O recém-inaugurado shopping Maponya, num subúrbio de maioria negra de Johanesburgo, tem lojas de grife, fontes, arquitetura modernista e, como um lembrete de que está na África do Sul, enormes estátuas de elefante na entrada. Pelos corredores, fala-se xhosa e zulu, línguas tradicionais africanas, e quase nenhum inglês ou africâner (dialeto do holandês), idiomas "brancos".Na saída, uma misteriosa fila de carros se forma. Seguranças enfiam a cabeça sem cerimônia dentro do veículo para checar se a chave está mesmo no contato ou se foi feita uma ligação direta -o que indicaria que o carro acabou de ser furtado. "Acontece muito roubo por aqui", diz um motorista.Há 15 anos, o apartheid acabou oficialmente, mas a desigualdade de renda na África do Sul continua alimentando a criminalidade. Como prova o controle estrito do shopping, a diferença é que ela hoje não assusta apenas brancos, mas também a emergente classe média negra, grande parte beneficiária das políticas de ação afirmativa do governo."Caminhamos um pouco nesses anos para que a África do Sul seja uma sociedade capitalista normal, em que o componente mais importante é o de classe, não de raça", diz Justin Sylvester, do Instituto para a Democracia na África do Sul.Mas a etnia, como o próprio analista admite, ainda domina a política sul-africana, como evidenciam as peças de propaganda da eleição geral marcada para a próxima quarta-feira, em que o partido dominante, o Congresso Nacional Africano (CNA), enfrenta pela primeira vez oposição negra. Mesmo assim, é favorito para manter hegemonia no Parlamento e eleger indiretamente seu candidato, Jacob Zuma, presidente.Desde 1994, a economia sul-africana teve crescimento real (descontada a inflação) em todos os anos. Chegou a 5% entre 2003 e 2007. Mesmo com a crise mundial, o PIB deve subir 1,3% em 2009.A mortalidade infantil e o analfabetismo caíram, mas também a expectativa de vida, puxada pela Aids e a violência urbana. A desigualdade social aumentou, e o país despencou no Índice de Desenvolvimento Humano, medido pela ONU.O governo tem resposta pronta para isso, uma promessa que se repete a cada eleição. "Até aqui, nossa democracia foi sentida pelos que têm condições de aproveitá-la. Agora, é a hora dos mais pobres", diz Lindiwe Zulu, porta-voz do CNA e ex-embaixadora no Brasil.FortalecimentoOs negros são quase 80% da população, metade abaixo da linha da pobreza. Do restante, grande parte se beneficiou do ambicioso BEE, uma sigla que hoje é tão presente no dia a dia dos sul-africanos quanto os jogos de rúgbi.Trata-se do acrônimo em inglês para Black Economic Empowerment, ou "fortalecimento econômico negro", a principal estratégia oficial do pós-apartheid para incluir o grupo outrora perseguido.Empresas são julgadas não apenas pela qualidade do serviço ou menor preço, mas também segundo sete critérios de inclusão racial, incluindo quantidade de negros proprietários da empresa, parcela de executivos negros e compromisso com treinamento profissional. Baseado nesses critérios, é estabelecida uma nota, determinante na hora de obter um contrato público, por exemplo.Nos últimos anos, uma indústria de consultoria especializada em BEE floresceu na África do Sul. Gavin Levenstein montou a sua em 2005, a EconoBEE, e fatura com sessões de treinamento para executivos que querem tirar boas notas no teste do governo. Ele ensina a melhor maneira de cumprir os rigorosos critérios de ação afirmativa."Meus clientes são desde empresas que limpam vidraças até multinacionais", diz ele, que emprega oito funcionários e tem planos de se expandir. Como a sua, há 15 outras consultorias especializadas nesse ramo atuando em Johanesburgo.O processo de certificação é uma oportunidade única para funcionários corruptos de órgãos públicos levarem vantagem, como o próprio governo admite. E o fato de vários cardeais do CNA terem ficado multimilionários após o apartheid, atuando como consultores em BEE para conglomerados, também não ajuda a dissipar a percepção de que o esquema é falho.Mas todos os candidatos à eleição de quarta, conscientes de que o BEE veio para ficar, prometem mantê-lo, após uma revisão completa e critérios mais rígidos de avaliação.
domingo, 19 de abril de 2009
Desigualdade entre negros aumenta na África do Sul
O recém-inaugurado shopping Maponya, num subúrbio de maioria negra de Johanesburgo, tem lojas de grife, fontes, arquitetura modernista e, como um lembrete de que está na África do Sul, enormes estátuas de elefante na entrada. Pelos corredores, fala-se xhosa e zulu, línguas tradicionais africanas, e quase nenhum inglês ou africâner (dialeto do holandês), idiomas "brancos".Na saída, uma misteriosa fila de carros se forma. Seguranças enfiam a cabeça sem cerimônia dentro do veículo para checar se a chave está mesmo no contato ou se foi feita uma ligação direta -o que indicaria que o carro acabou de ser furtado. "Acontece muito roubo por aqui", diz um motorista.Há 15 anos, o apartheid acabou oficialmente, mas a desigualdade de renda na África do Sul continua alimentando a criminalidade. Como prova o controle estrito do shopping, a diferença é que ela hoje não assusta apenas brancos, mas também a emergente classe média negra, grande parte beneficiária das políticas de ação afirmativa do governo."Caminhamos um pouco nesses anos para que a África do Sul seja uma sociedade capitalista normal, em que o componente mais importante é o de classe, não de raça", diz Justin Sylvester, do Instituto para a Democracia na África do Sul.Mas a etnia, como o próprio analista admite, ainda domina a política sul-africana, como evidenciam as peças de propaganda da eleição geral marcada para a próxima quarta-feira, em que o partido dominante, o Congresso Nacional Africano (CNA), enfrenta pela primeira vez oposição negra. Mesmo assim, é favorito para manter hegemonia no Parlamento e eleger indiretamente seu candidato, Jacob Zuma, presidente.Desde 1994, a economia sul-africana teve crescimento real (descontada a inflação) em todos os anos. Chegou a 5% entre 2003 e 2007. Mesmo com a crise mundial, o PIB deve subir 1,3% em 2009.A mortalidade infantil e o analfabetismo caíram, mas também a expectativa de vida, puxada pela Aids e a violência urbana. A desigualdade social aumentou, e o país despencou no Índice de Desenvolvimento Humano, medido pela ONU.O governo tem resposta pronta para isso, uma promessa que se repete a cada eleição. "Até aqui, nossa democracia foi sentida pelos que têm condições de aproveitá-la. Agora, é a hora dos mais pobres", diz Lindiwe Zulu, porta-voz do CNA e ex-embaixadora no Brasil.FortalecimentoOs negros são quase 80% da população, metade abaixo da linha da pobreza. Do restante, grande parte se beneficiou do ambicioso BEE, uma sigla que hoje é tão presente no dia a dia dos sul-africanos quanto os jogos de rúgbi.Trata-se do acrônimo em inglês para Black Economic Empowerment, ou "fortalecimento econômico negro", a principal estratégia oficial do pós-apartheid para incluir o grupo outrora perseguido.Empresas são julgadas não apenas pela qualidade do serviço ou menor preço, mas também segundo sete critérios de inclusão racial, incluindo quantidade de negros proprietários da empresa, parcela de executivos negros e compromisso com treinamento profissional. Baseado nesses critérios, é estabelecida uma nota, determinante na hora de obter um contrato público, por exemplo.Nos últimos anos, uma indústria de consultoria especializada em BEE floresceu na África do Sul. Gavin Levenstein montou a sua em 2005, a EconoBEE, e fatura com sessões de treinamento para executivos que querem tirar boas notas no teste do governo. Ele ensina a melhor maneira de cumprir os rigorosos critérios de ação afirmativa."Meus clientes são desde empresas que limpam vidraças até multinacionais", diz ele, que emprega oito funcionários e tem planos de se expandir. Como a sua, há 15 outras consultorias especializadas nesse ramo atuando em Johanesburgo.O processo de certificação é uma oportunidade única para funcionários corruptos de órgãos públicos levarem vantagem, como o próprio governo admite. E o fato de vários cardeais do CNA terem ficado multimilionários após o apartheid, atuando como consultores em BEE para conglomerados, também não ajuda a dissipar a percepção de que o esquema é falho.Mas todos os candidatos à eleição de quarta, conscientes de que o BEE veio para ficar, prometem mantê-lo, após uma revisão completa e critérios mais rígidos de avaliação.
Postado por LUIZ FERNANDO MARTINS DA SILVA às 19:44 0 comentários
Marcadores: Discriminação, Notícias
sábado, 18 de abril de 2009
Queixas a Obama marcam primeiros dias de Cúpula
Da BBC
Os líderes tomaram o cuidado de não culpar especificamente o presidente americano. Mas, ainda assim, Obama teve de ouvir um apanhado de críticas à "postura histórica" dos Estados Unidos em relação à América Latina.
A artilharia de críticas começou com a presidente da Argentina, Cristina Kirschner, na abertura do evento. Segundo ela, a relação dos Estados Unidos com a América Latina foi, durante décadas, "traumática", o que resultou em "ditaduras" e "intervenções militares".
"Quero dizer ao presidente Obama que de maneira nenhuma isso significa uma crítica a ele. Mas sim um exercício de compreensão das coisas pelas quais temos passado", disse.
Cristina arrancou os primeiros aplausos da plateia quando classificou de "paradoxo" a expulsão de Cuba da Organização dos Estados Americanos (OEA).
Logo em seguida foi a vez de o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, tecer uma série de acusações ao governo americano. Em um discurso de quase uma hora, Ortega descreveu com detalhes a "ingerência" dos Estados Unidos sobre o processo político da Nicarágua na década de 80.
Ortega também levantou a questão cubana. "Tenho vergonha de estar aqui nessa cúpula sem a presença de Cuba", disse. Mas acrescentou que o presidente Obama "obviamente não tinha culpa, já que tinha apenas três meses na época da Revolução Cubana".
Lula
Apesar das acusações aos Estados Unidos, Obama reagiu com presença de espírito. "Fico feliz que o presidente Ortega não me culpe por coisas que aconteceram quando eu tinha três meses de idade", disse, descontraindo a plateia.
A avaliação geral na Cúpula é de que o líder americano soube contornar "muito bem" as cobranças. "Ele de forma alguma parece constrangido", disse um funcionário da OEA.
Pela manhã, Obama esteve reunido com os 12 chefes de Estado que formam a União das Nações Sul-Americanas (Unasul), entre eles o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Um dos temas foi a crise econômica. O presidente Lula, por exemplo, sugeriu que os Estados Unidos ampliassem a ajuda financeira aos países mais pobres da região.
De acordo com o chanceler Celso Amorim, que acompanhou o encontro, o clima da reunião foi "bastante cordial".
Mesmo com as intervenções do presidente venezuelano Hugo Chávez, que cobrou "mudanças" no comportamento da administração americana, a avaliação de Amorim é de que "não houve constrangimentos".
"O presidente Obama é, obviamente, um excelente político e tem uma característica que é uma grande capacidade de ouvir e refletir sobre o que ouve", disse o chanceler brasileiro.
Em seu discurso de abertura, Obama sugeriu que os líderes do hemisfério "olhassem para o futuro" e que não ficassem presos a "desavenças do passado".
"Com frequência, a oportunidade de se construir uma nova parceria nas Américas é prejudicada por discussões ultrapassadas", disse o presidente americano.
Já as críticas de Chávez aos Estados Unidos foram menos contundentes do que se esperava.
Segundo a Agência Bolivariana de Notícias (ABN), o presidente da Venezuela disse que os Estados Unidos devem "romper com essa concepção que somos seu quintal".
No entanto, o líder venezuelano elogiou a postura de Obama durante os encontros na Cúpula. Segundo ele, o presidente americano teria se mostrado "interessado" nas palavras dos outros chefes de Estado, que apresentaram suas "inquietudes".
"Que bom que Obama tenha tomado nota e que responda a algumas de nossas interrogações", disse Chávez.
A postura amistosa de Chávez em relação a Obama foi considerada uma surpresa. A foto dos dois líderes se cumprimentando, na abertura a Cúpula, foi estampada no portal do governo venezuelano, sob o título "cumprimento histórico entre presidentes Obama e Chávez".
18/04/09 - 20h54 - Atualizado em 18/04/09 - 20h5
Postado por LUIZ FERNANDO MARTINS DA SILVA às 21:18 0 comentários
sexta-feira, 17 de abril de 2009
Brasil apóia texto base e tentará convencer EUA a participar da conferência
O relator será o brasileiro Iradj Roberto Eghrari, diretor-executivo da organização não-governamental Ágere Cooperação em Advocacy e secretário nacional de ações com a sociedade e governo da Comunidade Bahá´í. Ele estará responsável pela preparação do relatório final da conferência, com os resultados das negociações finais.
“Sinto-me honrado com a indicação feita pelo governo brasileiro e tenho a certeza de que o protagonismo desempenhado pelo Brasil no campo da promoção da igualdade racial e do combate ao racismo é que dá devida legitimidade para que um representante do nosso país assuma tal tarefa”, afirma Eghrari.
Esta é a segunda vez que o Brasil ocupa a relatoria da conferência. A psicóloga e atual coordenadora da Coordenadoria da Mulher e de Igualdade Racial de Guarulhos (SP), Edna Roland, foi relatora da Conferência de Durban, na África do Sul, há oito anos.
Segundo ela, o Brasil teve um papel fundamental na preparação da atual Conferência de Revisão, o que justifica assumir o protagonismo na relatoria a partir deste momento.
Postado por LUIZ FERNANDO MARTINS DA SILVA às 20:50 0 comentários
Marcadores: Discriminação, Notícias, Política
Divergências sobre presidência e religião marcam preparatória de conferência
Postado por LUIZ FERNANDO MARTINS DA SILVA às 20:43 0 comentários
Marcadores: Discriminação, Notícias, Política
quarta-feira, 15 de abril de 2009
Seminário
Local Casa Rui Barbosa - Rua São Clemente, 134 - Botafogo
Programação
18/0518h - Abertura Convidados Desembargador Luiz Fernando Ribeiro de Carvalho e Professor Luiz Werneck Vianna, do Iuperj
19/0515h - Tema: Judicialização das politicas publicasPalestrantesCassio Casagrande - Procurador do Trabalho Gustavo Binenbojm - Procurador do Estado
19h - Apropriação social do DireitoPalestrantesMaria Alice Rezende de Carvalho - Professora da PUCRioMarcelo Pereira de Mello - Professor da UFF)
19h - Judicialização da politica e instituições públicasJúlio Aurélio - Pesquisardor do FCRB Ernani Carvalho - Pesquisador do CNPQInformações
Pelo telefone (21) 3289-4600
A entrada é franca
Postado por LUIZ FERNANDO MARTINS DA SILVA às 08:39 0 comentários