São Paulo, domingo, 05 de julho de 2009
Em visita amanhã a Moscou, líder dos EUA vai discutir questões de segurança com presidente russo Dmitri Medvedev
Entre os temas da pauta estão a redução dos arsenais nucleares dos dois países, o escudo antimísseis dos EUA no Leste Europeu e o Irã
DE NOVA YORK
O presidente Barack Obama inicia amanhã viagem à Rússia com o desafio de renovar um programa de desarmamento nuclear assinado no fim da Guerra Fria, que limita os arsenais de cada país. A vigência do Start (iniciais em inglês para Tratado sobre Redução de Armas Estratégicas) acaba no dia 5 de dezembro.A negociação reflete a estratégia adotada no governo Obama de buscar um "reset" (recomeço) nas relações com o governo russo.O tema é importante para Obama, que já afirmou ser "responsabilidade moral" dos EUA liderar os esforços para criar um mundo sem armas nucleares. Vencer as resistências culturais, políticas e as diferenças estratégicas no diálogo entre Washington e Moscou não deverá ser tarefa fácil.No governo Bush, o relacionamento entre os dois países ficou bastante desgastado, especialmente durante o conflito entre Rússia e Geórgia, em agosto de 2008, quando Washington se alinhou a Tbilisi.Além do presidente Dmitri Medvedev, Obama se reunirá com o premiê Vladimir Putin, com o ex-presidente soviético Mikhail Gorbatchov e com líderes políticos e econômicos.A agenda comum aos dois países deve explorar temas como combate ao terrorismo, eficiência energética, mudanças climáticas e o relacionamento com o Irã. Os dois deverão assinar uma declaração de cooperação sobre o uso pacífico da energia nuclear e de cooperação militar e de trânsito de mercadorias militares dos EUA ao Afeganistão.Em abril, Obama e Medvedev já haviam sinalizado a intenção de avançar as negociações, na reunião do G20 em Londres.Em entrevista à Associated Press, Obama afirmou que mantém uma relação muito boa com Medvedev, mas que Putin "tem um pé na velha maneira de fazer negócios e um pé na nova forma". Já Putin disse que "está firmemente parado sobre as duas pernas e sempre olhando para o futuro".Apesar da disposição declarada dos presidentes, as negociações podem esbarrar em divergências como o estímulo dos EUA para a entrada da Ucrânia e da Geórgia na Otan (aliança militar ocidental) e o projeto de um escudo antimísseis dos EUA baseado na República Tcheca e na Polônia.Segundo Serguei Prijodko, assessor do Kremlin para Assuntos Internacionais, o governo russo pretende vincular o fechamento de um novo acordo a um recuo nos planos de construir o escudo antimíssil.Mas Michael McFaul, assessor de Obama e diretor do National Security Council para assuntos russos, afirmou que os EUA não vão fazer concessões em relação ao escudo antimísseis e nem abrir mão do apoio dado à Ucrânia e Geórgia em prol do "reset" com os russos.Stephen Sestanovich, especialista em Rússia do Council on Foreign Relations, afirmou em teleconferência da qual a Folha participou, que desta vez o desempenho de Obama será submetido de forma mais rigorosa ao escrutínio público."Esta viagem envolve uma dimensão extra para ele, que é a negociação prática. E isso deve atrair mais atenção para a obtenção de resultados, se ele conseguirá ou não um acordo específico, principalmente para o controle de armas", disse.Os EUA querem rever as discussões em relação ao Tratado de Moscou, firmado em 2002 entre Bush e Putin. Esse tratado estabeleceu um limite de 1.700 a 2.200 ogivas nucleares para cada país. A ideia agora é reduzir o total de armas, mas especialistas se mostram céticos quanto a um corte mais drástico e avaliam que o novo número será de cerca de 1.500."O que está conduzindo o presidente Obama é a visão de que os EUA e a Rússia precisam mostrar liderança para obter reação maior em outros Estados para lidar com duas ameaças nucleares que nos preocupam muito mais -a proliferação nuclear em outros países e o acesso de terroristas a armas e materiais nucleares", disse Charles Ferguson, especialista em ciência e tecnologia do Council on Foreign Relations.
(JANAINA LAGE)