domingo, 10 de maio de 2009
Vencida a violência, pobreza mina o Haiti
Postado por LUIZ FERNANDO MARTINS DA SILVA às 09:23 0 comentários
Multilateralismo e ações afirmativas
O BRASIL está honrado por sua participação na Conferência de Revisão da 3ª Conferência das Nações Unidas contra o Racismo, realizada em Genebra, na Suíça. Nossa delegação, formada por representantes governamentais e da sociedade civil, ficou satisfeita por ter contribuído na redação de um documento forte, porém equilibrado, que trouxe avanços em relação à terceira conferência, realizada em Durban, na África do Sul, em 2001.O documento de Genebra não singulariza qualquer país, trata de forma adequada as tragédias do passado, condena a islamofobia, o antissemitismo e outras formas de intolerância e coloca no centro do debate as vítimas do racismo e da discriminação.Entre as conquistas, tivemos o destaque conferido à aplicação de políticas de ação afirmativa, a abertura para a discussão de temas ligados à orientação sexual e a importância do combate à intolerância religiosa.Mais do que qualquer nação, o multilateralismo foi o verdadeiro vencedor da conferência. E o Brasil, com base no consenso alcançado, poderá aprofundar e diversificar as políticas públicas de promoção da igualdade racial, inclusive no campo externo.Ganhou impulso, por exemplo, o Plano de Ação Conjunta Brasil-Estados Unidos de Combate ao Racismo.Em reunião realizada na última semana, em Washington (EUA), foram aprofundados os eixos centrais da cooperação entre os dois países, entre os quais estão educação multirracial, preservação da memória e acesso à justiça e ao crédito.No plano interno, vamos seguir em nossa luta cotidiana pela construção do Plano Nacional de Igualdade Racial, que se traduz em diretrizes para a aprovação da Lei Orçamentária. No Congresso, vamos continuar o diálogo sobre os projetos de lei que criam o Estatuto da Igualdade Racial e o sistema de cotas raciais para o acesso às universidades públicas.Temos consciência de que a aplicação das ações afirmativas no Brasil é uma questão ainda distante do consenso. A garantia dos direitos das comunidades quilombolas e a política de cotas raciais nas universidades, para ficar em dois exemplos, afetam diretamente setores que não querem dividir com mais ninguém o acesso à terra, ao saber e às benesses de nosso desenvolvimento.As ações impetradas na Justiça pelo partido Democratas contra o sistema de cotas e a titulação das terras quilombolas são uma prova disso.Curiosamente, os membros desse mesmo partido, que fez parte da coalizão que sustentava o governo do então presidente Fernando Henrique Cardoso, nunca se pronunciaram contra o decreto que, no apagar das luzes daquela administração, criou cotas de 20% para negros no serviço público federal.Hoje, esse segmento político, com aliados em outros partidos e na mídia, desconsidera a enorme dívida do Estado e da sociedade brasileira em relação ao segmento negro da população. Preveem, em exercícios de futurologia, que as cotas vão acirrar o conflito racial em nosso país.No entanto, o projeto de lei que estabelece a política de cotas atende a uma realidade já consagrada, a partir da autonomia universitária, em 23 universidades federais, 25 universidades estaduais e três centros federais de educação tecnológica.A aprovação do sistema de forma espontânea a partir dos conselhos universitários comprova a aceitação da medida no seio da sociedade.Nenhum incidente envolvendo ódio racial foi registrado nessas instituições. Pelo contrário, seis anos após a adoção pioneira dessa política na Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e na UnB (Universidade de Brasília), podemos afirmar que a medida foi bem recebida no ambiente acadêmico, principalmente graças à abertura e à generosidade da juventude brasileira.As políticas de ação afirmativa devem passar ao largo da discussão político-ideológica, ao contrário do que quis fazer crer um pré-candidato à Presidência da República, em artigo publicado recentemente nesta Folha.É, na verdade, uma questão de reparação histórica, que deve ser consolidada enquanto política permanente do Estado brasileiro até que tenhamos uma sociedade com relações étnicas mais equilibradas. O que significa igualdade de oportunidades para todos.Para tanto, é preciso tratar os desiguais de forma desigual, elevando os desfavorecidos ao mesmo patamar de partida dos demais.
EDSON SANTOS , 54, deputado federal pelo PT-RJ (licenciado), é o ministro da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República.Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
Edson Santos: Multilateralismo e ações afirmativas
Postado por LUIZ FERNANDO MARTINS DA SILVA às 09:16 0 comentários
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Dificuldades dos migrantes europeus são retratadas em "Import Export"
09/05/2009 - 17h01
Dificuldades dos migrantes europeus são retratadas em "Import Export"; veja trailer
da Folha Online
A enfermeira ucraniana Olga (Ekateryna Rak), mãe de uma criança cuidada pela avó, procura uma vida melhor na Áustria. Enquanto isso, o segurança austríaco desempregado Paul (Paul Hofmann), que vive com a mãe e o padrasto, tem o mesmo objetivo na Ucrânia. Os personagens não conseguem romper os laços familiares e precisam da ajuda de seus parentes para conseguir tocar a vida.
O longa "Import Export", que disputou a mostra competitiva em Cannes neste ano, estreia neste fim de semana. O diretor e roteirista é austríaco Ulrich Seidl, responsável pelo documentário sobre os bastidores da indústria da moda "Models". Veja o trailer.
http://www1.folha.uol.com.br/folha/videocasts/ult10038u560932.shtml
Postado por LUIZ FERNANDO MARTINS DA SILVA às 09:11 0 comentários
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sábado, 9 de maio de 2009
ESQUECEMOS DE ANISTIAR O WILSON SIMONAL
O Jânio que, com a sua renúncia, em 61, levou o Brasil a mais de trinta anos de incertezas e atrasos, foi depois perdoado e os paulistanos o colocaram na cadeira de prefeito que deveria ter sido de FHC. O Paiacã, que fez aquela sacanagem toda, já foi perdoado e esquecido. O Zico, que perdeu aquele pênalti contra a França na Copa de 86 já foi perdoado. Até mesmo o Joaquim Silvério dos Reis, hoje em dia é apenas mero tema para vestibulandos.
O que há de comum entre o Collor, o PC, os Sete Anões, o Jânio, o Paiacã, o Zico e o Joaquim Silvério? São todos brancos. Uns, bandidos. Outros, como o Zico, brasileiros da maior dignidade. Mas todos, brasileiros brancos.
Toda essa introdução acima é para falar do Wilson Simonal. Você sabe quem foi (ou quem é) Wilson Simonal? Um dos mais queridos e requisitados cantores dos anos sessenta. Bonachão, cheio de swing, uma voz afinadíssima, com uma inteligência rápida e rara no programa Essa Noite se Improvisa, brilhava ao lado de Chico, Caetano, Carlos Imperial, Gil, Roberto Carlos, Jair Rodrigues, Ellis. Um dia ele fez o Maracanãzinho cantar com ele, durante mais de meia hora, o Meu Limão, Meu Limoeiro. Quem não se lembra dele cantando Sá Marina? Naquele tempo o Brasil, na voz do Simona era mesmo Um País Tropical.
Pois um dia o falecido jornal O Pasquim (onde tive a honra de trabalhar em 72 e 73), há já distantes vinte e cinco anos, disse, em letras garrafais, na primeira página, que o Simonal era dedo-duro. Que ele teria entregue um ex-funcionário para "os homens". Pudera: um crioulinho daquele, com um dos maiores contratos publicitários da época - com a Shell, multinacional do imperialismo! - andando pra cima e pra baixo numa Mercedes branca com estofamento vermelho, boa coisa não podia ser. A esquerda caiu de pau, chicotes e archotes em cima do "malandro". Nunca ficou clara a acusação. Nem pretendo discutir isso aqui. O Simonal sumiu. Sumiu o homem e a carreira, a voz e a alegria do "champinhon". Soube, através do filho dele, o também músico Simoninha (de quem tenho o prazer de ser amigo) que ele quase morreu no ano passado. Não há fígado que resista a uma acusação de 25 anos. Todos os fígados do Brasil já foram anistiados. Menos o do Simonal.
Semana passada vi o Simonal num memorável programa da deliciosa Hebe Camargo. Está magro, abatido, mas a voz é firme, gostosa como sempre. De vez em quando, a imprensa entrevista o Simonal. Mas sempre, sempre, sempre, da primeira à última pergunta, o tema é o mesmo, e ele, quase desesperado, diz que aquilo já passou. Não passou não, Simonal. Você foi marcado para sofrer, por todos nós da esquerda, daquela e naquela época. Acho que o buraco é mais embaixo.
E foi pensando no Simonal que eu me lembrei do Barbosa, goleiro da seleção de 50. Barbosa, tão preto quanto o Simonal, levou um gol do Gighia no segundo tempo e o Brasil perdeu a Copa do Mundo para o Uruguai. De quem foi a culpa? Daquele crioulo safado. Desde então (e lá se vão 45 anos) nunca outro negro foi goleiro da seleção canarinha. Pelo contrário, são sempre jovens bonitos, que não falam nem menas nem qüestã, altos, alguns até loiros: Ado (mais bonito do que goleiro), Leão (que sempre pintou o cabelo), Carlos (o elegante), Waldir Perez (o careca sensual), Taffarel (o ariano puro), Zetti (o bom menino), Felix (baixo, mas branco), Castilho (um lord), Gilmar (a elegância em pessoa). Barbosa (negro) jamais foi perdoado. A culpa foi dele, já que deveria ser de alguém.
Simonal é o nosso Barbosa, levando petardos de todos os gighias brasileiros. Uma bola (ou uma bala) perdida passou por baixo dele e atingiu a sua alma negra. Um pai que tem um filho como o Simoninha, não pode ser ou ter sido tão perigoso e fdp assim. Num momento que o Brasil oferece exemplo de democracia e dignidade interna e externamente, é hora de se anistiar o Simonal. Que ele volte com sua voz gostosa e seu jeito de malandro aos palcos do Brasil. Deixemos que ele entre novamente em nossas casas, pela porta da frente. Ou pela gaveta de um CD.
Vamos anistiar o homem enquanto ele está vivo. Ele e nós.
Postado por LUIZ FERNANDO MARTINS DA SILVA às 22:50 0 comentários
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Filme investiga relação de Wilson Simonal com a ditadura militar
"Ninguém Sabe o Duro que Dei", filme de Manoel, Micael Langer e Calvito Leal que será lançado no festival É Tudo Verdade (no próximo sábado, no Rio, e nos dias 4 e 5 de abril no CineSesc, em São Paulo), é o primeiro olhar do cinema sobre esse homem que, como diz Nelson Motta no documentário, "virou um tabu, um leproso, um pária" na música brasileira.
O degredo começou em agosto de 1971, quando sua popularidade como cantor só era superada (e não por muitos pontos) por Roberto Carlos. Suspeitando de que seu contador o roubava, ele mandou dar-lhe uma surra.
O problema é que a surra foi dada por dois agentes do Dops (Departamento de Ordem Política e Social), serviço público cuja especialidade era torturar adversários da ditadura militar --e falsos adversários também. Um inspetor, Mário Borges, disse à imprensa que Simonal era informante do Dops, e a pecha de dedo-duro nunca mais se descolou dele, jogando-o num longo ostracismo.
"Ele pagou uma pena dura demais, desproporcional para uma surra, porque sua condenação foi até o fim da vida. Para ele, não teve anistia", afirma Manoel, da trupe Casseta & Planeta.
Mas o documentário não é uma defesa de Simonal. Por um lado, até piora sua situação, pois os três diretores, empenhados em saber o máximo sobre o que aconteceu, contrataram um detetive para localizar Raphael Viviani, o contador que foi o pivô da história.
Viviani diz no filme que foi torturado com choques elétricos no Dops e só aceitou assinar uma confissão do roubo --que ele nega ter cometido-- quando ameaçaram pegar sua família.
Talvez a história tivesse terminado aí, não fosse sua mulher ter dado queixa do seu desaparecimento. O delegado resolveu investigar o caso, viu Viviani todo machucado e chegou ao nome de Simonal.
Ingenuidade
O cantor alegou ter recorrido ao Dops porque vinha recebendo ameaças terroristas e disse, talvez para impressionar, que tinha conhecidos na polícia política. Quando, mesmo sem provas, foi classificado como informante, ele se enrascou.
"Ele foi infeliz no caminho que seguiu", afirma Viviani no filme. Por esse lado, o contador até ajuda a imagem de Simonal, pois reforça a idéia predominante no documentário: o cantor era um boquirroto ingênuo, sem consciência da gravidade da situação política de então, e morreu pela boca.
Pela surra que mandou dar, Simonal foi condenado em 1972 a cinco anos e quatro meses, que pôde cumprir em liberdade. Pela fama de dedo-duro, pagou enquanto esteve vivo --e depois também.
Em 2003, após a família pedir uma investigação sobre o caso e diante do documento de 1999 da Secretaria Nacional de Direitos Humanos informando que não havia nenhuma prova de que Simonal tivesse servido à ditadura, a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) o reabilitou simbolicamente.
"Ele dizia para mim: "Eu não existo na história da música brasileira'", conta, no filme, Sandra Cerqueira, a segunda mulher de Simonal, que acompanhou sua amargura, seu alcoolismo e sua grande raiva --o documentário tem imagens dele em programas de TV clamando inocência.
"Ele tinha uma atitude provocativa que não o ajudava a fazer amizades. Era metido a besta, um crioulo de sucesso que andava de carrão e comia as filhas dos brancos. Era um negro liberto", diz Manoel, tocando na questão racial, muito presente no longa.
Boa parte do filme cobre o "antes da queda". Aí se vê Simonal ao lado de Pelé --possivelmente o único negro mais famoso do que ele no Brasil da época--, fazendo comercial da Shell, cantando "The Shadow of Your Smile" com Sarah Vaughan, regendo o Maracanãzinho lotado e esbanjando malícia (ou pilantragem, como se dizia). "Pilantragem é o não-enchimento, o descompromisso com a inteligência", diz ele no filme, sem saber que a frase seria premonitória.
Postado por LUIZ FERNANDO MARTINS DA SILVA às 22:42 0 comentários
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