Cotas: ministro defende mudanças em projeto.
BRASÍLIA. O ministro da Educação, Fernando Haddad, disse ontem que a redação do projeto de lei que cria cotas nas universidades federais dá margem a dúvidas e precisa ser alterada no Senado. A proposta reserva 50% das vagas para alunos que tenham cursado o ensino médio em escolas públicas, com subcotas para pretos, pardos, índios e pobres. A confusão, para o ministro, está na forma como os critérios étnicos e socioeconômicos se combinam.
- Um texto como esse tem que ser cristalino. Se pairam dúvidas é porque o texto tem problemas. Se for possível corrigir a redação, adequá-la para que não haja disputa a respeito da interpretação, é melhor corrigir no Legislativo, para que isso não vá para o Judiciário - disse Haddad, após reunir-se com o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).
O projeto está na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, após ter sido aprovado pela Câmara no ano passado.
Ontem, a CCJ decidiu realizar mais uma audiência pública sobre o tema, na próxima quarta-feira. O presidente da CCJ, senador Demóstenes Torres (DEM-GO), prometeu levar a matéria a votação em um mês.
Demóstenes disse que é contra o atual projeto, e defendeu a adoção de cotas sociais, que não levem em conta critérios raciais. Segundo ele, o atual projeto fomenta o ódio racial ao discriminar estudantes brancos e pobres.
- Ninguém pode ter mais privilégio do que o outro. Se o branco pobre e o negro pobre têm situação idêntica, por que vou diferenciá-los? O problema do Brasil não é o racial, é a pobreza. O discriminado é o pobre - disse o senador.
Haddad lembrou que a proposta de cotas para as universidades federais segue critério semelhante ao do programa U n i v e r s i d a d e p a r a To d o s (ProUni), que dá bolsas em instituições privadas a estudantes de baixa renda. O ProUni reserva parte das bolsas para alunos pretos, pardos e indígenas.
A proporção dessa subcota varia em cada estado, conforme a proporção representada pela respectiva etnia no total da população do estado.
- Por que o modelo do ProUni, que foi aprovado no Congresso, não pode ser estendido para as universidades federais? - perguntou Haddad.
Segundo o ministro, 14 universidades mantidas pelo governo já adotam ações afirmativas com base em critérios raciais, sem causar conflitos.
Estudantes vão ao Congresso pedir pressa na votação A União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) levou ontem cerca de 80 alunos ao Congresso para pedir pressa na votação. Apenas dez tiveram acesso ao plenário da comissão.
- Se os pobres não acessam a universidade, os pobres negros menos ainda. Não é privilégio, é compensação paliativa.
A longo prazo, temos que universalizar o acesso ao ensino superior - disse o presidente da Ubes, Ismael Cardoso.
A senadora Serys Slhessarenko (PT-MT), que é a relatora do projeto na CCJ, já preparou seu relatório. Ela manteve o texto vindo da Câmara, pois quer evitar que o projeto tenha de voltar à análise dos deputados.
Mas a senadora disse que está disposta a mudar o projeto, desde que seja mantida a reserva de vagas para alunos de escolas públicas, negros e de baixa renda. As cotas estão previstas também para as escolas técnicas federais.
Demétrio Weber - O GLOBO, 12-Mar-2009.