São Paulo, domingo, 05 de julho de 2009
Partido Revolucionário Institucional, que governou México por 71 anos, azeita máquina eleitoral de olho na sucessão de 2012Pleito nacional, o primeiro após contestada vitória de Felipe Calderón em 2006, torna clara crise do PRD, principal força esquerdista
FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL
Enquanto a campanha pelo voto nulo é a que faz mais barulho num México mergulhado na crise econômica, o tradicionalíssimo PRI (Partido da Revolução Institucional) prepara-se para agarrar a maioria da Câmara dos Deputados nas eleições de hoje, superando o PAN (Partido da Ação Nacional) do presidente Felipe Calderón.O PRI, que governou o México por 71 anos, deve dobrar de bancada, de 105 para mais de 200 das 500 cadeiras da câmara baixa, apontam as principais projeções. Mesmo que não consiga a maioria absoluta, o salto será suficiente para ameaçar a relativa paz legislativa do conservador Calderón, cujo mandato se encerra em 2012 -no México não há reeleição.O PRI estará, a partir de agora, menos disposto a colaborar, apostam os analistas. Desde que perdeu a Presidência para o PAN de Vicente Fox em 2000, o partido fez pacto tático com os oponentes no Legislativo. Com seu estatismo nacionalista já convertido a uma agenda liberal, trocou apoio pela manutenção de seus feudos, como o controle sobre sindicatos.Em 2006, os priistas ficaram apenas em terceiro lugar nas presidenciais. Agora, porém, exibem candidato claro à Presidência, o governador do Estado do México, Enrique Peña Nieto (leia texto nesta página)."As segundas metades de mandato são sempre contaminadas no México. E essa campanha foi especialmente dura entre o PAN e o PRI. O presidente Calderón envolveu-se diretamente na campanha", afirma Salvador García Soto, colunista político do jornal mexicano "El Universal".Calderón, com 60% de aprovação popular, foi o principal cabo eleitoral do seu partido e contribuiu para encurtar a vantagem do PRI, que chegou a ser de 15 pontos percentuais. O PAN deve obter entre 25% e 29% dos votos, contra entre 31% e 34% do PRI.Para García Soto, o governo Calderón soube fazer das eleições legislativas um plebiscito sobre sua "guerra contra o narcotráfico", deixando a crise econômica mais grave desde 1994 em segundo plano.Calderón tem apoio popular para usar o Exército contra os cartéis, apesar das denúncias de violações de direitos humanos e do número recorde de homicídios ligados às drogas no ano passado. São os soldados, aliás, que patrulharão as ruas durante a votação hoje."Não deixe o México cair nas mãos do crime", diz a propaganda do PAN protagonizada por Místico, estrela da luta livre, uma paixão mexicana.Mas o fortalecimento do PRI e a recuperação do governo Calderón ficam mais evidentes ainda se comparados à crise cada vez mais profunda pela qual passa o esquerdista PRD (Partido da Revolução Democrática), que só deve obter entre 11% e 15% dos votos depois de quase levar a Presidência na contestada eleição de 2006.A divisão entre as alas do partido -algo como as tendências do brasileiro PT- tornaram-se dramáticas desde que Andrés Manuel López Obrador, o Amlo, perdeu para Calderón por apenas 0,54% dos votos.Desde então, o carismático Amlo, da esquerda do partido, segue em caravana pelo país reivindicando sua vitória -nunca houve recontagem- e denunciando acordos no Legislativo entre a ala moderada do PRD e o governo Calderón.Nestas eleições, ele radicalizou ainda mais e apoia o pequeno PT (Partido Trabalhista) na eleição para representante de Iztapalapa, a mais populosa das divisões que formam o Distrito Federal e bastião do PRD.Apatia e voto nuloOs analistas dizem que essa larga ressaca de 2006, além dos altos níveis de corrupção que não mudaram com a saída do PRI, contribuíram para outro aspecto dessas eleições: a apatia dos eleitores e o fôlego da campanha pelo voto nulo.Estão inscritos para votar 77 milhões de mexicanos, mas espera-se que menos da metade apareça, aumentando a taxa de abstenção já alta nas eleições nacionais apenas legislativas.Vários sites e até mesmo intelectuais fizeram campanha pelo voto nulo para demonstrar rejeição aos políticos, enquanto uma outra ala alerta para os perigos de pregar contra a democracia. Pesquisas dizem que os nulos podem perfazer entre 5% e 10% dos votos. Geralmente, são 2,5%.