domingo, 5 de julho de 2009

"Estilo muito tradicional derrotou Kirchner"

São Paulo, domingo, 05 de julho de 2009
Marqueteiro de adversário diz que ex-presidente argentino ficou preso a forma antiga de fazer política
THIAGO GUIMARÃES
DE BUENOS AIRES
O publicitário Jaime Durán Barba é o cérebro por trás da derrota do casal Cristina e Néstor Kirchner nas eleições legislativas de domingo passado na Argentina.Para o marqueteiro do empresário Francisco De Narváez, cuja chapa derrotou a comandada pelo ex-presidente Kirchner na disputa pela Câmara dos Deputados, o governo apostou em um estilo messiânico de política, que não mobiliza mais a população.Como o voto é dado aos partidos, Kirchner e De Narváez foram eleitos. Mas a derrota do governo nas cinco maiores Províncias -foram 3 milhões de votos a menos no país em relação à eleição de Cristina em 2007- evidenciou o fracasso do kirchnerismo no pleito.O revés eleitoral do casal Kirchner nas eleições legislativas foi associado a vários fatores: conflito com o setor rural, fim do ciclo virtuoso da economia, estilo confrontativo da presidente e do marido.O equatoriano Durán Barba acrescenta mais um a essa relação: a campanha de Kirchner, atada a discussões ideológicas e à liturgia peronista, não chegou aos jovens -público-alvo de De Narváez na eleição.Peronismo, partido do governo na Argentina, é o modo de fazer política criado pelo general Juan Perón (1895-1974).Responsável por "desperonizar" a campanha de De Narváez, um dissidente da ala governista da sigla, Durán Barba diz que, para os jovens, Perón é apenas uma "imagem antiga", e ganhou quem soube explorar essas mudanças.Consultor de campanha vitoriosa do presidente do México, Felipe Calderón, Durán Barba disse que, como Barack Obama nos EUA, De Narváez encarnou o sentimento da mudança na Argentina.

FOLHA - Por que o governo perdeu a eleição? JAIME DURÁN BARBA - Foi uma disputa entre duas formas diferentes de fazer política. A de Kirchner, muito tradicional, com a máquina partidária, os discursos. E a outra, uma forma nova, de aproximar o candidato das pessoas, de seus problemas.
FOLHA - Qual foi a influência sobre os eleitores da discussão sobre o papel do Estado na economia, levantada pelo governo? BARBA - Nenhuma. Não é um tema que move o eleitor comum. Foi algo debatido só no chamado "círculo vermelho", de votantes que discutem assuntos legais, constitucionais.
FOLHA - Então o discurso que associou De Narváez às privatizações dos anos 90 não pegou? BARBA - Os problemas dos anos 1970 ou 90 interessam aos cidadãos de mais de 50 anos. Os eleitores de 20 anos não se lembram dos anos 1990. O tempo passa rápido na política, as pessoas se esquecem de tudo.
FOLHA - Por que "desperonizar" a campanha? BARBA - Porque para os jovens Perón é como San Martín [general considerado o "pai da pátria"]. É uma imagem antiga, sem vigência. Seria o mesmo que, no Brasil, fazer campanha com foto de Getúlio Vargas.
FOLHA - De Narváez usou o slogan da mudança, que passou às mãos da oposição. BARBA - Ocorreu algo semelhante nos EUA. Obama era a mudança pela forma como agia, caminhava. De Narváez representava uma pessoa diferente, jovem, alegre. O ex-presidente Kirchner se mostrava como um político clássico, tradicional.
FOLHA - O estilo do governo está ultrapassado? BARBA - Antes, os líderes encabeçavam grupos socialistas, fascistas, capitalistas, que estavam dispostos a guerrear por essas coisas. Hoje as pessoas não querem morrer por ideologias, querem viver de modo confortável.
FOLHA - Como se deu essa virada na opinião pública? BARBA - Kirchner assumiu a Argentina em uma situação econômica muito ruim. O país melhorou, e por isso ele foi muito popular. Melhores economicamente, as pessoas dizem: "Já estou comendo, agora quero respeito e uma sociedade com democracia mais assentada". Então Kirchner perdeu seu contato com o povo, sobretudo após o conflito com o campo.

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft0507200912.htm

Eleição deve reviver histórica sigla mexicana


São Paulo, domingo, 05 de julho de 2009
Partido Revolucionário Institucional, que governou México por 71 anos, azeita máquina eleitoral de olho na sucessão de 2012Pleito nacional, o primeiro após contestada vitória de Felipe Calderón em 2006, torna clara crise do PRD, principal força esquerdista

FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL
Enquanto a campanha pelo voto nulo é a que faz mais barulho num México mergulhado na crise econômica, o tradicionalíssimo PRI (Partido da Revolução Institucional) prepara-se para agarrar a maioria da Câmara dos Deputados nas eleições de hoje, superando o PAN (Partido da Ação Nacional) do presidente Felipe Calderón.O PRI, que governou o México por 71 anos, deve dobrar de bancada, de 105 para mais de 200 das 500 cadeiras da câmara baixa, apontam as principais projeções. Mesmo que não consiga a maioria absoluta, o salto será suficiente para ameaçar a relativa paz legislativa do conservador Calderón, cujo mandato se encerra em 2012 -no México não há reeleição.O PRI estará, a partir de agora, menos disposto a colaborar, apostam os analistas. Desde que perdeu a Presidência para o PAN de Vicente Fox em 2000, o partido fez pacto tático com os oponentes no Legislativo. Com seu estatismo nacionalista já convertido a uma agenda liberal, trocou apoio pela manutenção de seus feudos, como o controle sobre sindicatos.Em 2006, os priistas ficaram apenas em terceiro lugar nas presidenciais. Agora, porém, exibem candidato claro à Presidência, o governador do Estado do México, Enrique Peña Nieto (leia texto nesta página)."As segundas metades de mandato são sempre contaminadas no México. E essa campanha foi especialmente dura entre o PAN e o PRI. O presidente Calderón envolveu-se diretamente na campanha", afirma Salvador García Soto, colunista político do jornal mexicano "El Universal".Calderón, com 60% de aprovação popular, foi o principal cabo eleitoral do seu partido e contribuiu para encurtar a vantagem do PRI, que chegou a ser de 15 pontos percentuais. O PAN deve obter entre 25% e 29% dos votos, contra entre 31% e 34% do PRI.Para García Soto, o governo Calderón soube fazer das eleições legislativas um plebiscito sobre sua "guerra contra o narcotráfico", deixando a crise econômica mais grave desde 1994 em segundo plano.Calderón tem apoio popular para usar o Exército contra os cartéis, apesar das denúncias de violações de direitos humanos e do número recorde de homicídios ligados às drogas no ano passado. São os soldados, aliás, que patrulharão as ruas durante a votação hoje."Não deixe o México cair nas mãos do crime", diz a propaganda do PAN protagonizada por Místico, estrela da luta livre, uma paixão mexicana.Mas o fortalecimento do PRI e a recuperação do governo Calderón ficam mais evidentes ainda se comparados à crise cada vez mais profunda pela qual passa o esquerdista PRD (Partido da Revolução Democrática), que só deve obter entre 11% e 15% dos votos depois de quase levar a Presidência na contestada eleição de 2006.A divisão entre as alas do partido -algo como as tendências do brasileiro PT- tornaram-se dramáticas desde que Andrés Manuel López Obrador, o Amlo, perdeu para Calderón por apenas 0,54% dos votos.Desde então, o carismático Amlo, da esquerda do partido, segue em caravana pelo país reivindicando sua vitória -nunca houve recontagem- e denunciando acordos no Legislativo entre a ala moderada do PRD e o governo Calderón.Nestas eleições, ele radicalizou ainda mais e apoia o pequeno PT (Partido Trabalhista) na eleição para representante de Iztapalapa, a mais populosa das divisões que formam o Distrito Federal e bastião do PRD.Apatia e voto nuloOs analistas dizem que essa larga ressaca de 2006, além dos altos níveis de corrupção que não mudaram com a saída do PRI, contribuíram para outro aspecto dessas eleições: a apatia dos eleitores e o fôlego da campanha pelo voto nulo.Estão inscritos para votar 77 milhões de mexicanos, mas espera-se que menos da metade apareça, aumentando a taxa de abstenção já alta nas eleições nacionais apenas legislativas.Vários sites e até mesmo intelectuais fizeram campanha pelo voto nulo para demonstrar rejeição aos políticos, enquanto uma outra ala alerta para os perigos de pregar contra a democracia. Pesquisas dizem que os nulos podem perfazer entre 5% e 10% dos votos. Geralmente, são 2,5%.

Pyongyang dispara mais sete mísseis, contrariando ONU


São Paulo, domingo, 05 de julho de 2009

COREIA DO NORTE
DA REUTERS
A Coreia do Norte disparou ontem mais sete mísseis balísticos de sua costa leste em direção ao mar, em um ato de desafio à comunidade internacional. Segundo a agência de notícias sul-coreana Yonhap, eram mísseis "Scud", tipo de armamento que o país foi proibido de lançar por uma resolução da ONU.Para um membro do Ministério da Defesa sul-coreano, mais disparos podem acontecer em breve. Há dois dias, a Coreia do Norte havia disparado quatro mísseis de curto alcance como parte de exercícios militares.O Conselho de Segurança da ONU aprovou, em 12 de junho, sanções contra a Coreia do Norte por causa do teste nuclear realizado em 25 de maio. A punição prevê a proibição da compra de todo tipo de armamento norte-coreano, importante fonte de receita para o governo do ditador Kim Jong-il.Um funcionário sul-coreano ouvido pela Yonhap afirmou que os disparos podem ter a intenção de mandar uma mensagem a Washington, que há anos pressiona Pyongyang a encerrar suas atividades atômicas que ameaçam seus aliados, como a Coreia do Sul e o Japão."Os mísseis de hoje parecem ter um objetivo político, pois foram disparados um dia antes do dia da Independência dos EUA [4 de Julho]", disse o funcionário.ProvocaçãoA Chancelaria do Japão declarou que o país "protesta fortemente e lamenta os mísseis disparados pela Coreia do Norte, pois são uma provocação contra a segurança dos países vizinhos".Rússia e China pediram calma e disseram que todos os lados deveriam evitar qualquer ato que possa desestabilizar a região. Os EUA disseram monitorar a situação e instaram Pyongyang a não exacerbar as tensões.
Com agências internacionais

Obama vai à Rússia buscando "recomeço"


São Paulo, domingo, 05 de julho de 2009
Em visita amanhã a Moscou, líder dos EUA vai discutir questões de segurança com presidente russo Dmitri Medvedev
Entre os temas da pauta estão a redução dos arsenais nucleares dos dois países, o escudo antimísseis dos EUA no Leste Europeu e o Irã
DE NOVA YORK
O presidente Barack Obama inicia amanhã viagem à Rússia com o desafio de renovar um programa de desarmamento nuclear assinado no fim da Guerra Fria, que limita os arsenais de cada país. A vigência do Start (iniciais em inglês para Tratado sobre Redução de Armas Estratégicas) acaba no dia 5 de dezembro.A negociação reflete a estratégia adotada no governo Obama de buscar um "reset" (recomeço) nas relações com o governo russo.O tema é importante para Obama, que já afirmou ser "responsabilidade moral" dos EUA liderar os esforços para criar um mundo sem armas nucleares. Vencer as resistências culturais, políticas e as diferenças estratégicas no diálogo entre Washington e Moscou não deverá ser tarefa fácil.No governo Bush, o relacionamento entre os dois países ficou bastante desgastado, especialmente durante o conflito entre Rússia e Geórgia, em agosto de 2008, quando Washington se alinhou a Tbilisi.Além do presidente Dmitri Medvedev, Obama se reunirá com o premiê Vladimir Putin, com o ex-presidente soviético Mikhail Gorbatchov e com líderes políticos e econômicos.A agenda comum aos dois países deve explorar temas como combate ao terrorismo, eficiência energética, mudanças climáticas e o relacionamento com o Irã. Os dois deverão assinar uma declaração de cooperação sobre o uso pacífico da energia nuclear e de cooperação militar e de trânsito de mercadorias militares dos EUA ao Afeganistão.Em abril, Obama e Medvedev já haviam sinalizado a intenção de avançar as negociações, na reunião do G20 em Londres.Em entrevista à Associated Press, Obama afirmou que mantém uma relação muito boa com Medvedev, mas que Putin "tem um pé na velha maneira de fazer negócios e um pé na nova forma". Já Putin disse que "está firmemente parado sobre as duas pernas e sempre olhando para o futuro".Apesar da disposição declarada dos presidentes, as negociações podem esbarrar em divergências como o estímulo dos EUA para a entrada da Ucrânia e da Geórgia na Otan (aliança militar ocidental) e o projeto de um escudo antimísseis dos EUA baseado na República Tcheca e na Polônia.Segundo Serguei Prijodko, assessor do Kremlin para Assuntos Internacionais, o governo russo pretende vincular o fechamento de um novo acordo a um recuo nos planos de construir o escudo antimíssil.Mas Michael McFaul, assessor de Obama e diretor do National Security Council para assuntos russos, afirmou que os EUA não vão fazer concessões em relação ao escudo antimísseis e nem abrir mão do apoio dado à Ucrânia e Geórgia em prol do "reset" com os russos.Stephen Sestanovich, especialista em Rússia do Council on Foreign Relations, afirmou em teleconferência da qual a Folha participou, que desta vez o desempenho de Obama será submetido de forma mais rigorosa ao escrutínio público."Esta viagem envolve uma dimensão extra para ele, que é a negociação prática. E isso deve atrair mais atenção para a obtenção de resultados, se ele conseguirá ou não um acordo específico, principalmente para o controle de armas", disse.Os EUA querem rever as discussões em relação ao Tratado de Moscou, firmado em 2002 entre Bush e Putin. Esse tratado estabeleceu um limite de 1.700 a 2.200 ogivas nucleares para cada país. A ideia agora é reduzir o total de armas, mas especialistas se mostram céticos quanto a um corte mais drástico e avaliam que o novo número será de cerca de 1.500."O que está conduzindo o presidente Obama é a visão de que os EUA e a Rússia precisam mostrar liderança para obter reação maior em outros Estados para lidar com duas ameaças nucleares que nos preocupam muito mais -a proliferação nuclear em outros países e o acesso de terroristas a armas e materiais nucleares", disse Charles Ferguson, especialista em ciência e tecnologia do Council on Foreign Relations.
(JANAINA LAGE)

Obama vai à Rússia buscando "recomeço"


São Paulo, domingo, 05 de julho de 2009
Em visita amanhã a Moscou, líder dos EUA vai discutir questões de segurança com presidente russo Dmitri Medvedev
Entre os temas da pauta estão a redução dos arsenais nucleares dos dois países, o escudo antimísseis dos EUA no Leste Europeu e o Irã
DE NOVA YORK
O presidente Barack Obama inicia amanhã viagem à Rússia com o desafio de renovar um programa de desarmamento nuclear assinado no fim da Guerra Fria, que limita os arsenais de cada país. A vigência do Start (iniciais em inglês para Tratado sobre Redução de Armas Estratégicas) acaba no dia 5 de dezembro.A negociação reflete a estratégia adotada no governo Obama de buscar um "reset" (recomeço) nas relações com o governo russo.O tema é importante para Obama, que já afirmou ser "responsabilidade moral" dos EUA liderar os esforços para criar um mundo sem armas nucleares. Vencer as resistências culturais, políticas e as diferenças estratégicas no diálogo entre Washington e Moscou não deverá ser tarefa fácil.No governo Bush, o relacionamento entre os dois países ficou bastante desgastado, especialmente durante o conflito entre Rússia e Geórgia, em agosto de 2008, quando Washington se alinhou a Tbilisi.Além do presidente Dmitri Medvedev, Obama se reunirá com o premiê Vladimir Putin, com o ex-presidente soviético Mikhail Gorbatchov e com líderes políticos e econômicos.A agenda comum aos dois países deve explorar temas como combate ao terrorismo, eficiência energética, mudanças climáticas e o relacionamento com o Irã. Os dois deverão assinar uma declaração de cooperação sobre o uso pacífico da energia nuclear e de cooperação militar e de trânsito de mercadorias militares dos EUA ao Afeganistão.Em abril, Obama e Medvedev já haviam sinalizado a intenção de avançar as negociações, na reunião do G20 em Londres.Em entrevista à Associated Press, Obama afirmou que mantém uma relação muito boa com Medvedev, mas que Putin "tem um pé na velha maneira de fazer negócios e um pé na nova forma". Já Putin disse que "está firmemente parado sobre as duas pernas e sempre olhando para o futuro".Apesar da disposição declarada dos presidentes, as negociações podem esbarrar em divergências como o estímulo dos EUA para a entrada da Ucrânia e da Geórgia na Otan (aliança militar ocidental) e o projeto de um escudo antimísseis dos EUA baseado na República Tcheca e na Polônia.Segundo Serguei Prijodko, assessor do Kremlin para Assuntos Internacionais, o governo russo pretende vincular o fechamento de um novo acordo a um recuo nos planos de construir o escudo antimíssil.Mas Michael McFaul, assessor de Obama e diretor do National Security Council para assuntos russos, afirmou que os EUA não vão fazer concessões em relação ao escudo antimísseis e nem abrir mão do apoio dado à Ucrânia e Geórgia em prol do "reset" com os russos.Stephen Sestanovich, especialista em Rússia do Council on Foreign Relations, afirmou em teleconferência da qual a Folha participou, que desta vez o desempenho de Obama será submetido de forma mais rigorosa ao escrutínio público."Esta viagem envolve uma dimensão extra para ele, que é a negociação prática. E isso deve atrair mais atenção para a obtenção de resultados, se ele conseguirá ou não um acordo específico, principalmente para o controle de armas", disse.Os EUA querem rever as discussões em relação ao Tratado de Moscou, firmado em 2002 entre Bush e Putin. Esse tratado estabeleceu um limite de 1.700 a 2.200 ogivas nucleares para cada país. A ideia agora é reduzir o total de armas, mas especialistas se mostram céticos quanto a um corte mais drástico e avaliam que o novo número será de cerca de 1.500."O que está conduzindo o presidente Obama é a visão de que os EUA e a Rússia precisam mostrar liderança para obter reação maior em outros Estados para lidar com duas ameaças nucleares que nos preocupam muito mais -a proliferação nuclear em outros países e o acesso de terroristas a armas e materiais nucleares", disse Charles Ferguson, especialista em ciência e tecnologia do Council on Foreign Relations.
(JANAINA LAGE)