São Paulo, domingo, 07 de junho de 2009
DA REPORTAGEM LOCAL
Criados para estimular os funcionários a saírem do armário, especialmente nas multinacionais, os programas de diversidade sexual em vigor nas grandes empresas correm o risco de cair em descrédito.Com raras exceções, eles foram implementados por imposição das matrizes estrangeiras -rigorosas na aplicação de políticas antidiscriminação-, mas sucumbem diante da cultura machista dominante no país. É o que afirmam consultores contratados pelas filiais brasileiras para desenvolvê-los. Pesquisadores da UnB, UFMG e FGV, que estudam o assunto, têm a mesma opinião."Basta observar o engajamento dos funcionários", afirma Ana Paula Diniz, pesquisadora do Núcleo de Estudos Organizacionais da UFMG. "Pesquisamos empresas com milhares de empregados e só quatro assumidos." Até na IBM, que possui o melhor programa, na opinião dos consultores, só 74 são abertamente gays num total de 18 mil funcionários."O problema é que eles não se sentem devidamente protegidos pelos programas para se assumirem", diz Marcus Vinicius Siqueira, da UnB, outro estudioso do tema. "As brincadeiras de mau gosto e a falta de sanções aos funcionários que discriminam seus colegas de trabalho arranham a credibilidade desses programas."Ruim com eles, pior semEmbora apresentem falhas, os programas asseguram aos funcionários homossexuais com relações estáveis benefícios corporativos impensáveis há cinco anos. Uma pesquisa da consultoria Mercer realizada com 210 companhias brasileiras de grande e médio portes mostra que, em 2008, 25% delas permitiam aos seus funcionários incluir os companheiros nos planos de saúde e odontológico. Há cinco anos, esse índice era de apenas 8,7%.Na área previdenciária, a Mercer estima que, atualmente, metade das entidades de previdência fechada (públicas e privadas) prevê o pagamento de pensão aos parceiros de mesmo sexo em caso de morte do titular do plano.A limitação, nesse caso, é das empresas, que, muitas vezes, não querem gastar mais para oferecer esses planos aos casais de mesmo sexo. As estatais estão na dianteira desse processo ao conceder o benefício. Na Previ, fundo dos funcionários do Banco do Brasil, já existem 200 casais gays inscritos.Sindicatos também avançam nas negociações trabalhistas, incluindo benefícios a funcionários homossexuais e a seus companheiros nos acordos coletivos de categorias.Em 2008, sete acordos dos 220 acompanhados pelo Dieese previam a extensão de direitos a dependentes gays. Bancários, eletricitários e empregados em processamento de dados estão entre os contemplados. Em 2005, eram quatro."São poucos acordos, mas os homossexuais estão buscando ampliar seus direitos. É um sinal positivo", diz Luís Augusto Ribeiro da Costa, técnico do Dieese.