Universidade de Princeton.

A investigadora deu-se ao trabalho de ir a um comício com Barack Obama em Newark, no último fim-de-semana, a fim de avaliar a composição da audiência. E constatou que, ao contrário do que verificara durante a corrida presidencial, era muito menos diversa e mais homogénea: "Era, não exclusivamente, mas predominantemente, composta por afro-americanos", reparou.

Harris-Lacewell não estranha esse crescente intervalo racial - aliás, acredita que é inevitável que esse fosso ainda venha a escavar-se mais. "A história sugere que o apoio da população negra a Obama não reside unicamente na sua identidade como o primeiro Presidente afro-americano, antes tem raízes nessas diferenças raciais da política norte-americana", acrescenta.

O que esta académica destaca como "mais interessante" na análise das sondagens é o facto de a população negra se manifestar, simultaneamente, optimista no seu apoio a Barack Obama e pessimista sobre a direcção do país. E na sua opinião, esse é um dado que "pode tornar-se problemático".

Como sustenta, os eleitores negros têm de ser capazes de elogiar mas também de criticar o Presidente de forma a garantir que os seus interesses são tidos em conta na arena política. E a Administração não pode ficar refém do apoio isolado da população negra - o Presidente ficará muito mais vulnerável a ataques de que não representa o largo espectro dos eleitores americanos.

Em menos de um ano, a Administração de Obama já teve que lidar com vários casos que revelam algum "desconforto" racial com as suas palavras e acções, como por exemplo toda a controvérsia que se seguiu ao seu comentário sobre a detenção do professor afro-americano Henry Louis Gates, ou a sua escolha da juíza de ascendência hispânica Sonia Sotomayor para o Supremo Tribunal.

Nos comícios contra a proposta de reforma de saúde em debate no Congresso, durante o Verão, apareceram várias pessoas armadas e com cartazes reminiscentes do Ku Klux Klan, insultando o Presidente. Ao mesmo tempo, engrossavam as fileiras do disparatado movimento dos birthers, que rejeitam a legitimidade da eleição alegando que Obama é queniano.

Até agora, só o antigo Presidente Jimmy Carter se atreveu a considerar que na génese da oposição a Obama está o racismo latente na sociedade americana, que demonstra estar a lidar mal com o facto de ter um Presidente negro.

O Southern Poverty Law Center, que acompanha a actividade de grupos extremistas, detectou "o mais significativo crescimento dos últimos dez a doze anos" na adesão de novos membros, desde que Obama foi eleito. As autoridades já desmantelaram 50 "campos de treino" de operacionais dispostos a actuar militarmente.

"Depois de uma década em que estiveram ausentes do olhar público, as milícias de extrema-direita estão a ressurgir um pouco por todo o país", nota um relatório da organização. "E a diferença é que agora o governo, que é o seu inimigo primário, é chefiado por um negro", prossegue.

"A ideologia do ódio [racial] está em efervescência, e este é um caldeirão que, se entornar, pode resultar em terrorismo doméstico", comentou à AFP Mark Potok, dirigente do Southern Poverty Law Center.

Potok vê nas movimentações de grupos supremacistas brancos uma "reacção desesperada" para tentar evitar a integração racial nos Estados Unidos. "A realidade é que esta gente perdeu nas últimas eleições", diz Potok. "Não há nada que eles possam fazer para a História andar para trás."


http://www.publico.clix.pt/Mundo/a-america-de-obama-ainda-e-de-brancos-de-um-lado-e-negros-do-outro_1408243

Primeira juíza negra do país lança livro no estande da Esmal

Cidade
04/11/09 22:03

Primeira juíza negra do país lança livro no estande da Esmal

A juíza baiana Luislinda Dias de Valois Santos, primeira magistrada negra do país, lançará nesta quinta-feira (05), às 20h, no estande da Escola Superior da Magistratura (Esmal) na IV Bienal Internacional do Livro de Alagoas, a obra “O Negro no Século XXI”, que registra situações de preconceito e a difícil realidade dos afro-descendentes no Brasil.

Na obra, com o discernimento de quem conhece profundamente suas origens, a magistrada convida o leitor a redescobrir a história dos afro-descendentes no país. Como muitos brasileiros, ela sentiu na pele o peso do racismo ainda jovem, quando foi “aconselhada” por um professor a parar de estudar para cozinhar feijoada na casa de brancos. A cada capítulo, a autora pontua, de forma simples e direta, o processo histórico causador da desigualdade social e racial em nosso país.

“Esse livro é, ao mesmo tempo, uma missão e um desabafo. Nasceu em um momento difícil de minha vida em que pude, mais uma vez, sentir na pele o preconceito, tão velado em nossa sociedade”, declarou a magistrada.

Dividido em 18 capítulos, o livro é um avocar para uma reflexão sobre o retorno que a sociedade tem dado ao povo negro, em vista de sua contribuição social, econômica e cultural, ao longo dos séculos. Resultado de ampla pesquisa, lazer, educação, cultura e esporte são outros aspectos abordados na ótica de quem enxerga e convive com o preconceito cotidianamente.

“Quis mostrar à sociedade que pouco mudou na vida do afro-descendente aqui no Brasil. Infelizmente, muitas pessoas têm uma percepção camuflada”, afirma a juíza Luislinda Santos.

por TJ-AL



http://www.alemtemporeal.com.br/?pag=cidade&cod=10128

Representante da ONU para direitos humanos foi a primeira juíza negra da África do Sul

Representante da ONU para direitos humanos foi a primeira juíza negra da África do Sul
04 de novembro de 2009 17h02

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À frente do escritório do Alto Comissariado da Organização das Nações Unidas (ONU) para os Direitos Humanos (ACNUDH) desde setembro do ano passado, a sul-africana Navanethem Pillay é um exemplo de superação e luta. Negra, foi a primeira magistrada não branca da Corte Suprema de seu país e foi eleita para a ONU por recomendação do secretário-geral Ban Ki-Moon. Na próxima semana, ela estará no Brasil onde deve discutir temas como a violência urbana, os confrontos entre policiais e integrantes de quadrilhas, além da proliferação do uso de drogas entre crianças e adolescentes.

Em 2003, Navy como é conhecida atuou como juíza no Tribunal Penal Internacional de Haia (Países Baixos). Anteriormente, integrou como juíza e presidente o Tribunal Penal Internacional das Nações Unidas para Ruanda.

Navy Pillay construiu sua biografia ao inovar, em 1967, em pleno regime de apartheid na África Sul, abrindo um escritório de advocacia na província de Natal. Consolidou sua carreira em defesa do fim do regime de segregação e de suas vítimas. Foi a primeira mulher negra a ser nomeada juíza do Supremo Tribunal de Justiça da África do Sul.

Desde então, Navy Pillay concentrou suas atenções na defesa das crianças, dos presos políticos, das vítimas de tortura e de violência doméstica.

Com sede em Genebra (Suíça), o escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas tem cerca de 1 mil funcionários, em 50 países, e orçamento anual de US$ 150 milhões. Os principais objetivos do comissariado são promover o respeito universal aos direitos humanos fundamentais e garantir a proteção dos direitos e das liberdades individuais para todos.

Navy Pillay viaja pelo mundo para chamar a atenção sobre eventuais violações de direitos humanos, estimula a promoção da educação e o desenvolvimento de leis internacionais nesta área e analisa a situação dos direitos humanos nos estados que integram a ONU.


http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI4081815-EI306,00-Representante+da+ONU+para+direitos+humanos+foi+a+primeira+juiza+negra+da+Africa+do+Sul.html


Soldados búfalo atacam os alemães A 92ª Divisão afro-americana enfrenta forte oposição na Itália

Soldados búfalo atacam os alemães
A 92ª Divisão afro-americana enfrenta forte oposição na Itália

Afro-americanos lutaram em todos os grandes conflitos nos quais os Estados Unidos estiveram envolvidos, da Guerra de Independência em diante. Freqüentemente serviram com distinção – o 54º de Voluntários de Massachusetts durante a Guerra Civil, os 9º e 10º de Cavalaria de Negros durante as guerras contra os Índios e a Guerra Hispano-Americana e o 369º Regimento durante a 1ª Guerra Mundial, todos estabeleceram impressionantes registros de combate.

Ainda assim, em cada nova guerra na qual os Estados Unidos estiveram envolvidos, o sistema dos americanos brancos tendia a esquecer a contribuição feita pelos soldados negros em conflitos anteriores. A cada vez, soldados negros eram lançados em combate em unidades racialmente segregadas e tinham que novamente provar seu valor. Dos 990.000 negros americanos selecionados para o serviço militar durante a 2ª Guerra Mundial, somente uma divisão negra combateu como infantaria na Europa – a 92ª Divisão de Infantaria. A imensa maioria dos afro-americanos usando uniforme foi designada para unidades de construção ou intendência segregadas ou colocados em unidades que faziam serviços desagradáveis, como registro de sepulturas. O ponto de vista do governo era que os negros não seriam suficientemente motivados ou agressivos para lutar.

Apesar da 92ª ser conhecida como uma unidade negra e seus praças e a maior parte dos oficiais inferiores eram negros, os oficiais superiores eram brancos. A 92ª, que tinha combatido na França durante a 1ª Guerra Mundial, foi ativada mais uma vez em 1942. Sob o comando do General de divisão Edward M. Almod, a 92ª iniciou seu treinamento de combate em outubro de 1942 e seguiu para ação na Itália no verão de 1944. A unidade continuou uma longa e altiva tradição ao manter o búfalo como seu escudo divisional. Sua insígnia circular de ombro, que mostrava um búfalo negro em um fundo verde oliva, era conhecida como “o búfalo” – assim como o jornal oficial da divisão. A 92ª chegou até a ter um búfalo vivo como mascote.

O apelido “soldado búfalo” data do final dos anos de 1860, quando os soldados negros se apresentaram como voluntários para o oeste americano. Os índios americanos, que encaravam a nova ameaça como “homens brancos pretos”, inventaram o termo “soldado búfalo” como mostra de respeito para um valoroso inimigo. De acordo com uma história, os índios pensavam que os soldados negros, com sua pele escura e cabelos encarapinhados, pareciam búfalos. Outra história diz que o nome vem do couro de búfalo que muitos soldados negros usavam durante os duros invernos no oeste, como um suplemento à seus inadequados uniformes do governo.

Na primavera de 1944, depois de anos de pressão da comunidade negra, o governo relutantemente revogou sua política de excluir soldados afro-americanos do combate. Em 30 de julho de 1944, a primeira leva de soldados búfalo – o 370º Grupo de Combate Regimental – desembarcou em Nápoles, Itália, onde foi recebido por uma jubilosa multidão de soldados negros de outras unidades do exército. O resto da divisão chegaria poucos meses depois.

As tropas americanas enfrentavam um combate morro acima na Itália e, naquele momento, os aliados estavam desesperadamente faltos de tropas de infantaria. Depois de meses de duros combates, os aliados tinham conseguido empurrar as forças alemães sob o comando do Marechal de Campo Albert Kesselring quase que 800 sangrentos quilômetros península italiana acima. Mas mesmo depois da queda de Roma, em 4 de junho de 1944, os alemães simplesmente tinha se retirado de forma ordeira de uma linha de defesa para outra, ao invés de reconhecer a derrota.

No dia D, dois dias depois da vitória em Roma, soldados aliados partiram como um enxame pelas praias da Normandia. Pelo resto da guerra, o Quinto Exército Americano e o Oitavo Exército inglês teriam um papel secundário ao avanço aliado pela França. Durante o verão de 1944, quase 100.000 homens do Quinto Exército, de uma força total de 249.000, tinham sido transferidos para o combate na França. Enquanto os Aliados ficavam na margem sul do rio Arno em julho, preparando-se para atacar a barreira mais formidável de Kesselring até aquele momento – a infame Linha Gótica – os americanos claramente tinham tanques em demasia e infantaria insuficiente. Kesselring tinha construído a linha nas encostas das montanhas dos Apeninos, uma serra com 80 quilômetros de largura que, no norte da Itália, corre em diagonal de costa a costa e dá uma proteção natural aos centros industriais e agrícolas do norte.

Somando-se ao 370º, naquele momento a 92ª era composta de dois outros regimentos de infantaria, o 365º e o 371º; quatro grupos de artilharia de campanha, os 597º, 598º, 599º e 600º; mais uma bateria de serviços, o 92º Esquadrão de Reconhecimento, o 317º Batalhão de Engenharia de Combate e o 317º Batalhão de Saúde, assim como uma companhia de intendência, pessoal de manutenção e polícia militar. Os soldados búfalo foram designados para o IV Corpo do 5º Exército em duas áreas primárias de atuação, o vale do Serchio e o setor costeiro ao longo do mar da Liguria. Ocupavam o ponto mais ocidental da frente aliada, enquanto o Oitavo Exército atacava a porção oriental da península italiana. A 92ª iria enfrentar não somente terreno montanhoso e uma tremenda resistência – inclusive soldados do Décimo Quarto Exército Alemão e fascistas italianos, a 90ª Divisão Panzergernadier e a 16ª Divisão Panzergrenadier SS – mas também uma coleção de posições defensivas feitas pelo homem.

Ao lutar uma impressionante campanha defensiva, Kesselring tinha ganhado tempo para aperfeiçoar sua linha Gótica. Usando 15.000 trabalhadores italianos e 2.000 eslovacos, os alemães construíram casamatas, posições para tanques, túneis e fossos antitanques; reforçado castelos italianos já existentes e tinha lançado campos de minas cuidadosamente projetados, visando a dirigir as tropas inimigas para campos de tiro entrecruzado.

Neste momento da campanha da Itália, os aliados tinham uma vantagem. A Itália estava em um estado de guerra civil e as forças de partizans italianos estavam provando ser mais do que um incômodo para a causa alemã. Guerrilheiros tinham conseguido matar um comandante de divisão da Luftwaffe. Como resultado, um comandante alemão, General Fridolin von Senger, abandonou suas divisas de general e andava em um Volkswagen sem identificação.

Quando os soldados búfalo se colocaram ao longo da frente, começaram a trabalhar junto com os tanquistas da 1ª Divisão Blindada norte-americana. Somando-se a esta divisão, o IV Corpo era composto pela 6ª Divisão Blindada Sul-Africana, a Força Expedicionária Brasileira (FEB) e a Força Tarefa 45, composta de artilheiros antiaéreos ingleses e americanos que tinham sido retreinados e reequipados para o serviço de combate de infantaria.

Parte 2

Depois do desembarque no área continental da Itália em Salerno, em 9 de setembro de 1943, os aliados tinham tentado sem sucesso destruir Kesselring antes de janeiro de 1944. Agora eles mais uma vez esperavam fazer significativos avanços antes das nevascas que tinham vindo no inverno de 1944. O Quinto e Oitavo exércitos planejavam um ataque total na linha Gótica em agosto, com o Oitavo Exército posicionado ao longo da costa do Adriático e o Quinto Exército dirigindo seus esforços contra o centro da Itália, em direção a Bolonha. O IV Corpo iria cruzar o rio Arno, tomar o monte Albano e o monte Pisano na planície, estender sua frente para atrair a atenção do inimigo. Enquanto isso, o II Corpo do Quinto Exército, à sua direita, junto com o XIII Corpo britânico, iriam dirigir o principal assalto, contra o centro da linha Gótica. O ténuamente disperso IV Corpo também tinha a tarefa de guardar o flanco oriental aliado contra um contra-ataque alemão e proteger o crucial porto aliado de Livorno, na Costa.

Em 1º de setembro, os três batalhões do 370º Regimento, junto com elementos da 1ª Divisão Blindada, cruzaram o Rio Arno e avançaram para o norte por três ou quatro quilômetros. Cedo, nas horas da manhã de 2 de setembro, o 370º de Engenharia e o 1º de Engenharia Blindada tinham limpado os campos de minas, ajeitado os vaus e colocado uma pinguela atravessando o Arno para o ataque da infantaria blindada que se seguiria. A Força Tarefa 45 tinha se atolado nos grandes campos de minas, mas o 370º continuou em frente. O 3º Batalhão do 370º moveu-se para o leste de Monte Pisano, enquanto o 1º Batalhão avançou a oeste da montanha. Usando trilhas de mulas, o 2º Batalhão avançou direto para a montanha.

Os alemães retaliaram com fogo de armas portáteis, metralhadoras e artilharia, enquanto seus elementos avançados começaram a retirar-se em direção à linha Gótica. Os soldados búfalo avançaram para o norte, além do monte Pisano e atacaram a cidade de Lucca. Eliminaram o restante da resistência inimiga ao longo da estrada conectando Pisa a Luca e passaram os diversos dias seguintes próximos patrulhando e esperando pelo resto do Quinto Exército se mover.

O ataque principal começou em 10 de setembro, e três dias depois os soldados búfalo e os tanquistas da 1ª Blindada estavam na base nos Apeninos setentrionais. No dia 18 de setembro, o II Corpo tinha rompido a Linha Gótica no passo Il Giogo e muitos dos tanques da 1ª Blindada foram enviados para aquela área. O IV Corpo consolidou suas unidades, enquanto mantinha sua seção da linha até tarde no mês, quando patrulhas dos soldados búfalo entraram no Vale do Serchio.

Os homens do 370º também tinham penetrado a linha Gótica no seu setor e agora controlavam a rodovia 12, que servia como uma artéria de comunicação leste-oeste crucial para os alemães. Cedo em outubro, receberam ordens de tomar a cidade de Massa, próximo da costa, o que era o primeiro passo na captura da base naval de La Spezia. Apesar dos alemães terem estado em contínua retirada na Itália, eles resistiram fortemente em Massa. Estavam determinados a proteger a borda ocidental da linha Gótica, especialmente por a base naval de La Spezia estar próxima. Atrapalhados pelas frias chuvas de outono, os soldados búfalo acharam-se lutando contra um novo inimigo – a lama – em adição às tropas inimigas entrincheiradas. Eles não tomaram Massa naquele momento, e por toda a linha Gótica as forças de Kesselring ficaram firmes. Enquanto isso, apesar do II Corpo ter feito alguns avanços impressionantes, ele não conseguiu atingir Bolonha antes das neves caírem.

Depois de uma batalha de seis dias pelo controle de Massa, os soldados búfalo se retirara e reagruparam. A medida que o resto da 92ª Divisão de Infantaria começou a desembarcar na Itália, os soldados búfalo do 370º continuaram a ofensiva em uma escala menor, com patrulhas em força, consistindo entre 35 e 75 homens e, as vezes, com tripulações de metralhadoras e morteiros. O Quinto Exército passou a maior parte de dezembro conduzindo operações defensivas preparando-se para um reinicio da ofensiva em dezembro.

Pelo final de novembro, os últimos elementos dos dois regimentos restantes da 92ª Divisão, o 371º e o 365º, tinham chegado. Somando-se aos próprios regimentos da 92ª, um quarto regimento ficou sob o controle da divisão – o 366º Regimento de Infantaria, com oficiais e soldados negros. O 366º tinha sido originalmente treinado para combate, mas tinha sido inicialmente colocado em serviços de guarda em bases aliados ao longo de toda a Itália. Os homens do 366º tinham executado tão bem sua missão anterior que seu general comandante não queria abrir mão deles.

A medida que o 370º se movia mais profundamente no vale do Rio Serchio – mais tarde junto com elementos do 371º - o resuprimento se tornou um pesadelo logístico. Nenhum veículo podia alcançar os soldados búfalo a medida que eles lutavam morro acima no vale de 55 km de comprimento. A despeito da grande tecnologia e poder industrial a seu comando, os americanos se acharam dependentes de animais de carga, o mesmo modo de transporte usado por Aníbal Barca quando ele invadiu a Itália a mais de 2.100 atrás.

Um oficial e 15 praças formavam o núcleo da tropa de mulas da 92ª divisão, que incluía um veterinário italiano, dois ferreiros e 600 voluntários italianos que receberam uniformes americanos e chegaram mesmo a usar o distintivo do búfalo. Os americanos varreram a região em busca de mulas e cavalos, que o governo americano então comprava dos nativos. Por o exército americano não ter o equipamento necessário para animais de dorso, os ferreiros tinham que forjar até as ferraduras a partir de estacas de arame farpado alemãs. Os animais levavam água, munição, canhões antitanque e outros materiais vitais e transportavam os feridos até onde pudessem receber tratamento. Como se descobriu mais tarde, as mulas aparentemente ficavam arredias com o cheiro de homens mortos e empacavam quando tinham que carregar cadáveres.

Parte 3

Se esperava que a 92ª lançasse uma grande ofensiva em 1º de dezembro, apoiando o renovado ataque do II Corpo contra Bolonha. O ataque foi remarcado para o dia de Natal, devido à previsão de um contra-ataque alemão. Quando os relatórios da inteligência indicavam uma grande concentração na região norte do Vale do Rio Serchio, os homens do 371º foram transferidos do setor costeiro e elementos do 366º foram enviados para o vale para apoiar o 370º. Apesar do Quinto Exército nunca ter lançado seu assalto do início de dezembro, não foi um mês calmo no vale do Serchio. Os soldados búfalo continuaram a avançar, cidade a cidade, contra o fogo da artilharia, morteiros e armas portáteis alemãs. Engenheiros alemães inicialmente reparavam pontes e estradas para o avanço, mas logo mudaram para trabalhos defensivos, lançando campos de minas, preparando pontes para demolição e ajudando a evacuar civis, na espera de um contra-ataque alemão.

Na véspera de natal, o Quinto Exército cancelou o seu ataque do dia de Natal, mas os soldados búfalo, que estavam dispostos em ambas as margens do rio Serchio, continuaram a avançar, enfrentando o fogo de morteiros e artilharia alemã, a medida que se moviam para mais das cidades de montanha da Itália do norte. O 2º Batalhão do 366º conquistou Gallicano, a leste do rio Serchio. Na véspera de Natal, o 370º enviou seu 2º Batalhão para oeste do rio até a pequena vila de Sommocolonia, a ponta mais ao norte da linha americana. Artilharia leve e projéteis de morteiros atingiram Sommocolonia, mas parecia haver pouca atividade inimiga, de forma que a maior parte do 2º Batalhão se retirou, para serviços em outros locais, deixando para trás somente dois pelotões. Na extrema direita, logo a leste de Sommocolonia, ficavam as vilas de Bebbio e Scarpello, ocupadas por dois pelotões do esquadrão de reconhecimento da 92ª.

Antes da alvorada no dias depois do Natal, os alemães atacaram as vilas logo ao norte e a leste de Gallicano. Apesar do principal ataque alemão parecer vir do oeste do rio, em direção a Gallicano, partizans também combatiam grupos de soldados inimigos ao norte de Sommocolonia mais tarde na manhã. Dentro de duas horas, Sommocolonia e os dois pelotões americanos tinham sido cercados. Um terceiro pelotão avançou para reforçar as tropas cercadas de Sommocolonia. O tenente John Fox, um observador avançado da artilharia para o 366º, exemplifica esse impressionante espírito de combate dos soldados negros. Quando as tropas inimigas cercaram a posição do tenente dentro de uma casa e estavam prestes a dominá-lo, ele ordenou fogo de artilharia direto em cima de sua própria posição, sacrificando sua vida. A ação heróica de Fox conseguiu um tempo valioso que ajudou a salvar outros soldados e ele recebeu postumamente a Cruz de Serviços Distintos.

Os dois pelotões do 370º, junto com um grupo de partizans, se envolveu em luta de casa-em-casa com o inimigo durante a batalha. Muitos dos alemães estavam vestidos como partizans, tornando a situação ainda mais confusa e perigosa. Logo antes do meio dia, os pelotões receberam ordens de abandonar a vila, mas estavam presos. Conseguiram resistir até o cair da noite, mas dos 70 americanos envolvidos, somente um oficial e 17 homens conseguiram lutar para fora da vila a noite, como tinha sido ordenado.

Enquanto isso, os dois pelotões de reconhecimento em Bebbio e Scarpello foram sobrepujados por tropas inimigas e receberam ordens de retirar-se. A despeito de pesados combates, conseguiram retirar-se para seu posto de comando em Coreglia. O fogo de artilharia alemão começou a cortar fundo nas linhas americanas e o 370º deu ordens para suas tropas para abandonar Gallicano e defender o terreno alto nas proximidades.

Com o porto aliado de Livorno ameaçado, o Quinto Exército chamou de volta a 1ª Divisão Blindada que estava sob o controle do II Corpo e a 8ª Divisão hindu, uma unidade britânica, moveu-se para a área, como reforço. Em 27 de dezembro, caça-bombardeiros americanos rugiram no vale e malharam Sommocolonia, Gallicano e outras áreas da linha de frente. Por volta de 1º de janeiro os aliados tinham mais ou menos restabelecido suas posições originais.

Parte 4

Com os alemães sendo uma ameaça menos iminente, a 8ª Divisão hindu retirou-se, deixando o vale para os soldados búfalo. O Quinto Exército adiou sua grande ofensiva até abril, mas o general Almond decidiu que sua divisão iria lançar seu próprio ataque em fevereiro. Almond planejou sua operação não como um assalto de ruptura, mas como um “reconhecimento em força” de nível divisional, pretendendo determinar a força e disposição do inimigo, atrair mais tropas inimigas para a área e aperfeiçoar as posições de sua própria divisão. Unidades no vale do Serchio deveria tomar a crista de Lama di Sotto, de onde se observava o centro de suprimentos alemão em Castelnuovo di Garfagnana, e criar uma diversão enquanto o ataque principal se concentrava no setor costeiro. Almond esperava atingir a cadeia de morros de Strettoia na costa, logo ao norte do canal Cinquale, e então tomar Massa. Uma vez em Massa, a artilharia americana estaria dentro de alcance de tiro de La Spezia.

Unidades foram movidas de novo, de forma que o 370º e o 371º ocupavam o setor costeiro, enquanto o 365º foi para o vale do Serchio. O 366º foi dividido entre ambas as áreas. Em 4 de fevereiro, o 366º tomou Gallicano, e no dia seguinte ele levou suas linhas até as vilas circuvizinhas. O 365º, para o leste do rio Serchio, tomou a cidade de Lama, logo ao norte de Sommocolonia, e ocupou o monte Della Stella, ao pé da crista de Lama di Sotto. O 365º se manteve contra numerosos contra-ataques até 8 de fevereiro, quando todo um batalhão de alemães expulsou os americanos do morro e para fora de Lama. Ao cair da noite do dia 10, depois de encontrar um horrível fogo de artilharia e contra-ataques de granadeiros, os soldados búfalo retomaram Lama.

Os soldados búfalo na costa foram atingidos tão duramente quanto seus camaradas no vale. Os alemães tinham tanques, artilharia de campanha e milhares de tropas de terra para proteger La Spezia e podiam contar com uma arma indisponível para os americanos – canhões pesados de artilharia de costa. Embasados em Punta Bianca, logo a sudoeste de La Spezia, os canhões costeiros alemães podiam não só jogar granadas em Massa, mas também cobriam toda a distância até Forte dei Marmi, que fica ao sul do canal Cinquale. Tiros desses poderosos canhões costeiros criavam crateras tão grandes que tanques aliados literalmente caiam nelas.

O restante do 366º e seus blindados de apoio – incluindo outra unidade negra, o 758º Batalhão Blindado – avançaram ao longo da costa. O 371º atacava na extrema direita através das massas de morros costeiros, mas bateu em grandes campos de minas. O 370º ultrapassou o batalhão diretamente para a vanguarda, de forma a manter um ataque contínuo.

Pegando carona nos tanques, o 366º entrou no mar para evitar as minas, então voltou para a terra firme ao norte do canal Cinquale. Os dois primeiros tanques a alcançar a praia foram imobilizados por minas e bloquearam o caminho. Logo, mais quatro tanques foram destruídos por minas, mas o 370º alcançou o canal e começou a cruzar, recebendo um forte castigo de posições de morteiros e metralhadoras, assim como dos canhões costeiros. O fogo de artilharia impediu os engenheiros de lançar uma ponte, e o clima ruim significava que não haveria apoio aéreo para os soldados búfalo naquele dia. Três tanques foram perdidos ao cruzar o canal, quando caíram em crateras submersas.

A despeito de numerosos contra-ataques alemães, os soldados búfalo conseguiram estabelecer uma linha de defesa ao norte do canal. Sem uma ponte, tinham que carregar seus suprimentos a mão pela água. As baixas cresciam e os canhões costeiros continuavam a martelar. Na noite de 10 de fevereiro, Almond cancelou o ataque e ordenou suas tropas a voltarem através do canal. A operação de fevereiro custou 22 tanques e mais de 1.100 baixas, incluindo 56 oficiais.

Parte 5

A 92ª passou por drásticas mudanças antes de seu envolvimento com a ofensiva da primavera de 1945. Os aliados consideravam absolutamente crucial que a 92ª tomasse La Spezia durante o ataque de abril, mas os meses anteriores de combate tinham diminuído a força da divisão. Apesar do exército norte-americano ter milhares de tropas negras, ele não encontrava substitutos treinados para o combate em números suficientes para a 92ª, de forma que o 371º foi para o vale do Serchio sob o controle do IV Corpo, enquanto os 366º e 365º foram enviados para outros lugares. A 92ª completou a força do 370º, o único regimento negro restante na divisão, enquanto ela ganhou dois novos regimentos. Somando-se ao 473º, composto de artilheiros antiaéreos brancos transformados em infantes, a divisão recebeu uma feroz unidade de combate composta de soldados Nisei – o famoso 442º Grupo de Combate Regimental. Estes descendentes de imigrantes japoneses serviam em um do regimentos mais condecorados de toda a guerra.

O 370º formava o flanco esquerdo, com o 442º na direita e o 473º na reserva nas proximidades, no vale do Serchio. De forma a evitar a incessante barragem dos canhões costeiros, a 92ª Divisão, agora jocosamente referida como “Divisão Arco-íris”, avançou em direção a Massa pelos morros ao leste da rodovia 1. Mesmo com os caça-bombardeiros voando sortidas sobre Punta Bianca e contra-torpedeiros bombardeando as posições alemães, os canhões costeiros continuaram atirando.

Em menos de duas horas em 5 de abril de 1945, os elementos avançados do 370º, a companhia C, alcançaram seu objetivo inicial – o Castelo Aghinolfi. O observador avançado da artilharia da companhia teve que convencer duas vezes a artilharia a lhe dar apoio de fogo. Os artilheiros não podiam acreditar que os fuzileiros tinham avançado tanto. Os alemães estavam surpresos também – de fato, muitos ainda estavam comendo o café da manhã quando os soldados búfalo chegaram.

A companhia C pediu reforços por rádio, mas o regimento tinha seus próprios problemas, com dois comandantes de companhia já tendo sido mortos. Nenhuma ajuda chegou. Os alemães dentro do castelo dispararam na companhia isolada com metralhadoras e morteiros. Não se passou muito tempo e a companhia tinha sofrido 60 porcento de baixas. O observador avançado e o radio-operador tinham sido ambos atingidos e o rádio tinha sido destruído, cortando todo o contato com o exterior. A companhia não tinha escolha a não se ser se retirar. O tenente Vernon J. Baker, o único oficial negro da companhia, se ofereceu para fustigar o inimigo, de forma que os feridos pudessem escapar. Armado com granadas de mão e apoiado em duas ocasiões pelo fogo do fuzil-metralhador do soldado James Thomas, Baker pessoalmente destruiu três ninhos de metralhadoras e um posto de observação. Baker, que já tinha recebido uma Estrela de Bronze e um Coração Púrpura, iria receber a Cruz de Serviços Distintos por suas ações naquele dia.

Enquanto isso, o 442º combatia contra o inimigo crista por crista e sistematicamente explodia as casamatas inimigas com bazucas. No dia 6 de abril, os Nisei tinham o controle do monte Belvedere. O 370º, incluindo a companhia C, fez outro assalto contra os mesmos morros, mas precisava de mais tropas para vencer. O 473º avançou e o duramente atingido 1º Batalhão do 370º, que tinha tido três comandantes de companhia mortos nos dois primeiros dias, foi para o vale do Serchio para proteger o flanco americano na expectativa de um contra-ataque alemão.

O 370º e o 473º, junto com seus batalhões blindados negros de apoio, avançaram pelos morros e também avançaram ao longo da rodovia 1, apesar dos canhões alemães em Punta Bianca continuarem a martelar. Em 9 de abril, tanquistas americanos tinham entrado em Massa, mas foram expulsos por uma forte resistência inimiga. Numa manobra de suporte, o 442º avançou pelas montanhas e flanqueou o lado oriental da cidade. Finalmente os alemães se retiraram e, em 10 de abril, os americanos controlavam a cidade.

Parte 6

A 92ª Divisão de Infantaria continuou a fazer pressão para frente, apesar dos duros continuar a medida que os alemães moviam seus homens e panzers de reserva em posição. Com as linhas alemães retrocedendo, todo um batalhão de destruidores de tanques finalmente chegou ao alcance dos canhões costeiros por um período de seis dias mandou mais de 11.000 projéteis contra Punta Bianca. Em 20 de abril os grandes canhões foram silenciados e os alemães estavam recuando.

A luta dos soldados búfalo no vale do rio Serchio também tinham estado ocupados. O 370º tinha tomado Castelnuovo em 20 de abril e tinha continuado em frente. Planejavam reunir-se ao 442º em Aulla, a noroeste de La Spezia, e cortar a retirada alemã.

A luta tinha deixado tanta destruição que os americanos não podiam sequer usar suas mulas e a divisão estava acumulando mais prisioneiros do que tinham tempo para lidar. Partizans tinham estado lutando em La Spezia e no dia 24 de abril o 473º entrou na cidade. Três dias depois, o 473º e seus blindados de apoio tinham esmagado a resistência em Gênova. O 370º e o 442º no seu setor tinham ajudado a impedir que duas divisões inimigas escapassem através do Passo Cisa antes que o cessar-fogo no dia 2 de maio terminou com as hostilidades na Itália.

Apesar das forças aliadas estarem extasiadas com o seu sucesso na Itália, para os soldados búfalo foi uma vitória agridoce. O sistema militar considerou que a 92ª, que compunha menos de 2 porcento de todos os afro-americanos no exército, um fracasso. Encarada como um experimento desde o início, a divisão tinham sido observada atentamente e severamente criticada.

Muito da culpa pelos revezes de fevereiro de 1945 e outras ocorrências semelhantes tinha sido atribuída a confusão entre os oficiais inferiores e os praças. Entretanto, seus oficiais eram trocados tantas vezes que os homens algumas vezes não tinham idéia de quem eram seus comandantes e em muitos casos os oficiais e inferiores mais notáveis tinham sido mortos em ação.

Em defesa dos oficiais inferiores negros, o tenente coronel Markus H. Ray, comandante do 600º Grupo de Artilharia de Campanha (que era composto inteiramente de oficiais e praças negros) escreveu em 14 de maio de 1945: “acredito que o jovem oficial negro representa o melhor que temos a oferecer e sob um comando adequado, simpático, teria se desenvolvido e agido de forma igual a qualquer outro grupo racial... Eram americanos antes de tudo”.

Os números por si nos contam uma história impressionante. Dos 12.846 soldados que viram ação, 2.848 foram mortos, capturados ou feridos. Os soldados búfalo, de fato, romperam a linha Gótica. Alcançaram seu objetivo, capturaram ou ajudaram a capturar quase 24.000 soldados e receberam mais de 12.000 medalhas e citações por sua bravura em combate. Os soldados da 92ª Divisão provaram o seu valor durante os meses de amargos combates na campanha italiana.

Este artigo foi escrito por Robert Hodges, Jr e originalmente publicado na Revista World War II em Fevereiro de 1999. Robert Hodgers, Jr escreve de Harrisonburg, Va. Leituras complementares: A Fragment of Victory: In Italy During World War II, de Paul Goodman; and Buffalo Soldiers in Italy: Black Americans in World War II, de Hondon B. Hargrove.

http://www.historynet.com/wwii/bl92infantry/

Fonte deste artigo: Robert Hodges Jr. para a World War II Magazine


http://www.grandesguerras.com.br/artigos/text01.php?art_id=217